Cosmogonia Bantu: NZAMBI A MPUNGU (Deus Supremo), a Criação da Natureza e do Homen (Muntu)

Nkisi a Kongo

 

Por SAMBA TOMBA Justes Axel *

 

 

 

 

 

A cosmogonia em geral, é uma ciência ou domínio que estuda as questões da criação da natureza, do universo e todos domínios ligados a natureza. Quando se fala da cosmogonia Bantu, é um conjunto das crenças, ideias, regras, teorias ligadas a criação da natureza, como base da civilização Bantu (no caso do povo Kongo, Ambundu, ovimbundu).

A cosmogonia Bantu tem origens desde a formação dos primeiros grupos ou aldeias humanos Bantu na região de Benue (Norte oeste de camarões) até a fundação do poderoso Reino do Kongo por Nimi A Lukeni no século VII, passando por migração dos Bantu na África Central.

Essa cosmogonia Bantu é baseada em primeiro lugar sobre a crença que toda natureza: Terra, Céus (Ntoto, Zulu) é a criação do Nzambi A Mpungu (Deus), Ser poderoso, Supremo. É isso que justifica o provérbio Kongo: “Nzambi wa lamba luku, tongo beto bantu” (Deus cozinhou farinha de mandioca, e nós homens somos condimentos). E que tudo que existe dentro da natureza é também sua criação, que o homem(Muntu) tem que respeitar.

E para honrá-lo Mampungu Tulendo (Deus) precisa de louvação, oração (lomba, sambila) no culto dos ancestrais numa casa dos ancestrais (Nzo ya Bakulu). O culto se faz por muitos rituais, e mesmo a louvação, o respeito se fazem à través provérbios, canções. Por está razão John Mbiti disse no livro dele “Religions et Philosophies Africaines: O que o Africano sabe de Deus, se exprime por provérbios, curtos enunciados, canções, orações, nomes, mitos, narrativas, cerimônias religiosas.”

Esse Deus é Único(Monoteísta) para os Bantu, é Mampungu(poder), Tulendo(autoridade). Nesse sentido Deus é Único poder que abraça todas autoridades.A criação por Deus é concebida por três princípios( A Trindade). Como os três clãs iniciais Kongo, que é a base da fundação do Kongo.

Esse Deus Único tem várias facetas. Em outras palavras, ele tem vários nomes segundo as circunstâncias,contextos. Ele se chama Mbumba Lowa (Gato), pois o Gato é um animal sagrado desde o Egito antigo, ele tem capacidade para olhar a noite e o dia, como Deus, o gato não caiu de costas, ora na língua Kikongo, cair (bua) quer dizer ter culpa, ser vencido. Assim, como o gato não caiu de costas, de repente ele é comparado a Deus. Mas precisa lembrar, Mbumba Lowa na cosmogonia é uma referência da potência da criação do Deus.

Outro nome de Deus é Kalunga (Imanência de Deus),enquanto no sentido largo, ele se refere a Deus no contexto do mar (mbu),pois o mar é infinito, Deus é infinito também, não tem início e fim. O mar representa a pureza, e joga a sujeira por onda, e do mesmo Deus é puro.

Na cosmogonia Bantu, Nzambi a Mpungu Tulendo é perfeito (Sinuku), o homem pode o encontrar através meios humanos. Por exemplo no poderoso Reino do Kongo Dia Ntotila, existiu várias escolas iniciáticas (que a ontologia ocidental chama setas secretas), mas que na verdade foram escolas tradicionais onde os jovens Kongo frequentaram para atingir conhecimentos tradicionais sobre Deus, criação, Tradição, costumes.

De mesmo, a mesma cosmogonia nós diz que o homem não pode atingir Deus, o que justifica
o provérbio Kongo: “Kutombi Nzambi Nko,Nzambi ka mone ka nga ko” (Não procure Deus, ele é invisível).

Em outras palavras, O homem com seus sentidos corporais não pode atingir Deus, pois este é
Santíssimo, de repente precisa dos intermediários. Os intermediários são os Bons ancestrais,
que morreram, que são santos e que fazem intercessão das nossas orações a Deus, esses
ancestrais se chamam Bakulu ou Nkukunuyngu( Antigos, Esclarecidos).

A cosmogonia Bantu considera a finalidade da Educação dos jovens Kongo, é chegar a
olhar em frente os bons ancestrais(Bakulu) diretamente para transmitir os pedidos a Nzambi
Mampungu(Deus supremo).

* Historiador e pesquisador do Congo Brazzaville no Brasil
Membro pesquisador da ABPN
Membro pesquisador do Grupo Sankofa/INFES/ UFF
Membro do laboratório LéAfrica(UFRJ).

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