D. Francisco da Mata Mourisca recebe homenagem da Diocese

Por Joaquim Júnior

Súplicas e acções de graças a Deus e homenagens aos diferentes grupos e movimentos religiosos marcam a preparação das bodas de ouro da Diocese Católica do Uíje, que de 20 a 23 de Abril celebra o jubileu, como anunciou o bispo D. Emílio Sumbelelo.

A mesma foi criada em 14 de Março de 1967 pelo então Papa Paulo VI, por Despacho da Bula “Apostólico Ofício”, sob a pastorícia de D. Francisco da Mata Mourisca, e baptizada com o nome de Diocese de Carmona São Salvador, que incluía o Uíje e Mbanza Congo.

D. Emílio Sumbelelo, disse que os 50 anos que a região eclesiástica completa significam meio século da construção do Reino de Deus no Uíje. “Há 50 anos que esta parcela do povo de Deus que aqui se encontra ganhou a categoria de Diocese. São para nós, comunidade católica do Uíje, um momento de acção de graças pela criação de uma igreja particular e palavra de Deus que chegou até à nossa terra. É um momento também de reflexão como ponto de partida daquilo que os missionários há 50 anos nos ligaram e o que podemos fazer para dar continuidade desta grande obra”, referiu.

A festa, referiu D. Emílio Sumbelelo, está a ser antecedida da celebração de jubileus intermédios dos diversos movimentos, que são as forças activas da Diocese. O primeiro movimento que mereceu honras pertence à classe de catequistas, onde se fez uma resenha histórica daquilo que foi o papel destes na vida florescente da evangelização.

“Com os catequistas, olhamos para o futuro. Um dos aspectos sublinhados é que precisamos de reactualizar sempre os conhecimentos adquiridos atendendo os desafios que se colocam. Outro grupo jubilado é a Comunidade de Jesus. Escolhemos os diversos grupos para que tenham os seus jubileus, porque cada movimento apostólico ou associação da Igreja é sempre um lugar onde o membro encontra condições e meios necessários para viver a sua vocação”, referiu.

D. Emílio Sumbelelo sublinhou que cada grupo tem uma finalidade única de ajudar a pessoa a santificar-se e a viver os valores evangélicos todos os dias. “O cristão deve viver bem a espiritualidade e ser na sociedade um fermento que leve a massa e sal que retempera a sociedade e dá gosto”, exortou. Salientou que no fim dos jubileus vão ser reflectidos com todos os grupos aspectos fundamentais que possam ajudar os membros.

Criação da Diocese

A Diocese do Uíje foi criada através da Bula “Apostólico Oficio” do Papa Paulo VI, em 14 de Março de 1967, com o título de Diocese de Carmona e São Salvador, tomando a designação de Uíje e S. Salvador em 1979. Posteriormente, em 8 de Dezembro de 1984, com o desmembramento que deu origem à criação da Diocese de Mbanza Congo, ficou com a denominação que tem actualmente.

A Diocese do Uíje é herdeira de uma longa história, impregnada de heroísmo e repleta de vicissitudes. A 8 de 12 de 1984, a mesma foi desmembrada da Vigararia de Mbanza Congo. O bispo recorda que a assistência religiosa, por altura da criação da Diocese, era feita em dez centros principais do Uíje, Negage, Sanza Pombo, Cangola, Maquela do Zombo, Quimbele, Santo António do Zaire e Ambrizete. “Daqui, estendiam os missionários a sua actividade a outros pontos.

Primeiros missionários

A primeira presença de um missionário católico no Uíje data de 1920, mas de forma oficial acontece a 16 Junho em 1937 com a chegada, a Maquela do Zombo, do padre Manuel Alves Saganha, que era do clero missionário português. Nessa altura, cria-se a primeira paróquia com registo de baptismo, depois, foram-se seguindo outras, como revelou Dom Francisco.

“No princípio, foram-se criando pontos fulcrais onde se começou a lançar a palavra de Deus. Outro ponto de irradiação da pastoral foi a missão de Sanza Pombo, por acção do mesmo padre, Manuel Alves Saganha, em 8 de Julho de 1940, e assim foram-se criando as comunidades de Bembe, Songo, Quimbele, Cangola e a última missão criada antes do Uíje passar à categoria de Diocese foi a do Negage”, revelou. Acrescentou: “o tempo foi passando com a presença dos padres Capuchinhos, que veio dar um grande impulso. Eles chegam ao território do Uíje a 24 de Junho de 1948 e cria-se a Missão da Damba.

