Mbanza Kongo e Cais do Valongo: Dois Patrimônios Culturais da Humanidade e Ligados historicamente

Por Samba Tomba Justes Axel (*)

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O Reino do Kongo cuja capital era Mbanza Kongo, foi o maior exportador dos escravizadospara o Brasil. Aqueles escravizados chegaram no Brasil por vários portos cujo importante porto dos escravizados do Rio de Janeiro, considerado o maior porto dos escravizados do mundo do século XVIII até o século XIX conhecido hoje Cais do Valongo. A história acabou para se juntar classificando os dois lugares, Patrimônios da Humanidade por a Unesco na mesma sessão.

“Quando a pessoa não sabe de onde ela vem, ela não pode saber aonde ela vai” diz um
provérbio africano.É por estas palavras que eu digo que é extremamente importante entender o passado para poder se orientar no presente e compreender melhor os acontecimentos atuais, pois nada é por acaso na história real, fora dos mitos e lendas.

Após que o navegador e comerciante português Diego Caos chegou ao foz do rio Kongo na
África Central em 1482, por uma linguagem gestual, ele foi encaminhado por o protocolo real no interior das terras no poderoso Reino do Kongo Dia Ntotila como exige a tradição Bantu Kongo, que um estrangeiro tem que ver em primeiro lugar a autoridade da terra. No Reino, é ali onde ele encontrou o Mweene Kongo(Rei do Kongo) ao nome de Nzinga Nkuwu. Após o primeiro encontro, Diego Caos voltou para o Portugal para dar notícias ao rei de Portugal João III. Ele voltou de novo por uma segunda viagem em 1485 no Kongo para estabelecer uma relação dita de “cooperação igualitária e de amizade”.

Enquanto quando nós façamos análises históricas, nós sabemos que o primeiro objetivo de
Portugal sub ordens do Príncipe herdeiro da ordem do Cristo Infante Dom Henrique era
buscar a rota da Índia, país rico em condimentos e outros recursos naturais naquela época e também buscar materias primas,e mão de obra barata como os europeus já se acostumaram a se vender entres eles aos Árabes 1 nos séculos VII,VIII até o século XII para relançar sua economia após acabar de formar um Reino independente em 1249. Assim, o Portugal teve nada como ambição de amizade e de cooperação.

Foi só um engano na parte de Portugal, aproveitando a hospitalidade calorosa da cultura Kongo para os estrangeiros.

Então após 20 anos de tentativa da "cooperação igualitária", com o Kongo, o Portugal começou oficialmente( no sentido de visível e não legalizado) o comércio Transatlântico para a nova colônia das Américas, então Vera Cruz (futuro Brasil) em 1501.

Precisa dizer que já teve um tráfico anterior dos escravizados de África Central para Portugal metropolitano e suas ilhas atlânticas no meio do século XV até 1500.

Para o Brasil, o Reino do Kongo através seu porto de Mpinda que ficava na província costeira de Soyo foi o principal fornecedor dos escravizados Bantu nas fazendas. O porto de Mpinda era o antigo e principal porto dos escravizados no todo golfe de Guiné de 1501 até 1575.

Cerca de 20.000 escravizados Bantu foram exportados por ano por o porto de Mpinda 2 para o Brasil e a América Latina espanhola.

E a partir de 1575, o porto de Luanda na Reino de Ndongo(futuro Angola) antigo vassalo do Reino do Kongo,criado por o Portugal vai substituir o Mpinda por sua importância em exportação.

Já o porto de Luanda no início exportou de 12.000 a 13000 escravizados Bantu para o Brasil e outros países, com foco para o Brasil.

E todas rotas importantes do tráfico negreiro passaram por a capital Mbanza Kongo para os diferentes portos dos escravizados. Mbanza Kongo era o cruzamento das rotas dos negreiros.

E no Brasil, na região do Rio de Janeiro naquela época, os escravizados chegaram por um porto que, hoje é atual rua alfândega, na área de Praça XV até 1769 no Centro do Rio de Janeiro.

Depois disso, o marquês do Lavradio (1769-1779) pediu para transferir o porto de desembarque dos escravizados para Valongo. E aqui no Valongo, os escravizados desembarcavam pelo atracadouro que servia para este fim aos navios negreiros, no atual lugar tombado Cais de Valongo, onde tem esse buraco quadrado seco perto de Obelisco.

Assim de 1769 até 1830, o porto de Valongo foi o maior Porto dos escravizados do planeta, que era o lugar de venda dos escravizados para outros mercados da América Latina Espanola. E os escravizados que desembarcaram nesse porto foram em grande número Bantus de África Central, vindo do Reino do Kongo.

O antigo cemitério dos escravizados(1769-1830), situado no centro,zona portuária do Rio perto daquele porto, hoje conhecido como Instituto Dos Pretos Novos( IPN), Museu Memorial é a prova da exportação maciça dos Bantu através Valongo, no muro dentro desse Instituto, têm vários nomes Bantu de África Central. Esse lugar como disse a diretora desse Instituto é uma prova de Holocausto Preto na história da humanidade, que precisa promover e conservar para o ensino da história brasileira, pois ele testemunha a formação da sociedade brasileira que era construída por escravizados Bantu e outros Africanos.

Então durante a sessão da Unesco da classificação dos Patrimônios Culturais da Humanidade, a África Central nomeadamente Angola apresentou a capital do antigo Reino do Kongo Mbanza Kongo como patrimônio cultural da Humanidade e o Brasil também apresentou Cais de Valongo, antigo Porto dos escravizados. Processos que precisavam muito tempo quase 4 anos para convencer a Unesco do interesse histórico dos dois lugares e em seguida fazer pesquisa de campo.

E enfim nessa mesma sessão do Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco que se acontece do 2 ao 12 de Julho deste ano na Polônia, Mbanza Kongo foi classificado Patrimônio Cultural da Humanidade no dia 8 de Julho e no dia seguinte 9 de Julho, o Cais de Valongo é classificado ao mesmo estatuto do Patrimônio Cultural da Humanidade.

Dois lugares, dois destinos cruzados na historia que acabam de se juntar na Unesco. É um evento necessário para saber e entender melhor o presente relembrando o passado de dois lugares, isso mostra o reconhecimento,a valorização, e conservação dessa Memória Coletiva africana e brasileira triste de dois lados de Atlântico, a fim de ensinar essa história na escola para evitar que ela se repete.

É um grande passo no caminho para década dos Afrodescendentes, proclamada por ONU.
Falta agora, as verdadeiras políticas públicas da justiça para os Afrodescendentes e valorização e extensão do IPN como Memorial Museu dos escravizados no Brasil.

(*) Historiador

 

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