Reflexões e subsídios para a descrição do passado histórico do Município do Uíge

Predio do 1° de Agosto, na Cidade do Uige

 

Por Prof. Dr. Pedro Kyameso (*)

“Não há presente e futuro sem passado” Este dizer singular e simples, mas cheio de referências históricas, é suficientemente elucidativo da necessidade de preservar e elucidar as marcas históricas de todo e qualquer povo, uma região, um país.

Nesta senda de opinião, reflectirmo-nos sobre o passado histórico do Uíge, implica fazermos uma trajectória no tempo e ao mesmo tempo adequarmo-nos de acordo as circunstâncias ao próprio espaço onde nele ocorreram os diversos e variadíssimos processos da sua dinâmica histórico-cultural. Está é uma grande tarefa que se nos afigura ingente e que nos faz levar nos nossos dias a um grande desafio e que fique bem claro, não por neste momento estarmos a celebrar os 99 anos à beira de um século, que como processo de criação colonial, nos debruçamos deste facto histórico: a celebração de mais um aniversário do Uíge.

Interessa-nos nessa actividade inerente as festividades do município e cidade do Uíge tentarmos abordar, reflectir e compreender todo um conjunto de fenómenos quer de curta ou longa duração centrado em permanências e recorrências, rupturas e inovações, captações e reapropriações na sua interacção com as dinâmicas contemporâneas. Esta actividade é mais um encontro de convivência com todas as forças vivas do Uíge e de vários extractos sociais com a ciência.

Na verdade e na realidade foi a partir do ano 1917, que o espaço que hoje compreende o município e cidade do Uíge deixou de ser confinado a um espaço apenas pelos seus autóctones e receados de matagais, em detrimento das forças ocupacionistas e por tal motivo e atitude dentro da orgânica estruturante das instituições do poder colonial passou por capitania-mor, circunscrição civil, categoria da vila e por fim, cidade.

Face a esses considerandos o que se nos oferece dizer sobre a história do município do Uíge “Das suas origens, a história da conquista” e ao seu lugar no todo território da província do Uíge de hoje e na sua globalidade na história de Angola, que no dizer dos invasores colonialistas traria a civilização e a pacificação dos espíritos, como principais armas ofensivas da dominação colonial estrangeira portuguesa?

Recorrendo-nos a estes questionamentos ainda nos indagamos: que passado histórico do Uíge temos e como adequá-lo as bases epistemológicas para a sua descrição?

A história de Angola que se pretende na sua descrição e interpretação prática, real e verdadeira como história de Angola e dos seus vastos espaços territoriais que a formam encontra-se hoje mergulhada em dualidades de opinião diferenciadas que se circunscrevem em: história de Angola e história em Angola, e particularizando para o Uíge não se foge a regra – uma história do Uíge e uma história no Uíge. Explicando-nos melhor, história do Uíge, aquela que tem de ser restituída e rescrita a partir das suas origens para demonstrarmos de quê forma os uigenses municipais (apesar da pluridade hoje existente) tiveram a sua origem e como as entidades e identidades tradicionais até então encontradas pelos colonialistas tiveram um modelo organizacional próprio do seu território no tocante as estruturas e infra-estruturas a eles pertencentes.

Uma história no Uíge, história circunscrita a partir do momento que, o destino dos povos encontrados ditou outra realidade. É a história da conquista, da ocupação, uma história de presença portuguesa e impregnada de preconceitos da sua vivência, dos seus ditames “Dos heróis do mar” “E de nação valente e imortal”.

Em simples palavras vamos tentar abordar estes considerandos sob duas vertentes:

O momento africano, momento este de reflectirmos o quê de produto histórico temos sobre o município do Uíge, momento que antecede a colonização e, como tem sido abordado e retratado por peritos em matéria histórica em função dos considerandos que têm sido versados.

O momento europeu e africano, momento assente na conquista, colonização e subjugação do povo Uíge e afirmação portuguesa.

Debruçando-nos sobre o momento africano, quais são as bases e critérios de sustentação científicas de que nos podemos servir sobre esta problemática?

Somos de opinião quê para demonstramos de quê forma os uíge tiveram a sua origem e como se teriam constituído em um território, debrucemo-nos nos seguintes aspectos temáticos:

  • Origens dos uíge ou akwauige segundo fontes diversificadas entre as quais, a tradição oral e a história oral, migração, expansão e fixação das populações no actual território do município.
  • Uma memória arquivística e documental de pesquisa para a descrição da ocupação colonial e evolução organizacional do Uíge até 1917.

