População da aldeia Kibianga deixa de consumir água do rio

Por António Capitão

“Abandonamos os rios como fonte do precioso líquido para beber. Passaremos a ir aos rios apenas para lavar a roupa ou para moldar a mandioca, como medida tomada pela comunidade para fazermos uso racional da água do sistema de captação e distribuição”, exclamou, contente, Delfina Alberto, com uma banheira azul de 20 litros à cabeça, de regresso do chafariz.

Baixinha, de blusa e panos do Congo, mas com estrutura física bem constituída, Delfina Alberto expressou a sua gratidão às autoridades administrativas do município do Uíge pela disponibilização de recursos financeiros para a reabilitação do sistema de captação e distribuição de água na sua aldeia, Kibianga. “Estamos todos agradecidos por colocarem água na nossa aldeia.

Ficamos muito tempo sem a água a jorrar nas torneiras dos chafarizes, devido à avaria do sistema. Utilizávamos água do rio, sem garantias de qualidade para o consumo hu-mano, para bebermos, cozinhar, lavar a loiça e a roupa, cuidar da higiene pessoal e de muitos produtos agrícolas, sobretudo a mandioca”, disse. Emília Correia, 27 anos, é outra habitante do Kibianga, que revela que passou por muitas dificuldades para conseguir colocar água em casa para beber e cozinhar para si, para o marido e para os três filhos.

“Agora já temos água próximo e agradecemos os esforços e reconhecimento do Estado a esta população”, disse com um sorriso nos lábios, a demonstrar a alegria que sentia. “O rio que habitualmente a população utiliza fica a mais de um quilómetro da aldeia e debaixo de uma montanha íngreme. De volta à aldeia tínhamos de nos socorrer de paus para podermos superar a montanha com banheiras de água, loiça, roupa e outras coisas pesadas à cabeça”, sublinhou, afirmando de seguida que “estes tempos ficaram para trás”.

O encarregado pelas obras de reabilitação do sistema de abastecimento de água, Nelson Travasso, sublinhou que o mau uso e a falta de manutenção estiveram na base da paralisação do funcionamento do sistema, por muitos anos. Agora reabilitado, tem capacidade para produzir 305 metros cúbicos e foram instalados quatro chafarizes em diversos pontos da aldeia.

No Kibianga, referiu, mais de 1.800 pessoas vão poder utilizar água em melhores condições para o consumo.
Além dos quatro chafarizes, foram também instaladas duas torneiras públicas e um espaço combinado que possui, de um lado, lavandaria para permitir às mulheres tratarem da roupa e, do outro, um chuveiro para os habitantes poderem cuidar da higiene corporal e a população deixar de percorrer longas distâncias para acarretar água.

“A reabilitação do antigo sistema de captação e distribuição de água na aldeia teve a duração de três meses. Fomos nós, a empresa Mitrelli, que o construímos em 2014. Mas, devido ao mau uso e vandalismo dos equipamentos, por meliantes e alguns populares, deixou de funcionar três anos depois”, referiu.

Nelson Travasso avançou que, na empreitada, foram utilizados equipamentos modernos, com destaque para as motobombas que captam a água no rio e o módulo contentorizado onde existem equipamentos de filtração e tratamento do líquido com vários combinados químicos.

O administrador municipal do Uíge, Emílio de Castro, disse que a reabilitação do sistema visa repor o consumo de água em melhores condições à população, por ser um elemento fundamental para a saúde. Pediu à população para conservar o empreendimento colocado à sua disposição, de modo a que possa ser útil durante muito tempo.

Infra-estruturas à espera de obras

Durante o trabalho de campo realizado pelo administrador Emílio de Castro, foram feitas visitas de constatação em vários equipamentos sociais, como alguns postos de saúde.  O gestor público ficou preocupado com a ausência constante de técnicos nos locais de serviço, o que representa um mau exemplo para o sector nesta altura em que o país enfrenta a pandemia da Covid-19.

Foram constatadas também, em aldeias do troço Tange-Pique, as condições de funcionamento de muitas infra-estruturas escolares e hospitalares, tendo o administrador Emílio de Castro afirmado que a maior parte precisa de reabilitação urgente, tendo em conta o avançado estado de degradação que apresentam.

Quanto às vias de comunicação, Emílio de Castro considerou que no casco urbano da cidade do Uíge permitem uma normal circulação do trânsito, enquanto nos bairros periféricos, e no que ao acesso às aldeias diz respeito, a situação é preocupante, por a maior parte delas se encontrar em avançado estado de degradação.

“O principal constrangimento que a Administração Municipal enfrenta é a falta de equipamentos para a recuperação das mesmas. Estamos dependentes da disponibilização das brigadas de manutenção do Governo Provincial, para podermos começar a intervir no melhoramento destas vias”, disse.

Via JA

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