Ngola Kabangu: “As assinaturas apresentadas pelo Lucas Ngonda ao Tribunal Constituicional, vieram de “quelque part”.

Por David Filipe

O ex-líder da bancada parlamentar da FNLA, Ngola Kabangu, defende que a FNLA não vai desaparecer, porque os militantes não vão permitir, e acusa Lucas Ngonda de se desviar dos princípios políticos e ideológicos por razões inconfessas. Critica o Tribunal Constitucional, que nunca analisou com a devidaprofundidade a crise que se instalou no seio da FNLA nem nunca se debruçou sobre ela com cuidado.

Sempre disse que a FNLA não está à venda. Tem algumas provas de quem pretende “vender” o partido?

Sempre afirmei que a FNLA não está à venda nem é satélite de nenhuma força política. Temos a nossa própria identidade política e a nossa história, com os seus altos e baixos. A FNLA, apesar da profunda crise em que está mergulhada, está implantada em todo o território nacional.

E, com essa crise, há qum pretenda desviar a FNLA dios seus ideais e objectivos?

Lucas Ngonda é o irmão que quer desviar a FNLA dos seus princípios políticos e ideológicos, por razões inconfessas. Aliás, os seus pronunciamentos, na última semana, não deixaram indiferentes até os militantes menos atentos, pela gravida- de que encerram. Mas não o conseguirá, porque os militantes, simpatizantes e amigos da grande família FNLA em todo  o espaço nacional constituem para tais intentos uma muralha intransponível.

Qual é a principal razão para a crise que atinge a FNLA? H’a soluções?

A crise que existe no seio da FNLA foi provocada pela violação das normas estatutárias e regulamentares pelo irmão Lucas Ngonda, que nunca foi legitimado como presidente da FNLA por um congresso devidamente convocado, trans- parente e democrático. A solução para a crise que assola a FNLA passa pela realização de um congresso inclusivo, transparente e democrático que deve ser precedido por uma reconciliação sincera da grande família FNLA.

São os militantes, através de delegados eleitos democraticamente pelas assembleias ou conferências provinciais, que devem decidir o futuro do Partido, dotando-o de uma direcção verdadeiramente democrática, eficiente, eficaz e capaz de relançar as actividades da FNLA em todo o territórionacional, recolocando-a no seu verdadeiro lugar no cenário político nacional.

Mas Ngola kabangu e Lucas Ngonda são apantados como responsáveis por essa crise…

Só confunde Ngola Kabangu com Lucas Ngonda quem não conhece a verdadeira história da FNLA. Ngola Kabangu é um militante consequente, íntegro e fiel da UPA/FNLA desde 1958. Fui companheiro de luta do lendário Álvaro Holden Roberto “Yembe”, nos bons e maus momentos, até à sua morte. Como militante histórico, sempre defendi e lutei pelo diálogo aberto e democrático no seio do partido paraconsolidar a coesão e unidade internas.

Lucas Ngonda é um violador dos estatutos e das normas disciplinares do partido e não é fiel aos nobres ideais pelos quais a FNLA se bate há mais de meio século. Tudo o resto é conversa fútil para distrair os que sempre estiveram distraídos.

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Ngola Kabangu, à direita, acompanhado de Holden Roberto e Daniel Chependa, em 1974

Acredita existir uma mão oculta por detrás dessa crise?

Tudo começou em 1998, quando a direcção do MPLA orientou o então vice-ministro das Finanças, Miguel Catraio, violando a conta bancária da FNLA, que ordenasse a substituição dos gestores no-
meados estatutariamente por Álvaro Holden Roberto, então presidente legítimo da FNLA. Para os substituir, foram indicados Lucas Mbengui Ngonda e Francisco Carlos Mendes. Essa operação macabra e antidemocrática foi levada a cabo por uma mão bem visível.

Qual é essa mão visível?

O regime. Para mim e para a esmagadora maioria do partido, tudo começou em 1998. Os factos que relatei há pouco são indiscutíveis. Ainda estamos vivos. Não estou a contar histórias para adormecer ninguém. Basta de enganos e de falsos testemunhos.

