PASTOR JOAO MAKONDEKWA “De JOMAKÓ” (1936-2021).

Por Benção Cavila Abílio

Me lembro de JOMAKO desde a minha infância e adolescência sobre as referencias positivas que nos eram ensinados pelos nossos pais, eles pediam nos para seguir o exemplo dele: estudar e estudar muito.

Isto veio a ser palavras de ordem em 1972 quando o Casal regressou de Inglaterra e foi recebido pelos ex-estudantes e membros da Missão de Kibokolo, cerimonia festiva realizada na Igreja CBBF em Lisala, Kasavubu.

Quando escrevi o meu Livro “Bukamá, O mujimbo d´Angola Profunda”, das informações sobre a igreja, fiz recursos a muitas informações na minha mente que provinham das minhas conversas com Dr. João Makondekwa.

A minha mãe falava de JOMAKÓ no positivo e muitos viam nele a única esperança do renascimento da nossa igreja depois da independência. Pois que era a figura Zombo para além de Simão Toko que teria saído da zona e chegado a Luanda naqueles anos e estudar na Missão de Dondi mas que depois foi para a Inglaterra, a terra dos missionários para estudar.

Em 1981, fomos a Cambambe no Cuanza Norte festejar o aniversário de Helder Kiala (Dajou,) o primeiro filho do Engº Kiala Pierre com a Mana Ameriance Luzolo. Papa Makondekua e Papa Avelino Salomão Tomás, avós do menino também tinham feito essa viagem.

Durante as conversas connosco JOMAKÓ nos falou de segmentos da sua história e aí ouvi pela primeira vez de JOMAKÓ que quando veio em Luanda nos anos 50, não sabia falar bem o Português, ainda dizia minha pai. Ele também foi acolhido na casa do Reverendo Pedro Agostinho Neto, pai do primeiro presidente de Angola com quem conviveu numa rua onde se situa hoje a embaixada de França. Foi alí que começou a aprender realmente o Português.

Eu ouvi também Emmanuel Kunzika quando dizia numa entrevista com a TV Zimbo que “fomos recebidos pelo Presidente Neto com o Reverendo João Makondekua que Neto disse que já conhecia há muitos anos…”.

No seu regresso a Angola em 1976, a Makondekua foi proposto por Neto, importantes cargos no Ministerio da Educação de Angola mas manteve intacta a realização do seu sonho de ver restabelecida a Igreja Baptista em Angola, onde se tornou até Director da Sociedade bíblica.

Na Comuna do Cuilo Futa em 1975, eu fui um dos jovens da nossa igreja cedidos pela Diaconisa Luisa Mungu da IEBA para acompanhar a delegação de JOMAKÓ e Afonso Malassa que foi visitar as aldeias todas de Cuilo onde havia no tempo colonial as igrejas do BMS, fomos até Ki Mpuku na outra margem do Rio Cuilo a pé. Hoje me interrogo que Pastor iria aceitar essa missão. Durante esse período que antecedeu a independencia, uma missão vinda de Kibokolo, composta pelo Reverendo João Makondekua e Afonso Malassa, fizeram com muitas dificuldades um periplo que lhes levou de Kibokolo, Béu, Cuilo Futa, Cuilo Pombo e Cuilo Kambosso, Sakandika, Kamatambo e outras áreas onde a influência da BMS ainda se fazia sentir. Esse périplo foi feito a pé em regiões onde não passa carro nenhum.

Na aldeia de Kimvuengete, outro bastiao outrora Baptista no aoutro lado do Rio Kuilo, Jomako e Malassa conheceram um movimento de oposição por parte de cristãos baptistas que abandonaram a igreja cujos lideres reclamavam agora a sua adesão a Missao Norte de Angola. Durante o culto as pessoas entoaram “katu yalua diaka ko”. Mesmo assim om a calma que lhe era característico, sem desanimar, continuou a sua missão mais ao norte da Comuna, nas localidades de Kimpuku e Kayundu onde havia também membros da antiga congregação BMS.

Durante 14 anos de resistência, os cristãos da BMS rezavam nas matas. Os mais velhos Makondekwa e Malassa usaram as suas energias para ter a certeza que a igreja tinha renascido das cinzas de guerra. Hoje ninguém vai nessas áreas visitar os outros mesmo com carros de ar condicionados.

