“Os Truques e as Fintas” da Banca Angolana II, dos Marimbondos aos Caranguejos.

Por Salomão Ndombasi (Nobre Zombo)

“…Temos que combater se não extinguir mas ao menos, dificultar as ações que facilitam o engordar dos Caranguejos pois, tudo passa pela banca…” (Presidente JLO Luanda, 01 Junho de 2021)

Passaram-se precisamente cinco dias, quando escrevi e fiz publicar neste Portal ( Ver: “OS TRUQUES E AS FINTAS” DA BANCA ANGOLANA: o caso do Banco SOL), o meu artigo de opinião sobre o tema em apreço com o banco Sol na mó de cima e sob a lupa. Hoje por hoje, o tempo nos vem dar a razão.

O aludido artigo, não visava descredibilizar qualquer instituição mas sim, tão- somente, fazer uma abordagem inscursiva e crítica do papel da banca Angolana no processo da formação das assimetrias e desigualdades regionais, da má distribuição geográfica das riquezas produzidas na época colonial, no período da revolução socialista e no da implementação do multipartidarismo, até aos dias que correm.

Nesta abordagem multidimensional, procurei fazer uma viagem pelo tempo no que, a história da banca Angolana diz respeito, do papel jogado no asseguramento e potenciação da economia colonial; na destruturação e desarticulação do tecido da economia socialista nascente, na formação das elites locais que, usando das suas funções no aparelho de estado, nos órgãos da defesa e segurança e na política, acumularam capitais tendo como fonte, os fundos públicos a eles alocados, para a criação de bancos privados, monopólios e oligopólios com vista a lavagem, branqueamento e escoamento para paraísos fiscais de capitais acumulados e finalmente, como destaque, a promiscuidade dos truques e fintas demonstrada pela Administração do Banco Sol ao Empreendedor do norte do País que solicitou o crédito bancário para o apetrechamento em mobiliário com vista, a inauguração da sua unidade hoteleira de cujo crédito, lhe foi injustamente negado por motivações não esclarecidas pelo banco e que levou Angolanos nortenhos ao desemprego forçado.

Todavia, somente cinco dias passaram, veio a tona mais uma novela da face oculta do Iceberg, quando na tarde do dia vinte e seis do mês de Maio, os serviços de investigação criminal em sigla, SIC e os serviços de informação e segurança do estado-SINSE, levaram a cabo em Luanda, uma operação denominada “Caranguejo” que culminou com a apreensão de malas de dinheiro contendo: mais de catorze milhões de dólares Americanos; perto de Setecentos mil Euros e mais de quatro mil milhões de Kuanzas e a detenção em flagrante do Bilionário Major Pedro Lussaty, oficial da casa de segurança do Presidente da República que pretendia viajar para o exterior de Angola em sua posse com três passaportes distintos e usando as mesmas táticas de sempre como aliás, o meu artigo anterior desmistificou.

Ato contínuo, foram na ocasião feitas as buscas em suas residências e que culminou com descobertas espetaculares e apreensão de mais de trinta viaturas top de gama; vinte relógios ultra valiosos bronzeados com diamante, esmeralda e ouro cristalino, perto de cinquenta luxuosos apartamentos em algumas centralidades de Luanda, da Namíbia, de Portugal e de documentos que provam ser sócio de alguns bancos privados e a confirmação da transferência de mais de um bilhão de dólares em bancos estrangeiros, todos em seu nome.

O que a opinião pública atenta tem observado nos dias que se seguiram a operação Caranguejo:

1- As exonerações de seis Generais influentes e outros oficiais ligados casa da segurança do Presidente da República;

2- Três dias depois, mais dois quadros de destaques, todos oficiais Generais do mesmo órgão castrense, foram apeados e procederamse a nomeações de Coronéis e Tenente- Coronéis para interinar as funções deixadas vagas;

3- E finalmente, como se tivesse ouvido alguma coincidência com a operação “Caranguejo”, desta foi a vez do Ministro do estado, chefe da casa da segurança do Presidente da República, ser “corrido” do cargo e o seu Adjunto, o general João Cerqueira Lourenço, (irmão do Presidente) deixado impune, de pedra e cal.

Enquanto isso, o Governador do Banco Central no caso, BNA soprava de lado para justificar a proveniência dessas avultadas somas, como tendo saído de um banco comercial, corroborando com as nossas observações sobre o papel pouco ético e dúbio, e a falta de “complanse” exercidos pelos bancos comerciais;

O Procurador-Geral da República, este por sua vez, veio a tona anunciar que, essas somas saíram do orçamento geral do estado, não tendo sido explícito sobre sua a proveniência e por que via mas, garantiu que, investigações estão em curso para desvendar esse mistério.

