A origem das prisões dos tokoístas: Segundo a tradição oral

Por Edições Mumbeliano M’aziko

A partir da tradição oral/memória podemos aprender detalhadamente aquilo que foi a relevância das detenções dos tokoístas e, sobretudo, aquilo que aconteceu com os tokoístas e o profeta Simão Tôko no período em que estiveram presos em Léopoldville. Desta feita, com a tradição oral/memória sobre a gênese das prisões dos tokoístas, pretendemos o seguinte: (i) credibilizar o sucedido e autenticar os nossos temas sobre abordagem com base os depoimentos dos anciãos; (ii) manter vivo as memórias dos anciãos iniciadores do tokoísmo, que muitos lutam para silenciar e terminar com as ideologias de pensarem que estamos a matar a história da igreja e; (iii) sermos fieis com o estudo em causa.

A referida metodologia nos é fácil e é menos duvidosa na parte dos leitores e até mesmo os investigadores, para credibilizar o nosso trabalho de campo, como já foi dito, neste caso, vamos expor as memórias de alguns anciãos para compreendermos aquilo que foi a prisão dos tokoístas em Léopoldville (actual República Democrática do Congo).

  1. A primeira versão:  

A descida do Espírito Santo, trouxe-nos várias consequências. Num sábado, o ancião Mvuama Garcia, como estava habitado, arrancou as joias da menina Maria, na altura em que o uso de joia e antimônios já estava proibido para todos que já estavam admitidos na igreja de nosso Senhor Jesus Cristo no mundo, neste acontecimento aprenderam Mvuama e lhe obrigaram para ir mostrar o seu chefe, neste caso, o Dirigente Simão Tôko, no acto da busca encontraram o Dirigente desprevenido vestido de roupa interior (calção e mascote[1]), quando chegaram perguntaram, “aonde esta o vosso chefe?”, logo o Dirigente se apresentou, fizeram algumas demoradas trocas de palavras e logo levaram-no, e nós as crianças na altura tivemos nas brincadeiras outros na limpeza das escolas, alguns mais velhos no trabalho e as mamas nos mercados (feiras) as 13 horas ouvimos que o nosso Dirigente Simão Tôko, foi preso, logo Kinshasa estremeceu e todos nos fomos nos entregar voluntariamente na Central  [cadeia municipal], aonde trabalhava o chefe Pinock [Pirote], as autoridades não queriam que entrássemos mais com a nossa persistência invadimos a CENTRAL porque na altura  estivemos revestidos do poder do Espírito Santo, entramos e de tarde nos transferiram na maior prisão, isto é, em San Paier, naquela prisão, o chefe da prisão de nome Henri Bongo apelidado de Suki ya Pembe [cabelo branco] ordenou os carcereiros para que acorrentassem o Dirigente Simão Tôko, em seguida, outros carcereiros negaram, dizendo: “não podemos-lhe acorrentar, porque o Simão Kimbangu que nós acorrentamos aqui nos deu muito trabalho[2], de igual modo, Simão Tôko também ira nos dar trabalho maior que o Kimbangu, e havia dito que a minha trás vira aquele que não irão conseguir de acorrentar”, em seguida vimos o Dirigente a entregar as mãos para que fosse acorrentado, mais não conseguiram. Depois de completarmos uma semana, nos enviaram na cadeia de Ofitra onde permanecemos um mês e mais tarde nos enviaram na cadeia de Ndolo [Cadeia Central], mais o Dirigente já se encontrava na cadeia de Ndolo[3], onde foi julgado e condenado a pena de prisão[4]. Ainda nas cadeias, o Dirigente Simão Tôko fortificava-nos a fé em conselhos e ensinamentos bíblicos e várias profecias que muitos já se cumpriram[5].

Pedro Kinino, 2018

A história da prisão dos tokoístas abarcam na sua plenitude todas as áreas da igreja de nosso Senhor Jesus Cristo no mundo “os tokoístas” no período do seu surgimento [1943-1949], que directamente fez recuaram algum progresso do movimento previsto na altura por seu líder Simão Tôko, tal como invoca o historiador Garcia Afonso (1998:1), esta preocupação lê-se nos escritos do próprio Simão Tôko,

Fomos presos em 22 de Outubro de 1949, postos nas duas cadeias de Ndolo e Ofitra onde permanecemos 2 meses aguardando a determinação daquele Governo. Fomos primeiramente 100 presos portugueses de Angola, mais o número total de Tocoistas presos era de 3.000 pessoas, se eu escrever escrevesse tudo que se passou na doutrina Tocoista auxiliada pelo Espirito Santo precisaria um livro inteiro. Na cadeia de Filtra eu explicava muita coisa que havia de acontecer o mundo. Lutas, inimizades, etc, não é, só a guerra material, mas também a guerra espiritual, cada qual se punha a pau, defendendo-se porque se a guerra estava próxima, mas as pessoas diziam que Simão está maluco porque a guerra acabou em 1945 – toda a gente anda alegre, agora a sua maluquice esta dizendo que se aproxima mais outra guerra? Ah, ah, ah, ah, riam quase arrebentar. Lembro-me eu ter dito que havia um tempo em que os tocoistas não ensinaram mais a palavra de Deus quando completar-se a soma da diferença dos anos de acção evangélica Tocoista mais os meus irmãos na cadeia não compreendiam a linguagem espiritual, pois eu lhe disse que o número seria uma prova dos noves da diferença dos anos atividades Tocoista e que essa prova dava 2 número 1 e 7 somando para dar o número 8.