Sobre o momento europeu africano, as temáticas inserir-se-ão em:

  • Ocupação colonial: uma análise dos factores endógenos e exógenos que contribuíram para o declínio do poder das entidades africanas encontradas.
  • Uma abordagem historiográfica que espelhe o desenho do novo figurino colonial em torno das suas variadíssimas vertentes quer sejam económicas, políticas e sociais.

Desenvolvendo:

Sobre o momento africano: na nossa opinião entendemos que o momento africano é aquele que envolve todo um conjunto de processos ocorridos antes da presença colonial e que envolve em si todo uma afirmação e dignidade de vivência e perenidade de um processo secular de várias gerações que se firmaram e instituíram padrões organizacionais de acordo com o tempo e as circunstâncias, de agrupamentos humanos que se instalaram no espaço uigense. Esse momento tem história e não tivesse história da existência dos povos encontrados os colonialistas fariam outra história.

A historiografia colonial pouco se preocupou e se o fez, foi de uma forma ínfima, distorcida e pejorativa fazendo crer de que os povos encontrados ainda se encontravam no estádio evolutivo de barbárie assente no primitivismo.

É essa história que pensamos e tentamos resgatar. Em primeira instância, um dos procedimentos metodológicos para o seu resgate nada mais nada menos, é abordar as origens da população autóctone do município do Uíge, assente nas fontes de tradição oral porque é preciso caminharmos rapidamente mas com bases firmes, porque enquanto o tempo passa se não o fizermos será cada vez mais obliterada a história do passado histórico dos nossos municípios.

A comunidade Uíge é constituída por uma sociedade da oralidade em termos históricos e ainda detêm na memória os pressupostos das suas origens.

As fontes de tradição oral podem convergir em duas áreas: a tradição oral e a história oral.

Tradição oral: compreende todo um conjunto de pressupostos de narrações relacionadas á “História da linhagem ou clã; máximas ou princípios que estipulam normas entre integrantes de várias linhagens.

História oral: narração que explica experiência pessoal sobre determinados factos assentes na metodologia de reconstituir um passado vivido pelas pessoas entrevistadas ou pelos seus descendentes directos a quem foi passada a experiência.

Perante este quadro de tradição oral e história oral o quê se nos oferece dizer sobre o município do Uíge?

Sobre as entidades e identidades que se firmaram no actual espaço territorial uigense nos seus tempos mais remotos antes da ocupação e colonização, a fixação dos habitantes dos povos encontrados era o resultado de todo um processo ocorrido na África Subsariana, o processo migratório bantu. Em referência sobre a matéria que cinge a instalação e fixação doa autóctones do município do Uíge, são ainda insípidas e incipientes. Tem-se pouca versão e descrição em documentos escritos, a não ser na oralidade que se fazem referências de entidades do poder tradicional instituído.

São os casos de Me Kondo, Me Kika, Me Kiongua, Me Catete, Me Kiombo e de tantos outros. Contudo, as suas origens ou dos seus antecessores e o porquê das suas paragens e instalação no actual território são pouco referenciadas. No capítulo da tradição oral as narrações atinentes em história das suas linhagens ou clãs muitas vezes encontram-se encobertas para não ferir sensibilidades e isto pelo facto de a instalação de algumas entidades dever-se a situações de querela e conflitos com as linhagens ou clãs originais.

Outro factor determinante é a coabitação entre esses clãs ou linhagens pelo cumprimento rigoroso de determinados princípios em normas de convivência social e grupal. Uma história de uma linhagem ou clã caso não coadunasse com essa convivência poderia fruir para a demarcação de uma delas e encontrar outro espaço e instituir-se em outra entidade e identidade.

Na base deste pressuposto, a tradição oral e a matéria que envolve as origens de entidades encontradas e seus antepassados precisa-se. E se recuarmos um pouco atrás a genealogia dessas entidades em termos de parentesco é pouco referenciada. Quem foram os antepassados e antecessores directos do Me Kondo, de Me Katete, de Me Kika em termos do exercício do poder tradicional encontrado? Teria existido um ponto de referência de irradiação para essas paragens ou não?

