Morte das 17 pessoas no 4 de Janeiro que fizeram transbordar a água no copo

Por Alfredo Dikwiza

Uíge – A tragédia que causou a morte de 17 pessoas e deixando outras 59 feridas em estado grave e ligeiro, no estádio 4 de Janeiro, completa-se hoje, sábado, um ano, um acontecimento que fez transbordar a água no copo, daquilo que se foi montando no mosaíco desportivo local.

Meses antes da tragédia, isto é, no dia 16 de Junho de 2016, a cidade do Uíge, parou, principalmente os cidadãos identificados pelo futebol, para conhecerem o sucessor do malogrado Miguel da Costa, no cargo de presidente da Associação Provincial de Futebol (APF), para o quadriénio 2016/2020, acto marcado numa das salas de reuniões da Direcção Provincial da Juventude e Desportos, com “dois galos” a concorrerem para uma gaiola, um na lista A e outro na B, mormente, Joaquim Fernand0 “Quinito” e Agostinho Neves António, respectivamente.

Chegado a hora para votação, as coisas começaram a inverter-se pela negativa, pois, os demais clubes foram impedidos de exercer o seu dever na escolha do futuro presidente, e um clube foi autorizado a votar, o Desportivo Ngueto Maka, de Alcides Severino, e fê-lo a favor de Agostinho Neves António, deixando os demais conjuntos incrédulos e desapontados pela posição legada por parte da comissão eleitoral, constituída por um coordenador, secretário e vogal, nomeadamente, Paulo Bunga, Neves Filipe Macaengo e Nicolau da Costa, tendo legado que: As restantes agremiações registadas na APF do Uíge, nomeadamente, Santa Rita de Cássia, Desportivo do Pombo, Clube Desportivo Osmat de Kibocolo, Desportivo do Songo e Construtores do Uíge, não deveriam fazê-lo de acordo com a nova lei das Associações desportivas.

O Santa Rita de Cássia e o Desportivo do Pombo existem há menos de dois anos, não podiam participar no processo eleitoral. Quanto ao Clube Desportivo Osmat de Kibocolo, Desportivo do Songo e Construtores do Uíge, ficaram de fora, por não terem realizado as respectivas assembleias de renovação de mandato. Em seguida, o candidato da lista A e demais clube, que tinham no voto para “Quinito” arrumaram um escândalo (discussão forte, em vozes altas), entre outras, palavras legavam que Agostinho Neves António, comprara a comissão eleitoral e o Ngueto Maka para favorece-lo em assumir o cadeirão máximo da APF, dai os puxa a puxa e “cala boca daí e acolá” se foram evidenciados enquanto desciam do primeiro andar para o ré-de-chão. Já no ré -de-chão a ala maioritária a de (Quinito e companhia) não paravam de falar e evocar palavras como (Agostinho não tinha margem nenhuma de vencer o Quinito, inventaram isso para favorece-lo), tendo em poucos minutos, o local se tornar rodeado de várias pessoas que queriam ouvir na primeira pessoa, os biffes de “Quinito e companhia” contra Agostinho Neves António e aos membros da Direcção da Juventude e Desportos.

Este senário, levou um dos presentes (da ala de Agostinho) ligar a Policia Nacional e retirar Quinito e seus apoiantes. Com a PN no terreno, mobilizaram-nos e sem rodeios saíram do local, muito tristes.

Depois disso, o vencedor, seus convidados e outros, foram terminar com o dia numa das pensões nas mediações do Cine Ginásio, rua do Comércio, onde de tudo por um pouco começando no fungi de bombom, ao de milho, do arroz, a massa e do maruvu ao vinho, a cerveja (…) desfrutaram que desfrutaram. Fernando Quinito, deixou no ar a possibilidade de recorrer a Federação Angola de Futebol (FAF) para repugnar o acto, mais tudo deu a entender que Agostinho Neves António foi mais forte na jogada e, com voto de um clube apenas, ganhou e foi empossado como presidente da referida associação, que tem como sede na cave do Estádio 4 de Janeiro.

Certamente, os rumores chegaram aos ouvidos do ex-director da juventude e desportos e também ao ex-governador provincial, Júnior Cudimuene e Paulo Pombolo, respectivamente, mas que nada fizeram diante desta situação. Assim, o clube Ngueto Maka começou a ganhar popularidade e fama, numa altura em que decorria as últimas jornadas do campeonato provincial da modalidade na categoria dos seniores masculinos.

No fim das contas, Santa Rita de Cácia FC, liderada no comando técnico por Joaquim Muyumba, viria sagrar-se campeão provincial, com 17 pontos, em ano de estreia em prova de género, legando na segunda posição, com 16 pontos, o Clube Osmats do Kibokolo, presidido por Mawete João Baptista, e para o terceiro lugar, com 15 pontos, o Ngueto Maka.

