A GÊNESE DAS PRISÕES DOS TOKOÍSTAS: Das cadeias às expulsões

(A origens, seus promotores, protagonistas, tokoísmo, percursos, mitos e expulsão)

Por edição Mumbeliano M’aziko

INTRODUÇÃO

 A igreja de nosso Senhor Jesus Cristo no mundo “os tokoístas” relembrada aos 25 de Julho de 1949, ao longo da sua trajectória histórica[1] e profética foi marcada por vários acontecimentos que hoje, suas marcas indeléveis nunca serão esquecidas se não relembradas. Por isso, neste presente trabalho relacionado com os “fenômenos e realidades tokoístas[2]” que temos vindo a publicar, procuramos abordar o tema “A GÊNESE DAS PRISÕES DOS TOKOÍSTAS: DAS CADEIAS ÁS EXPULSÕES”, um acontecimento que está na origem do repatriamento dos tokoístas no então Congo Ex-Belga (actual República Democrática do Congo) e da implantação da igreja de Cristo em Angola (1950-1961).

 

Com a elaboração do presente trabalho, procuramos trazer a tona um tema relevante, muito debatido e discursado mais pouco se descreve com clarividência aquilo que de concreto se vivenciou ao longo do carceramento dos tokoístas com o seu líder, o profeta Simão Gonçalves Tôko (1918-1984[3]), através dos dados inéditos que procuramos trazer, esperamos virem dissipar o maior vazio que se regista no universo tokoísta, acadêmico e sociedade em geral sobre este acontecimento – De referir que para a conclusão deste, estudo fizemos revisão total de um número aceitável de acervos, desde arquivos de Torre do Tombo, Ultramarino, Belga (Turvuren), arquivos dos missionários a partir de Mbanz´a Kôngo[4], na missão Baptista actual IEBA, arquivo pessoal de alguns anciãos presentes neste dia, (Ambrósio Kinavuidi Swamino Pembele Vanga Uvianga wau ka Uvie[1], Vuaituma Sebastião, Vumambu João David, Donfoso Fernando Manzambi, Daniel Nswamino, Araújo Daniel Mfinda, Augusto Bernardo e Manuel Nganzi), assim como na opinião de vários anciãos, (Mbala Daniel, Simão Lukoki, Pedro Nzila, Pedro Kinini, Daniel Kinzizi, Simão Nkosi e Simão Lutonda), só para citar estes. Ainda realizamos trabalho de campo para o levantamento bio-bibliográfico, nas diversas localidades, no caso da República Democrático do Congo (Rua Mayenge Nº 159, Nsôna-Mbâta, Rua Kitega Nº 09, Ndolo, Ofitra e Lubumbashi) em Angola (Mbanz´a Kôngo, Luvu e Noki), aonde podemos recolher um leque de informações primárias e secundárias[2] para embasar o nosso trabalho, tal como veremos ao longo da nossa dissertação, para dar credibilidade naquilo que será abordado aqui, decidimos em vários aspectos mencionar alguns dos textos como fruto e prova de trabalho de campo e alguns documentos e factos inéditos por nós recolhido.      

A origem das prisões dos tokoístas: Segundo autores

A bem da verdade, até aqui, a história das prisões dos tokoístas ainda não foi estudado pormenorizadamente como tal, apenas alguns autores (escritores), biógrafos e escreventes é que tentaram narrar o resumo daquilo que houve  de concreto com a prisão dos tokoístas e que todos os críticos, lideres e secretários tem seguido de acordo com as suas entrevistas e discursos até aqui ouvido.

