Na Batalha de Kitombo, os “Kongos” derrotaram forças portuguesas em 1670 !

Por Miguel Júnior *

Antes do combate de Mbwila, o reino do Kongo já tinha enfrentado problemas ligados às questões da realeza. Aliás, as guerras civis no reino do Kongo tiveram o seu início em 1641, quando morreu o rei Álvaro VI, também conhecido como Nimi a Lukeni. Além do mais, nestes circunstâncias, Garcia, duque de Bamba e capitão geral do reino do Kongo organizou uma força armada e rumou em direcção de São Salvador, capital do reino, onde assaltou o poder diante dos eleitores. Esta atitude agravou a situação e criou condições para aprofundamento da crise do reino do Kongo.

Fruto das contradições internas, Mbanza Nsoyo e outras regiões  do reino do Kongo, digladiavam-se de forma permanente. Com a morte do rei do Kongo, a região do Nsoyo assumiu uma atitude mais ostentiva e tirou o proveito do dézaire que se instalou no reino. Com a brecha que se criou no trono, começou também a disputa para o cargo do rei, para cujo o preenchimento estavam vários candidatos. No fim destas disputas, Álvaro VII assumiu o poder en 1665, só que ele permaneceu pouco tempo no trono tendo sido substituído por Álvaro VIII. Perante esta situação, as forças armadas de Mbanza Nsoyo intervieram no Kongo, assinalando no início de 1666 de “uma nova era na história do Kongo”.

As disputas entre as forças das demais áreas geográficas do Kongo e Mbanza Nsoyo prosseguiram entre 1666 e 1678, na tentativa de uma das partes exercer o controlo sobre o reino na sua totaliadade. Assim, em 1669, Pedro III chegou ao poder no reino do Kongo, mas confrontou-se com uma ofensiva militar apartir do Nsoyo, que o destronou do posto real. Estas disputas estavam a ser nefastas para a capital do reino – São Salvador -, pois  as várias incursões  militares passaram arruiná-la em simultáneo.

No meio das rivalidades existentes no reino do Kongo, os portugueses intervieram em socorro das forças de Pedro III, o que resultou num combate, em 1670,  a sul de Mbanza Nsoyo, onde as forças portuguesas saíram victoriosas. Nestas circunstâncias, Rafael I tornou-se rei do Kongo. Porém, as forças de Mbanza Nsoyo restabeleceram-se e incintaram o seu povo à luta.

Nisto, e de forma inesperada, os holandeses forneceram meios de guerra a Mbanza Nsoyo. As forças portuguesas e mais os seus imbangala foram aniquiladas, pois elas foram “totalmente surpreendidas e foram incapazes de desdobrar a sua artilharia”.

Com a gravante de que, na retirada, morreram várias integrantes das forças portuguesas, incluíndo uns quantos imbangalas. Cinco anos depois do massacre de Mbwila teve lugar em 1670 o combate de Kitombo. As forças saídas de Luanda, com uma composição mista, foram derrotadas devido à valentia e à determinação das forças do Nsoyo. “Esta foi uma das pesadas derrotas sofridas pelas armas portuguesas em África  e das últimas  campanhas no território do Kongo”.

No âmbito das disputas internas, a guerra sobreveio em 1672. Nesta altura a victória pendeu para o lado de Pedro III, que destruiu o seu rival e deitou por terra os acordos com os portugueses. Além do mais, ele preferiu governar apartir da província de Mbwila, pois, São Salvador – capital do reino – encontrava-se em estado deplorável . Entre 1672 e 1673, Mbanza Nsoyo  refêz-se dos embates com os portugueses e intrometeu-se de novo nas questões do reino do Kongo e colocou no trono o Afonso II  como consequência das lutas internas entre duas linhagens mais preponderantes do Reino – Kimpanzu e Kinlaza.

Neste contexto de disputas e alianças constantes que se construíam e desfaziam, a verdade que Pedro III contra-atacou e tomou de assalto São-Salvador. Por força desta acção, o reino do Kongo ficou desmembrado e a sua capital foi destruída por completo. Este facto, passou a representar o fim da capital histórica do reino. Alías, a “rivalidade entre Nsoyo e Kongo combinada com a instabilidade  das lutas das linhagens  e a derrota infligida por Portugal  em Mbwila, tinha deixado isso em escombro”.

Com a destruição de São Salvador, nenhuma cidade  do reino do Kongo, com excepção a Mbanza Nsoyo, possuia condições e densidade populacional significativa. Assim, Nsoyo poderia converter-se “numa centro militar” e passaria a desempanhar o papel de São Salvador. Além do mais, o desmoronamento de São Salvador criou fissuras políticas e agravou quadro crítico do reino e remeteu-o para o seu velho modelo de gestão. Na prática, a “difusão da soberania política” deu lugar ao “velho sistema político do Kongo”.

In “História militar de Angola”.

* Tenente General das Forças Armadas de Angola (FAA)

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