
Há mais de uma década e meia, um nome discretamente revolucionário começou a ganhar força no panorama cultural angolano: Arlindo Isabel, editor, livreiro e fundador da Mayamba Editora, um projecto editorial que se tornou sinónimo de qualidade, perseverança e aposta contínua na literatura angolana e africana.
Fundada em 2010, a Mayamba não surgiu por acaso. Nasceu do sonho de criar uma editora verdadeiramente nacional, comprometida com a promoção do livro e da leitura num país onde, por muitos anos, o sector editorial sobreviveu entre silêncios e desafios logísticos. Contra todas as probabilidades, Arlindo Isabel fez da Mayamba um verdadeiro bastião da cultura impressa. Hoje, o seu catálogo conta com centenas de títulos que abrangem áreas tão diversas como literatura infanto-juvenil, poesia, romance, auto-ajuda, história, ciências sociais, educação e até obras técnico-científicas.
“O negócio do livro não é como os outros”, admite o editor, que já afirmou publicamente que o seu maior lucro é “conseguir colocar um bom livro nas mãos de um novo leitor”. Este compromisso ético e cultural tem feito da Mayamba uma referência tanto para autores consagrados como para jovens escritores à procura de uma primeira oportunidade.
Entre os nomes publicados pela editora, destacam-se Boaventura Cardoso, Ondjaki, Luéji Dharma, Ismael Mateus, Gabriela Antunes, entre muitos outros. A Mayamba também tem sido uma das poucas casas editoriais nacionais a investir consistentemente em literatura infantil de autores angolanos, preenchendo um vazio crucial no sistema educativo e na formação de leitores desde a infância.
Para além do papel de editor, Arlindo Isabel é também livreiro e promotor cultural, com forte envolvimento em feiras do livro, debates literários e oficinas de escrita criativa. A sua editora tem estado presente em eventos como a Feira do Livro de Luanda, a Bienal de Benguela, e até em feiras internacionais, ajudando a colocar os autores angolanos no mapa editorial global.
Outro marco importante é a criação do Prémio Literário Mayamba, lançado para incentivar a produção literária no país, com especial atenção a novos talentos. A editora tem ainda desenvolvido parcerias com instituições académicas, ministérios e fundações culturais, promovendo o acesso ao livro nas províncias, muitas vezes através de programas itinerantes de leitura.
Com sede em Luanda, a Mayamba continua a enfrentar os grandes desafios do sector: elevado custo de impressão, limitações na distribuição nacional e fraco hábito de leitura, ainda limitado por questões económicas e estruturais. Mesmo assim, Arlindo Isabel não baixa os braços: continua a investir, a editar e a acreditar que “um país que lê é um país que pensa”.
Mais do que um editor, Arlindo Isabel é um verdadeiro activista da leitura, alguém que, sem alardes, está a escrever um dos capítulos mais importantes da história recente do livro em Angola. A sua visão e dedicação transformaram a Mayamba numa plataforma de vozes plurais — e numa sementeira de pensamento crítico para as gerações vindouras.
Breve historial da editora Mayamba
A Mayamba Editora é uma editora comercial de carácter generalista. Foi criada a 8 de Março de 2010.
Mayamba vem do nome da avó materna do editor e fundador Arlindo Isabel. Mayamba, nome kikongo, tem um significado polissémico. É assim designado o lugar onde se tratam problemas de óbito, mas também significa “consenso”.
“O nome da minha avó materna, sendo uma homenagem à ela pelo seu empenho na minha educação e na minha formação escolar e intelectual. Era analfabeta, não falava português, mas comprava livros para eu e minha irmã, os seus primeiros netos, nos ilustrássemos.
A avó Mayamba era camponesa, laboriosa e bastante atenta à evolução da sociedade, do país e do mundo. Não tendo podido dar educação escolar aos seus 5 filhos, apostou nos netos, sendo eu o primeiro, e nos sobrinhos e, em 2011, quando partiu para a eternidade, deixou mais de 40 licenciados na família, entre netos, sobrinhos, bisnetos. A Mayamba é uma homenagem à minha avó, à avó Mayamba, e a todas as mulheres, no mês da mulher. A data de 8 de Março de 2010, data de lançamento do primeiro livro, de autoria do escritor Luís Fernando, foi adoptada como a data da criação da Mayamba Editora. A Mayamba Editora Publica essencialmente autores angolanos e estrangeiros que escrevem sobre Angola.”
Fonte: Rádio REAT Rádio Estudantil Angolana de Transmissões
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