Holden Roberto foi desprezado até a morte

Por Makuta Nkondo

Os líderes bakongo ou akongo (plural de mukongo ou nkongo, pessoa oriunda da etnia Kikongo) em Angola são desprezados até a morte.

A morte de Holden Roberto, líder da UPA/FNLA e pai da luta pela independência de Angola, não comoveu o MPLA e o seu líder José Eduardo dos Santos.

O desaparecimento físico deste herói nem sequer mereceu um destaque na imprensa pública.

Holden, que foi tratado com ódio por parte do MPLA e seus dirigentes, nem sequer mereceu um segundo de luto nacional.

As bandeiras de Angola nao foram colocadas a meia haste, em virtude a morte de Holden.

O MPLA queria enterrar o corpo deste ilustríssimo filho de Angola no Cemitério de Alto das Cruzes no Miramar, em Luanda, proposta que foi liminarmente rejeitada pela direção da FNLA, em particular pelo seu Delfim, o nacionalista e herói vivo da luta pela independencia de Angola, Ngola Kabangu.

“K”, como e chamado carinhosamente Kabangu pelos seus íntimos, considerou esta proposta como um insulto a pessoa que se sacrificou para libertar este pais do jugo colonial, quando o corpo de Agostinho Neto, Presidente do MPLA, foi embalsamado e repousa num Mausoléu especialmente construído para o efeito.

Como contra proposta, a FNLA sugeriu para que Holden fosse enterrado no Cemitério dos Ntotela (Reis ou Imperadores) do Kongo, em Mbanza-Kongo (Mbanza a Kongo ou Mbanz’a Kongo, correctamente escrito).

O Governo do MPLA respondeu que lhe falta o poder sobre este Cemitério que e uma propriedade exclusiva da Corte do Reino/Império do Kongo (Wene wa Kongo).

Consultada, a referida Corte explicou que apenas pode ser enterrado naquele Cemitério um Rei/Imperador do Kongo falecido no exercício pleno das suas funções.

Razão pela qual o corpo do Rei/Imperador do Kongo morto na batalha de Ambuila nao foi enterrado naquele Cemitério.

A FNLA questionou o motivo pelo qual o corpo do Bispo católico, D. Nteka, falecido na seqüência de um acidente de Helicóptero na vila do Noki, Província do Zaire, foi inumado naquele Cemiterio.

A Corte respondeu que D. Nteka foi enterrado dentro das ruínas da antiga Catedral católica chamada Kulumbimbi, que esta fora do recinto do Cemiterio real/Imperial.

O Governo do MPLA propôs então para que Holden seja enterrado no local onde se encontram as campas de Papa Pinnock e Lamvu Emmanuel Norman, perto da aldeia de Kialundua (hoje Bela Vista); proposta rejeitada pela FNLA.

A Corte real/Imperial incumbiu aos seus dignitários do Reino/Império do Kongo residentes em Luanda, entre os quais Makuta Nkondo, para encontrarem uma solução desta equação com o MPLA e a FNLA.

Para o efeito, as três partes (Giverno, FNLA e os dignitários do Kongo) reuniram-se nas instalações do Futungo II e, diante deste impasse que consumiu quase toda a noite, Makuta Nkondo sugeriu para que o corpo de Holden Roberto seja enterrado dentro da antiga casa do tio dele Barros Nekaka, em Mbanza-Kongo.

Makuta Nkondo argumentou que esta residência de Nekaka esta situada junto ao Cemiterio real/Imperial, a beira da Rua Principal da cidade de Mbanza Kongo, defronte ao Palácio Real/Imperial e da arvore mítica de Yala Nkuwu (le-se Nkuu ou Nku U e nao Nkuvu).

A sugestão de Makuta Nkondo foi aceite unanimemente e foi encontrado o local onde Holden repousa; a antiga residência do seu tio Barros Nekaka.

Regressando ao tema, contrariamente aos lideres do MPLA, nomeanente Lucio Lara, Antonio Jacinto, Paulo Jorge, Pedro de Castro Van-Dunem, e mais recentemente de Antonio Didalewa, e mesmo do musico Bangao, que tiveram os funerais de Estado que paralisaram Angola, com homelias funebres do Conego do Regime Graciano Apolonio, as mortes dos lideres bakongo passam desapercebidas.

Assim aconteceu com nomeadamente, Holden Roberto, Papa Pinnock (Fundador da UPA), Andre Masaki (Reverendo da IEBA e Vice-Presidente da FNLA), Emmanuel Kunzika (primeiro Vice-Primeiro Ministro do GRAE), Andre Militon Kilandamoko (Advogado e Presidente do PSDA), Paulino Pinto João – PPJ (Presidente dos POCs), cujos funerais ou enterros passaram num silencio total como se nada aconteceu.

Diz-se que os funerais sao reservados as personalidades importantes ou aos VIP e os enterros ao povo ou aos pobres.

Ninguém fala das mortes destes ilustres filhos do Reino/Império do Kongo, cujo território onde se situa a sua Capital, Mbanza Kongo, foi anexado abusivamente a actual Angola.

E dizer que a discriminação persegue os akongo ate a morte.

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