Os dois primeiros lugares ocupados pelo Santa Rita FC e Osmats do Kibokolo, davam acesso a segundona, escalão segundário nacional, que permite chegar ao Girabola, prova da primeira divisão.

Nisto, quando menos se esperou, Ngueto Maka, passou a frente do Osmats e a APF apresentou a FAF, o Santa Rita e Ngueto Maka, como os representantes da província na referida prova. As duas equipas (Santa Rita FC e Ngueto Maka) calharam na série A do Zonal de Apuramento ao Girabola/2017, ao lado do Sporting de Cabinda, Cabinda Sport Clube e Domant FC do Bengo.

Na primeira jornada, o Santa Rita, foi batizado pelo Sporting de Cabinda, em Cabinda, com vitória a sorrir para os visitantes, enquanto Ngueto Maka, também em ano de estreia neste tipo de prova, recebeu e venceu, no estádio 4 de Janeiro, o Domant FC do Bengo, por duas bolas a zero. No capítulo desportivo, até aqui, tudo caminhava a afeição para os dois conjuntos uigenses, cuja série A por eles começou a ser liderada, rumo a primeira divisão nacional e, consecutivamente, corresponder a onda de expectativa que reinava no seio dos afeccionados do desporto rei, o futebol.

Na segunda jornada, o Santa Rita FC folgou por imperativo de calendário, já o Ngueto Maka, deslocou-se ao reduto do Cabinda Sport Clube, onde consentiu derrota, enquanto no Bengo, os dois girabolistas, Domant FC e Sporting, empataram sem golos, deixando a série mais gostosa e própria para cardíacos aceitar como as coisas caminhavam, com três equipas, com igual número de pontos e outras duas, com um ponto, cada.

Em vésperas do jogo da terceira jornada, que colocaria frente a frente o Santa Rita FC/Ngueto Maka, os católicos começam a encontrar embaraços causados pela direcção da juventude e desportos, assim como por parte da própria APF, quanto ao local de treinos, o estádio 4 de Janeiro, tendo os obrigar pagar 20 mil kzs por cada sessão de treinos, o que não acontecia com a outra equipa (Ngueto Maka). Com isso, Nzolani Pedro, presidente do Santa Rita FC, revoltou-se e pensou na possibilidade de centralizar a sua equipa em Luanda e continuar a participar na segundona, mas dias depois recuo da ideia e falou com os proprietários do FC do Uíge, para concederem-no campo pelado dessa equipa, situado no bairro Quilala, periferia da cidade do Uíge.

Neste cenário, o barrulho que começara no dia da eleição de Agostinho Neves António, voltou em cima da mesa e, nos bastidores já se falava num possível favorecimento ao Ngueto Maka no jogo que se avizinhava, diante do Santa Rita FC. Assim, Nzolani Pedro e Alcides Severino, de costas viradas continuavam em chamas de” furacão”, uma rivalidade vinda desde o campeonato provincial e acentuada no dia da eleição de Agostinho Neves António (16 de Junho).

Alcides Severino, disse ao Nzolani Pedro, que o derrotaria em duelo do dérbi local, sem sombras de dúvida, Nzolani Pedro, não se fez rogar e respondeu-o que o último a sorrir, ri melhor, nisso, os dois pesos pesados do momento desportivo, dentro e fora do retângulo do jogo não queriam deixar os seus crédito em vão, quer por parte do cota (Nzolani) e, quer por parte do puto (Alcides). Sem poupar ninguém, o tempo foi passando e as duas equipas a treinarem em condições diferentes, uma no relvado ( Ngueto Maka) e a outra no pelado (Católicos).

Dias depois, chegou o dia “D”, dia do “trumuno” e frente a frente Santa estavam Rita FC e Ngueto Maka, num jogo que arrastou mais de dez mil espectadores ao estádio 4 de Janeiro. No fim dos 90 minutos, a vitória sorriu ao Santa Rita FC, por duas bolas sem resposta, com isso, assegurou a primeira posição do grupo, com seis pontos. No dia seguinte, a derrota caiu mal ao dono da equipa do bairro mais populoso do Uíge, Candombe-Velho, no caso, o Alcides Severino, que viria tornar público a desistência da sua agremiação da prova, legando questões financeiras insuficientes.

Com essa decisão, ao Santa Rita FC, lhe foi retirado os três pontos e ficou com apenas três. O que parecia correr bem, começou a ficar muito difícil cada vez mais. As vozes não se fizeram esperar e de forma categórica se foi afirmado que a decisão tomada por Alcides Severino, foi propositada com objectivo de adiar o apuramento do Santa Rita FC ao Girabola/2017. Por seu turno, o órgão reitor da modalidade no país, viria excluir o Ngueto Maka das provas sob sua égide, num um período de cinco anos.