Simão Tôko (1966:6), Torre do Tombo – PT-TT-PIDE-DA-C-3-781.

Ainda recorremos noutras bibliografia onde encontramos as memórias do sacerdote Simão Vuvu, natural de Nkusu-Mpête, município da Damba, província do Uige, Angola, então discípulo de Simão Tôko, que nos tinha revelado acerca das consequências que as prisões do dia 22 de Outubro de 1949, trouxeram no Congo ex-Belga,

Quando chegamos no dia 22 de Outubro de 1949, acabava de cumprir-se o que ele me tinha dito: (1) primeiro, ele foi preso; (2) segundo, a cidade estremeceu; (3) terceiro, muitas pessoas entregaram-se as cadeias e foram mesmo presas e (4) quarto, alguns serviços tinham paralisados. Conforme a instrução dele, enquanto milhares de pessoas iam as corridas se entregar nas cadeias, à mim, logo que esta notícia me chegou, fui tão rapidamente na empresa onde trabalhava fazer a entrega da minha carta de desvinculação. O Dirigente Simão Gonçalves Toco foi preso num sábado. A notícia me tinha encontrado no meio do caminho quando me dirigia a Mayenge, vocês podiam imaginar como é que a cidade de Leopoldville tinha ficado neste dia. Em todos os cantos via-se grandes aglomerados de pessoas, todos a comentarem sobre o senhor Simão Gonçalves Toco, mais eu já não achei isso de estranho, porque ele já me tinha a visado antes e como atrairia tanta gente â ele[1].

Simão Vuvu, 2003

Através da informação colhida ao sacerdote Simão Vuvu, fomos obrigados a consultar o ancião e vate Simão Nkosi, natural da Damba, que descreveu detalhadamente as causas da instabilidade que a prisão dos tokoístas causou em Léopoldville, assim como outros detalhes sobre a prisão dos tokoístas o ancião e mestre do coro Pedro Mayindula Taia Lukau (2014-2015), confirma as informações,

