Ambuila: Onde a história e o turismo se entrelaçam

Imagem de Mulaza

Eram 6 horas da manhã. Partimos da cidade do Uíge com destino ao município de Ambuila, mais concretamente à comuna do Quipedro, passando pela Estrada Nacional 220. Da cidade do Uíge até à aldeia do Kuale, município do Quitexe, são 34 quilómetros. A escassos metros depois da aldeia, encontramos o desvio que dá acesso a Ambuila

A equipa de reportagem do Jornal de Angola procurava descobrir as grutas de Nkosi, na regedoria com o mesmo nome e reportar a situação sócio-económica da comuna do Quipedro. A viagem é feita com precaução e responsabilidade. No princípio, anda-se confortávelmente em seguro. São 74 quilómetros do desvio até à vila de Ambuila, dos quais 41 até à aldeia de Sassa já estão asfaltados e sinalizados. As obras ainda continuam.

A beleza natural das frondosas florestas que cobrem as serras e do capinzal que ao soprar do vento se verga na berma da estrada, torna descontraída a viagem. Com a melhoria da estrada, renasce, nos olhos dos habitantes, a esperança na renovação das aldeias. Os aldeões aos poucos substituem os velhos tectos de capim das moradias por chapas de zinco. Nos campos agrícolas, os camponeses aumentam a força de rasgar os terrenos e plantar, na certeza de que o escoamento dos produtos, em breve, já não será um obstáculo.

Chegámos finalmente à vila de Ambuila, onde fomos recebidos pelo administrador municipal Garcia Pedro Zó. Mas o nosso destino mesmo era o Quipedro. Antes de partirmos para Quipedro, o administrador Garcia Zó descreveu-nos, em pormenor, a situação geográfica do município de Ambuila.

Ficamos a saber que Ambuila tem 4.799 quilómetros quadrados, sendo limitado a norte pelos municípios de Bembe e Songo, a leste pelo município do Uíge, a sul pelos municípios de Quitexe e Nambuangongo e a oeste pelo município do Nzeto, na província do Zaire.

O município de Ambuila é constituído pela comuna-sede  (antiga vila de Nova Caipemba), a comuna de Quipedro, oito regedorias, 54 aldeias e uma população estimada em 20.900 habitantes. Estão registadas 144 autoridades tradicionais.

Referência à história

Ambuila era uma importante localidade do Reino do Congo, servindo como referência geográfica, centro de comércio e de produção agrícola”, disse o administrador Garcia Zo, lembrando que foi, precisamente, em 1625 que os portugueses conseguiram a autorização do Mani Kongo, antigo representante do Reino do Kongo, para utilizar a localidade como entreposto comercial entre os reinos do Kongo, Bambata, Ndongo e Matamba. A vila acabou passando à história pela batalha de Ambuíla, ocorrida em 1665, na qual as forças portuguesas derrotaram o Reino do Kongo.

A localidade possui alguns encantos adormecidos, com destaque para o Forte de São José do Encoje, um marco histórico e turístico.

O município de Ambuila possui as Grutas do Nzenzo, consideradas uma das Sete Maravilhas de Angola e as Pedras do Bombo, situadas a 17 quilómetros da vila de Ambuila, bem como as majestosas Pedras de Nkosi, situadas na regedoria com o mesmo nome.

“O nosso maior problema aqui são as estradas terciárias. Quase todas elas estão degradadas e a do Quipedro é uma delas. É preciso andar com alguém que conhece a estrada”, disse o administrador, que pôs um guia à disposição da equipa de reportagem do Jornal de Angola, com a missão de nos conduzir pelos melhores caminhos até à localidade do Quipedro.

Escassos quilómetros depois de passarmos pela localidade do Zonda, entrámos na frondosa mata da antiga fazenda do colono português Ricardo de Matos Gaspar, ou simplesmente “Rimaga”.
“Aqui, havia mais de três mil trabalhadores, que produziam em grande escala café e banana. Mas actualmente a antiga fazenda tornou-se uma zona de exploração de madeira”, disse o guia.

