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Uíge, parcela do actual território angolano, outrora pertencente a uma das formações sócio-económicas de África Central e, não só, uma das mais organizadas e estruturadas do ponto de vista económico político, social e cultural.

O Reino do Congo

As mudanças que o Reino do Congo sofreu no decorrer das suas múltiplas fases do seu desenvolvimento mormente no respeitante a sua formação, evolução, colonização, estão intrinsecamente ligadas ao actual panorama político e geográfico que o Uíge hoje apresenta.

O Kongo, Reino incontestável nos séculos que se seguiram após a sua formação (século XII), conheceu um desenvolvimento prodigioso.

Contudo, o drama que assolou o continente, a presença colonialista, mudou o panorama que o Kongo apresenta. A espoliação das suas riquezas e o bem mais precioso que a África possuía – o homem fora objecto de uma feronha e hedionda exploração que a história da humanidade jamais registou.

Descoberto o Ngola, os interesses dos portugueses viraram-se mais para esta região. Assim sendo, o Kongo é esquecido, isolado, roendo-se em lutas intestinais, sem administração e sem coesão.

Esta situação mantém-se quase até ao século XX.

O interesse que a Europa dedicou a África no último quartel do século XIX fez com que Angola se recorde do Kongo. A Conferência de Berlim (1884-1885) escorteja o velho Reino, dá um pedaço a França, forma com outro um fictício Estado independente do Kongo, em breve transformado em colónia Belga e deixa-nos uns restos Português, Carmona, 1958.

Foi com estes restos que se formou o ex-Distrito do Congo Português. Iniciada a ocupação efectiva e militar com o século XX, completada mais tarde com a civil, depressa se completou sem necessidades de grandes lutas em algumas áreas renhidas em outras, que só a superioridade técnica militar dos invasores colonialistas soube sobrepor-se e por outro lado fruto das lutas intestinais atrás já descritas contribuíram para o desmoronamento do Reino.

A abolição na Conferência de Berlim, dos direitos históricos, como condição de posse do Kongo Português que foi organizado por Decreto de 31 de Maio de 1887 e instalado em Julho desse mesmo ano.

Para Capital escolheu-se Cabinda onde em 14 de Julho desembarcou o 1º Governador, o Capitão-Tenente NEVES FERREIRA.

O Distrito abrangia a actual Província de Cabinda, os territórios da margem esquerda do rio Zaire, até ao rio Loje, ao sul, e até ao Cuango a leste.

A concretização da medida legislativa que criou o Distrito teve lugar  em breve com a ocupação efectiva do território que, se encontrava praticamente abandonado.

Na verdade, o Distrito foi legalmente constituído, raros eram ainda os pontos ocupados. A parte de algumas feitorias comerciais no litoral e na margem esquerda do Zaire, existiam apenas as missões religiosas do Pinda, em Sazaire e de Sá Salvador e duas ou três casas comerciais no Bembe.

A ocupação militar e administrativa do Distrito fez-se com certa lentidão o que muito contribui para a constante exiguidade dos efectivos empregues e das guarnições dos Postos montados. Lentamente, porque as condições da época não permitiam outra coisa, a verdade é que a ocupação portuguesa foi-se tornando realidade com a criação de alguns fortes militares e o esmagamento das constantes sublevações dos nativos que se rebelavam.

Por exemplo:

  • Os nativos da Damba e Bembe opuseram-se ao pagamento de imposto de Palhota ou Cubata.
  • As povoações de regiões de Quivuenga, situadas ao sul do Bembe, em Junho de 1912 revoltaram-se atacando a fortaleza e ameaçaram a missão protestante de Mabaia que se encontrava situada entre Quindje e Bembe, missão essa que se instalou em 1905.
  • Em 1913 registaram-se combates na Região de Sanza Pombo quando se procedia a tentativa de ocupação da área, tendo sido morto num desses combates, o Capitão e o Sargento MARREIROS NETO.
  • Em 1917, apesar de derrotas, devido da superioridade tecnológica, bélica –militar dos Portugueses, as populações da Região do Negage, mais concretamente as do Quituia e Dimuca ofereceram no princípio resistência ao invasor e foram as últimas dessa Região a serem submetidas.
  • Ainda em 1917, os nativos do alto Cauale rebelaram-se e a onda de sublevação vinda da vizinha região do Cuango. Sobas mais influentes procuraram mobilizar as suas populações que, em Outubro, iriam iniciar os ataques ao Posto de Alto Cauale. Aqui, a guarnição portuguesa numa primeira fase repeliu os primeiros ataques mas a fúria dos nativos manteve-se e a 12 de Outubro, os portugueses tiveram que deixar o Posto em debandada e dirigiram-se para Sanza Pombo.