 

Assim sendo, ao longo das nossas pesquisas preliminares sobre o assunto como foi dito podemos encontrar várias versões quase similares acerca da prisão, sofrimento e repatriamento dos tokoístas na então cidade de Léopoldville (RDC), aonde podemos ler que a primeira prisão dos tokoístas se registou no dia 20 de Outubro de 1949 e não no dia 22 de Outubro de 1949, sem mencionar a prisão sofrida pelos anciãos Ngoma Alassa e Humana André, aos 03 de Agosto de 1949, detido em Brusseaux no distrito de Mindúli, no Congo Frances, tendo sido repatriado para Congo Belga, aos 04 de Maio de 1950, onde estavam os tokoístas, (Eduardo dos Santos, 1972:382), como temos lido nos vários pronunciamentos dos lideres das várias direcções dos tokoístas, depoimentos dos anciãos e discursos lidos pelos secretários no âmbito da comemoração da data, já na segunda versão que foi apresentada aqui, vamos encontrar narrações precisas a cerca da prisão do dia 22 de Outubro, o que ficou marcado na história do tokoísmo[1], como sendo a primeira prisão a data em que foi preso o profeta Simão Tôko.

Aqui se seguem as versões sobre a primeira detenção dos tokoístas.

  1. A primeira versão

Kina kye kala kia 09.09.1949, i lumbu kie vaikiswa onkangu wawonso uma walandanga yovo, wawá kayingidi Tata Simão Tôko, mun´esambilu dia nenê dia Mbanz´a Kinshasa Léopoldville muna Bala-bala Itanga – Missão BMS – mbuta ze wantu yovo mbuta se atwadisi andonga omu lumbu kiokio – Makoka André, Menakuluse Timóteo, Manuel Tôko Diakenga, Mavembo Sebastião, Vita Manuel Lusimana e Nswamani Miguel Daniel (Nsiata), vava twa ingwa, muna nkonkela alumbu kiokio, ikiau kiakala alukutakani lwa nenê kuna Kitenga nº 155, lumpangu lwa tata Menakuluse Timóteo ye momo lukutakani lolo lua vangilua ze posto (Sucursais) ye solua yaka buka bayenda fulu yeyi: Mbanz´a Ngungu (Thysville), alongi bayiza oku Angola, kina kye kala kia 20.10.1949, entumwa zina ze yenda kuna Mbanz´a Ngungu (Thysville) bakangama yo kotiswa muna mpelezo, yaki tata Miguel Lázaro e António Botevanga, buka kia Kiazi-Nkolo bafidilu kuna Morbeck Tumba. Ibosi vava bana fundiswa, infilwa bafilwa kua Thysville,

ikuau bakala ngonde 05 ye lumbu kumi ye mosi (11). Avoi lutangu luakangamena kuna kiazi-Nkolo akento ye akala tezo kie 40 mawantu.

Pedro Mumbela, 1975:2-3

Tradução (arriscando)

 Aos 09.09.1949, é o dia que foram expulsos os seguidores de Simão Tôko, na Igreja BMS, em Léopoldville em Kinshasa, na rua ITANGA – missão BMS na altura os anciãos que vigiavam o povo foram: Makoka André, Menakuluse Timóteo, Manuel Tôko Diakenga, Mavembo Sebastião, Vita Manuel Lusimana e Nswamani Miguel Daniel (Nsiata) quando fomos expulsos na tarde do mesmo dia é quando realizamos uma grande CONFERÊNCIA [Reunião Magna] em Kitenga nº 155, na residência do ancião Menakuluse Timóteo, foi nesta reunião onde foi criado os Postos [Sucursais] e seleção ou formação dos grupos dos evangelistas que foram enviados nas seguintes localidades: Mbanz´a Ngungu (Thysville), Angola e no dia 20.10.1949, os evangelistas enviados em Mbanz´a Ngungu (Thysville), presos e encarcerados na prisão, em companhia dos anciãos Miguel Lázaro e António Botevanga e enviados em Kiazi-Nkolo, e posteriormente em Morbeck Tumba, quando foram julgados foram enviados em Thysville, onde ficaram 5 meses e 11 dias eram no total 40 tokoístas, entre eles homens, mulheres e crianças. 