Promoção do homem

Desde a sua criação em 1967, a Diocese do Uíje fundou os seus pilares na divulgação do evangelho e na promoção do homem. Dom Francisco da Mata Mourisca, primeiro bispo nomeado aquando da criação da Diocese, actualmente emérito, afirma que a Igreja Católica no Uíje participou activamente no desenvolvimento sociocultural da província, através dos seus programas de educação, saúde e assistência humanitária.

“Construímos escolas do primeiro nível ao ensino médio que facilitou o acesso das  populações rurais ao ensino. Nessa esteira, construímos ainda escolas primárias em todas as missões, uma Escola de Formação de Professores e o seminário, aliás não havia nenhuma outra instituição, nem sequer estatal, que tinha nesta província uma rede escolar comparável à da Igreja Católica a nível liceal”, afirmou.
O prelado refere que o sector da Saúde foi outra aposta da Igreja para auxiliar a população rural, dado que a prioridade do Estado colonial era as grandes cidades. É assim que,  em 1971, construiu a Escola de Enfermagem de Carmona, sob orientação do padre Sérgio Zotti, que formou vários técnicos que prestaram assistência nos hospitais do Uíje, Maquela do Zombo, Damba, Negage, Sanza Pombo e Cangola.

“Após a independência, a Igreja Católica foi pioneira no combate à tripanossomíase, doença que arrasava povoações completas. Através das Caritas, construímos um hospital na cidade do Uíje para socorrer os doentes tripanossomos que chegavam em grande número”, disse. A assistência humanitária, precisou, é um campo que a Igreja sempre privilegiou.

“Para assistir às populações da região, atraímos atenção dos leigos voluntários portugueses e italianos, médicos que oportunamente minimizaram a gritante falta de técnicos de saúde nos hospitais da província. Este exercício era feito regularmente para garantir o minimizar as necessidades dos nossos confrades”, frisou.

Desafios actuais da Igreja

Nos últimos dez anos, a Diocese do Uíje tem estado a trabalhar mais na evangelização das famílias, na instrução pré-escolar de crianças, na dinamização dos movimentos juvenis, na promoção da mulher, no acolhimento de meninos desfavorecidos e noutros projectos que visam o bem-estar das famílias.
“Os nossos tempos são difíceis, exigem de nós revisões sucessivas nos programas e metodologias de evangelização para manter acesa a chama da fé cristã. Em Abril, celebramos o jubileu dos 50 anos da Diocese, por isso, o clero e o povo de Deus são convidados a assumirem uma postura diferente na evangelização de outros povos”, referiu.

D. Emílio Sumbelelo considera positivo e florescente o estado actual da Diocese, que tem um clero autóctone à altura da gestão e da evangelização da região.

Solenidades do jubileu

Por acerto de calendário, a festa foi aprazada para Abril ao em vez de 14 de Março data da criação. O programa traçado pela cúria diocesana para a celebração do jubileu reza que no dia 20 de Abril começa o simpósio, que vai decorrer durante dois dias, e no período da tarde acontece, na cidade do Negage, uma missa dedicada a todos os missionários em serviço no Uíje, que vai ser presidida pelo núncio apostólico em Angola.

O dia 21 está reservado para a continuidade dos temas do simpósio, onde vão ser passados testemunhos de pessoas metidas na evangelização há muito tempo e, no período da tarde, acontece a dedicação e consagração da nova capela reconstruída na paróquia da Santa Cruz, acto a ser presidido pelo presidente da Conferência Episcopal, o arcebispo D. Filomeno Vieira Dias.

Dia 22, realiza-se o jubileu dedicado às crianças. D. Emílio Sumbelelo destacou que as crianças merecem toda a atenção da Igreja, por serem o seu futuro e o de uma nação. Adiantou que a missa vai ser presidida por um dos filhos do Uíje, D. Luzizila Kiala. Já no período da tarde, as orações serão presididas por D. Almeida Canda, bispo diocesano de Ndalatando.

A grande celebração acontece no domingo, 23 de Abril. Na missa, está reservado um momento especial para homenagear D. Francisco da Mata Mourisca, bispo emérito da Diocese do Uíje, que também completa os seus 50 anos de missão.

Via JA

Comentário

Seja o primeiro a comentar

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.


*


Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.