Os Postos militares passavam a civis ou estendiam-se quando o local não era propício à fixação pacífica.

Os Comandos militares transformaram-se em circunscrições civis que progrediram até se tornarem em Concelhos.

Em 1913 a 1915, registou-se o período mais agitado e turbulento nesses territórios, com a insurreição do soba Buta, antigo aluno protestante de S. Salvador.

Na época, a ilha de S. Tomé era um dos maiores produtores mundiais de cacau e muitas Companhias lhe levantaram os Chocolateiras Ingleses, rivais dos portugueses. E o Cacau de S. Tomé era cultivada com a mão de obra arrancada no Kongo onde existiam missões protestantes Ingleses: S. Salvador, Quibocolo e Mabaia.

Assim, Buta, além de ter incentivado os nativos de não pagarem os impostos principalmente o de Cubata ou palhota pressionava também os Sobas a não permitirem o angariamento de pessoal para S. Tomé. É aqui onde residiam as bases ou causas da rebeldia dos nativos.

Essa insurreição notabilizou-se pelo facto de ter retardado e impedido parcialmente por um tempo a penetração portuguesa na região.

Para a Província do Uige a revolta foi vivida intensamente nos Municípios de Maquela do Zombo, Damba, Sanza-Pombo, Quimbele, Buengas, Bembe, Bungo, Mucaba, Milunga, Negage e Kangola. Essa revolta despertou as consciências de outras áreas da actual Província do Uige, pois, servindo de exemplo, posteriormente, outras sublevações tiveram lugar como as de Mbianda Ngunga, Mbemba Ngango e outras.

Recuando um pouco no tempo e no espaço, desde 1887 data que foi localizado em Cabinda a sede do Congo Português, incluía, além de Cabinda, os territórios compreendidos entre os rios Loge, Zaire e Kuango, até 1961, ano em que o Congo voltou a constituir nova alteração que criou o ex-Distrito do Uige, com sede em Carmona. Houve transformações de grande vulto concernentes à sua divisão administrativa. Assim sendo, Cabinda que foi a Sede do Congo português em 1887, em 1917 a sede do Distrito do Congo passou para Maquela do Zombo, deixando Cabinda de exercer a chefia do território.

Em 1919, foi dividido o Distrito ficando Cabinda e as Ilhas do Zaire a constituir o Distrito de Cabinda.

Em 1921 voltou-se à divisão anterior, com a diferença de Cabinda ficar como Intendência.

Em 1922, de novo formaram dois Distritos, mas desta vez dos denominados Congo e Zaire absorvendo este a Intendência de Cabinda.

Com a criação da Província de Luanda, em 1934, o Distrito do Kongo foi incorporado naquele.

Em 1946, foi formado o Distrito do Uíge, com sede no Uíge, mas dependendo directamente da Província do Congo. E, em 1961, o ex-Distrito foi criado pelo Diploma Legislativo Ministerial nº 6, de 1 de Abril de 1961, que desdobrou o antigo Distrito do Kongo em dois UÍGE e ZAIRE.

Foi com o estatuto de 1961 que se criou o Distrito do Uíge com sede em Carmona que chegou até 1975, ano da proclamação da Independência de Angola.

Fazendo parte global da Província de Angola colonial, passando pelas mesmas agruras em relação as outras regiões que foram vítimas por parte de Portugal da ocupação efectiva, a instalação de roças de café nesta Província e a introdução do trabalho forçado e de contrato aos outrora chamados indígenas, provocou a mais violenta e vil ira das populações contra a exploração colonial.

Foi assim que eclodiu a rebelião de  1961.

 

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