A partir dos escritos de Pedro Mumbela, podemos perceber logo de primeira que as detenções dos tokoístas começaram aos 20 de outubro de 1949, como consequência da expulsão dos mesmos na igreja Baptista (BMS) e da expansão da mensagem de libertação do povo oprimido, tal como concorda o ancião Pedro Kinini (2018), Simão Lukoki (2019) e Simão Lutonda (2017-2019). Ainda sendo na mesma linha de pensamento o escritor Matuirno Nzila nos seus estudos levados a cabo acerca do acto, apresenta-nos a data de 21 de Outubro de 1949, como sendo a data que marca as primeiras detenções dos tokoístas em Léopoldville, lê-se:

  1. A segunda versão

Aos 21 de Outubro de 1949, começaram as detenções. Aqui podemos ver que as detenções dos tocoistas é um acontecimento extremamente ligado à descida do Espírito Santo e a relembrança da igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no mundo. Cada um pode constatar, a partir do já exposto, que o dia 22 de Outubro é apenas uma passagem de uma longa trajectória vivida por Simão Gonçalves Toco. Contudo, falar das detenções dos tocoistas é o mesmo que falar do dia 22 de Outubro de 1949, por se tratar de um marco principal. Pois antes do dia 22 de Outubro, só há uma detenções que decorre, a 21 de Outubro de 1949, na cidade de ex. Thysville (actual Mbanza Ngungu); mas esta não inclui a detenção do cabecilha. Isto é como num frente de batalha onde morrem milhares de soldados, mas que só apenas a morte do comandante, general, coronel ou oficial superior que dirige a frente se dedica maior atenção.

Maturino Nzila, 2006:6-7

 Aqui começam o verdadeiro conflito sobre a gênese das detenções dos tokoístas, de acordo com a opinião do ancião José Afonso Ntomo (2014) podemos entender que o referido conflito é registado por ser a mesma cidade que ocorrem as duas primeiras detenções, neste caso, a cidade de Thysville (Mbanz´a Ngungu) e que mais tarde os dois grupos presos na mesma localidade foram postos na mesma cadeia. Por um lado, por outro lado, numa análise minuciosa a partir das narrações dos dois autores, nota-se a disparidade das duas datas, pelo número total dos presos e das disparidades das fontes consultadas, em Pedro Mumbela (1975:2-3), lê-se 40 tokoístas, entre eles homens e mulheres, já o Maturino Nzila (2006:6-7), reproduziu a lista de 35 elementos[1], apoiando-se em Pedro Mumbela, José Afonso Ntomo (2014) e Eduardo dos Santos (1972:382).


Ilustração 2 Caderneta de identificação da Madalena Menga, do então Distrito Urbano de Léopoldville, com os carimbos de recenseamento. Arquivo Edição Mumbeliano M´aziko

Ainda, a partir das duas narrações tanto Mumbela como Maturino podemos nos aperceber que a prisão dos grupos dos evangelistas e sacerdotes, mudara o clima religioso e político de então Congo ex-Belga, aonde as queixas contra os seguidores de Tôko foram se multiplicando, para as autoridades do Congo Ex-Belga, foi um momento oportuno porque a calhará com o mês em que tiveram actualizar os dados das populações (senso) que era realizado anualmente entre o mês de Setembro a Outubro, tal como testificam os documentos pessoais dos irmãos Ambrósio Kinavuidi Vanga e Miguel Timóteo e Madalena Menga. Pedro Mumbela (1975:4).

Ainda na mesma senda, dos debates sobre a gênese das prisões dos tokoístas para compreendermos de como foi à prisão do dia 22 de Outubro de 1949, recorremos desta vez nos escritos dos vários escrevente e autores, para Mumbela, tudo sucedera de seguinte maneira.

