Ne Miala e os Makela ma Zombo

Por Patrício Batsikama

Dom Daniel Io chegou em Mbânz’a Kôngo escoltado pelas tropas Makela (Makaba) ma Mbata. Existem duas versões sobre o seu nome: Na Miala ya Nzimbwîla; Ne Mpângu’a Miala ou Mpânzu’a Miala. Depois de uma análise comparativa, pensamos que o seu nome de cidadania era “Na Miala ya Nzimbwîla”, ao passo que “Na Mpângu” era a sua função social: Chefe Militar. Assim sendo, Na Miala ya Nzimbwîla Na Mpângu Dom Daniel parece-nos ser mais completo.1 O seu nome é um documento histórico. Ne Miala indica a sua cidadania, pois se trata de uma linhagem que tem responsabilidade (entre os Nsaku) de “assumir provisoriamente” o trono, depois da morte do monarca. Também, cabia a ele instruir os candidatos a realeza durante um ano. Este Ne Miala foi aliás designado “rei interino” pela Constituição, daí a justificação do outro nome complementar: “ya Nzimbwîla”. Quer dizer, responsável de conduzir o país na normalidade (Laman, 1936; 1165; 1134) 2, tal reza a História (Pimenta, 1899: 30).

De acordo com os historiadores especialistas sobre a guerra civil no antigo Kôngo (Thornton, 1983; Hilton, 1987; Wilson, 1977), Na Miala ya Nzimbwîla Na Mpângu era do clã de Kimulaza. Interpretamos isso que foi de Mbata, cujo patrono era Nsaku Ne Vunda com título de Ma Zômbo. Este título significa, para os europeus que escrevem suas valiosas relações, “Chefe dos Militares/Mazômbos”; ao passo que endogenamente o termo é uma das Autoridade religiosa-militar de Mbata, com residência a Mbânz’a Zômbo.

Faria, porém, sentido os Makela (militares) do Ma Zômbo que acompanharam Na Mpângu Miala ya Nzimbwîla (Pimentel, 1899:30)3 , tenham alguma coisa a ver com o topónimo “Maquela do Zombo” que topografaram especialistas coloniais.

Vamos tentar verificar esta hipótese. Estamos em 1674-1680. Até esta época apenas, Zômbo figura nos mapas editados.

Madîmba ma Kôngo e Kwîmba foram um teatro de guerra em 1674-1675 e 1677, onde os Makela Ma Zômbo (militares sob comando de Ma Zômbo) expulsaram os modernistas e tradicionalistas desmotivados. Essa fama acompanhou o monarca Dom Daniel Io Na Miala ya Nzimbwîla Dom Daniel Na Mpângu até Mbânz’a Kôngo.

Como já sabemos, Ma Zômbo sempre foi a autoridade de Mbata, e os militares nativos de Mbata eram os Bazômbo. Ora, depois da morte de Na Miala ya Nzimbwîla Dom Daniel Na Mpângu em 1680 os Makela Ma Zômbo foram inicialmente recuados até ao Serras da Kanda, e mais tarde ao murro de Makela.

De facto, o território de refúgio dos derrotados Makela Ma Zômbo passaria aser designado por Makela, para os habitantes de Mbânz’a Kôngo, por um lado. Por outro tínhamos os Mbûmbunzi (militares sob égide de Na Mpângu’a Kiñtînu). Ora, antigamente as populações orientais eram Mazombo (militares do Kôngo), e com este episódio Makela Ma Zômbo completavam a ideia dos militares que Na Mpângu Miala ya Nzimbwîla Dom Daniel Io, ao tentar estabelecer a constitucionalidade no Kôngo. Mas nesta época, Makela não abrange Kimpângu (Kibângu) onde também se elegia reis.