Nzolani Pedro e sua equipa, diante destas dificuldades que passavam dia a pós dia, nem com isso enfraqueceram-no, antes pelo contrário, continuo firme até ao alcance do objectivo com êxitos do Santa Rita FC, que viria terminar essa séria na primeira posição, com oito pontos, os mesmos que o segundo classificado, Sporting de Cabinda. Com isso, o Girabola-Zap/2017, estava alcançado e uma festa rija foi feita pela direcção do clube, jogadores, equipa técnica, adeptos e tantos outros.

Depois disso, em Luanda, o jogo para atribuição de campeão da segunda divisão, foi marcado no estádio dos Coqueiros, entre o Santa Rita FC e o FC Bravos do Maquis, jogo ganho pelos Católicos. Essas conquistas não eram tidas e nem achadas por parte da APF, Direcção da Juventude e Desportos e do próprio governo provincial, liderado por Paulo Pombolo, já que os três organismos encontravam-se em posições diferentes, quanto a equipa do Santa Rita FC, ou seja, não falavam a mesma linguagem capaz de unir esforços e todos identificarem-se pela única equipa a representar o nome da província na arena nacional e não só (!!!). Para o efeito, Nzolani Pedro, através das suas organizações ” Organizações Nzolani Pedro e Filhos”, não poupova esforços e por último viria a encontrar um patrocinador da equipa para o Girabola/2017, o Cris Gunza.

Nisso, o governo provincial, APF e direcção da Juventude e Desporto tiraram as suas mãos (!!!). Erros atrás de erros no olhar atento da entidade máxima da província. Chegava o Janeiro de 2017, e apenas um mês faltava para o início da prova. Um falso concurso foi anunciado para gerir o estádio 4 de Janeiro, dias depois ficou por se saber que, a empresa “Kipe-investimentos” do presidente da APF , Agostinho Neves António, ganharia o concurso para gerir aquela infraestrutura. “Outra maca mais na sanzala”, afinal a direcção da Juventude e desportos, o próprio governo e também o Santa Rita FC, levaram um do ” cotovelo”, wua tipo nada.

Em condições normais, o estádio 4 de Janeiro, seria entregue ao Clube Santa Rita FC, como acontece em outras paragens de Angola, por ser a equipa porta-bandeira da província na arena nacional e não só, assim como evitar os gastos avultosos deste conjunto. Já que por cada sessão de treinos no estádio 4 de Janeiro pagava inicialmente 50 mil kzs e a posterior começou a pagar 30 mil kzs e outros 300.000.00 em cada jogo oficial, dinheiro este que entrava nos cofres da empresa de Agostinho Neves António. Ora bem, Nzolani Pedro, mostrava-se agastado cada vez mais com isso, porque o estádio 4 de Janeiro não é pertence do governo provincial, nem da associação local de futebol, muito menos da Juventude e Desportos, mais sim, o estádio 4 de Janeiro, pertence a um Clube que ficou nos anais da história do futebol uigense, denominado “Recreativo do Uíge”, cujo donos ninguém sabe aonde param, ou seja, o governo provincial, APF e juventude e Desportos nunca possuíram de uma infraestrura desportiva, ainda que um campo pelado fosse.

Logo, ao abono da verdade, Nzolani Pedro, estava certo nas revindicações quanto ao estádio 4 de Janeiro, porque em nome da província, ele lutava sozinho. Com isso, a rivalidade entre as partes era um facto, ou seja, os três de um lado (governo provincial, APF e direcção dos desportos) e Santa Rita FC, por outra parte.

Assim, os encontros preliminares que se foram realizando numa das salas de reuniões do governo provincial, sita no largo central, na rua António Agostinho Neto, na presença dos quatro protagonistas a saber (APF, Juventude e Desportos, Governo Provincial e o Santa Rita FC), muita das vezes orientados pelo número um da província, em nada favoreciam ao Santa Rita FC, antes pelo contrário os três diziam que, os membros dos Católicos eram ” covarde”, uxiiii!!! (biffs na casa).

