VINDA NKABATA o herói da região da Damba

Damba em 1961, o enterro do padre Joâo Pedro, morto pelos revoltosos sob bandeira da UPA.

Por Honoré Mbunga

Para além das figuras já retratadas, após o início da luta de libertação, levada a cabo pelos nacionalistas angolanos de vários movimentos clandestinos existentes em Angola, na altura, outra figura veio a destacar-se, com uma acção heróica contra a administração colonial portuguesa, na região. Trata-se de Vinda Nkabata.

Quem foi Vinda Nkabata?

Com efeito, Vinda dya Nkabata foi filho do soba de Kiyanika, soba Nkabata, e sobrinho-neto do soba Nakunzi, um dos últimos soberanos da Damba a quem já nos referimos anteriormente, falando das acções operadas pelos heróis das gerações de Namputu, Mbianda Ngunga e outros, nas décadas de 1900-1920.
Vinda dya Nkabata comandou a primeira vaga de assalto à administração colonial da Damba, no dia 17 de Abril de 1961. Foi o mesmo quem tirou do mastro a bandeira portuguesa. No meio de um grupo de revoltasos, Vinda Nkabata atira a bandeira portuguesa para o chão, sobre a qual urinam alguns sublevados. Posteriormente, fizeram uma rodilha, atiram a bandeira para o ar, lançando gritos de satisfação, dizendo Dibakamene, dibakamene eh Dipanda dibakamene! Portanto, foi neste mesmo momento de entusiasmo do kimpwanza kya Ngola, que aconteceu o inesperado.

Aproveitando-se da distracção dos manifestantes, os colonos, que se encontravam «entrincheirados» na administração colonial, lançaram dois dos seus servidores angolanos, dos quais, Carlos Alberto, angolano da região dos Dembos, conseguiu, ajudado certamente pela presença de nevoeiro (wunga), introduzir-se no seio dos festejantes, disparando um tiro na cabeça do herói, Vinda Nkabata, cujo sangue ficou derramado na bandeira que os intrusos apanharam e levaram para o interior do edifício da administração colonial. Só depois é que os colonos, graças ao acto de bravura do Carlos Alberto, ganharam coragem, intensificando o fogo, para obrigarem os amotinados, sob a bandeira da UPA — União das Populações de Angola a recuar. Na sua retirada, a UPA deixou muitos mortos no terreno, dos quais o corpo do herói Vinda Nkabata.

Ministro do ultramar (colóbias), Adriano Moreira, visitou a Damba
Foi assim que fracas- sou a primeira vaga de assaltos dos Ndamba, nesta luta pela independência de Angola. O eco do acto de Vinda Nkabata chegou longe, e fez tremer e humilhar os portugueses. Aliás, três meses depois do acontecimento, o ministro do ultramar português, Adriano Moreira, visitou a Damba, em representação do presidente Salazar, e não só.

Para ofuscar a acção, a bandeira com o sangue de Vinda Nkabata foi exibida em todo Império português, como símbolo da resistência colonial contra os independentistas, nos territórios ultramarinos portugueses. Carlos Alberto, o homem que o matou foi recebido na metrópole e o seu nome impresso nos manuais escolares do ensino português.

Quanto a nós, apesar de tudo, Vinda Nkabata é, indubitavelmente, um dos símbolos da resistência anticolonial, na Damba, pelo papel desempenhado naquele dia memorial, pela causa da valorização do angolano, através do seu acto de coragem. O 17 de Abril deveria ser sempre lembrado, pelos Mindamba, como «dia do herói da região».

CRONOLOGIA DOS ACONTECIMENTOS

A.C. 6000 anos, Instalação e organização das populações em toda a parte da África Austral, onde se localiza a região da Damba.

Séc. I-XIX, instalação dos povos bantu, cujos bakongo, em toda a região da África a Sul do Equador, e na Damba em particular;

Século XIX, evolução do comércio de longa distância e estabelecimento de comerciantes portugueses na região, com abertura de casas comerciais;

Década de 1860, nascimento provável de Mbianda Ngunga, na actual região do Nsoso.

Década de 1870, nascimento provável de Nsakala Mafuani «Namputu», na localidade de Mbanza Nkombo.

