São Domingos ou Haiti em 4 datas altamente Históricas e a derrota esmagadora da França

o São Domingo (o Haiti) foi a segunda nação do hemisfério ocidental a se tornar independente, graças aos escravos vindos do reino do Kongo. Gravura anónima.

Por SAMBA TOMBA Justes Axel (*)

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Enquanto os leões nâo têm seus próprios historiadores, as contas de caça serâo sempre aà glória do ca4ador”, diz um pensamento sábio africano.

Através desta frase, nós podemos entender se um povo não escreve sua própria história, o estrangeiro que vai escrever essa história vai falar sempre dos fatos a seu favor, daí a obscuridade sobre a compreensão da história para esse povo e falta da tomada da consciência histórica.

São Domingos que foi uma colônia francesa do século XVII até 1804 oficialmente, foi também um território importantíssimo do Império colonial francês das Américas por causa da grande produtividade de cana açúcar e uma natureza luxuriante antes da sua exploração sistemática pela França. Por está razão que São Domingos foi conhecido “a Pérola das Antilhas“.

São Domingos ou Haiti não é só a história de cana açúcar das plantações dos escravizados mas também, é um país conhecido como um território das grandes revoltas e batalhas Pretas dos escravizados contra o sistema desumano da escravização pela liberdade e igualdade entre homens.

Existiam muitas revoltas escravistas e batalhas militares nessa ilha, mas eu vou falar das 4 revoltas escravistas e batalhas militares ou datas tendo marcado a história de São Domingos.

Em primeiro lugar, tem a revolta escravista de  Francisco Makanda ou Makandal de 1740 a 1758.

Está revolta escravista foi uma das revoltas altamente simbólica por causa Makanda e sua tropa conseguiu derrotar o exército francês de Napoleão, que foi considerado o mais poderoso da época. Makanda e sua tropa mataram por um procedimento de tóxico na água mais de 200 franceses que moravam nessa ilha. Durante essa longa revolta as tropas de Makanda cantavam em kikongo: “kanga mundele, kanga Ndoki” ( Quebre o poder do Branco, Quebre o poder do inimigo ou bruxo) segundo relatos das tradições orais locais.

Uma oração ou canção que lembrava os cânticos dos adeptos de mama Kimpa Kia Mvita ou Kimpa Vita no reino do Kongo durante enfrentamentos aos portugueses.

Muita gente e opiniões diversas hoje não aceitam o fato que diz que Makanda era de origem do Reino do Kongo incluindo vassalos.Apesar de contestar, elas não trazem provas concretas sobre a identidade dele. Esse recuso de identidade Kongo, é de novo uma tentativa de falsificar a história Bantu nas Américas como muitas pessoas começaram a falsificar. A África Central através o Reino do Kongo (incluindo vassalos como Loango, Ngoyo, Ndongo-[actual Angola], etc.) foi o primeiro fornecedor dos escravizados para as Américas durante quatro séculos do comércio Transatlântico. Hoje muitos relatos locais, testemunhos de Haiti, grandes pesquisas históricas e linguísticas mostram a presença maciça dos Bantu Kongo no Haiti. E se focando na dimensão do nome e da língua, é bem claro que Makanda que significa ” famílias, comunidades,etc” é a língua kikongo. Nome foi deformado em francês  Makandal. Nenhuma outra explicação coerente pode ser dada. Portanto Makanda era do maior e poderoso Reino Kongo de África Central.

Makanda foi capturado e decapitado em 1958, após 19 anos de revolta escravista. Mas sua revolta deixou uma marca que vai estimular outros espíritos a ser revoltados, a continuar a luta. É nessa perspetiva após alguns anos, seja em Agosto de 1791 que foi a revolta de “Bois Caiman”. Essa revolta foi importante na medida em que os escravizados fizeram aquele dia uma cerimônia tradicional ligada aos rituais africanos da libertação das cadeias. Por está razão, essa revolta é chamada de “Quebra cadeias da escravização”. Durante a cerimônia, os escravizados fizeram sacrifícios dos animais e beberam o sangue em torno da fogueira.