Enquanto isso ocorria, poucas são as vezes que Nzolani Pedro se fazia presente nos encontros, já que se encontrava em Luanda no acompanhamento do estágio da sua equipa, nas terras da Kianda, para o efeito, um dos vice-presidentes o representava. Finalmente, chegaria o aludido dia prometido, o sábado (dia 10) , nesta cidade, no estádio 4 de Janeiro, as atenções do país e do mundo, todas estavam viradas na região, por ser a província escolhida pela FAF na abertura da 39ª edição do Girabola, entre os conjuntos do Santa Rita FC e Recreativo do Libolo, com partida marcada às 15 horas. Assim: Pelos Católicos avançava em campo com o seguinte onze inicial Kingsley Kissi (Gd) (José aos 4′), Rosalino, Aires, Bruno, Dennis, Yuri, Gazeta (cap), Emanuel (Iniesta aos 65′), Vemba, (Leandro aos 75′) , Makuntima e Fernando. Joel, Maurito, Tati e Liliano não saíram do banco. Para os forasteiros entraram com Ricardo (Gd), Carlitos, Gelson, Gomito, Eddie (Mariano aos 60′), Ito, Sidne, Higino, Viet (Kaya aos 73′), Fabrício e Cbibi (Nandinho 56′). Lando, Jaime, Paizinho e Nelito foram suplentes não utilizados. Entretanto, ambas equipas estavam orientadas por técnicos portugueses, nomeadamente, Sérgio Traguil e Vaz Pinto, num jogo ajuizado pelo trio de arbitragem chefiada por Miguel Julião Mateus, coadjuvado pelo 1º e 2º assistente: Celestino Golembele e Celso António.

Ao quatro minuto, os caseiros contraíram uma baixa de vulto, lesão do guarda-redes principal, Kiss e para seu lugar entrou José Tibúrcio. Na jogada seguinte, isto é, aos sete minutos, numa jogada menos ofensiva nas mediações da linha cabeceira do lado esquerdo, Carlitos, lateral forasteiro, mandou uma banana para grande área dos Católicos, e no ressalto da bola à entrada da grande área, Viet, o camisola 7, com um remate colocado violou as redes dos caseiros (golo: 0-1).

Nas bancadas, em cima dos eucaliptos e capim dentro do estádio 4 de Janeiro, os mais de nove mil espectadores que torciam para os católicos, enquanto centenas e centenas outras de cidadãos procuram a todo custo nas portas para entrarem no estádio, que era convidativo através do tom dos batuques, cânticos, danças, aplausos e outras manifestações culturais a favor dos caseiros, em cada finta, recessão, cruzamento, remate e defesa que os católicos exibiam entre as quatro linhas.

O ritmo do jogo que se fazia sentir dentro do estádio, principalmente desde o quarto minuto, causou ansiedades acima da média por parte daqueles que queriam entram-no. Depois do golo do Libolo, aos sete minutos, o barulho aumentou dentro do estádio e, foi neste minuto sete, que num dos portões a “tragédia da morte das 17 pessoas aconteceu e fez transbordar a água no copo”.

Por ter acontecido fora, dentro do estádio ninguém se apercebeu de nada e a partida decorreu com normalidade até ao fim, com resultado de 0-1. Tal portão, localizado no lado do edifício da Sinfo, meados da rotunda António Agostinho Neto, um portão bem fixo e possível de se abrir pela esquerda e pela direita, que não chegou em desabar, mas que continua fixo da mesma maneira como foi colocado um dia, mas foi ali que: As 17 pessoas perderam a vida e deixando outras 59 com ferimentos ligeiros e graves. Neste portão, tal como os demais em volta do estádio, neste dia estavam vigiados pelas forças da ordem como Polícia Nacional, Policia de Intervenção Rápida (PIR) e a staff de jovens com “peitos e músculos saliento”, denominados “Braço de Ferro”, também auxiliavam na organização. Ainda assim, todos falharam e uma dezena de homens, incluindo um policial que se encontrava a civil, igualmente, perdeu a vida. “Quem matou, o que faltou e quem falhou o povo sabe”.

Comissão de Inquérito revela culpados da tragédia do 4 de Janeiro no Uíge Os resultados da Comissão de Inquérito, instaurada pelo Ministério da Juventude e Desportos, aquando da tragédia que causou a morte de 17 pessoas e deixando outras 59 feridas, no estádio 4 de Janeiro, reveladas pelo ex-vice-governador para o Sector Económico e Produtivo, Carlos Mendes Samba, 48 dias após do infausto acontecimento, apontavam que: “Do sucedido, a Comissão de Inquérito entende que têm grandes responsabilidades no incidente, a APF-Uíge, o Clube Santa Rita, a Empresa Gestora do Estádio e a Polícia Nacional, pelo que os órgãos competentes devem responsabilizar cada um segundo a gravidade dos factos”. A asfixiação foi tornado público como a causa da morte dos inocentes uigenses (jukula messo), segundo apontaram os resultados médicos (…!!!). Na verdade, o povo sabe a verdade, pois, testemunhas que presenciaram aquele momento e os que sobreviveram da versão tragédia, contam uma tradução contrária, muito realista (…). “Contudo, fico por aqui. Em causa está razões óbvias para se continuar a escrever, principalmente as declarações daqueles que estiveram naquele portão e viram tintim por tintim as coisas acontecerem…”

Wizi-Kongo

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