  1. A primeira versão

Enkangama mbut´amuntu Simão Tôko ye nkangu andi vana Kinshasa owu yakala: kina kie kala kie 22.10.1949 kie sabala – mbut´amuntu Garcia Mvuama ye ndumbelele yole, Paulina Vindo ye Munzavuila Ana Diakiese yo mwan´ayakala mosi wansiki ansambi, nkumbu ani Álvaro, batuka kuna Posto [Sucursal] Kabalo, yo kwenda kuna Nyanza yovo kuna ndambu Camp. Otraco, ikuau bayenda wanana yo nkento mosi win´ezina dia Elisa Kumbundu ye mwan´andi ndiona wakatulu´ensanga enkumbu´andi Maria, es´ani nkumbu´andi Meya; o mwana ndioyo wateka katulu´esanga, ozevo nos´andi mbut´amuntu Meya kayangalalako, omwan´andi kakatul´ensanga, ivuika kavuika diak´ensanga enkumbu anzole, os´andi. Ozevo mbut´amuntu Garcia Nvuama wau vo, mwanda ngolo kakala wau, wa mbasi Mikael, wavana tabul´ensanga mina kavuik´ose kua mwan´andi. Ibosi ongudi amuana, nengua ElisaKumbundu kayangalala ko, wavo edimbu diodio diteka tuka enkindu kuna nzo ye se, vava Maria katulu´ensanga wele funda kua ngudiani, engudiani wele funda kua ngudiandi nkasi win´ezina dia Léon, isiavo ngudiandi nkasi yandi Maria, ibosi o Léon infunda kayenda funda kua nyanzi, vana katangidi owantu, isiavo “recenseamento”. Vava mapudisi bayenda vana basisa mbut´amuntu Garcia Nvuama, kebawana ko. Ozevo onkento ndioyo nengua Elisa Kumbundu wazaya kuna Mahenge nº 159, insongela kayenda songela kua kala Mfindi, edi kabanza vo mbut´amuntu Nvuama lueke kala kuna Mahenge. Ibosi momo lumbu kiokio kie 22.10.1949, muna ola 09 ze nsiuka, mbut´amuntu Pululu Josefu[1], wakutu kia kia mbut´amuntu Kimbangu, wakiluakila kuna Mahenge, vava nengua Kumbundu ye mapudisi kana kabaluakako. O mbut´amuntu Pululu Josefu wakutu kie mbut´amuntu Kimbangu, wasakulanga omambu mana mabua omu lumbu kiokio yani oku vo “O Nzambi ofwanisi empaik´eno kevasidi diaka lumbu ye yingi ko se luvaika ova Mbanza yayi”. Vovo vau, kakimanisina ko emokena yo ankento ye ndumbelele, isiavo Kumbundu, Maria, Meya, Léon ye Mapudisi bakotele, ye bayuvula Garcia Mvuama, yani Kumbundu oku vo kena voko, nkasi endioyo i chefe diau, isiavo Mfumu au kubatumanga, i Simão Toko, nkinga muna nzo a Mfindi imwakala Voka Jorge ye Anfoso Kuanza bakele fundisanga vana Kuluzu, bavaikiswa kua mapudisi ye bosi banatwa kua Posto (administrador), kuna kwa kala ndiona chefe de Quartier, ndiona okele vanganga olutangu isiavo “recenseamento”, yandi yabafidisi kua Central, yebosi bafidisu vana bilu kie comissário, kuna bilu kikelenge nkumbu “TRAVAUX-PUBLIQUE” ye bosi bafundisua ye filwa kua “LA CITE-INDIGENE”, kuna Kalamu, vava bakatuka kuna “LA CITE-INDIGENE” bafidisua kuna “NDOLO” anene, eyaka  donga isidi vinga kuna “LA CITE”, vava kuma kua kia ekie lumingu bafidilu kuna “OFITRA” kuna boloko die wantu akangamenenge mu mambu Manzambi – muna kiokio lumbu 22.10.1949 bantu bakangama ezi mazina mau: Simão Gonçalves Toco, Ambrósio Kinavuidi, Rosa Maria, João Mankoka, Miguel Timóteo M´aziko, Garcia Mvuama, João Makaia e Ntumisungu Cardos Pedro.

