O respeito devido aos nossos antepassados como factor “sine qua non” para afirmação da nossa identidade e da prosperidade.

Homenagem do Presidente da República, João Lourenço, ao primeiro embaixador do reino do Kongo junto da Santa Sé, Dom António Manuel Nvunda “Negrita”, na Basílica de Santa Maria Maior (ou Maggiore), Itália. Novembro de 2019. Imagem de Angop

Por Salomão Ndombasi (Nobre Zombo)

Associo a minha voz nesta primeira abordagem de carácter estritamente pedagógico, daquelas que clamam no deserto com maior incidência nos últimos dias, com a COVID 19 a servir de alerta, pela necessidade de África em geral e Angola nosso País em particular, em voltar às suas origens, reconciliando-se com os seus antepassados como ficou recomendado na célebre assembleia celestial de todos os Negros Africanos em 1704 segundo a qual, todo o Africano deve voltar exatamente no lugar onde se perdeu isto é, nas “encruzilhadas dos caminhos”.

Jeová Deus, o supremo criador sendo justo, fez a raça negra como pivotante ou seja, a raça mãe de todas as raças com suas particularidades genéticas, antropológicas, culturais e com a sua identidade própria, isso ficou provado através das várias descobertas científicas e arqueológicas.

Recentemente, o Sacerdote católico Padre Jesuíta Ângelo Serra, Professor da Genética na Universidade católica de Roma na sua comunicação sobre a origem do homem numa assembleia geral da Academia Pontifical para a vida que, Adão e Eva eram Africanos e viveram há 200 mil anos, no máximo no Sul ou Sudeste de África e o Paraíso terrestre situava-se nesse continente, tendo-se apoiado em demonstrações cientificas feitas através da análise do ADN do cromossoma Y e comprovadas em descobertas dos primeiros seres viventes. (extraído do artigo publicado pelo jornal de Angola de 25 de Fevereiro de 1998).

Os Ocidentais sabendo de antemão dessa verdade indesmentível, investiram tudo para inverter a pirâmide e o curso dos acontecimentos a seu favor:

O Rei Leopoldo II da Bélgica no célebre discurso ao clero recentemente desembarcado no Congo em 1883, recomendou: Viestes certamente para evangelizar mas, o objectivo não é de ensinar aos Negros de conhecer o Deus pois, eles já o conhecem desde os seus Ancestrais… Eles falam e se submetem a um Nzambi a Mpungu, Mvidi, Mukulu, Mungu…

Monsenhor William Brondem na sua mensagem a 17 de Abril de 1982 aos Italianos a dado passo disse: Os Africanos (Negros) ainda não são espiritualmente independentes pois, ignoram o Deus dos seus antepassados, seu Salvador por isso, há muitos mortos por causa dessa ignorância.

O General Norton de Matos, líder da oposição ao estado novo, no seu livro “África nossa” defendia que, Portugal tinha a obrigação de povoar as terras angolanas com famílias brancas, construir com urgência e incutir nos Negros uma assimilação completa: material e espiritual…

O Papa João Paulo II aquando do seu périplo pelo continente berço durante as oito viagens efetuadas foi sempre aconselhando os Africanos em reencontrar o caminho da sua identidade e autenticidade e foi perentório em afirmar que, “ Deus é Negro e que, Jesus cristo ele mesmo, é negro” (Comentários de Bavua ne Longo, in Magazine Zaire actualités).

O Eminente Professor Congolês Mabbi Kalonga defendeu que, para atingirmos a nossa descolonização mental efectiva, temos que, começar a meter em causa alguns conhecimentos que nos foram intencionalmente transmitidos pelos Ocidentais. Na mesma lógica, faço meus os aportes de Eduardo Nsimba (2015) atestando que, “ não se pode suprir a verdade para sempre”.

