Aquicultura suplanta café nas terras do bago vermelho

Mawetw Jr, no projecto Osmats, em Kibokolo/Zombo

Por Hortêncio Sebastião

A aquicultura, cultivo de peixe em água doce, emerge nos quatro cantos do país. Na província do Uíge, a actividade assenta no aproveitamento de zonas ribeirinhas, áreas propícias para produzir peixe em cativeiro, numa entrega quase total das comunidades e empresários, com recurso a tudo quanto são cursos de água, ocupando actualmente o lugar do boom do café de outros tempos.

A província do Uíge, berço do bago vermelho, vê hoje a sua produção cafeícola muito aquém dos níveis de outrora. Do café apenas restam terras aráveis. Em contra-partida, a emergente produção de pescadoem viveiros cresce de forma galopante, com o aproveitamento integral dos lagos e riachos um pouco por toda a região.

Este facto foi constatado há dias pela ministra das Pescas, Victória de Barros Neto, que se deslocou para, in loco, se inteirar do desempenho da classe empresarial no domínio da aquicultura, uma actividade que passou a envolver as comunidades, com algumas iniciativas empíricas e outras com algum respaldo técnico.

Dados a que o NJ teve acesso indicam que a província do Uíge atingiu os maiores índices de produção em 1972 ao produzir 80 mil toneladas numa altura em que o país registou a maior produção do cafécomercial, fixada em 225 mil toneladas. Em 2014, o índice de produção de café no Uíge foi de 3.100 toneladas de café comercial, enquanto em 2011 era 6.145 toneladas, numa região onde este grão se constituía na principal fonte de receitas e empregos.

Com uma extensão de 58.690 quilómetros quadrados, Uíge e 16 municípios, a produção piscícola concentra-se em todos os municípios, sendo o do Uíge e o de Maquela do Zombo os principais pólos desta actividade, e a tilápia, vulgo cacusso, a espécie com maior incidência no cultivo.

Implantadas em fazendas agrícolas, os projectos aquícolas estendem-se desde as quintas Rocha Castelo e Victória na zona da Quissanga todas localizadas no Uíge. O município de Maquela do Zombo desponta com os projectos da empresa Osmats Limitada, esta última a maior do país e situada na povoação de Quibocolo. Incluem-se ainda os projectos Ricas Business e Cuca Comercial.

Já a vila da Damba conta com os projectos Massissa e Kimo. Ao todo, a produção piscícola do Uíge atingiu 91 toneladas em 2014, subindo para 345 toneladas em 2015. Já no ano passado chegou às 382 toneladas, catapultando a província para o lugar cimeiro na produção de peixe em água doce segundo dados forneci- dos da Direcção Nacional da Aquicultura, mas espera-se que a actividade cresça nos próximos tempos, para assegurar o consumo interno e o excedente para a exportação dada a proximidade da província com a República Democrática do Congo.

Ração insuficiente

A escassêz de ração para alimentação do peixe, e fundamental para assegurar o crescimento das espécies, preocupa o sector das pescas, como confirmou a titular do pelouro em declarações aos jornalistas no balanço da visita à província do Uíge.

Segundo a governante, existem programas que visam estimular o empresariado nacional no sentido de aderir à indústria de ração não só para a aquicultura, mas de todo o tipo, com envolvimento dos ministérios da Economia, da Indústria, da Agricultura e Pescas.

Para o efeito, a agricultura está disponível a produzir milho e soja, enquanto o sector pesqueiro está com a produção de farinha de peixe. Actualmente, a ração é importada, mas a demanda deste produto é elevada, estando licenciada uma empresa para esse efeito.

Ainda assim, Victória de Barros Neto mostrou-se satisfeita com os níveis de produção da aquicultura no Uíge, uma vêz que se conseguiu atingir dois grupos alvos previstos — as mulheres e os jovens do meio rural.

“Os jovens estão a encontrar emprego e também estão a ter a oportunidade de empregar outros jovens”, frisou.

“Queremos apoiar todas essas iniciativas de forma sustentada e pretendemos caminhar a nível de processamento ou acrescentar valor a esses produtos que de forma a fazer uma cadeia produtiva da tilápia”, garantiu.

Aos aquicultores locais a ministra das Pescas assegurou que poderão contar com o apoio institucional e assistência técnica, esta última já em fase de implementação para fazer com possam aceder ao crédito com maior facilidade.

Novas infra-estruturas

Novas infra-estrutura

Dois projectos de entrepostos frigoríficos foram no entanto lançados na ocasião, e serão executados num prazo de seis nas localidades do Uíge e Maquela do Zombo, integrando uma rede de frio que está a ser instalada em todo o país, com o apoio do sector privado.

A empreitada adjudicada à empresa Crisgunza, do grupo Kissari, vai cons- truir 12 entrepostos frigoríficos comportará duas câmaras de congelação, com a capacidade de 200 e 300 toneladas, cominício na província do Uíge, a sexta mais populosa de Angola.

Aqui o soberano local, rei António Muanauta Kambamba VII elogiou a iniciativa, porquanto visará garantir o melhoramento da qualidade dos produtos da terra.

“Agora o que nos falta aqui é o anzol para pescar e não o peixe, que aqui é abundante”, desabafou esta autoridade tradicional.

Barão do peixe

As espécies cacusso, bagre, umpudi, nkamba e nikikikoi, esta última originária do Japão, são cultivadas no projecto Osmats, o maior do Uíge. Situado em Maquela do Zombo, mais propriamente na localidade de Quibocolo assume-se como o berço da aquicultura da região.

É propriedade do deputado Mawete João Baptista, que alguns autóctones da região chegam a denominá-lo o barão do peixe. O projecto, que teve um crescimento na ordem do 20%, conta com  mais de 20 tanques que propiciam o crescimento de pescado. Em actividade desde 2013 com 300 colaboradores, acrise provocou a redução da força de trabalho para apenas 65 assalariados.

Escusando-se a avançar o montante investido no projecto, Mawete Baptista disse ter contado apenas com fundos próprios, embora atribua o mérito aos jovens que com ele escavou terras e direccionou aágua em tubos e começou o cultivo de peixe com algumas variedades provenientes do município do Sambizanga, em Luanda.

“Aqui há uma certa potencialidade em termos de peixe. Nós, por semana, tiramos entre duas a três toneladas de peixe para comercializar a nível de toda a província do Uíge”, minimizou Mawete Baptista, que detém também de uma significativa rede hoteleira e empreendimentos turísticos na região.

 

Via NJ

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