MAFUTA “A GRANDE RAINHA DA ESPIRITUALIDADE KÔNGO, NDONGO E ARREDORES

Por Ndombele Silva

Você sabia que foi a Appolonia Mafuta uma das grandes influências de Kimpa Vita?

Nascera no seio do povo Kôngo uma figura importante no que tange a Espiritualidade Kôngo e não só. Senhora aristocrata da classe chamada Mwana Kôngo. Na época quando em vida estivera, o Kôngo havia sido dilacerado pela guerra civil. Guerra essa que enfraqueceu “estruturalmente” o grande império Kôngo.

Reza a tradição oral que no ano entre 1702 Appolonia Mafuta estivera em conexão de forma activa com a Espiritualidade Kôngo, mesmo sabendo da presença da religião cristã trazida por via marítima pelos Euro-ocidentais, em suma, pelos missionários. Appolonia Mafuta tinha uma tarefa mui importante. Tal tarefa que se resumia na permanência da autenticidade da espiritualidade Afrikana no seio do povo Kôngo e arredores. Mafuta soube que o Kôngo devia reunir sob um novo e único rei, para as guerras que se avizinhava(a guerra do trono e contra os colonizadores). Ela, Começou de forma intensa nessa época a apelar por viva voz que o povo ficasse atento, porque novos ventos viriam mudar o rumo da história desse povo e não só. E, as multidões do Reino começaram a seguir o rasto da não menos conhecida “Profetisa” Mafuta, que tinha como tarefa “já” em meio da pequena crise que assolava o reino. A tarefa se resumia em despertar o povo aos maus ventos que se avizinhava e sobretudo preservar aquele que era um dos grandes patrimónios da cultura Kôngo (a sua espiritualidade).

Diz a história que nessa época a Profetisa #AppoloniaMafuta já era uma mulher de idade avançada, que anunciava várias das suas mensagens nos montes, apelando os Kôngo a descer a #MbanzaKongo (antiga capital do Reino) em prol da unidade Kôngo e etc. Reza a tradição oral que nesta mesma época, surge uma jovem de nome Beatriz. Jovem essa que tinha aproximadamente 18 anos de idade. O que levara a jovem Beatriz em ir consultar a Dona Mafuta foi na verdade a sua diferente linhagem ideológica.

No ano de 1703 a jovem na altura de nome Beatriz(KimpaVita), havia procurado a Senhora Mafuta para receber de si alguns conselhos e instruções, pois a mesma queria servir o povo com o mesmo propósito o objectivo no que concerne a espiritualidade Kôngo. E, Appolonia Mafuta apoiou-a e lhe dissera : Nós devemos preservar autenticamente a nossa identidade cultura espiritualidade e Reino. Se não se cumprir com esse pressuposto, o castigo será insuportável para com os nossos. A montanha irá pegar fogo e colapsar. Na verdade ela fazia uma figura de estilo “na sua linguagem”, ou seja, usava muito a metáfora quando se dirigia a Beatriz. Mafuta apontou para a Beatriz uma pedra encontrada no rio Ambriz. Esta pedra foi exemplificada por ela como a Espiritualidade Kôngo.

Prosseguiu Mafuta afirmando que, tal pedra está desfigurada pelas forças da maldade do homem mindele (ancient tradução.,estrangeiros., atual tradução, brancos). Mafuta dissera a jovem Beatriz, em remate final : “Tu és autêntica, e autenticidade é algo que não se deve deitar, porque é nela que nos encontramos como seres originais. Beatriz não é o seu nome real. Deita fora o Beatriz e procura um outro nome que lhe dignifica ou lhe identifica. Segundo a tradição oral, após a conversa que mantivera com a Senhora Mafuta, a jovem Beatriz adoptara o nome de Kimpa Kya Vita, que significa ; nova forma de fazer guerra. É uma homenagem ao antigo Rei guerreiro e legítimo do Reino Vita a Nkanga.

A velha pegara à estrada para o monte Kibangu. Na montanha, ela teve reputação de ser Santa e foi cercada por gente de respeito, até mesmo da elite, realeza, missionários e algumas entidades coloniais.

#Mafuta Rejeitava todos os N’kisi, sobretudo aqueles que usavam a espiritualidade para fins impróprios. Assim como os símbolos religiosos (ex., os crucifixos), ela queimava tudo na fogueira, tanto os objetos de feitiço como outras superstições, incluindo as cruzes e as medalhas religiosas.

