DECLÍNIO DO KONGO

Por Patrício Batsikama

Com a morte de Dom António I Vita Ñkânga e de várias outras grandes autoridades militares de Mbata, Nsûndi e Kôngo dya Mulaza, as consequências decisivas no desmembramento do Kôngo foram notórias.

Em Mbata:

 Desestruturação de Môngo’a Wungûdi:

 Geralmente, a deslocação de Ma Zômbo fez com que Mbata se despovoasse. 45 Com a derrota na batalha de Mbwîla, a montanha/corte imigrou sucessivamente para outras paragens e os militares Mazômbo sobreviventes fixaram residências distantes dos seus habitats anteriores;

 As ligações sociopolíticas que sustentavam toda funcionalidade de Môngo’a Wungûndi (em Mbânz’a Zômbo) com demais territórios foram perdidas ainda que não em sua totalidade, mas com consequências desastrosas. A ligação com Ñkûmba Wungûdi (Mbânz’a Kôngo) foi cortada;

 Fim da hegemonia militar dos Mazômbo; decadência dos Nsâku Ne Vûnda em Mbânz’a Kôngo e exterminação de várias linhagens que intervenham na gestão administrativa, econômica e religiosa/militar

 Dispersão dos suportes sócio militares e dos militares:

 Os derrotados passam a ser errantes com uma fama desastrosa;

 Esse facto dos Mazômbo se tornam errantes coincidiu com o comércio que já existia entre Mbata e Nsûndi em relação aos Pombeiros, a ponto de intensificar (entre séculos XVIII e XIX);

 Os fins militares, as habilidades bélicas e inteligência militar foram versados na vida comercial;

 Refundação de Mbata:

i A sede de Mbata resistiu, durante alguns anos, mas acabou por ceder o lugar a Mbata Makela, ao Norte. As comunidades dependentes desta sede ganharam certa autonomia, sobretudo as que eram militares, de maneira que renasceram outras sedes, em substituição provisória da principal; ii Vários relatos dão conta de que a autoridade de Mbata tinha caído em desuso em Mbânz’a Zômbo.

Em Mbânz’a Kôngo

1. Desestruturação de Ñkûmb’a Wungûdi:

i Os clãs territoriais foram despovoados e os seus habitantes emigraram para outros cantos. A estrutura que serviu na fundação do Kôngo perdeu os seus suportes sociais, culturais, humanos e toda a funcionalidade. ii Os clãs sociais tornaram-se estrangeiros nos novos habitats;

2. Despovoamento:

1. A alta mortalidade provocada pela guerra reduziu a densidade populacional;
2. As aldeias inteiras migraram pelo facto dos habitantes masculinos terem parado noutras margens;
3. Impostos de guerras (em escravos) relançaram a escravatura e razias; 3. Refundação de duas outras capitais:

i Mbânz’a Kôngo desabitado estimulou criar novas capitais;
ii Kôngo dya Lêmba reclama-se como capital e então, o Papa emitiu uma bula (um tipo de legitimidade) para os padres operarem na região;
iii Kimbângu tornou-se a capital da “Água Rosada”.

As relações entre Môngo’a Wungûdi (Mbânz’a Zômbo) e Ñkûmba Wungûdi (Mbânz’a Kôngo) foram ameaçadas. Daí, os Nsuka za Kôngo se beneficiaram de Kôngo dya Lêmba,46 com algum apoio dos militares remanescentes dessa batalha. Em Mbânz’a Kôngo Dom Afonso II aventurou-se em substituir Dom António e foi assassinado em dezembro de 1665. Dom Álvaro VII Mpânzu’a Ñlaza substituiu-lhe, mas também morreu assassinado em junho de 1666. Esse último foi sucedido por Dom Álvaro VIII até janeiro de 1669. Dois outros monarcas reinaram em 1669. O primeiro foi Dom Pedro III Ñsîmba Ñtâmba Tana, oriundo de Kimbângu. A Tradição Oral associa-o à ascendência de Ñsîmba Vita Nsaku’e Lawu. O segundo foi Dom Álvaro IX Mpânzu’a Ntivila que se instalou em Kôngo dya Lêmba.

Em 1675, morre o soberano Dom Rafael I (1669-1675), de modo que a vacatura em Mbânz’a Kôngo levará dois anos e seis meses. As eleições eram visíveis nas outras capitais – a Kimbângu e a Kôngo dya Lêmba (Mbula) visto que as eleições de Mbânz’a Kôngo continuavam a ser o centro de confusões por serem cobiçadas por todos.

Dom Daniel I Ne Myala ya Nzîmbwîla Dom Daniel I Na Mpângu, oriundo de Sakandikila, beneficiou-se do apoio dos Nsuka za Kôngo e Makela Ma Mbata, sobretudo, para ser entronizado em Mbânz’a Kôngo e, de acordo com a Tradição Oral e outras fontes da época, ele era a pessoa legítima para o trono.47 A sua ida a Mbânz’a Kôngo em 1678 como monarca foi acompanhada pelos militares Makela (Makaba) e consistia na restauração da ordem constitucional e reunificação (pela força) das capitais. Mpânzu’a Myala fixa-se primeiro em Mbânz’a Zômbo, antes de ocupar o trono, apoiado pelos Nkâza Mayaka.48 As suas diligências para repor a ordem e a constitucionalidade serão interrompidas com novas atrocidades promovidas pelas tribos Jagas refugiadas de Nsoyo e das ilhas do rio Mwânza (Congo) em 1680. Na verdade, Ne Myala ya Nzimbwîla era contra a balcanização quando naquela altura, interessava Nsoyo, Kôngo dya Lêmba e Kimbângu.

Dom Daniel Iº chegou em Mbânz’a Kôngo escoltado pelas tropas Makela (Makaba) ma Mbata. Existem duas versões sobre o seu nome: (1) Na Myala ya Nzimbwîla; (2) Ne Mpângu’a Myala ou Mpânzu’a Myala. Depois de uma análise comparativa, concluímos que o seu nome de cidadania era Na Myala ya Nzimbwîla, ao passo que Na Mpângu identificava a sua função social: Chefe Militar.49 Assim sendo, Ne Myala ya Nzimbwîla Dom Daniel I Na Mpângu parece-nos ser mais completo.

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