Antes, gostaria de vos dizer que eu não tive presente no acto da descida do espírito santo, no dia 25 de Julho de 1949, mais nos mesmos dias, em casa do meu irmão mais velho, cito na Rua Dodoma, habitei (apanhei o espírito), na calada da noite, provavelmente as zero horas, voei feito pomba [Mapâpu[2]], pegando os fios de alta-tensão, em fim, o meu irmão mais velho foi me acompanhar em Mahenge, onde fui recebido pelo Dirigente Simão Gonçalves Tôko, na altura todos que tinha apanhar o espírito foram mais velhos, eu fui a única criança na altura, desde aquele dia que apanhei espírito até a realização da reunião magna (conferência) da igreja que teve lugar no quintal do ancião, o mais velho Timóteo Menakuluse, aos 10 de Setembro de 1949, para dar conhecer aos membros que a partir de hoje que fomos expulsos pelos missionários, já temos a nossa igreja. Ainda nesta conferência foi decidido o seguinte: “A partir de hoje já não vamos precisar os brancos para nos ensinar apalavra de Deus, nós mesmo é que vamos nos evangelizar”, foi assim que escolheram, eu [Simão Nkosi], Kutenda João e Luteta Jean, fomos abençoados e consagrados pelo profeta Simão Tôko e nos deu bíblia e bengala (nkau) para virmos ensinar a palavra de Deus em Angola, quando a reunião terminou, voltamos nas nossas casas e ficou acordado que na manhã de segunda feira, teríamos que partir, todos os membros do coro estavam mobilizados para nos acompanhar até a estação de comboio, e na manhã da segunda feira fomos para estação, naquele mesmo local o espírito fez o seu trabalho […], não tardou vimos a estacionar um caro de marca Jeep pertencente aos membros do governo Belga, e nós entramos no caro, logo as pessoas começaram a dizer e a gritarem, “estas pessoas que entraram no caro, tiveram andar no ar e em cima dos cabos de alta-tensão, pegando os cabos eléctricos, em fim são Mapâpu”, logo os membros do governo decidiram trocar a rota e nos levaram no hospital de Luzadi, antigo hospital de psiquiatria, legando que somos doentes mentais (malucos). Depois de completarmos um mês, a mama Luzolo foi nos visitar e nos informou que o Dirigente havia sido preso, nos fomos as primeiras pessoas a serem presos pelo colono Belga, como eu era criança na altura, já não demorei na prisão ou no hospital psiquiátrico, me libertaram, mais o ancião Kutenda João e Lutete Jean continuaram preso; na minha saída fui directamente para Mahenge e logo encontrei Mahenge vandalizado o local onde batizávamos as pessoas, denominado Yordani (Jordão) a lamaçada porque era no tempo chuvoso, em fim junto dos anciãos Buta Vova, Alberto eu e Simão Vuvu, recuperamos o Mahenge e demos a continuidade de realizar os trabalhos espirituais, baptizar, confessar as pessoas e admiti-los na igreja de nosso Senhor Jesus Cristo no mundo “os tokoístas”, quando os membros dos mais de 14 Postos sucursais[1] ouviram dizer que Simão Nkosi, foi solto da prisão-hospital, novamente Kinshasa estremeceu outra vez e as pessoas começaram novamente vir a confessar, no final do mês de Dezembro de 1949, a partir de Ndolo o Dirigente enviou uma carta que dizia “… Antes de tudo recebam os nossos cumprimentos, Simão Nkosi, Simão Lázaro, Pedro Mumbela e Domingos Manuel, vão ensinar a palavra de Deus na região onde nasceu o profeta Simão Kimbangu, dirijam-se ao sacerdote Bamba Manuel, ele é que irá vos apoiar com o meio de transporte, para vos levar até ao Nkamba …”, em seguida mandei chamar todos e fomos ao encontro do sacerdote Bamba Emmanuel na sua residência, fomos recebido e mobilizou o motorista do carro e no mesmo dia partimos para aldeia de Nkâmba e Nsanga, lá ensinamos a palavra de Deus, cantamos e exibimos a peça teatral de nascimento de Jesus Cristo, no dia 30 de Novembro de 1949 (?!), depois de evangelizarmos num total de 155 membros regressamos para Léopoldville chegamos em casa do sacerdote onde encontramos Diangienda Joseph [Kuntima[2]], filho do profeta Simão Kimbangu, de volta as nossas residências eu regressei em Mahenge aonde vinham encontrar o ancião Ndongala David, um dos exímios pastores desta igreja, em seguida quanto toda gente foram se entregar nas prisões de Fitra, nós apenas vigiávamos o Mahenge, não tradou um belo dia apareceram três camiões a nossa busca e nos levar nas prisões, como havia me ausentado um pouco, o Ndongala David, disse as autoridades que não podiam subir nos carros sem a presença de Nkosi Simão e as autoridades ficaram aguardar, como muitos me consideravam de segundo Simão Tôko, quando cheguei com a minha pequena bengala e bíblia nas mãos entrei no tabernáculo e rezamos juntos com Ndongala David, enquanto muita gente a guardavam por mim lá fora – em seguida, fechamos Mahenge espiritualmente, toda gente sabe fomos nós eu e Ndongala que fechamos Mahenge, só assim que subimos nos carros que nos transportou para as cadeias de Ndolo e Fitra, onde permanecemos até o dia da nossa expulsão para Angola[3].

Simão Nkosi, 10.07.2012

Nkosi Simâo, falecido em 2016.

De acordo com o sacerdote Simão Vuvu, corroborado pelo vate Nkosi, o períodos das detenções dos tokoístas (Outubro de 1949 á Janeiro de 1950), constitui num espaço de muitos acontecimentos históricos para os tokoístas e em geral a história do cristianismo em África. Acrescenta ainda este último ancião que, mesmo com o clima das detenções mais os tokoístas continuaram a evangelizar a palavra de Deus e admitir os membros para igreja de Cristo.

[1] Para Pedro Mumbela (1988:3), foram criadas 17 sucursais, a saber: 1. Mahenge – Nº 159 – onde vivia o Dirigente; 2. Luvua – Nº 22 – Matias Dilunguanga; 3. Kitega – Nº 155 – Timóteo Lutokamu; 4. Kitega – Nº 09 – Miguel Timóteo e Gabriel Fuka Tomás; 5. Luisa – Nº 299 – Samuel Humberto; 6. Libengue – Nº 277 – Manuel Pedro Canquembo e FIlemon Banzu; 7. Kingoma – Nº 44 – Samuel Capitão e Luvualu David; 8. Kabalo – Nº – Makoka André; 9. Nyanza – Nº A 25 – João Makoka; 10. Dilolo – Nº 05 – Manuel Toko Diakenga General; 11. Buende – Nº 254 – Manuel Vita (Swing); 12. Banalia – Nº 71 – Sebastião Mbongo e João Toyo; 13. Banalia Nº 73 – João Madingano; 14. Camp. Otraco – Nº A – António Figueira e Ambrósio Nsungu; 15. Kabalo – Nº A 06 – Pedro Borralho; 16. Kiazi-Nkolo – Nº – Miguel Lázaro e António Fernando Botevanga e 17. Brazzaville – Nº Domingos Yoane, António Tiago e Ambrósio Moises.

[2] Lembrando que Dingienda Kuntima, nasceu em 1918.

[3] Entrevista feita pelo jornalista Maturino Nzila e sociólogo António Álvaro, tradução de Paracleto Mumbela, aos 25 de Outubro de 2019.

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