“Sou originário de Mbanza Kongo” – Manuaku Waku

 

Por Sebastião Kupessa

Para muitos africanos, Pedro Feliciano aliás Manuaku Waku, é o melhor guitarrista do negro continente. O son produzido pelo contacto dos seus dedos com os fios de cobre é maravilhoso. Durante três decadas, ele fêz dançar todo o continente. Ainda era adolescente, quando funda, em conjunto com Mwanda di Veta, José Rogeiro Mvula Nyoka, ambos de origem angolana e do congolês Jules Shungu Wembadio “Papa Wemba” o mítico grupo musical Zaiko Langa-Langa, em 1969. A África vai descobrir-lhe em 1972, quando assina o solo na canção Eluzam, uma obra-prima(!), entrando assim no club muito fechado dos melhores guitaristas do continente (Kinshasa era a Meca da música africana), dominado naquela altura pelo Guivano Vangu, Kasanda wa Mikalayi “Dr Nico”, Tino Baroza, Luambo Makiadi Franco, Mavatiku Vicy, Bumba Athel, Brazzos, Papa Noël, etc. Um ano depois renova as proezas em “Mbeya-Mbeya”, confirmando assim, a sua situação de ser o novo patrão neste domínio, enviando, muitos deles, numa reforma anticipada.

Em 1974, o ex presidente do Zaire, Mobutu, vai organizar o combate de pugilismo entre Muhamad Ali e George Foreman, ao mesmo tempo convida os artistas musicais negros americanos para vistar o continente dos seus antepassados. Pepe Felly como também é conhecidos pelos melómanos e o seu Zaiko, vão partilhar o palco, com os artistas americanos como James Brown, The Jackson, Johnny Pacheco e muitos outros. Estes ficam admirados pelo  “Jimmi Hendrix” zairense, de tal maneira que, a sua fama atravessa o continente. Dêz anos depois, o rei de Reggae, o jamaicano Jimmy Cliff, será hóspede de Munuaku durante muitas semanas, das quais, vão produzir juntos em espectáculo como em disco.

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                  Jimmy Cliff hóspede de Manuaku Waku em Kinshasa  ( Foto de Adamo Ekula)

Aproveitamos os poucos minutos que tivemos contacto com ele, para fazer algumas perguntas pelo seu estado artístico actual e da sua origem. A conversa desenrolou-se em kikongo, para não enduzir o leitor em confusão e também pelo o respeito da lingua kikongo, decidimos editar a mesma entrevista em duas páginas separadas. Esta é a versão portuguesa.

 

Muana Damba: Saudações grande mestre !

Manuaku Waku.: Saudações. Como estás?

Tenho um imenso prazer em falar consigo, podes nos dizer se tens novidades musicais?

Sim, tenho novidades. Tenho um novo CD já concluído intitulado “Regards croisés”

Tem uma canção de kikongo?

Sim, o CD ” Regards Croisés, contém uma canção em KiKongo, nomeada “Kizimbana ko”.

Nascestes na actual RDC, mas os rumores atribuem a nacionalidade angolana aos teus parentes. Qual é a tua naturalidade?

Se eu responder congolês, os angolanos serão indignados, ao contrário, os congoleses seriam também consternados. Não sei que responder.

Soubemos que os teus parentes vieram de Angola, seriam originários de Kwimba, Serra de Kanda, Makela…?

Eu sou um Musikongo, os meus pais são de Mbanza Kongo.

Já que és um mukongo, podes nos dizer o teu Luvila ?

O meu Kanda é  Vemba Ne Lukeni.

E do teu pai?

O meu pai é do kanda Senga a Vemba.

Conhecias o Papa Manuel de Oliveira? Ele também era originário de Mbanza Kongo.

Manuel de Oliveira foi meu avô. Eu sou o neto dele. Se eu toco a viola, muitos ignoram o sentido, fui influenciado e inspirado por ele.

Angola sendo o país dos teus antepassados, nunca pensastes voltar ?

O mundo inteiro foi feito para os seres humanos habitar, qualquer país que oferecer as condições dignas, de paz, pode-se viver. Por exempro, tu, para ter estas condições, não vives na Suiça? Se neste momento haver estas condições, poderei viver também em Angola, se Deus quizer.

És bem conhecido a nível africano, mas desconhecido em Angola, nunca pensastes fazer uma digressão artística no país dos teus antepassados ?

Estou a disposição de produtores.

Como podes produzir  em angola, tomando em conta que, o teu conjunto musical Zaiko Wawa, já há muito, cessou de existir?

Hoje as condições para produção de um espectáculo são diferentes, evoluiram muito, actualmente não se precisa de um conjunto de acompanhamento, tudo recruta-se no pais que vais produzir.

Falas português, como a maioria dos refugiados originários de Mbanza Kongo, que vivem em Kinshasa?

Infelizmente não, mas falo kikongo ( a entrevista é feita em Kikongo, ver outra página ) e outras línguas linguas..

Muito obrigado Mestre Manuaku.

Também vos agradeço.

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