Não sabendo as instituições castrenses, fixar a opinião sobre os verdadeiros meandros do assunto, uma terceira versão defendida em debate na Rádio Despertar pela Deputada Micaela Weba veio à terreiro denunciar que, esses desvios são feitos com frequência na transportação dos chamados “sacos azuis” no trajeto entre à cidade alta, o BNA e viceversa através de Funcionários Séniores sem ética e escrúpulo ligados infelizmente, aos serviços da Presidência da República.

Fazendo jus a essa versão, o Veterano Nacionalista Lopo do Nascimento, deu uma lição da moral a nova geração de Políticos quando dissertava sobre a sua trajetória na Universidade Lusíadas a 23 de Março de 2017, a dado passo disse e eu transcrevo: “dias depois da proclamação da nossa independência, o País não tinha dinheiro, os cofres estavam vazios.

O Presidente Neto, enviou-me na qualidade de 1º Ministro de Angola ao seu amigo e homólogo, o Presidente Obassadjo da Nigéria. Recebido em audiência, me foi entregue uma mala cheia de dólares como ajuda desse País para o apoio à nossa tesouraria. Não sabia quanto ela continha porque, não se acompanhava de uma guia nem nota qualquer de entrega.

Tendo de regresso, chegada noite em Luanda, passei com a mala em minha casa. No dia seguinte, fui ao encontro do Presidente Neto apresentar a missão, satisfeito, orientou me de imediato, levar a mesma ao BNA para conferir e guardar. Confesso não ter tirado nem sequer uma nota porque tinha noção que, não era meu dinheiro mas sim, do País e fazia falta à revolução e concluiu em jeito de ironia que, se fosse com os Gananciosos de hoje, a mala seria repartida em dois ou talvez, sumia”.

Outra versão, é a da TPA que procurou reconstituir a trajetória seguida pelos Investigadores no âmbito da operação “Caranguejo”, apresentou os primeiros pronunciamentos do Bilionário Major que confirma ser o dono de tudo quanto foi exibido na peça e por fim, também apresentou os depoimentos de um Funcionário sénior do BNA que, em defesa da dama, se alinhou com a informação prestada dias anteriores pelo do seu Governador em como, tenham os montantes saídos de um banco comercial que não quis nominar, porque o processo está sob segredo da justiça. Outrossim, as perguntas que não se calam e que, a opinião pública e os Observadores atentos procuram saber, são as seguintes:

1- Porquê se apelidou, a operação de Caranguejo e não, de Tubarão ou Baleia uma vez que, as exonerações dos Generais, não visam somente o arrumar da casa pois, muita coincidência está subjacente a toda manobra.

2- Todas as versões possíveis e imaginárias, apontam a existência de uma teia de ligações cujo epicentro, foi sempre e sem dúvidas, a cidade alta.

3- Enquanto os atuais “Caranguejos” apanhados com a boca na botija, são exonerados e investigados, os “Marimbondos” esses, com as contas bancárias gordas e conhecidas, sobrevivem da tempestade.

4- Um recente estudo investigativo feito pelo Acadêmico Carlos Rosado de Carvalho, aponta por exemplo que no ano de 2013 no espaço curto de 17 dias, foram transferidos em numerário vivo na conta do Ministro Edeltrudes da Costa, Director do Gabinete do Presidente JLO, em três prestações mais de 22 milhões de dólares Americanos e ele, mantem de pedra e cal na função.

5- Diante desta grandiosa promiscuidade triste e do devastador cenário cujo impacto no País e na diáspora, têm implicações bastantes negativas na vida dos Angolanos mormente, para a captação dos investimentos privados.

6- Para evitar essas ondas de crimes em repetição, onde têm andado os serviços especializados do Estado Angolano: UIF (Unidade de informação financeira), os serviços ligados a “complanse” do BNA; o SINSE; as Inteligências Externas e Militares, a IGAE e por último, a própria chefia da casa militar do Presidente da República…

Sendo assunto de interesse público e a todos Angolanos diz respeito, continuaremos a acompanhar o evoluir e o desfecho desta hecatombe pois, prometemos voltar com mais um artigo relacionado ao tema na sua versão III porque, foi pelo papel pouco digno e ético, truques e fintas da banca Angolana que no passado recente, emergiu a classe dos endinheirados alcunhados de “Marimbondos”, também por via da mesma banca com seus truques e fintas, que vamos infelizmente, assistindo hoje a emergência dos “Caranguejos” que, o Presidente João Lourenço no seu recente discurso, pediu a sociedade para tudo fazer no sentido de não deixá-los engordar, embora vivamos num País onde os antigos e os novos donos, (Marimbondos versus Caranguejos), todos se confundem.

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