Mais à frente, deparámo-nos com as imponentes Pedras de Nkosi, que, de longe, parecem edifícios urbanos. Não hesitámos. Pusemo-nos a pé e desfrutamos da vista inesquecível. Acabamos igualmente por fotografar   os edifícios de pedra.

“Estas são as famosas Pedras de Nkosi, um encanto turístico adormecido e que precisa de ser explorado”, disse Lopes, o nosso guia.

As grutas de Nkosi possuem altitude e largura enormes, com “quartos” que formam “apartamentos” onde não entra sequer um pingo de chuva. Animais como pássaros, morcegos e répteis habitam os recantos das grutas. Ao cair da tarde, o sol bate sobre as pedras e cria um reflexo que dá imenso prazer. O lugar é um verdadeiro encanto turístico, completamente adormecido.

O soba da localidade do Quinzambi, Manuel Casumo Domingos, contou à nossa reportagem que as grutas parecem estar bem perto da estrada, mas na verdade estão distantes, e, para lá chegar, é preciso o auxílio dos mais velhos. Isso porque, depois dos longos anos de guerra, a área ficou abandonada, completamente entregue à natureza.

O rio Zaire, que dá nome à província, é um dos maiores atractivos e fonte de rendimento de muitas famílias, que se dedicam à pesca artesanal ao longo dos seus vários canais.

O rio, cujos contornos formam um total de 120 ilhotas, 60 das quais habitáveis, é considerado o primeiro de África e o segundo do mundo em volume de água, chegando a debitar algo como um caudal de 67 mil metros cúbicos de água por segundo para o Oceano Atlântico.

O serpentear dos diversos braços deste rio, tido também como o segundo maior de África (após o rio Nilo) e sétimo do mundo, com uma extensão total de 4.700 quilómetros, oferece a quem visita a região uma visão paisagística sem igual. Uma parte considerável da cidade petrolífera do Soyo, a chamada baixa da cidade, onde se situa a maioria das instituições públicas, foi projectada entre os braços do rio.

Com um investimento sério em termos de infra-estruturas, o Soyo seria uma das melhores cidades do país, tendo em consideração a beleza natural que os diversos afluentes do imponente rio Zaire oferece.

Grutas do Nzenzo

As Grutas do Nzenzo, na regedoria do Bombo, a 17 quilómetros da vila, só podem ser visitadas com a permissão das autoridades tradicionais. E é preciso cumprir um ritual, para que, segundo a crença popular, nenhum mal aconteça aos visitantes. “Quem desobedece pode desaparecer para sempre. Nas Grutas do Nzenzo, tudo é possível, até encontrar sereias a tomar banho ou ver cobras misteriosas”, disse uma fonte.

Nas cavernas cai água de um pequeno orifício localizado no tecto. Ninguém sabe dizer de onde vem aquela água, já que nenhum rio passa pelas proximidades. No período nocturno, pacaças, burros do mato, javalis, veados, gazelas e cabras vão descansar nas grutas.

O administrador municipal Garcia Pedro Zó disse que as Grutas do Nzenzo precisam de investimentos adequados para atrair turistas. Esta necessidade de investimentos vai desde a melhoria do acesso à construção de infra-estruturas hoteleiras, lanchonetes e outros espaços de lazer.

“Temos um campo aberto para investimentos e que pode contribuir para o desenvolvimento do município. Por isso, com a melhoria da estrada principal, convidamos os interessados a investirem neste sector”, disse o administrador municipal de Ambuila.

Garcia Pedro Zó lembrou que antes da pandemia da Covid-19 o local já era procurado por inúmeros  turistas provenientes dos vários pontos do país.

Vale recordar que a imagem das Grutas do Nzenzo faz parte da nova família de notas de kwanzas, facto que alegra e orgulha a população do Uíge.

Via JA

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