Mafuta espalhou a sua doutrina no acampamento de #kibenga e no vale do #Mbidizi. Vinham multidões ouvi-la, sendo uma das principais aderentes, a própria esposa do Rei, Hipólita. Era forte em curar pessoas, até brancos, que estavam doentes, sobretudo a beira da morte. Porque a mesma também dizia que a espiritualidade passava pelo conhecimento da natureza, para melhor dominar outros campos, assim como a medicina. Na altura predominava a medicina tradicional (ervanária, plantas medicinais). Entre outros feitos tinha curado uma mulher mordida no pé por uma cobra e, em seguida, apenas com o poder tradicional ela começou a se expor de forma intensa no campo da espiritualidade Kôngo.

Fr Bernardo da Gallo não ficou nem um pouco impressionado nem convencido. Pressionou o Rei para mandar prender Mafuta, para que ele a interrogasse. O Rei interrogou Mafuta, mas não a prendeu, o que desgostou Fr Da Gallo.

 

De outra vez, Mafuta teve uma visão como referiu peremptoriamente ao Frade e soube das catástrofes e desastres que ocorreriam se o Nekongo não recuperasse a cidade. A Rainha Hipólita convenceu-se das curas visões e adivinhação de Mafuta (como o que ela dizia se concretizava) e os missionários espalharam que esta era uma santa, profetisa, vidente, espírita e tantos outros adjetivos que qualificavam-na. Quando os missionários da fé a quiseram levar a julgamento acusando-a injustamente de Bruxa e de heresia, o Nekongo protegeu-a, impondo a sua autoridade. Todos estes acontecimentos conduziram a um novo fervor religioso que havia de empolgar todo Kôngo e ao surgimento de uma mulher que tentaria o renascimento nacional, através da sua própria interpretação da espiritualidade local e da religião cristã. Religião cristã porquê, porque Appolonia Mafuta acreditava que a religião cristã não tivera mal algum em fazer parte da vida espiritual dos bancos “porque a mesma dignificava os brancos, e não os Pretos” , sobretudo ela não devia ser o caminho a ser trilhado pelos Kongueses.

Como a sua presença era notável no seio do povo, os missionários implantaram através da figura Appolonia Mafuta a política de a transformar em Santa Maria dos Pretos. Felizmente Mafuta não tivera o mesmo fim que tantas outras conhecidas profetisas do Reino e arredores tiveram. O famoso crime de heresia.

Após a sua morte, Apollonia Mafuta passou a ser muito referenciada por missionários e colonos, assim como nos Reinos do Kôngo e N’Dongo etc etc etc. De Salientar que foram os missionários que a transformaram em santa Maria dos Pretos dentro da igreja católica (na altura). A diferença residia no facto de não se tratar de uma santa branca, mas sim negra.

Ancorou o seu poder, antes de tudo, na morte. Morrera mas estava bem viva nas Mentes dos Kôngo N’Dongo e dos missionários Capuchinhos, num só acto, o enredo que levara os reis de vários Reinos (vassalos do Kôngo) a admirar a sua tamanha bravura. Reza a história que foi após a morte de Mafuta que o cristianismo passou a fazer parte de forma intensa “ativa” na vida dos povos da região Kôngo e arredores. Os missionários transformaram Apollonia Mafuta numa Santa negra para puder mudar o rumo da consciência de espiritualidade que tinha o povo, sobretudo a geração que se avizinhava “chegar”. Foi um jogo colonial que resultou na grande lavagem cerebral religiosa e colonial do povo Kôngo e dos N’Dongo, assim como outros povos que faziam parte administrativamente do Reino ou do Império Kôngo.

Graças a esse tipo de pensamento que muitas outras figuras da espiritualidade Kôngo N’Dongo e etc, surgiram, e começaram a seguir o rasto de outras dentre várias profetisas que lhes precederam na mesma tarefa. Muitas começaram a questionar a presença dos missionários. Começaram a manifestar-se, tal descontentamento, que culminou na histórica luta contra a presença do colono e cristianismo no seio desses povos. Missionários versus espiritualidade local.

Aquilo que Appolonia Mafuta temia se tornou num facto. A religião cristã trouxe consigo a escravidão guerras e a dominação dos autóctones em todos os campos. Como a mesma dizia : A crença dos mindele (brancos ou estrangeiros) não é digna ao povo N’dombe (Preto).

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