Apesar das derrotas sucessivas e instabilidade que assolaram o país, os Bazômbo (militares) e Bambata (população civil) não deixam de frequentar Mbânz’a Zômbo. Entre várias razão, a principal foi o mercado de Mpângal’a Zômbo.5 um lado, negociantes lá vão para troca e venda dos seus produtos. Por outro, todas populações que jurisdicionalmente dependiam de Zômbo reservavam a Grande Feira de Mpângala para resolver os seus litígios, no Lûmbu local.6 Até 1683-1685 a expressão “Makela de [Ma] Zômbo” ainda não é um conjunto toponímico, nem encontramos nos diferentes mapas consultados por nós. Apenas Makela”, sob a grafia de Maquela, designa o território de refúgios dos militares de Na Mpângu Miala ya Nzimbwîla e sujeitos ao Ma Zômbo, o chefe máximo de Mbata, província dos Muzômbo (Loes; Pigafetta, 1951). E Zômbo continua a indicar o Mbânz’a Zômbo (mapa de Joan Blau, por exemplo).

Como podemos claramente ver, foi no território de antigo Mbânz’a Zômbo (dentro do Mbata) – onde temos a evidência do mercado de Mpângala Zômbo – que se ergueu a Administração de Makela. E não foi por acaso. Faria Leal nos faz perceber nas notas das suas viagens.7 Consultamos alguns mapas geográficos. Assim, por exemplo, o mapa deJacques Bellin – que data de 1754 – o autor apresenta o Congo, Angola e Benguela. Infelizmente este mapa não apresenta pormenores topográficas (hidrografia, toponímia) com relação a Mbata Makela, nem Mbânz’a Zômbo… O autor distancia demasiado São Salvador (Mbânz’a Kôngo) de Mbata e coloca mal o Nsûndi. Em breve, não nos interessa nem aconselhamos este mapa para o nosso estudo.

Há outro mapa, relativamente interessante. É da autoria de Joan Blaen e intitula-se Geographia quae est Cosmographia Blaviana, publicado em Amsterdam em 1662. Este mapa apresenta Zômbo ao Sul de Mbata e muito próximo de São Salvador (Mbânz’a Kôngo). Menciona Congo Batta com proporções minimamente correcto com (serras da) Kanda, e Dembo Amulassa (ôngo dya Mulaza). Esse mapa nos interessa.

Consultamos um terceiro mapa que encontramos na Sociedade de Geografia, em Lisboa, durante a nossa pesquisa documental (Março 2014). O mapa é recente 1879 e pensamos que a recolha topográfica dataria de 17894/1801 e 1817/1822.

Existiria, de modo igual, uma revisão topográfica dos mapas anteriores. Curioso é que desconhecemos o nome de autor, e no mapa encontramos o nome de quem imprimiu. Concertando com os dados presentes no mapa de Joan Blaen, contrastando as fontes históricas aqui referidas (sobre Dom Daniel Io), podemos avançar ass seguinte conclusões (provisórias):

 

(1) Depois do declínio de Mbata, Mbânz’a Zômbo permaneceu alguns anos, mas sem a população militar (Bazômbo) que, imigrou densamente nas Buengas, Damba e Mpûmbu (Nsûndi) optando pelo comércio, já que conheciammelhor os caminhos e eram resistentes a fadiga.

(2)Dom Daniel Ne Miala ya Nzîmbwîla Na Mpângu é o monarca que foi acompanhado pelos Makela de Ma Zômbo (militares de Ma Zômbo) a Mbânz’a Kôngo e que, depois da sua morte o topónimo de Makela designou morro, ou a montanha habitada pelos militares Makela. E, este topónimo – embora isolada – juntava estes Makela/militares a autoridade de Zômbo.

 

Comentário

1 Comment

  1. muito interessante esta historia dos povos Congo, fiquei a conhecer mais um pouco da minha terra, no entanto, penso Eu que estas historias não deveriam limitar-se em círculos restritos,tendo em conta a nossa realidade não permitir o acesso a Internet a todos, sugiro que se leccionem estas historias nas escolas para que a nossa população saiba do passado glorioso que teve.

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