1885 (18 de Julho), é criado o Distrito do Kongo, pelo Decreto Real, na provín- cia de Angola.

1887 (31 de Maio), publicação do Regulamento do Distrito. A Damba passa a receber as instruções de Cabinda, a sede do novo Distrito.

1909, na povoação de Nsangui, aldeia central da Damba, o soba Mputu humi- lhou o major português Galhardo, que tentou ocupar a região;

1911, criação do Ministério das Colónias, que prossegue com as campanhas de ocupação e repressão de revoltas em Angola. Em Março, o administrador do Concelho de S. Salvador do Kongo, José Heliodoro de Faria Leal pediu for- ças ao Governo da Colónia de Angola, para ocupar as «regiões insubmis- sas». A 1 de Outubro, começa a marcha da coluna de operações militares para a ocupação da Damba. A 4 de Outubro, fez-se a ocupação da Damba, pela coluna militar dirigida pelo general José Heliodoro de Faria Leal. A 5 de Outubro, deu-se início à construção do forte, também denominado 5 de Outubro. A 10 de Ou- tubro, condenação do soba Namputo, retido pelos portugueses, dando-lhe um paradeiro desconhecido. A 30 de Dezembro é criado o Posto Militar da Damba, dando início à instalação maciça e decisiva dos portugueses, na região.

1913, a guerra de resistência, contra a capitania-mor da Damba, chefiada por Mbianda Ngunga, congregou, muitos chefes de outras regiões do Kongo, nomeadamente, Sanza Pombo, Kimbele, Buengas, Kuilo-Mfuta e Kwango. A 27 de Junho, a Damba foi elevada a capitania-mor;

1913-1915, a Damba liberta-se da ocupação portuguesa;

1914 (25 de Março), criação dos postos militares de Trinta e Um de Janeiro; 1915 (14-25 de Março), a Damba é ocupada novamente pela coluna sob co-
mando de Castelo Branco que queima parte da região. A 17 de Março, é criado o posto militar de Nkama-Ntambo;

1917, a Damba começou a exportar borracha e café limpo, para fora de Angola; 1918 (26 de Junho), é criado o posto militar de Nkuso;

1919 (25 de Agosto), Trinta e Um de Janeiro passou da Circunscrição de
Pombo para a Circunscrição da Damba;

1921 (25 de Julho), a Damba é elevada à Circunscrição e em Dezembro, pas-
sou para o regime civil;

1932 (11 de Março), Nkama-Ntambo é integrada à Circunscrição da Damba; 1933, inclusão do Acto Colonial na nova Constituição Portuguesa de 11 de
Abril (art.o 133) e, em 15 de Novembro, promulgação da Carta Orgânica do Império Colonial e da Reforma Administrativa Ultramarina (decreto-lei 23 229), pelo Ministro das Colónias que coloca todos os chefes tradicionais na base da administração civil «auxiliares» do chefe de posto e do aspirante.

1937 (13 de Fevereiro), Trinta e Um de Janeiro muda de sede, do Lomba para o Entroncamento. Nesta mesma altura, Angola é dividida em cinco províncias (Luanda, Malanje, Benguela, Bié e Huíla) e 14 distritos. A Damba pertencente à província de Luanda e ao distrito do Congo, com sede em Maquela do Zombo.
1938, aquando da revolta de Álvaro Tulante Buta, na região de Mbanza Kongo, a Damba também se rebelou e se libertou da autoridade colonial por- tuguesa. Em represálias, Castelo Branco comandou uma coluna de operações militares, atacou e ocupou de novo a região, que queimou parcialmente.

1961, início da luta anticolonial pela independência do país, pelos movi- mentos nacionalistas de Libertação de Angola.

A 17 de Abril, na Damba, Vinda Nkabata conseguiu tirar a bandeira portu- guesa do posto administrativo, que vandalizou com um grupo de jovens re- voltados da região.

1962 (27 de Outubro), criação do posto administrativo de Nkama-N’tambu;

1971 (23 de Fevereiro), a Damba é elevada à categoria de Concelho do Dis- trito do Uíge.

1975 (11 de Novembro), Angola ascende à independência. A Damba passou a ser um dos municípios da província do Uíge.

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