MABA (Palmeira), árvore que produz MAFUTA (óleo de dendém), é venerada na Sociadede kongo

Por José Carlos de Oliveira “Mbuta Divela”

Antes de responder ao solicitado, cabe aqui lembrar um conceito da cultura alemã e que recebi penhoradamente dum bom amigo inglês.

NOTA PRÉVIA

Zeitgeist é um termo alemão cuja tradução significa espírito de época, espírito do tempo ou sinal dos tempos. O Zeitgeist significa, em suma, o conjunto do clima intelectual e cultural do mundo, numa certa época, ou as características genéricas de um determinado período de tempo.

Necessitamos ter o maior cuidado quando nos referimos a um determinado termo, saber em que sítio geográfico ele foi usado, a que povo, em que época (recorrendo, se possível) a documentos que ao mesmo tempo diretamente se referem.

Quando em Kibokolo, ouvi chamar, por diversas vezes, algumas meninas pelo nome de mafuta, sabia que assim se chamava em kikongo dos Bazombo o óleo de dendém, mas nunca me esquecia da mãe do dendem. Estávamos então na década de 1950/60, tinha eu então os meus dezassete anos.

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Prof. Dr. José Carlos de Oliveira – Casa do Fontenário, em óbidos – Portugal. ( Imagem do Muana Damba)

Vamos começar pelo princípio.

Antes de falarmos do menino/a e lhe ser atribuído nome, falaremos da sua mãe, ou melhor da sua fecundidade.

Como é sabido por toda a comunidade Africana, a capacidade de fecundar é ainda hoje o maior dom a que uma mulher Bantu aspira. Aliás, é a sua grande participação na Vida: ser geradora de filhos para “a sua Nsi”, daí a importância do local em que vier a dar à luz. Vive, trabalha, ama sofre e envelhece olhando pelo bem-estar dos filhos. Toda a estrutura social anda de volta da sua fecundidade. A esterilidade era a sua maior infelicidade. Dar ao mundo filhos doentes cavava-lhe a sepultura.

Quando se apercebia que estava grávida apoderava-se dela um sentimento de incontida alegria. Submetia-se a todos os ritos que lhe eram impostos, para conseguir levar avante a sua gravidez usando os nksis protetores sobre o corpo, especialmente na sua cama.

Quando a criança ainda estava dentro do seu “sagrado ventre”, era hábito resolver, de acordo com o seu companheiro de vida (pessoalmente gosto mais deste termo do que de marido) dar um nome à criança, alusivo a uma cena que se tivesse nesse período da gestação. O segredo ficava entre os pais. O filho, se sobrevivesse nunca o saberia. Claro que lhe seriam atribuídos outros nomes, pelo menos o de um antepassado já falecido. Os netos ainda são reconhecidos como a reencarnação daqueles, a essa evocação chamava-se ku tumuna nkulu.

Ainda viria a receber outros nomes.

Os adivinhos (mukixis) protetores, a quem ouvi desxignar por Muani Buanga, estavam sempre atentos à união do casal. Os tempos eram de grande preocupação… (agora não se escreve protectores); eis aqui um sinal dos tempos: Zeitgeist.

Quanto à questão da palmeira como árvore, não nos esqueçamos da riqueza da terra em que ela é fecunda, basta lembrar o velho costume de lhes tratarem cerimonialmente o terreno à sua volta. Não nos esqueçamos que, além do dendém dá-nos o coconote, o rebento final e especialmente o malavu (malufo). Com as folhas, os povos fazem os seus abrigos, com o raque constroem os cercados das casas. O óleo ainda dá para fabricar sabão. Dão material para defumar as casas, o peixe, as carnes e ainda afugentam os mosquitos etc.

Há alguma árvore que se lhe compare? Daí que seja uma Veneranda Árvore Sagrada. Em jeito de terminar o discurso sobre as qualidades da Santa Árvore:

“A flor feminina da palmeira (que está atrás do cacho de dendém) era respeitada. Se não fosse o cacho a protegê-la os homens viriam cortá-la para terem vinho de palma”.

Os adivinhos (mukixis) protetores a quem ouvi o nome de Muani Buanga estavam sempre atentos à união do casal, porque os tempos eram de grande preocupação… (agora não se escreve protectores); eis aqui um sinal dos tempos Zeitgeist.

 

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