PEDRO AFAMADO, comandante da guerrilha com muita fama

Por Sebastião Kupessa

Os que combateram as tropas colonialistas para libertar Angola, no Exêrcito da Libertação Nacional de Angola, ELNA em sigla, braço armado da FNLA, lembram-se certamente de um dos seus comandantes da Frente Norte, PEDRO AFAMADO.

Segundo fontes concordantes, Pedro Afamado, coordenou, entre 1968 e 1974, as actividades guerrilheiras nas localidades de Bessa Monteiro, Madimba, Kuimba, N’toto, Lukunga, Kimaria e Kivuenga, na serra de Mukaba, numa região que engloba municípios do Songo, Bembe e Mukaba na província do Uíge; Municípios do Nzeto, Mbanza Kongo e Kuimba na província do Zaíre.

Em meados do ano 1967, Pedro Afamado vai encabeçar um grupo de guerrilheiros recrutados entre refugiados angolanos no Congo-Kinshasa (hoje RDC), formados e treinados no Kinkuzu, a base principal do ELNA, que infltrou-se com sucesso no interior de angola e vai instalar-se nas matas do Lwaya, propícia para levar cabo as operações da guerrilha que fará dele, um guerrilheiro temido pelos ocupantes lusitanos.

Aproveitando-se do relevo irregular da região, com serra de Mukaba, savana e floresta densa, do clima equatorial, dominado, por longo tempo, de chuvas torrencias, Pedro Afamado vai demonstrar talento de estratega e de chefe da guerra angolano que incutiu respeito entre militares da administração colonial, colocados na região. Um deles, Mário Méndes, escreve no Blog da Companhia de caçadores 3413, que Pedro Afamado foi “um guerrilheiro experiente e especialista em preparação de emboscadas que causaram grandes perdas às nossas forças”.

Com efeito, no dia 17 de Janeiro de 1969, Pedro Afamado organiza uma emboscada, na via Toto-Vale de Loge, depois de meia hora de intenso tiroteio, destroí uma coluna de carros, com 17 mortos, 8 feridos e captura 2 prisoneiros das forças portuguesas e apreensão de 17 espingardas FN, um emissor/receptor AN/PRC-9 e muitos outros troféus de guerra. Mas a versão da FNLA fala de 21 mortos, dezenas de feridos e um prisoneiro, levado mais tarde em Kinkuzu.

Em Agosto 1970 dirige outro ataque contra tropa colonialista estacionada no Lukunga, em que resultaram 11 mortos, 8 feridos graves e um desaparecido. Um ano mais tarde os seus guerrilheiros vão ilustrar-se novamente em um outro ataque, desta vêz, contra um grupo de soldados portugueses aquartelados em Kala Mbata, com muitos mortos e feridos.

As façanhas dos guerrilheiros angolanos, comandados pelo Pedro Afamado, vão merecer referências do poeta português Rui Ventura no seu livro “Sangue no capim” – Fernando Pereira,Lisboa, 1981 – e sobetudo do Melo Antunes, nas suas poesias sobre a guerra colonial.

Depois de 25 de Abril de 1975, foi colocado numa unidade militar do Nzeto como comandante e entra na clandestinidade com a proclamação da independência de Angola.

Em 1983, o ELNA proclama oficialmente o fim das hostilidades contra tropas do governo e muitos dos seus militares foram incorporados nas FAPLAS, entre os quais, o comandante Pedro Afamado.

Na formação das forças armadas angolanas, FAA, o exêrcito angolano que regrupa militares vindos dos três movimentos que libertaram Angola, o comandante Pedro Afamado foi recuperado e serviu ainda a nação com a patente de Coronel.

Faleceu em 1992 e foi natural de Kindeje no município do Nzeto, na província do Zaire.

Fontes consultadas: mundamba.com Blog de cc3412.

8 Comments

  1. Meu pai contou-me a história da captura do Pedro Afamado. Em breve eu comento aqui.

  2. Não foram 21 nem 17 os militares do Exército Português mortos na emboscada de Janeude 1969: FORAM 19, ou seja que do lado do MPLA se querem apagar um cabo e um furriel naturais de Ìcolo e Bengo, município natal de Agostinho Neto… com o detalhe de o furriel também ter de apelido ‘Neto’ (embora nem o pai nem a mãe o tivessem; teria eventualmente o mesmo nome de algum dos dois avós, pelo que o ‘Neto’ acrescentado seria apenas para o distinguir do dito avô. Mas os mortos, identificados na RESENHA HISTÓRICO-MILITAR DAS CAMPANHAS DE ÁFRICA, 1961-1974, do CE-M do Exército (Português) são mesmo 19 e constituíram a mortandade máxima sofrida pelo Exército Português em Angola: 4 metropolitanos e 15 angolanos. O maior massacre de portugueses mesmo foi antes no Cabeço da Velha, Nóqui, numa emboscada a uma BERLIET ISOLADA só com 21 elementos, dos quais 6 graduados: morreram 17, um foi levado prisioneiro e outro escapou gravemente ferido, por ter passado por morto. E aí, sim, foram 17 as vítimas mortais – e todos mesmo portugueses.conto-o no meu livro MEMÓRIAS DA GUERRA EM SÃO SALVADOR DO CONGO.

