A região dos Dembos e o 15 de Março de 1961

Guerrilheiros da UPA, na região do Dembos. Imagem da FNLA

Por Drumond Jaime

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15 de Marco de 1961 . O dia em que a terra tremeu e Angola nunca mais foi a mesma.

Porque os Dembos? A região dos Dembos, um território pertencente ao antigo Reino do Kongo servia de ligação entre a capital Mbanza Kongo e Lwanda, o local onde eram recolhidos o Nzimbo, moeda usada no reino. Habitado maioritariamente por povos mbundo que apesar de serem parte integrante do reino, não pagavam tributo nem prestavam vassalagem, grande parte deles, chegando ao ponto de oporem-se ao trafico de escravos quando comecou a ser prática dos reis do kongo, proibindo a passagem pelo seu território das caravanas ou organizando ataques para os libertar.

Os territórios dos Dembos chegou a ser um dos maiores esconderijos de indivíduos que escapavam ao tráfico. Mesmo depois da chamada ocupação iniciada com a conferência de Berlim, a resistência a ocupação dos territórios não parou não obstante a declaração de pacificação colonial, era assim que eles chamavam a ocupaçao dos territorios, mais ou menos em 1912.

Há relatos da existência de grupos de libertação na Região, alguns dos quais juntaram-se mais tarde aos movimentos de libertação FNLA e MPLA depois de 1961. Depois da segunda guerra mundial, houve um incremento da produçao de café na região, principalmente após as catastrofes naturais que assolaram o Brasil e outros países da América do Sul, tendo o preço do cafe subido muito no mercado internacional, o que proporcionou um crescimento exponencial da riqueza entre os pequenos produtores nativos e consequentemente a elevação do seu nivel de vida. Graças a isso, muitos puderam enviar os seus filhos a estudar em Carmona, a capital , Kessua, a escola Metodista, ou ate mesmo as melhores escolas de Luanda, com destaque ao colégio Casa das Beiras, o único na altura, que aceitava estudantes negros.

Muitos, foram ao ponto de adquirir camions de marca Bedford para o escoamento dos seus produtos.

Essa valorização do preço do café, despertou a cobiça de muitos colonos que habitavam outras regiões, principalmente Luanda. Há médicos e engenheiros que abandonaram as suas profissões para se tornarem fazendeiros nessas regioes. A admnistração passou então a expropriar os nativos , entregando as propriedades aos colonos brancos, o que provocou bastante descontentamento. Agravou a situação o facto de, os colonos levarem a forca para as suas plantações, todo o tipo de mão de obra, incluindo mulheres e criancas de tenra idade.

Com o Desenvolvimento da situação no Congo Leopoldville para onde se tinham refugiado inumeros angolanos, principalmente depois da revolta de Mbianda Ngunga e Tulante Mbuta, que 1914/17 revoltaram-se contra o envio de escravizados a Cabinda e São Tome, como dizia, o Desenvolvimento da situação no Congo pending para a Independencia, com larga participação de angolanos, Holden Roberto envia a Kitexe Pedro Vida, alto responsavel da UPA, para contactar o nucleo da familia Ngola, autoridade tradicinal que lidera o antigo reino de Ambuila, no coracao dos Dembos, para se iniciar a machadada final ao regime colonial. Desconfiada, a família envia com Pedro Vida o seu membro de nome Kussekala, para conhecer Holden e pessoalmente saber o que se pretendia. Kussekala regressa no dia 14 e nesse mesmo dia comeca o ataque a Fazenda Zalala, alastrando-se mais tarde a toda regiao. Centenas de homens, mulheres e criancas portuguesas foram mortas, num clima de muito elevado ódio e terror .

Refere-se também a morte de milhares de trabalhadores oriundos do Sul de Angola que se encontravam a trabalhar nas fazendas, por se terem colocado ao lado do colonizador. No entanto, outros milhares de angolanos oriundos do Sul do Pais, também participaram dos ataques as fazendas, tendo alguns, como Bernardo Pinto Makapa, ocupado um lugar de destaque. Depois da grande mobilização portuguesa seguida de forte contra ataque, as populações foram tomando diferentes rumos, a sua maioria refugiando-se no Congo Leopoldville e outras nas florestas densas dos Dembos, repartindo-se entre militantes da UPA e do MPLA que acabara de se instalar em Leopoldville com a capa de CVAR , uma ONG de médicos para apoio aos refugiados angolanos. Daí a implicação de alguns comandantes como Ferraz Bomboko, originario de Kitexe e que participa activamente nos levantamentos do 15 de Marco, se ter tornado um dos ícones da guerrilha pelo MPLA.

 

Comentário

2 Comments

  1. Deves esclarecer que Luanda não era apenas habitada maioritariamente pelo povo Mbundo e por isso não pagava vassalagem. Deves informar de forma clara que Luanda era territorio e é territorio Mbundo ou seja do povo que fala Kimbundo para ser mais claro

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