Está a querer dizer que a FNLA é vítima de uma conpiração?

Somos vítimas de uma ampla conspiração que visa destruir o partido que mais esforços envidou para libertar Angola, que hoje é de todos os angolanos. Os militantes, simpatizantes e amigos da grande família FNLA, de Cabinda ao Cunene, sabem bem a verdade. Mas a verdadeira FNLA, o Partido da Liberdade e Terra, não se vergará e tudo faremos para manter intacta a nossa identidade política e a nossa história.

A actual liderança teve dificuldades para angariar assinaturas. Na sua opinião, isso é um sinal de fraqueza?

Evidentemente. É um grande sinal de profunda debilidade estrutural e organizacional. Lucas Ngonda não tem representatividade em todo o território nacional, aliás, nunca teve. Para recolher algumas assinaturas, ele e os seus enviados tiveram de recorrer a práticas pouco éticas e ilegais. Assim, as assinaturas que foram apresentadas ao Tribunal Constitucional vieram de “quelque part”. Os militantes, simpatizantes e amigos da grande família, de Cabinda ao Cunene, estão bem informados e tomaram boa nota.

Quanto ao resto, o tempo vai provar o que afirmo. Lucas Ngonda não tem legitimidade estatutária. A realização de um congresso aberto, inclusivo e democrático para definir o futuro do Partido não figura na sua agenda. Ele só está a ver os seus interesses pessoais.

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Ngola Kabango, à direita, como responsável da JFNLA, em 1969, com Holden Roberto e Johnny Eduardo Pinnock. Imagem da FNLA.

Teme que a FNLA possa desaperecer?

A FNLA não vai desaparecer porque os verdadeiros militantes, simpatizantes e amigos, de Cabinda ao Cunene, não vão permiti-lo. Embora perturbada pela crise, a FNLA é um partido histórico, com bases deapoio em todo o território nacional. Por isso é que continuamos determinados a lutar pela realização, o mais depressa possível, de um verdadeiro Congresso inclusivo, transparente e democrático. Quempretender dirigir a FNLA, ser o seu Presidente legítimo, tem de se submeter ao crivo dos militantes, através de um Congresso estatutário, devidamente convocado.

Devemo-nos submeter, todos nós, aos Estatutos e às normas disciplinares. Devemos abraçar a cultura da democracia, a via mais correcta para legitimar a direcção do Partido. Basta de golpes baixos, de violação dos estatutos, de conspirações, de vandalismos e de actos de indisciplina.

Cometa-se que Kabangu quer ressuscitar a UPA cpmp partido..

Não sofro de amnésia nem sou aventureiro. A histórica e gloriosa União das Populações de Angola (UPA) faz parte do património da imortal FNLA. A UPA passou, portanto, à história e nela ocupa o lugar que mereceu. A UPA foi a autora do célebre e inesquecível 15 de Março de 1961, data do início da lutaarmada de libertação nacional.

Estava prevista um congresso. O que aconteceu?

O processo preparatório estava muito condicionado à aproximação da realização das eleições gerais no país. Por esta razão, não conseguimos reunir as condições para a sua realização nos prazos fixados. Foi simplesmente adiado, não é um abandono de uma via que consideramos a mais democrática para salvar a histórica, gloriosa e imortal FNLA.

O congresso resolverá a crise que o partido enfrenta?

A realização de um Congresso é uma necessidade imperiosa para resolver o problema de liderança no nosso Partido e permitir que o mesmo funcione democraticamente e com base nos estatutos e normas disciplinares.

Ngola Kabangu ainda tem apoio dentro da FNLA?

Conto com o apoio firme de todos aqueles que, de Cabinda ao Cunene, pensam como eu, em salvar o partido, reestruturá-lo e reorganizá-lo em todo o território nacional, e para tal é imperioso realizar, o mais depressa possível, um congresso aberto e democrático. Os militantes simpatizantes e amigos da grande família FNLA estão determinados e não recuarão, sejam quais forem as dificuldades. Temos de salvar o legado do inesquecível líder histórico Álvaro Holden Roberto “Yembe”. O Partido da Liberdade e Terra não pode desaparecer.