Pedro Mumbela, 1975:3-4

Tradução (arriscando)

A prisão do profeta Simão Tôko e o seu povo em Kinshasa foi de seguinte maneira: Aos 22.10.1949 num sábado – o ancião Garcia Mvuama com duas meninas nomeadamente: Paulina Mvindu, Manzavuila Ana Diakiese e um rapaz de nome Álvaro um violista, haviam saído do Posto [Sucursal] Kabalo em marcha para Nyanza e Camp. Otraco é aí, onde foram encontrar uma senhora de nome Elisa Kumbundu e a sua filha, aquele que foi tirada as joias [missangas] de nome Maria Meya seu pai o seu nome era Meya; antes a menina já havia sido tirado, foi novamente vestida as mesmas pela segunda vez pelo seu pai. Desta feita, o ancião  Garcia Mvuama como espírito que habitava nele com toda força porque até se tratava do espírito de anjo Mikael (Micael), acabou de arrancar e cortar as joias que o seu pai havia de vestir a sua filha. Assim sendo, a mãe da menina, a mama Elisa Kumbundu, não ficou satisfeita, porque tal assunto já havia trazido conflitos conjugais com o seu esposo, quando a menina lhe foi arrancado as joias, foi queixar a sua mãe e a sua mãe foi apresentar a queixa no seu irmão, tio da menina de nome Léon e em seguida o Léon foi apresentar a queixa as autoridades, no local onde realizavam o recenseamento. Quando as policias foram onde a família tinham deixado o ancião Garcia Mvuama já não haviam lhe encontrado. Com a mãe Elisa Kumbundu sabia em Mahenge nº 159 foi mostrar konde estava o profeta, pensando que Garcia Mvuama já havia chegado a Mahenge. Ainda, no mesmo dia de 22.10.1949, às 9 horas, o ancião Pululu Josefo, corpo vate de profeta Simão Kimbangu, já havia chegado a Mahenge, antes da chegada da mama Kumbundu com as autoridades policiais, o ancião Pululu Josefo, corpo vate de Simão Kimbangu estava a vaticinar (profetizar) aquilo que viria acontecer no mesmo dia, dizendo o seguinte “Deus concretizou a vossa saída aqui em Kinshasa já não vos resta mais muitos anos, irão sair nesta cidade”. Não acabando de vaticinar, chegaram a família e as autoridades, isto é, Kumbundu, Maria, Meye e Léon, perguntaram por Garcia Mvuama,  controlando bem a mama Kumbundu respondeu que ele não está, mas este é o chefe deles que costumam lhes mandar, tratava do profeta Simão Tôko afinal dentro da casa do profeta estava lá o ancião Voka Jorge e Afonso Kuanza que realizavam o serviço de confissão na cruz foram posto fora pelas autoridades e em seguidas todos foram levado no Posto (administração), aonde estava o chefe do Quartier, aquele que realizara o “recenseamento”, lhes encaminharam na Central em seguida foram enviado no gabinete do comissário no comissariado conhecido de “TRAVAUX-PUBLIQUE” aonde começaram a ser julgados e enviado em Kalamu na prisão de “LA CITE-INDIGENE”, desta prisão foram encaminhado para Ndolo, aqueles que iam se entregar voluntariamente ficaram na prisão de “LÁ CITE”, no dia seguinte num domingo foram enviado para Ofitra, a prisão destinada para os presos religiosos, no mesmo dia foram preso os seguintes elementos: Simão Gonçalves Toco, Ambrósio Kinavuidi, Rosa Maria, João Mankoka, Miguel Timóteo M´aziko, Garcia Mvuama, João Makaia e Ntumissungu Cardoso Pedro.             

