Soba Namputu, herói da resistência contra o colonialismo na Damba.

Por Honoré Mbunga

NSAKALA MAFWANI MPUTU “SOBA NAMPUTU”, natural da Ndamba Lu-Tahi, Nsakala Mafuani, ou Namputu, nasceu em Mbanza Nkombo, provavelmente na década de 1870. Foi soba de Mbanza Mabubo; principal aldeia da região da Damba, com a sede em Nsangui.

Segundo a versão oral recolhida junto dos idosos, no município da Damba, foi durante o seu reinado que chegou à região um branco chamado Dinis (major Galhardo, para os europeus), em 1909. Foi o homem que os portugueses enviaram, pela primeira vez, para submeter os chefes locais e tentar ocupar a região.

Nsakala Mafuani opôs-se energicamente, dizendo que «os brancos têm mau hábito de não se submeterem às leis dos pretos». Foi por esta razão que ele exigiu a Galhardo que, para residir na região, enquanto estrangeiro, ele devia demonstrar prova de humildade e submissão em relação à tradição da região. Esta exigência consistia no seguinte:

— Deixar que lhe rapassem o cabelo;
— Untar o corpo com o nkula e;
— Deixar que o soba lhe pisasse na testa.

Essas exigências representam um tipo de baptismo que se dava a todos os estrangeiros. Estas ordens foram executadas. Aliás, é dessas situações que muitos autores, nas suas obras, consideraram como sendo «maus tratos», como é o caso de José Cardoso, quando disse:

«Havia para mais a instigá-los a revolta à proeza dos Dambas, praticada em 1909, quando o major Galhardo foi maltratado na povoação de Nsangui pelo soba Mputo […]37.» (sic)

Por sua vez, o major Hélio A. Esteves Felgas escreveu o que segue:

«Os da Damba maltrataram em 1909 o major Galhardo a quem o soba Nputo ofendeu na povoação de Nsangui.38» (sic)

Provavelmente tenha sido quando o soba Mputu, após ter sido informado da chegada de um branco na aldeia, ordenou que um emissário fosse falar com o estrangeiro (o major Galhardo), sobre as leis da região, tendo este respon- dido que «eram todos cães e escravos, aos quais não podia obedecer». Aliás, ouvindo as declarações dos sobas, aquando da grande reunião de auscultação dos povos, no «dia da fundação», a 10 de Outubro de 1911, o general José Heliodoro Corte-Real de Faria Leal escreveu o seguinte, no seu relatório, cul- pando o próprio major Galhardo, pelo excesso de complexo de superioridade:
«[…] Só depois de serem por ele injustamente insultados com os epítetos de cães e de escravos e outros insultos é que o haviam desrespeitado39.»

Na verdade, tratava-se de uma acção de boicote da autoridade portuguesa, pelas autoridades tradicionais da Damba. A resposta dada pelo major Galhardo obrigou o soba Nemputu a mandar atacar o pequeno posto montado em Nsangui, para trazer, manu militari, o major português à sede do chefe Nemputu.

Além da acção de 1909 contra o major Galhardo, o soba Mputu soube usar o bluff, como arma psicológica, contra a penetração portuguesa. Esta arma psicológica teve um efeito positivo porque conseguiu travar, durante muitos meses, o envio da coluna de expedição militar para a Damba. Após o aconte- cimento de 1909, os portugueses levaram dois anos, para preparar a coluna militar que conseguiu chegar até Nsangui. Mesmo assim, a coluna enfrentou muitos problemas, relacionando-os com a fuga dos africanos incorporados (praças).

Contudo, apesar da justificação apresentada pelos sobas da região, no dia 10 de Outubro e, apesar de ter aceite e efectuado o pagamento do tributo, imposto pelas novas autoridades coloniais, Namputu foi retido, a partir daquele dia, e nunca foi libertado. Ele foi, simplesmente, preso e, após cerca de dois meses de encarceramento in loco numa cadeia subterrânea foi levado algures. As populações da região desconhecem, até à presente data, o paradeiro do seu soba.

Entrevistados acerca de Namputu, os mais velhos da região presentes no local, disseram:

«Quando os brancos voltaram em 1911, todos os chefes da região se reuniram e decidiram fazer as pazes com eles. Estes exigiram um tributo de guerra e guardaram, detidos, os nossos chefes. Mesmo após o pagamento do tributo exigido, Namputu não foi libertado, levaram-no algures, após ter passado dias numa cadeia subterrânea, aqui na Damba. Até hoje, ninguém de nós tem conhecimento do paradeiro dele.»

Foi assim, portanto, o fim de Nsakala Mafuani (Mputo/«Namputu»), um dos heróis do território nacional, que mostrou exemplo de coragem e deter- minação no momento em que os estrangeiros procuravam apoderar-se da região da Damba, no antigo Distrito do Kongo. Vendo o caso do outro soba do Bembe, região vizinha da Damba, podemos avançar a hipótese de uma de- portação para o exterior do país, porquanto casos idênticos aconteceram com outros sobas, no território angolano. São eles:

— Um pouco antes, no Planalto Central do Bié, após ser vencido, pelas forças portuguesas, em 1891, Cikunyu Ndunduma foi deportado para a Ilha de Santiago (Cabo Verde) onde faleceu, em 1898.

— Depois do caso Namputu, o soba Pedro Masamba, do Bembe, foi desterrado para a Guiné, em 1940.

( Extrato de História da Damba, Copiado no mural do Dr. Arlindo Isabel, )

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