Sempre apontou o Tribunal Constitucional como parte da crise…

O Tribunal Constitucional nunca analisou com a devida profundidade a crise que se instalou no seio da FNLA, nem nunca se debruçou com cuidado sobre as reais causas dessa crise. Assim, todas as suas deci-
sões, sob forma de acórdãos, nunca foram no sentido de resolver definitivamente essa crise. O que afirmo aqui está bem espelhado no primeiro parágrafo da página três do discurso do Venerando Juiz Conselheiro Presidente do Tribunal Constitucional, proferido durante uma cerimónia de entrega dos processos de candidaturas para as eleições de 23 de Agosto de 2017, ao Presidente da CNE, no dia 5 de Junho de 2017. Cito: “E pela negativa, de registar que, uma vez mais, pela terceira vez consecutiva, a histórica FNLA se apresentou dividida e com a sua lista de candidatos impugnados internamente”.

Que leitura faz do processo eleitoral em curso?

Reconheço que é um processo difícil, mas que deve ser transparente e democrático. Os partidos que concorrem às eleições que estão marcadas para o dia 23 de Agosto de 2017 devem ter um tratamento igual da parte dos órgãos da Comunicação Social estatal. Não deve haver filhos e enteados. Se assim for, devemos todos apoiar esse processo eleitoral para que se realizem eleições transparentes, democráticas ecredíveis. As eleições democráticas são necessárias para o fortalecimento do frágil processo de democratização do país, que precisa de estabilidade política e socioeconómica para assegurar o bem-estar a todos os angolanos, de Cabinda ao Cunene.

A chegada da delegação da FNLA em Luanda, em 1975, com Ngola kabangu, à direita e Johnny Pinnock Eduardo. Imagem da FNLA
A chegada da delegação da FNLA em Luanda, em 1975, com Ngola kabangu, à direita e Johnny Pinnock Eduardo. Imagem da FNLA

Como olha para o trabalho da CNE no processo?

A Comissão Nacional Eleitoral (CNE) deve respeitar a Constituição e a Lei Eleitoral, conduzindo o processo eleitoral com lisura, transparência e com espírito democrático. Para tal, deve manter rigorosamente o seu estatuto de instituição apartidária, trabalhando abertamente com todas asforças políticas concorrentes às eleições aprazadas para 23 de Agosto de 2017. Em todas as suas acções, deveprimar pelo espírito de missão, que não é senão a dignificação do povo angolano.

Diante do contexto actual, acha que o MPLA virá a ter a maioria absoluta?

O MPLA, com os seus meios, está a fazer o seu trabalho de campo para ganhar e manter-se no poder. Os partidos da oposição, igualmente com os seus meios, devem fazer o seu trabalho de campo, junto do eleitorado, e não só realizando reuniões dos órgãos de direcção em Luanda.

Para travar o MPLA e retirar-lhe a sua maioria na Assembleia Nacional, permitindo que o país seja melhor governado, com mais transparência e responsabilidade, é preciso fazer uma campanha organi-
zada, programada e dinâmica. É preciso ir ao encontro das populações, nos centros urbanos e no meio rural, não só para transmitir a mensagem eleitoral, mas também, e sobretudo, recensear os problemas e as necessidades das mesmas.

Entre os partidos da oposição concorrentes, quem acha que está em melhores condições?

Tudo depende, repito, da capacidade de cada um em desenvolver um trabalho visível e eficiente junto do eleitorado, nos centros urbanos e no mundo rural. É preciso apresentar ao eleitorado os Programas de Governo de uma maneira clara e precisa. Numa só palavra, é preciso marcar a diferença. Esta deve ser a postura responsável de cada partido da oposição concorrente às eleições que serão realizadas em 23 deAgosto de 2017. A mensagem da mudança deve ser clara e bem transmitida em todo o território nacional. Não há vitórias sem sacrifícios.

 

Via NJ

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