UÍJE E O NOVO HORIZONTE DE ANGOLA: O COBRE COMO MOTOR DA DIVERSIFICACÃO ECONÓMICA

Por Arsênio Bumba

Luanda – A inauguração da Mina de Cobre de Tetelo, na província do Uíje, marca um dos acontecimentos económicos mais relevantes do ano em Angola. Com um investimento sino-angolano de cerca de 305 milhões de dólares e uma capacidade instalada para processar 4.000 toneladas de minério por dia, este projecto coloca o país num novo patamar da exploração mineira não petrolífera e reabre o debate sobre o futuro da diversificação económica nacional.

A mina, cuja produção inicial está estimada em 300 toneladas de concentrado de cobre por dia, simboliza uma mudança de paradigma. Durante décadas, a economia angolana esteve excessivamente dependente do petróleo, que ainda representa mais de 85% das exportações e cerca de um terço do Produto Interno Bruto. Mas o mundo está em transição — e Angola também precisa de transitar: do petróleo para os minerais estratégicos, da exportação bruta para a industrialização, da dependência externa para a soberania produtiva.

No contexto global, o cobre é hoje considerado o metal do futuro. Está presente nas principais cadeias de valor da transição energética e digital — desde as redes elétricas e painéis solares até aos veículos elétricos e equipamentos tecnológicos. O Banco Mundial e a Agência Internacional de Energia estimam que a procura global de cobre poderá duplicar até 2050, impulsionada pela descarbonização e pelo crescimento das economias emergentes. Neste novo cenário, Angola tem uma oportunidade de ouro: tornar-se um fornecedor africano de referência num mercado que será vital para o desenvolvimento industrial e para a transição verde do continente.

O impacto do projecto Tetelo ultrapassa o sector mineiro. Representa uma âncora para o desenvolvimento regional do Uíje, capaz de criar emprego directo e indirecto, atrair serviços logísticos, dinamizar o comércio transfronteiriço com o Congo e estimular o crescimento de pequenas e médias empresas locais. A abertura da mina significa também o renascimento económico de uma região com grande potencial agrícola e humano, que agora passa a integrar a nova geografia do crescimento angolano.

O modelo de parceria sino-angolana aplicado neste investimento reforça igualmente a cooperação Sul-Sul, favorecendo a transferência de tecnologia, a formação de quadros e o intercâmbio de experiências técnicas. Contudo, é essencial que Angola garanta que uma parte significativa da cadeia de valor permaneça no território nacional. Exportar concentrado de cobre é um primeiro passo; o verdadeiro desafio é refinar e transformar localmente este recurso, agregando valor através de indústrias de cablagem, equipamentos elétricos e tecnologias energéticas. A criação de polos industriais ligados ao sector mineiro seria um avanço decisivo rumo à diversificação real da economia.

Outro ponto fundamental é o modelo de financiamento. A experiência de Tetelo demonstra que é possível viabilizar grandes projectos fora do sector petrolífero, com base em parcerias equilibradas e sustentáveis. Este exemplo deve inspirar um novo paradigma de parcerias público-privadas (PPP), onde o Estado cria condições e o capital privado assume protagonismo na execução e gestão. Ao mesmo tempo, a adopção de instrumentos de mitigação de risco, como seguros de investimento, garantias soberanas e fundos de crédito de longo prazo, pode reforçar a confiança dos investidores e reduzir o custo de capital em futuros empreendimentos.

A diversificação económica de Angola não se constrói por decreto, mas sim através de projectos concretos, políticas coerentes e visão estratégica de longo prazo. A Mina de Tetelo deve ser vista como um laboratório de aprendizagem e um modelo de referência para novos empreendimentos nos domínios do lítio, do ouro, do níquel e de outros minerais estratégicos, cada vez mais valorizados na economia mundial. Com uma política fiscal equilibrada, uma governação transparente e incentivos ao investimento produtivo, Angola pode transformar os seus vastos recursos naturais em prosperidade sustentável, criando uma economia menos vulnerável a choques externos e mais orientada para o crescimento inclusivo.

A inauguração de Tetelo é, acima de tudo, um sinal de confiança no futuro de Angola — um futuro em que o desenvolvimento deixará de ser medido apenas em barris de petróleo, passando também a ser contado em toneladas de cobre, empregos criados, indústrias erguidas e valor agregado nacional. O desafio que se impõe agora é garantir que este novo ciclo não se limite à extração, mas se traduza em industrialização, inovação e desenvolvimento humano.

O cobre pode, portanto, tornar-se mais do que um recurso: pode ser o símbolo de uma nova era económica, capaz de unir o investimento estrangeiro, o conhecimento nacional e a ambição de um país que quer construir um futuro com base no trabalho, na ciência e no progresso partilhado.

 Via Club-K.

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