CAMILO FERUZI, O ACORDEONISTA CONGOLÊS DE ORIGEM ANGOLANA

Por Sebastião Kupessa

Apesar do ritmo tocado por ele ser considerado hoje como miziki ya tango ya ba Wendo (glórias do passado), as suas melodias atravessaram o tempo e continuam actuais. Desde a década 40 do século passado, o som do seu acordeão fez dançar sucessivas gerações, desde o tempo em que se dançava Maringa e Polka Piké até hoje. Basta considerar a canção “Siluvangi wapi accordeon” arranjada pelo agrupamento Ok Jazz, com a participação magistral de Luambo Makiadi “Franco” e Youlou Mabiala, vocalista congolês de Brazzaville, é reproduzida várias vezes por diversos artistas. Em Angola, foi Kyaku Kyadaff que reeditou a referida canção, no seu CD com título “Se Hungwile”, em 2014.

“Siluvangi” foi um longo play composto de três canções, em 1972, viajou pelo mundo, que muitos críticos da rumba africana, consideraram erradamente, naquele tempo, como sendo inovação de Franco o que lhe permitiu ganhar o título de “Maestro” de ritmos tocados na bacia hidrográfica do Kongo, por explorar novas sonoridades. Portando o acordeão de Feruzi já tocava há 3 décadas!

Camilo FERUZI, autor-compositor, arranjador, acordeonista e cantor, nasceu em 1912, em Stanleyville (actual Kisangani no Congo Kinshasa), de pais angolanos, naturais de São Salvador (Mbanza Kongo). Foi o primeiro artista a introduzir o acordeão na música congolesa, nomeadamente na mistura da rumba com o jazz e a música afro-cubana. Analisando cuidadosamente a sua carreira, percebemos que era um virtuoso do acordeom. Instrumento que manuseou com facilidade ao longo dos tempos.

No final da década de 1930, Camilo Feruzi fundou um dos primeiros grupos profissionais em Leopoldville, onde passou a residir com seus pais desde 1927, juntando-se com seu acordeão a um quarteto vindo de Guadelupe, composto de pianista, guitarrista, saxofonista e clarinetista. As suas prestações em público adquiriram uma excelente reputação, isso permitiu que fosse contratado pelas edições “Olympia” (1947) e “Ngoma” (1948), por causa do seu imenso talento como pela sua obra original. É com essa editora que ele lançou no mercado, “Nabala muluba” (sou casado com uma muluba), o seu primeiro êxito, denunciando os casamentos arranjados e forçados de clãs e tornando-se um clássico da canção congolesa.

No ano de 1953 assistiu à composição do seu grande êxito, “Cha Cha Cha Bay”, uma peça que combina, pela primeira vez, os ritmos cubano e jazz. Este título foi cantado na gíria congolesa da época chamada “indubil”, inspirado em diálogos de filmes de western americanos.

Em 1957 cria o agrupamento Mystérieux Jazz, desta vez com os músicos Tenor Beya, Kabuya Léon, André Castor e François Jacques Kestero.

Em 1980, Lita Bembo, o líder da terceira geração da Rumba Congolesa, faz apelo a ele, para o acompanhar na célebre canção “Zonga Gida”, que foi um sucesso continental.

Feruzi Camille morreu em Kinshasa aos 24 de abril de 1990.

 

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