Holden Roberto não mandou assassinar Deolinda Rodrigues

Por Sebastião Kupessa

Hoje, completa-se 51 anos desde que foi assassinada uma das heroínas (foram muitas) da luta de libertação nacional, Deolinda Rodrigues de Alemeida, que foi membro importante do MPLA, do seu Comité Director, uma das fundadoras da Organizaçâo das Mulheres Angolanas.

Deolinda Rodrigues foi uma importante figura na luta de libertação nacional, muito antes da consolidação do MPLA, quando foi criado o seu primeiro Comite Director em Junho de 1960, em Conakry, Guiné. Nesta altura, já frenquentava nacionalistas angolanos afiliados a União dos Povos de Angola (UPA), como o seu presidente, Holden Roberto, que, graças à sua influência, vai conseguir a sua bolsa de estudo para os Estados Unidos de América, em conjunto com Elísio de Figuereido e Ismael Martins, ambos já representaram Angola nas Nações Unidas.

Deolinda Rogrigues entra no Comité Director do MPLA em Maio de 1962, (ver: A criação do MPLA) numa medida proposta pelo então Secretário Geral do MPLA, Viriato da Cruz, de promover os genuínos angolanos nos orgãos da direcção do movimento, dominado pelos mestíços, (portanto, ele próprio foi mestiço). João Vieira Lopes, Desideiro Costa e outros, serão promovidos também. Na primeira Conferência do MPLA  realizada em Leopoldville, em Dezembro de 1962, o nome de Deolinda Rodrigues será incluida na lista proposta por Agostinho Neto. No conflito que seguiu a conferência, entre vencedores com Neto na sua testa e dos que perderam com Viriato como responsável, Deolinda vai constituir-se a última cintura de segurança que protegia Neto contra agressões físicas que foram vítimas  os protagonistas. Numa altercação verbal que surgiu para o controlo da sede do movimento entre alas, degenerou em conflito físico entre Matias Migueis e Henriques Teles Carreira “Iko”, que defendia Neto protegido por Deolinda que gritava “Quem mexer no Neto vai ver”. O conflito cessou com a intervenção dos gendarmes congoleses, com o Neto acusar a outra ala de possuir e utilizar armas de fogos, afirmação que originou a decisão da expulsão do MPLA fora do Congo Belga. Viriato da Cruz, Matias Migueis e José Miguel serão presos e libertados mais tarde com a intervenção do Ministro luso-congolês Mário Filipe Cardoso Losembe.

Neto abandona Leopoldville em 1964, instalou-se em Brazzaville, mas muitas fontes afirmam que Deolinda ficou ainda no hoje território da RDC, tentando reforçar o maquis da Primeira Região em que ocupara um lugar importante.

O primeiro conflito armado entre o MPLA e FNLA em Songololo, 1966.

Em outubro de 1966, os guerrilheiros do ELNA (braço guerrilheiro da FNLA) estacionados na base de Nkamuna, recebem ordens de desalojar os guerrilheiros do MPLA, vindos de Leopoldeville que pretendiam penetrar no interior de Angola. Cercados no seu esconderijo na vila de Songololo, no Baixo- Congo, os guerrilheiros do MPLA, abram o fogo e matam um guerrilheiro do ELNA. Os gendarmes congoleses alertados com ruido de armas de fogo, chegam no local, os querrilheiros do MPLA rendem-se sem resistir, tratava-se dos comandantes do MPLA, Jacob Caetano “monstro Imortal”, Ndozi e uma mulher que identificaram como sendo Deolinda Rodrigues e outros.

O Comandante do ELNA da Frente-Norte, Eduardo Mpanzu “De Leó”, mais conhecido na guerrilha como “Mpanzu Wabuza”, em luta constante com os guerrilheriros do MPLA no interior como no exterior de Angola, viveu aquele episódio como uma derrota pessoal, visto que os comandandentes do MPLA foram soltos em Leopoldville depois de uma forte campanha diplomatica e foi reconhecimento um outro movimento de libertação de Angola.

A captura e morte da Deolinda Rodrigues de Ameida

Nos fins do mês de Fevereiro de 1967, um grupo de guerrilheiro do ELNA em caminho para o interior de Angola, onde combatiam as tropas do regime colonial português, cruza com outro grupo de guerrilheiros do MPLA perto da floresta de Nsungu-Nsungu, que vinha do interior, cujos os homens fogem, abandonando quatro mulheres e três crianças. A que estava a frente, deposita a arma, protegendo as outras e três crianças que foram levadas na presença do Comandante Mpanzu Wabuza. Este reconhece sem dificuldades Deolinda Rodrigues, que tinha conhecimento rudimentar de kikongo e falava françês perfeitamente.