  3. Comentário adicional ao meu comentário POR PUBLICAR:
    Ressalvo: num total de 19 (o mais provável, que as HU estão aldrabadas para não acusar tamanha derrota), entre os quais 4 graduados (um alferes e 3 furriéis), foram 17 mortos, um prisioneiro e um ferido tão grave que até depois o levaram primeiro para a morgue, junto com os demais. Foi no dia 9 de Dezembro de 1966 numa emboscada no N’Kossa à Berliet que seguiu em frente sozinha, quando as demais viaturas pararam no Cabeço da Velha. O pessoal era da CArt 1411 recém-instalados no Cabeço do Tope e vinham de se reabastecer na sua CCS, em Nóqui (BArt 1854 acabado de rodar dos Dembos). E, pensavam que ali já estavam de férias!…
    [E o comentário reproduzido antes, que publiquei no site WIZI-KONGO foi a rebater uma mentira crassa: diziam que os mortos causados ao IN (nós portugueses) pela tal emboscada do seu (do MPLA) novo-herói ‘repescado’ (…que até nem querem promover postumamente a ‘general’, mantendo-lhe o posto de coronel) não eram “21 como [dizem que] diz a FNLA”, mas apenas 17. E é ‘também’ mentira: foram 19. Um herói que morreu em combate, por eles, na tentativa de reconquista de M’Banza Kongo, aos 59 anos, mobilizado após já estar retirado, devido à guerra civil]

  4. Como não saiu o que tentei publicar ontem: deduzi que talvez os dois mortos omitidos fossem os dois naturais de Ícolo e Bengo (o 1º cabo Bebiano Pascoal Santana e o furriel miliciano Fernando Torres Sátiro dos Santos Neto, conterrâneos, pois, de Agostinho Neto (mas nem o pai nem a mãe do último tinham o apelido Neto, pelo que talvez tivesse o mesmo nome de um dos avós, distinguindo-se pelo ‘neto’). Constam todos os nomes das vítimas (4 portugueses e 15 angolanos) na RESENHA HISTÓRICO-MILITAR DAS CAMPANHAS DE ÁFRICA 1961-1974 do CEM do Exército Português. E foi o maior massacre sofrido pela tropa portuguesa em Angola em toda a Guerra Colonial/de Libertação, obra do ELNA (FNLA), sob comando de Afamado Pedro, em 17 de Janeiro de 1969. A maior matança de portugueses (mesmo) foi a de 9 de Dezembro de1966 no N’Kossa, Nóki (17mortos, um ferido gravíssimo e um prisioneiro… num total de 19 na tal Betlietqueae adiantou isolada da coluna. Não foi obra de Afamado Pedro, mas sim, à mesma, do ELNA da FNLA/UPA, únicos guerrilheiros que nós portugueses tivemos a defrontar na zona de M’Banza Kongo ao longo de toda a guerra. Mas em Junho de 1972, em que a minha companhia (da N’Kalambata) sofreu uma embocada do ELNA com 9 mortos, sem o saber bem na altura, eu próprio acabei por constatar que o MPLA estava a preparar um aquartelamento a menos de 10 km do pessoal do meu pelotão que estávamos na Madimba/Fazenda Primavera, onde havia população ambunda deportada dos Dembos, sobretudo do Píri e do Terreiro (estiveram, pela ‘Operação Robusta’, desde 1969 até 1974, lá e nas únicas povoações habitadas à volta de M’Banza Kongo (e a cidade era em toda a região o único sítio com sanzala ocupada por bakongos; todos os demais estavam refugiados na RDC/RZaire, onde Mobutu, grande amigo de Holden Roberto, não dava facilidades ao MPLA. Antes pelo contrário… (Faculto grátis o PDF do meu livro MEMÓRIAS DA GUERRA EM SÃO SALVADOR DO CONGO a quem me der o seu e-mail, dado estarem esgotadas as duas edições que teve; são 30% de memórias – e não só minhas – e 70% de História documentada… e até corrigida (a oficial) por integrantes de quanta tropa esteve na zona de M’Banza Kongo, de (antes do) início a. (depois do) fim da guerra: mais propriamente até à fuga dos últimos colonos (e da própria FNLA) em 6 de Fevereiro de 1976, ao chegar à coluna do MPLA (mais soviéticos e cubanos), contada por quem a viveu… apesar de nativa angolana (mas o marido era branco e já tinham 3 filhos).

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