As narrações de Pedro Mumbela (1975:3-4), traz-nos muitas verdades em relação aquilo que estamos acostumados a ouvir em depoimentos e discursos na igreja, duas notas retemos nos escritos de Mumbela, atentamente:

  1. Apontamentos: A partir dos apontamentos de Mumbela, podemos perceber o que é que o profeta esteve a fazer na manhã em que foi detido pelas autoridades Belgas: (a) a compor os hinos através da viola, o típico dos compositores (b) decorria os trabalhos de confissão no tabernáculo denominado “Jordani” que estava sendo realizado pelo ancião Voca Jorge e Afonso Kuanza; (c) e mais tarde a receber as noticias dos altos através do vate Pululu Josefo, na companhia da dona Rosa Maria Tôko e o ancião Ambrósio Nsungi e dos irmãos Miguel Timóteo M´aziko e Ambrósio Kinavuidi; (e) as cadeias por onde passaram até serem encarcerados em Ndolo e Ofitra.
  2. Comparação: Relativamente, enquanto que na maioria se apegaram publicamente nas narrações do dia 22 de Outubro de 1949, e das prisões de Ndolo e Ofitra, em Mumbela, lê-se, “antes e depois da prisão”, o que pode ser confrontado com os apontamentos doutros protagonistas, no caso de Donfonso Fernando Manzambi (2017-2018), Vuaituma Sebastião (1984-2018), Simão Lutonda (2014-2018) e Simão Lukoki (2017-2019) e tanto outros documentos do governo Belga, através dos serviços prisionais.

Ainda em Mumbela (1975:3-4), podemos ler detalhadamente, sobretudo aquilo que ocorreu com o profeta Simão Tôko, aquando da sua detenção, é o caso de passar pelo julgamento, que teve lugar aos 24 de Outubro de 1949 na cadeia de Ndolo onde, o julgamento foi conduzido pelo juiz Italiano, Brechet Rosi, irmão do Comandante De Rossi (aquele que julgou o profeta Simão Kimbangu no dia 17 de Setembro de 1921[1] em Thysville na cidade de Mbanz´a Ngungu) – O julgamento ocorreu no auditório do juiz presidente – do representante do ministério público, da escolta militar e dos reclusos – tal como evidencia o documento 11035, fólio nº 15/B do conselho de guerra e de Surtire do Congo Belga – Léopoldville, 25 de Setembro de 1956 – Oficio nº 22.300/C/XIII/125- Referência ao oficio nº2092/2º/956-56- de 17 de Maio de 1956. Assunto: Adeptos da seita tokoísta, também tivemos a paciência de confirmar estas informações em Sansão Afonso (s/d:16-24).

A semelhança de Mumbela, lê-se em Maturino, mais que também seguiu rastro de outros escritores[2], manuscritos dos redatores e depoimentos dos anciãos, aonde podemos ler:

  1. A segunda versão

À tardinha de 21 de Outubro de 1949, uma menina de nome Maria, filha da senhora Louise Kumbundu, de nacionalidade congolesa, dirigia-se à sucursal onde trabalhava o senhor Mvuama Garcia, para confessar[3] e ingressar na igreja de nosso Senhor Jesus Cristo no mundo. A menina que parecia possuir os seus cerca de 15 anos de idade, após ter confessado, o Senhor Mvuama Garcia fez questão de receber-lhe os brincos de ouro que a mesma trazia consigo no corpo; isto em função do preceito da igreja em Isaias 3:18-23. De regresso à casa, a menina deu à conhecer  a mãe Louise Kumbundu, nativa de Kibokolo, em como os seus brincos de ouro lhe tinha sido recebido pelo senhor Mvuama Garcia no acto de confissão. Dona Kumbundu ficara enfurecida de tal modo que, pela manhã de 22 de Outubro de 1949, levara a queixa junto às autoridades da Administração Belga em Léopoldville. Fruto da queixa apresentada, as autoridades Belgas mandaram chamar o Reverendo Salmon pedindo-o um esclarecimento acerca do Senhor Simão Gonçalves Toco e do trabalho que estava a fazer. Depois da conversa mantida na

Administração, ambos se dirigiram À casa do senhor Simão Gonçalves Toco. Contudo, antes de chegarem à sua casa, Simão Toco tinha já informado os demais que o Reverendo Salmon se encontrava na Administração e tinha acordado a sua detenção e repatriamento junto com a esposa; contudo suplicara às autoridades, que nenhum mal se fizesse ao povo que o seguia, porque eram inocentes.

