Morreu o jornalista Joseph Mputo

Mputu, o diplomata do desporto, foi-se!

Por Silva Candembo

Nos dias de hoje seguramente muito pouca gente ouviu falar de Joseph Mputu Ndongala (JMN), falecido sexta-feira última, 31 de Maio, em Paris, por doença. Mas ele foi uma das grandes figuras do desporto angolano da década de 1980. Não apenas como dedicado jornalista que em 1978 abriu e liderou o desk Desportivo da Agência Angola-Press (ANGOP), mas sobretudo como um verdadeiro lobista que ajudou, e muito, a construir uma sólida ponte de relacionamento com as distintas confederações africanas, principalmente a CAF, onde as mancomunações de afinidades linguísticas (francófonos, anglófonos e árabes) dificultavam seriamente a inserção de um “não-alinhado” como a Federação Angolana de Futebol (FAF).

Como muitos angolanos que demandaram o Congo-Kinshasa na sequência dos trágicos acontecimentos de Fevereiro e Março de 1961, JMN respondeu ao apelo do Presidente Agostinho Neto e regressou à pátria que o viu nascer para entrar na ANGOP em 1978 e abrir a Divisão Desportiva, numa altura em que a política dominava inteiramente os noticiários do país, não havendo espaço para quase mais nada. Afinal, o país continuava em guerra, mesmo depois da independência nacional e sofria as agruras da agressão da África do Sul do apartheid, a Sul.

Era então o jornalista João Melo director da agência, cuja chefia de redacção estava entregue a José de Oliveira, enquanto sob orientação directa de JMN estavam debutantes como Graça Campos, Francisco Alexandre, Ambrósio Clemente e Felisberto Manuel Costa (este mesmo que atende pelo pseudónimo de Kaji Mbangala), que mais tarde iriam erigir-se por direito de conquista à condição de referências do jornalismo angolano das décadas de 1990 e 2000. Também tive a suprema honra de ser um dos pupilos de JMN no Desk, tal como foi Tito Gourgel e Guilhermino Vergas, hoje médico do Hospital Militar Principal.

Mesmo num cenário mediático adverso para o desporto, sem competições regulares e apenas com esparsos torneios comemorativos, JMN jamais desanimou. Tratou de desincumbir-se noutras tarefas, ajudando a estruturar a FAF e servindo de link para a filiação na Confederação Africana de Futebol (CAF), a convite do Dr. Eduardo dos Santos Macedo e do comandante Ndalu. Também fez de negociador para “trazer” ao país algumas das principais referências do futebol zairense das décadas de 1970 e 1980, como o CS Imana e o AS Bilima, em “quadrangulares” renhidamente disputados, numa altura em que as relações políticascom o vizinho do Norte eram de desconfiança mútua.

Antes mesmo de em 1990 ser nomeado para exercer o cargo de adido de imprensa na Embaixada de Angola em França, JMN já havia feito da diplomacia um sacerdócio. Em 1980 calcorreou boa parte do continente para convencer os ministros dos Desportos dos países da então Zona IV do Conselho Superior do Desporto em África (CSSA) de que Luanda e Huambo tinham segurança bastante para acolher sem sobressaltos os II Jogos da África Central.

Na década de 1980, enquanto correspondente da revista mensal Jeux D’Afrique, publicada em Paris, reportou os vários momentos do desporto angolano, dando a conhecer o nosso país ao Mundo. Nessa altura, também ajudou muitos futebolistas nacionais emigrados no Zaíre a retornarem à terra, sendo exemplo disso mesmo o grupo liderado pelo virtuoso Maluka, que “aportou” no Estrela Clube 1.º de Maio de Benguela, o primeiro emblema a intrometer-se, em 1985, na hegemonia futebolística da capital, protagonizada pelo 1.º de Agosto e pelo Petro-Atlético de Luanda.

Provavelmente, porém, o ponto alto da diplomacia desportiva do grande jornalista que foi JMN terá acontecido em 1984 quando um erro da FAF, ao inscrever a Selecção Nacional, custou a desqualificação. Quando tudo parecia perdido e os dirigentes federativos conformados, eis que surgiu em cena JMN. Deslocou-se ao Cairo para junto do então poderosíssimo SG da CAF, o egípcio Mustapha Famy, deslindar o agudo problema. E Angola não falhou a presença em mais uma eliminatória de acesso à fase final do CAN.

Com a morte de JMN, Angola perdeu aquele que terá sido a principal figura da diplomacia desportiva da década de 1980. Alguém que também ajudou a escrever a História recente do país, num dos capítulos mais ricos, o do desporto.

Joseph Mputo N’dongala nasceu aos 22 de Novembro de 1947, na aldeia de Kimavanga, na comuna do Béu, municípiuo do Zombo.

Ingressou nos quadros da Angop aos 8/2/1978.

Fonte JA/ Wizi Kongo

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