Línguas nacionais devem constar no currículo escolar

O historiador Patrício Batsîkama, vai ser o orador na Maka à Quarta-Feira, na União dos Escritores Angolanos, a realizar-se no dia 8 deste mês.

Por Mário Cohen

A inserção das línguas nacionais no sistema de ensino público e a formação de quadros na área da linguística é uma das preocupações dos especialistas angolanos em línguas africanas, que também chamam atenção para a promoção e valorização dos idiomas maternos.

A preocupação vai ser apresentada na quarta-feira, na União dos Escritores Angolanos (UEA), na habitual Maka à Quarta-Feira, pelos docentes universitários António Januário e Miguel Lubwatu, onde foi analisado o tema “Política linguística e sugestões epistemológicas para replanificação das línguas locais de Angola”, uma actividade promovida pelo Movimento Litteragris, em parceria com a UEA.
António Januário, que dissertou sobre o tema “O uso do kimbundu como elemento de formação de identidade”,  julga ser necessário que se crie condições para uma efectiva e clara política de desenvolvimento e uso das línguas nacionais nos serviços públicos, principalmente no sistema de ensino em todo o território nacional.

De acordo com António Januário, o kimbundu é a língua falada pela etnia ambundu, que se constitui num dos idiomas mais falados em Angola, assim como faz parte do grande grupo de línguas africanas que os colonizadores europeus nos séculos passados convencionaram chamar línguas bantu. Geograficamente, o kimbundu é uma língua africana tipicamente falada em várias regiões de Angola, precisamente na capital do país, nas províncias de Malanje, Cuanza-Norte, Bengo e nas zonas fronteiriças  do Uíje, Zaire e do Cuanza-Sul.

O orador propõe o uso das línguas nacionais nos serviços públicos, assim como a coabitação linguística das mesmas com o português nos sectores públicos, para que, deste modo, ela possa assumir-se como elemento de afirmação de identidade, a partir da criação da figura de um intérprete, nos casos que se julgar necessário.

Quanto aos termos língua e cultura, explica, embora sejam diferentes, podem partilhar o mesmo tecto se admitirmos que não existe língua sem cultura. “Antes de estabelecer esta relação, importa estudá-los de modo separado.”

Nunca foi criada uma política linguística a favor da promoção da língua Kimbundu na alfabetização. Esta atitude hostil diante das línguas de origem africana não contribuiu para a criação de um status condigno das línguas faladas pelos autóctones angolanos.

Para o professor de língua kimbundu, Miguel Lubwatu, que falou da “Influência do português nos nomes em kimbundu”, as línguas maternas são a identidade cultural de qualquer povo.

Miguel Lubwatu disse que muitos nomes em kimbundu por interferência do português não são escritos como devem ser, como por exemplo misanga (feio com bolinhas), que em português é escrito missangas, e museke (areia) que escrevem musseque.

António Januário Baptista Pedro é licenciado em Ensino da Língua Portuguesa pela Escola Superior Pedagógica do Bengo. É membro do Círculo de Estudos Literários e Linguísticos (Litteragris-CELLL).
Miguel Lubwatu é licenciado em Línguas e Literaturas em Línguas Africanas pela Faculdade de Letras da Universidade Agostinho Neto e é também professor de Línguas Nacional Kimbundu no Instituto de Ciências Religiosas de Angola (ICRA).

O próximo debate de Maka à Quarta-Feira, na União dos Escritores Angolanos, realiza-se no dia 8 deste mês, a partir das 18h00, “Mbânz’a Kôngo, como património da humanidade… que futuro?” e vai ter como orador o historiador Patrício Batsîkama.

À margem do debate em que se vai falar do topónimo Zaire, vão estar igualmente à venda alguns livros de Patrício Batsîkama.

O Centro Histórico da Cidade de Mbanza Congo foi declarado a 8 de Julho deste ano, na Polónia, pela Comissão de Património Mundial da Unesco, Património Mundial da Humanidade.

Via JA

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