Maturino Nzila, 2006:8-9

Na mesma linha de pensamento em Pedro Agostinho podemos ler mais duma forma tão resumida sobre a prisão do profeta Simão Tôko:

  1. A terceira versão

Assim, aos 22 de Outubro de 1949, Simão Gonçalves Tôco, foi preso pela primeira vez na companhia de vários irmãos da igreja, que se entregaram depois voluntariamente e postos imediatamente nas enfermas prisões de Ndolo e Fitra em Léopoldville, actual Kinshasa, tal como ele havia profetizado. [tudo começou o seguinte]. Certo dia, o irmão Garcia Mvuama um dos primeiros vates desta igreja, devidamente inspirado pela virtude de Espírito Santo, saindo fora da sua casa e ao ir no local dos ensaios de hinos, precisamente em casa do velho Mankoka João, na rua Baraka nº A 36, perto da cadeia de Ndolo, chegou de arrancar o fio de ouro e os brincos de uma rapariga que passava na referida rua de nome Maria, tendo-lhe causado um pequeno ferimento nas orelhas, devido a força com arrancara os brincos da mesma. A referida rapariga correu depois à sua casa chorando pelo caminho, e quando chegou á casa informou a situação á sua mãe, que começou por dizer o seguinte “não chore mais minha filha, eu vou resolver este problema amanhã já que agora é anoite. O muzombo do Simão Tôco amanhã, vai conhecer quem sou eu!”. No dia seguinte a mãe da rapariga Luísa Kumbundu, queixou-se as autoridades belgas, que já tinham registado várias queixas, sobre o comportamento dos tokoístas que eles consideravam deturpador. A queixa foi apresentada directamente ao comissário da Polícia da Esquadra Central o belga Pirote. Eis, as palavras contidas na queixa da senhora Luísa Kumbundu: – senhor Comissário, nzambi mapapu ya Kimbangu (o Deus de asas de Kimbangu) que há muito tempo apareceu aqui no Congo e que fez prender o mesmo Kimbangu as nossas autoridades reapareceu agora com muzombo Simão Tôco na rua de Mayengue nº 159. Esta senhora segundo Doze mais velhos, estava muito furiosa naquele momento, pois, o fio de ouro e os brincos que o irmão Mvuama tinha rebentado da sua filha, lhe custaram muito dinheiro dizia ela. Perante isto, como primeira medida do comissário da polícia, em face de esta e outras situações, manda chamar o Reverendo Salmon então responsável da missão Baptista de Léopoldville que tinha estreita ligação com o Simão Gonçalves Tôco, perguntando-lhe a real situação que se passava com ele naquela altura. Em resposta o Reverendo Salmon dizia: – o Simão Tôco desde Angola na missão de Quibocolo onde fez os seus estudos primários até Luanda onde foi continuar com os seus estudos secundários, nós é que lhe educamos. Ele foi sempre nosso filho e quando chegou aqui no Congo, nós é que também o recebemos. Ele sempre esteve conosco na missão como catequista e mestre de côro. Portanto, o que está fazendo agora aqui é da sua inteira responsabilidade, pois nós não lhe conhecemos como profeta de Deus. Esse procedimento negativo que as autoridades constataram é da cabeça dele mas não é de Deus. Por isso, as autoridades agora é que sabem conformem a lei vigente no país poderão decidir sobre Ele. Assim, como medida punitiva das autoridades belgas, face as inúmeras queixas contra os tocoistas, quer dos missionários, que reclamavam pelos seus membros recém convertidos no Tocoismo, quer dos cidadãos comuns, imediatamente procuraram o Dirigente dos Tocoistas na sua residência, sendo interrogado de imediato sobre a situação que se passava com os seus fieis, se na realidade era do seu pleno conhecimento, ou não?! Porém o Dirigente, respondera afirmativamente tendo aceite e assumido a responsabilidade de todas as acções da fé praticadas por estes naquela altura, em nome do Senhor, sendo preso no mesmo instante e transportado até a esquadra da polícia onde imediatamente foi julgado pelo Comissário  da Polícia o senhor Pirote, que depois do julgamento lhe atribuiu culpa, ordenado imediatamente aos seus policias para que o metessem no carro junto com alguns irmãos que o rodeavam e que fossem postos na cadeia de Ndolo. Depois da notícia chagar aos ouvidos de todos Tocoistas, estes organizados e decididos corajosamente, entregar-se voluntariamente ás autoridades belgas, ao ponto de encherem por completo as prisões de Ndolo e Fitra, gerando assim, um clima de pânico nessas cadeias.

