LUCAS BENGHY NGONDA A LUTA COLONIA E INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA

Entrevista de Lúcas Benghy Ngonda, nacionalista angolano, nascido em 7 de abril de 1940, na aldeia Kimbengi Ngonda, no Sanza Pombo, província do Uíge.  Foi deputado na Assembleia Nacional (Parlamento) e presidente da Frente Nacional de Libertação de Angola – FNLA, um dos movimentos de libertação que lutou contra o regime colonial em Angola e signatário dos Acordos de Alvor que permitiram a independência de Angola.

Foi o primeiro secretário provincial da FNLA na província do Uíge, no tempo do governo da transição, em 1975, com 35 anos de idade. No seio dos mais velhos da FNLA, ficou conhecido como “declamador de Carmona”, por ter sido ele, o escolhido para ler o texto da declaração da independência de Angola que o seu partido proclamou a 11 de novembro de 1975, a partir da então cidade de Carmona (hoje Uíge). Ao ser expulso nas cidades, partiu para Paris, onde estreitou relações com Holden Roberto, presidente do partido.

Foi o primeiro membro da FNLA a falar com Rosa Coutinho. Lucas Ngonda conta que abandonou a cidade de Carmona no dia 3 de janeiro de 1976 para se instalar na cidade de Mbanza Kongo, onde ficou pouco tempo antes de abandonar o país para procurar o primeiro refúgio na República do Zaire. Foi um momento doloroso, lembra Lucas Ngonda, com a amargura, que essa independência que se sonhava tanto, toda a juventude de Angola, seja ela da FNLA ou do MPLA, até porque essa história de divisões só apareceu em 1974, apesar de haver grupos que lutavam pela independência, havia unidade quanto ao objectivo, não havia inimizades ao extremo entre a juventude angolana. Uns ouviam emissões da rádio “Angola Combatente” do MPLA e outros da rádio “Angola Livre” da FNLA. Porque todo angolano queria ouvir notícias da luta de libertação nacional, o que traduz haver naquele tempo sentimento de unidade nacional que os partidos políticos destruíram, quando se instalaram oficialmente no país. 

Depois da independência, a FNLA não se afirmou no interior de Angola, houve confrontos armados que resultaram na ocupação de Angola pelos cubanos. O ELNA recuou nas bases iniciais que serviram de base na luta contra a dominação colonial. A maioria dos guerrilheiros voltou na base do Koba, na província do Bengo, Nambuangongo e Kikulungu, outras forças recolheram-se no Kwilu-Kwangu, nas regiões de Santa Cruz, Makokola e Kumbi, região fronteiriça com Popokabaka na República do Zaire, onde se situava a base de Kinzamba, a segunda em importância depois de Kinkuzu. Não se podia utilizar essa base, sendo Angola já independente, a luta deveria ser no interior de Angola. E a população instalou-se nas zonas controladas pela FNLA, denominada frente n°1, que englobava territórios a partir do litoral até Kwilu-Kwangu, quer dizer, as províncias do Zaire, Uíge e Kwanza-Norte, e outra população concentrou-se na frente n°2, que englobava territórios a partir da região Kwilu-Kwangu até Malange.

Sobre a questão da definição da luta que se podia travar contra os irmãos angolanos, apesar de haver cubanos em Angola, dominava o espírito dos dirigentes da FNLA. Continuar com uma guerra fratricida não foi a opção desejada pela maioria dos dirigentes da FNLA, incluindo o presidente Holden Roberto, porque a vítima principal seria o povo angolano e não os cubanos entrepostos. Porque a luta que se travou antes, que culminou com a independência, era contra os ocupantes portugueses. O presidente Holden Roberto decidiu que a FNLA não devia se envolver numa guerra aberta, mas que se conservasse as forças nas principais bases, para sua própria defesa. A luta da FNLA seria política e não armada.

É autor dos livros: “Angola. Descolonização. Luta pelo poder e a construção de nova sociedade”, “Angola, apontamentos para história económica e social (1482-1975)”.

Entrevista realizada pela TV Girassol no dia 10 de abril de 2025, por SIMÃO PEDRO E VINISIA MATEUS.

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