O Dr. Tao, Embaixador da Singapura acreditado na RDC, pequeno País localizado no Sudeste asiático, convidado a dissertar a 2 de janeiro de 2020 num Workshop alusivo ao pequeno-almoço de orações no Fleuve Congo Hotel em Kinshasa na presença do Presidente Félix Tchissekedi, testemunhando o grande IDH (índice sobre o desenvolvimento humano) alcançado pelo seu País, confidenciou que, após a conquista da independência e da ocupação do território pelo vizinho Japão, o País estava totalmente atrasado e tudo em terra, o único segredo, consistiu em voltar as “encruzilhadas dos caminhos” isto é, reconciliar-se com os seus Ancestrais, com a sua identidade cultural, sua língua original, seus hábitos e costumes e relançar o País reconciliado e harmonizado ao caminho do desenvolvimento sustentável…

Connosco em Angola infelizmente, passa-se o contrário: o desprezo pelas origens, aculturação galopante, as lideranças não se revêm no Criador e nas Leis da criação. Os nossos Pilares de angolanidade sentem-se infelizmente traídos e abandonados a sua sorte, urge a necessidade de os resgatar com urgência sem o qual, continuaremos nadando em marés turvas.

Para ser mais explícito, o secular Cemitério dos Reis do Kongo quase que abandonado, foi reanimado pelo projecto da UNESCO do património da humanidade; o memorial do Rei Mandume, graças a conceção e acompanhamento do Eminente Historiador Dr. Camilo Afonso Nanizau Nsaovinga enquanto Delegado Provincial da Cultura do Cunene e posteriormente, assessor da Ministra da Cultura, teve visibilidade. Interessará ao Ministério da cultura algum dia revisitar a cerca em ruina onde jazem os Heróis da baixa de Cassanje e dos “Acocotos” onde são depositados os crânios dos Soberanos do Huambo por exemplo sem que, isso fosse apropriado como particularidade nossa e levado ao conhecimento dos Angolanos e da humanidade uma vez que, Angola só recebe e apropria- se dos outros e nada em contrapartida, exporta como conhecimento neste mundo globalizado infelizmente.

Se fossemos atenciosos e acutilantes, através da assinatura da “Concordata” com o estado de Vaticano, deveríamos aproveitar expatriar os restos das ossadas do Príncipe Dom António Manuel Nvunda “Negrita”, enviado pelo Rei Mpanzu-a-Nimi (D. Álvaro II) do Kongo como primeiro Embaixador Africano Negro junto da Santa Cé, sepultado na Basílica da Santa Maria Maior em Roma; do resgate da cabeça do Soberano rei do Kongo, Dom Mvita-a-Nkanga morto na célebre batalha de Ambuila com a cabeça, enterrada na Igreja de Nazaré em Luanda; do Soberano Rei do Bié, desterrado em Cabo verde, do desconhecimento dos verdadeiros locais onde jazem os restos dos Soberanos Ngola Kiluanje, Ngola Mbandi, Mwatiamvua etc., em cujos espíritos aprisionados, clamam pelo resgate urgente.

Em homenagem à parábola Kongo segundo a qual: “Mvumbi u fua ki mesu, kansi ka fua ki matu ko “ na versão da língua de Camões: “ o morto, não vê mas, ouve.” Assim, cumprindo o ideal Kongo, estando no ano de 2005 de passagem na Bélgica, fui convidado como Turista para visitar a Igreja de São João Evangelista de Tervueren onde jazem os corpos de sete africanos mortos durante a exposição Universal e Internacional de Bruxelas- Tervueren de 1897 passados mais de 130 anos e os seus jazigos devidamente conservados e gravados com os respetivos nomes três mulheres.

Sambo, Mpemba,Ngemba e quatro homens, Ekia, Nzau, Kitukwa e Mibange. Eram 267 homens e mulheres expostos no zoo humano como “macacos” para saciar a curiosidade dos Turistas Brancos vindos de toda parte, tratados como animais de estimação, conhecendo todas as atrocidades possíveis e inimagináveis donde, os sete não resistiram e morreram com os seus corpos e espíritos cativos nessa Igreja, infelizmente ninguém os reclama para serem expatriados na origem.

É essa África que não se reencontra consigo e com os seus Antepassados tais como: os Faraós do antigo Egipto, Aillé Sellasié, Aicha Tchembe, Amothep, Frederico Ngungunhame, Simon Kimbango, Beatriz Kimpa Vita, Francisco Kazola, André Massuwa, Mohammad Khadafi, Nelson Mandela, Simão Gonçalves Tôko e tantos outros de felizes memórias e luta para o seu desenvolvimento que certamente, tardará a chegar enquanto os seus Governantes continuarem Lacaios, Servidores, virados e aprisionados pelo ocidente.

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