Pedro Santos Agostinho, 1999:57-102-104

A partir do Pedro Agostinho, conhecido como um dos primeiros tokoístas atrás do jornalista Maturino Nzila (1998) que publicou uma das primeiras obras literárias, sobre o resumo da história dos tokoístas, as suas fontes são duvidosas, por alguns motivos:

  1. O autor narrara os acontecimentos, sem ter mencionado as fontes[1], a sua narração num estudo muito exaustivo nos parece contraditório, como se fosse ter vivenciado os factos como exemplo, se o Mvuama Garcia arrancara as joias da menina Maria na Rua[2] como podemos ler; como a mãe dela sabia que foram os tokoístas que cometeram o acto e que o seu líder destes era o profeta Simão Tôko, se havia muita gente a passar na rua e vários movimentos proféticos de gênero na altura (Mpadismo e Kimbaguismo) existiam no Congo?
  2. Por um lado, através da narração podemos perceber que os acontecimentos de Mvuama teve lugar no dia 21 de Outubro embora o autor, não menciona a data da ocorrência, mais se compreende em Maturino Nzila (2006:8-9).

A partir da obra de Pedro Agostinho, assim como tantos outros autores por falta da realização de trabalho de campo mais exaustivo foram compilando obras com repetições de informações históricas, mais cada um com a sua maneira de passar a tabua rasa e o caso de Albino Kisela (2013:49-50), o mesmo se leu em Simão Quibeta (2004:39).

Assim sendo, a partir das cartas do profeta Simão Tôko, podemos perceber o resumo daquilo que foi a sua prisão, tal como podemos ler em alguns recortes dos jornais nos serviços da imprensa do Congo ex-Belga, começando primeiro com a carta de [1970-1973] publicada por Eduardo dos Santos, lê-se:

  1. A quarta versão

Os protestantes vendo o crescimento da Palavra de Deus, eles sabiam o motivo do aumento da palavra de Deus, visto que o Espírito Santo foi pedido em 1946, mas por causa do medo das autoridades belgas, para não serem apanhados, queixáramo-nos as autoridades belgas, as quais depois da gente evangelizar 3 meses, fomos presos em 22 de Outubro de 1949 e postos nas duas cadeias de Ndolo e Filtra, onde permanecemos 2 meses aguardando a determinação daquele Governo. Fomos presos primeiramente cem pretos portugueses de Angola, mas o número total dos Tocoistas presos era de 3000 pessoas. […] Em 10 de Janeiro de 1950 saímos da cadeia e fomos expulsos do Congo Ex-Belga pelos Belgas e entregaram-nos as nossas autoridades de Angola, que fixaram-nos residências […].

Eduardo dos Santos, 1972:375

Por tanto, precisamos reunirmos as opiniões dos anciãos para termos a fidelidade das informações que os autores supracitados foram nos apresentado ao longo dos anos.

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