Para Mpanzu wa Buza o troféu da  guerra era importante e foi ele quem deu as ordens para assassinar Deolinda Rodrigues, Engrácia dos Santos, Irene Cohen, Lucrécia Paim e Teresa Afons, no dia 2 de Março de 1967, libertando os rapazes, todos originários de Malange e tiveram vida salva por ter mostrado o paiol do MPLA, onde estavam escondidas as armas de origem Checa, perto de  aldeia Bwila, no territorio do Songololo, Baixo-Congo.

Sobre a morte da fundadora da OMA e suas acompanhantes existem três versões diferentes no interior da FNLA que convergem em um facto:  foi o comandante Mpanzu Wabuza quem ordenou o seu assassinato no Rio Luvu, perto da aldeia Yanda Fwa.

A primeira versão basea-se na vingança pessoal do Comandante Mpanzu Wabuza, pela morte do seu guerrilheiro Lufiatu, cuja Deolinda Rodrigues “Langidila” teria sida identificada como autora.

A segunda versão é a do general Tonta que afirma ter visto as guerrilheiras em Leopoldville, depois de terem passado em Kinkuzu. Holden Roberto não sabia que fazer das prisoneiras e mandou-as de volta em Nkamuna, sob responsabilidade do comandante local.

Enfim, a terceira, é que responsabiliza o antigo ministro da Defesa da FNLA, Fernando Pio Amaral Gourgel. Esta importante figura na luta contra o regime colonial visitou a base de Nkamuna, no dia em que as gurrilheiras do MPLA foram vistas andar de biscicletas em toda liberdade, quando abandona a base, as guerrilheiras foram algemadas, levadas no último lugar de suplício. Suspeita-se ter sido ele o comanditário.

Segundo um jornalista contactado pelo wizi-kongo, pesquisador da história da luta de libertação de Angola, confirma esta versão e acrescenta ainda que Pio Amaral Gourgel vingou-se das mortes dos seus amigos pessoas Matias Miguéis e José Miguel, assassinados meses antes pelos seus antigos camaradas do MPLA, em Dolisie, no Congo Brazzaville.

Quem foi o comandante Mpanzu Wabuza

O Comandante Mpanzu Wabuza fêz parte dos comandantes do ELNA que integraram as FAPLA em 1983, faleceu em circunstâncias cheias de mistérios, em 1991. Certas fontes afirmam ter sido envenenado depois de participar num banqueteonde estavam dirigentes do MPLA, incluído o irmão da Deolinda Rodrigues.

Salientámos que, em relação ao MPLA, durante a luta de libertação nacional, Mpanzu Wabuza, não foi santo nenhum. Foi ele quem estava a cargo do cerco dos maquisards do MPLA, nos Dembos, pelos guerrilheiros do ELNA.

Quando MPLA foi expulso de Leopoldville, em 1963, Mpanzu Wabuza estava a frente de uma unidade da FNLA que tinha uma missão de localizar e assassinar membros do MPLA. No seu zelo, exagerou e foi preso pelas autoridades congolesas em 1965 e foi livre , mais tarde, graças a intervenção do Holden Roberto, aproveitando a mudança do regime no Congo-Belga com Mobutu com novo chefe de estado.

O seu contributo na luta de libertação nacional foi imenso, foi o principal comandante de uma frente registou mais ataques contra o exercito colonial de 1966 a 1972.

Faleceu como Major de forças especiais das FAPLA em 1991.

Conclusão.

Estando definitivamente em Luanda, em meados dos anos 90, foi questionado se foi mesmo  a FNLA que assassinou Deolinda Rodrigues, Holden Roberto respondeu em uma outra pergunta: ” …e o MPLA não matou?”. Com esta resposta deduz-se que assumiu a paternidade da morte das heroínas do MPLA, na qualidade de ser o seu dirigente máximo.

Sobre a morte de Deolinda Rodrigues, a história da luta de libertação versão do MPLA, indica que faleceu assassinada em Kinkuzu, depois de sofrer torturas. Alguns afirmam que foi Holden Roberto que mandou matar, o que não corresponde a verdade.

Deolinda Rodrigues foi vítima de um conflito, no terreno, entre guerrilheiros angolanos de movimentos rivais, na luta de libertação nacional. Não foi só ela, foram muitos que tombaram pelas balas dos “nacionalistas”, num conflito insensato originado na incapacidade de formar uma frente comum.

Wizi-Kongo

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