Uma das línguas principais daquela cerimônia foi kikongo também. Essa revolta não se inspirou da revolução francesa como muitas pessoas dizem. Essa revolta é a consequência lógica das revoltas escravistas anteriores na ilha, cuja mais simbólica era da Makanda. Os colonos de São Domingos não poderiam explicar aos seus cativeiros que são máquinas da produção da riqueza, do que se acontecia no metrópole, pois a lógica escravista é manter escravizados em um estado do cativo.E do mesmo não ainda teve muitos alfabetizados pretos de São Domingos que viajaram com colonos franceses para França.

Através essa cerimônia, São Domingos tornou-se o primeiro país das Américas do mundo a abolir a escravidão.

E após anos, essa lógica da conquista da liberdade, vai dar a luz a ocultada importante batalha de Vertières, a tal ponto muitas pessoas não sabem essa batalha na historia de Haiti. Essa batalha se aconteceu no dia se 18 de novembro de 1803, seja dois meses antes a independência oficial de Haiti. Essa batalha de Vertières que abriu caminho para a independência haitiana e fez uma das pioras derrotas do sempre então exército do Napoleão, foi apagada, ocultada na memória francesa. Aquele dia da batalha, os escravizados de São Domingos viraram senhores dos escravizados e os senhores dosescravizados viraram escravizados. Hoje a palavra “Vertières” não existe no qualquer dicionário francês 1 por causa dessa derrota francesa.

E enfim a último evento significativo ou batalha no sentido amplo do termo, foi este de 1° de Janeiro de 1804 para a independência de São Domingos. Após alguns meses de combates que começaram desde novembro do ano precedente, São Domingos, graça ao heróis como líder Jean Jacques Dessalines declarou a independência (o segundo país a se tornar independente nas Américas) se tornando a primeira República Preta da Humanidade em um continente sendo ainda colonizando totalmente. Dessalines proclamou-se imperador. E São Domingos, vai mais tarde recolher na sua terra Simon Bolivar e sua tropa.

Em suma do que foi dito, nós podemos compreender que a história de São Domingos ou Haiti é uma história gloriosa e digna, pois os escravizados sempre lutaram por uma causa primordial do homem que é a liberdade total em relação a uma França escravista sendo dois rostos: promotora dos direitos humanos no metrópole e desumana nas colônias por manter os interesses capitalistas escravistas. O destino do Haiti hoje é um tipo de inveja voluntário ou um pacto voluntário das potências ocidentais para manter Haiti em um estado da miséria por causa da derrota ocidental. É uma contra ofensiva do Ocidente.

Mas tudo isso é um efeito efêmero, pois a história sendo um ciclo faz que as potências de hoje sejam subalternas de amanhã e os subalternos de hoje sejam potências de amanhã, como o dia da batalha de Vertières, na qual escravizados tornaram-se senhores dos escravizados e estes tornaram-se escravizados.

(1): LEGLAUNEC Jean-Pierre, historiador canadense.  “L’armée indigène. La défaite de Napoléon en Haiti. Montréal e Port-au-Prince. Lux e Atelier Jeudi Soir/Éditions de l’Université, État d’Haïti. 2014.

 

(*) SAMBA TOMBA Justes Axel: 

Pesquisador do Grupo de Pesquisa Multi-Institucional Áfricas(UERJ)
www.grupoafricas.wix.com/site
Membro pesquisador da ABPN
Membro pesquisador do Grupo Sankofa/INFES/ UFF
Membro do laboratório  LéAfrica(UFRJ).

Comentário

1 Comment

  1. É sempre importante perpetuar os fatos e acontecimentos para que os mesmo alcance olhos e ouvidos ávidos e assim deem significado a uma nova aurora afroetnica libertadora e libertaria de qualquer tipo de escravidão ou escravizador!!!

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