População de Makela do Zombo aguarda por melhores dias.

Fotografia: Garcia Mayatoko | Edições Novembro | Luvo

Por Filipe Eduardo

O sonho do ex-governador-geral da Angola colonial, Norton de Matos, em transformar Maquela do Zombo numa cidade no extremo Norte de Angola, de tal modo que ela fosse capaz de rivalizar com as capitais do Congo Belga e do Congo Francês, respectivamente, Léopoldville (actual Kinshasa) e Brazzaville, continua adiado, pois a vila, situada a dois passos da fronteira, nem ruas pavimentadas possui.

Esta situação consta da lista das preocupações dos munícipes que assistem dia-a-dia à deterioração da imagem da vila, invadida por muitos males, entre ravinas e outros.

Bens Henriques, administrador de Maquela do Zombo,  disse que o plano de pavimentação já constou do plano do Executivo em 2016, mas não foi possível, por razões sobejamente conhecidas. Em 2017 não foi incluído no orçamento, resta saber se será possível este ano, como referiu.

“É uma empreitada que transcende as competências da Administração Municipal, mas aguardamos que as ruas da vila sejam um dia asfaltadas e que tenha um espaço bem estruturado com um perfil urbanístico bem elaborado que possa conceder uma orientação precisa e sólida daquilo que vai ser a futura cidade de Maquela do Zombo”, augurou.

Vias de acesso

Outra preocupação da população, de acordo com o administrador de Maquela do Zombo, é o estado das vias de acesso às zonas rurais, comunas e áreas de maior produção agrícola, consideradas de precárias, sobretudo nesta época em que as chuvas são constantes, e que têm originado a degradação das estradas e o surgimento de algumas ravinas. “Este é um dos maiores constrangimentos que vivemos, pois limita a circulação de pessoas e bens, sobretudo às populações das zonas rurais”, disse.

Sobre o atendimento sanitário, Bens Henriques referiu que existem muitos constrangimentos no município, pois não havendo estradas em condições, não tem sido fácil levar os serviços sociais, tais como escolas, postos de saúde e outros, em zonas consideradas recônditas.

Na área da saúde, o município conta com poucas unidades sanitárias para um território extenso, com 550 quilómetros quadrados, com 120 mil habitantes, maioritariamente localizadas nas zonas rurais, nas suas quatro comunas, designadamente Sakandica, Cuilo Futa, Beu e Kibokolo.

A malária continua a ser a principal  doença e consequentemente a causa de muitas mortes, à semelhança de outras zonas da província. Esta doença, acrescentou, tem merecido toda a atenção da Administração Municipal no sentido de se diminuir a sua incidência no seio da população, com programas de educação comunitária, procurando aconselhar os membros das comunidades para o uso dos mosquiteiros que têm sido distribuídos periodicamente.

No sector da educação, o administrador voltou a apontar o mau estado das vias que faz com que a maior parte das escolas seja construída com recurso a material precário. Esta realidade, disse, faz com que ano após ano haja um considerável número de alunos fora do sistema normal de ensino. Para este ano, dados do sector local da educação apontam cerca de seis mil crianças fora do sistema de educação.

Água e energia eléctrica

O abastecimento de energia eléctrica, proveniente da central hidroeléctrica de Capanda, limita-se somente à sede municipal. O administrador municipal considera ser uma bênção, mas o mesmo não se pode dizer em relação às comunas onde inicialmente foram colocados alguns grupos geradores, pois por falta de manutenção e de regularidade no fornecimento de combustível, devido às dificuldades de acesso, estes equipamentos não trabalham de forma regular.

Bens Henriques lamentou o facto de as aldeias, comunas e municípios onde passa a linha de transporte de energia eléctrica não beneficiarem, lamentavelmente, de energia eléctrica.

Os municípios da Damba, Mucaba e Bungo estão, igualmente, na mesma situação, porque o propósito inicial foi o de abastecer o projecto mineiro de Mavoi, que se encontra numa fase de prospecção, que aguarda a etapa de exploração. Por conta disto, a população da sede municipal aproveitou 1.6 megawatts dos 10 destinados ao projecto.

Toda a atenção está virada para a implementação de projectos do domínio agrícola, uma área de eleição para que tão logo as condições permitam, seja possível fazer-se agricultura em grande escala.

Combate à pobreza

Para o efeito, Bens Henriques convidou a classe empresarial para que invista em Maquela do Zombo. É uma das soluções para garantir sustentabilidade alimentar à juventude e também a outras pessoas que queiram trabalhar neste domínio. “Por outro, interessa-nos que haja investidores que queiram aproveitar o potencial eléctrico existente no município, 10 megawatts disponíveis e só são usados 1.6”, disse.

Quando houver energia suficiente que possa ser aproveitada para que surjam investimentos no domínio industrial, como por exemplo, pequenas indústrias transformadoras, que podem ajudar o município a crescer e as famílias.

Esta aposta, acrescentou, vai igualmente para o crescimento do potencial humano, pois não se faz nada sem que haja homens preparados capazes de contribuirem para o desenvolvimento do município. Daí a necessidade do surgimento de escolas de formação profissional, até que um dia surja um núcleo de formação superior, para não permitir a fuga de jovens para outros municípios, com melhores condições, em busca de uma formação superior ou especializada.

A tradição no comércio

“Somos um município com uma tradição histórica em termos de comércio e estamos junto de uma fronteira com um país, a República Democrática do Congo (RDC), que é um mercado potencialmente considerável a nível de África, tendo em conta a sua densidade populacional”, realçou com uma certa satisfação.

E disse mais: “Se houver uma política bem estruturada e desenvolvida, nós podemos estabelecer um sistema de câmbio e de comércio com a RDC com o objectivo de aumentarmos a nossa capacidade tributária e contribuir para os cofres do Estado”.

Relações na fronteira 

As relações entre os dois povos são boas e pacíficas, historicamente de sangue e até familiares, afirmou Bens Henriques, para quem há angolanos do outro lado da fronteira, da mesma forma que há congoleses do lado de Angola, num intercâmbio salutar.

O administrador de Maquela do Zombo disse que pelo  facto de algumas áreas não possuírem determinados instrumentos sociais, como escolas e hospitais, isto na parte angolana, se assiste ainda a  crianças a estudarem do outro lado da fronteira. Em algumas situações, por opção própria, noutras devido a limitações impostas por falta de acesso.

Outra situação, de acordo com o responsável municipal,  tem a ver com a saúde, que muitos angolanos procuram assistência médica na RDC. O administrador lamentou o aproveitamento de alguns cidadãos congoleses ou vindos de outras paragens transitando pelo Congo que se aproveitam da boa relação para entrarem de forma ilegal, uma das situações que constitui preocupação para as autoridades do município.

Via JA

Comentário

1 Comment

  1. Por que Maquela do zombo nao tenhe os Camino pavimentada? Isto inacceitavel Maquela do zombo e municipo de Uige, provincia de Angola, este atitude tenhe que mudar Angola e noso todos.

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