Jomako é um dos heróis da IEBA que merecem toda a nossa admiração. Me lembro também de heróis anónimos que se batiam na edificação desta igreja como Pastor Tomas Nsita e a minha Avô materna Luisa Mungu no Cuilo Futa, Pastor João Ntangu no Béu; Carlos Pinto no Nsosso etc…

Afonso Malassa ficará certamente na história da IEBA como aquele que impulsionou no Exilio com o seu programa “ Avavi Avidi” o aumento de mais membros para a Igreja Baptista que enchia as igrejas baptistas zairenses numa área plenamente dominada pelos Kimbanguistas. Depois da partida em massa dos refugiados angolanos de regresso a Angola em 1975, as igrejas Baptistas no Zaire (RDC) esvaziaram-se.

Hoje assistimos todos com tristeza o contrário, as zonas onde a IEBA era dominante, as igrejas esvaziam-se porque lá chegou as igrejas mais “carismáticas” que são possuidores do “espirito santo”, que prometem milagres e que fazem orações barulhentas dando até ordens a DEUS.

A IEBA perde sim terreno, acomodada em Luanda com uma visão de internacionalização largando as massas que a edificaram na selva. Nenhum alto responsável da IEBA se atreve a visitar os membros residentes nessas áreas a exemplo do que Makondekua e Malassa fizeram, nem apoio lhes dão: Igrejas que nem chapas de zinco tem, crentes esfomeados, pessoas sem roupa para se cobrir, sem medicamentos, pastores e diáconos abandonados na mendicidade e à sua sorte.

Quem conheceu JOMAKO, certamente se lembrara do legado que ele nos deixa não só do seu quociente intelectual, do quociente emocional mas sobretudo do seu quociente social porque nesta dimensão é onde as pessoas são consideradas pelas suas capacidades de conservar relações saudáveis com as pessoas evitando que as divergências superem o entendimento.

JOMAKÓ é um exemplo de humildade dos nossos PAPÁS, daqueles que nunca subestimaram NINGUÈM pela sua posição social. Me lembro do seu temperamento flegmático e da sua sabedoria quando se resolvia na casa do meu Padrinho de casamento, Papá Capitão João Baptista (no Maculusso) um diferendo sobre a propriedade de uma casa do Alvalade no Ramalho Ortigão 81 porque foi nesta casa que eu habitei quando me juntei ao meu irmão mais velho em Luanda em 1976.

Ele preferiu ceder a sua própria residência no Cassenda só para terminar o conflito enquanto o outro mais zangado, mais explosivo e impulsivo gritava ” mais dit ! ce Pasteur est un bandit eihn, ce Pasteur est un bandit eihn”. Papa JOMAKÓ não respondia a essas provocações.

A última pregação do Pastor Makondekwa que eu assisti na paróquia dos Combatentes da IEBA ensinava nos sobre 2 Samuel 12, Então, Davi encheu-se de ira contra o homem e disse a Natã: ” Juro pelo nome do Senhor que o homem que fez isso merece a morte! Deverá pagar quatro vezes o preço da cordeira, porquanto agiu sem misericórdia”. Então Natã disse a Davi: “Você é esse homem! Assim diz o Senhor, o Deus de Israel”.

Tenho a memória do culto em questão com JOMAKÓ gesticulando com as mãos na cabeça como se fosse a imitar os gestos de DAVID em reacção a Natã mas desta vez em Kikongo lançando : “i ngeye”

JOMAKÓ para a assistência: Ah mono kwame !!! i mono eh ?

Parte para a eternidade, o nosso ancião, um dos últimos, senão o irmão menor em cristo mais chegado do meu Papá. Para além da tristeza que invade os nossos corações e lamentos que vão nas nossas almas, devo agradecer a DEUS que permitiu que pessoas como Pastor Makondekwa existisse. Não fosse a doença prolongada dele que impediu lhe de conviver mais connosco, é de celebrar seus feitos positivos nas nossas vivencias e transmitir para as gerações vindouras.

Mas o seu maior legado será certamente ter sido um dos impulsionadores da ACEBAC durante o exilio e ter sido uma das pessoas que permitiu que aquela igreja Baptista destruída voltasse a existir depois da independência de Angola.

ADEUS REVERENDO JOAO MAKONDEKWA, NOSSO QUERIDO PASTOR.

ADEUS JOMAKO

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