Por outro lado, e das constatações feitas através da história oral e na sua essência para o município do Uíge, os entrevistados que sobressaem para debruçarem-se da história de um determinado poder tradicional encontrado fazem-no pelo conhecimento e experiência pessoal. De algumas referências em nossa posse, os descendentes directos a quem foi passada a experiência são hoje escassos e muitas vezes furtassem em revelar esse passado da sua história.

Sobre a memória arquivística e documental em termos de pesquisa do Uíge de antes 1917, é sobejamente conhecido em termos de contextualização e configuração geográfica, pertenceu ao mosaico político africano, o então reino do Kongo. A presença portuguesa no Kongo para o interior fez-se de forma indirecta através da acção dos sertanejos até 1885 marco determinante na viragem dos povos do interior da África e de Angola de hoje em particular que culminará com a sua conquista e ocupação. Face a esta realidade qual era o quadro político económico social e administrativo do actual território do município do Uíge.

Recorremo-nos aos processos próximos de antecâmara da Conferência de Berlim: extinto o sorvedouro do tráfico negreiro, este seria substituído pelo comércio a longa distância e tal como aconteceu na generalidade do comércio mundial africano, na singularidade do Uíge, os povos e poderes instalados na outrora foram arrastados e compelidos para uma nova situação, a chamada reconversão económica traduzida na exploração e comércio da borracha. Dai surgia o comércio caravaneiro e as respectivas rotas traçadas. No contexto da descrição da história do Uíge, sobressaem ainda algumas lacunas assentes no seguinte:

– De que maneira o território do Uíge serviu como um dos pontos de passagem e de convergência dos caminhos de Mbanza Congo ao seu interior e vice-versa, de outros territórios vizinhos?

Os akwauiges arrastados pelos seus vizinhos e outros poderes tradicionais foram incorporados para este comércio quer a pequena, quer a longa distância constituindo as célebres caravanas e respectivas rotas. É neste contexto que as caravanas Uíge também chegaram de atingir Mbanza Congo e Luanda passando neste particular por Ambaca, Nambuangongo, Catete, Cacuaco conjuntamente com os seus irmãos Ndamba, Nzombo, Mpombo, Mbembe, entre outros. Não é em vão que a toponímia dessas localidades faz referência de originalidades kongo.

Este espaço transcorrido do antes a ocupação colonial terá que merecer uma atenção especial da sua descrição em que houve paridade de interesses comuns mas diferenciados entre os nativos e a presença portuguesa que se aproximava para dar o golpe fatal na desestruturação dos poderes tradicionais existentes. Afigura-se-nos investigar também em termos arquivísticos e documentais, se sim ou não, quem seriam os chefes locais e mais influentes e seus clãs que de uma forma directa ou indirecta participaram neste processo e demais rotas traçadas.

Relativamente ao segundo momento, o momento europeu africano afigura-se-nos fazer uma referência e análise dos factores endógenos e exógenos constituintes para o declínio das entidades africanas encontradas e que se traduzem no iniciar de uma nova história, a história em Angola.

Isto vem a propósito de que a conquista, ocupação e colonização pelos portugueses nos fins do século XIX e início do século XX no actual território do Uíge e seus congéneres, ter sido um processo longo, difícil e tal como vem sendo salientado por todos os autores imparciais, só viria a ter o seu cúlmino até 1961, quando se deu início a luta armada de libertação nacional em Angola de Hoje (pelo facto de existir só Angola após a Conferencia de Berlim). É neste quadro que dos factores exógenos ressalta a Conferencia de Berlim, em que foram vivenciadas as disputas do Território com o Congo Belga traduzidas no contexto geopolítco colonial português cujo objectivo era impedir o alastramento do Congo belga (com as expedições de Stanley) até ao futuro território de Angola, domínio português. Outro factor subjacente seria o contexto histórico africano onde entrechocavam-se interesses das potências concorrentes cuja Inglaterra França e numa determinada altura a Alemanha, como protagonistas e por fim adaptar os caminhos de caravanas de escravos (militares e comerciais) face aos novos contextos da época da rentabilização das novas actividades comerciais coloniais.

Quanto aos factores concorrenciais ao nível endógeno e que precipitaram a conquista e colonização e particularizando o Uíge, eles inserem-se no seguinte quadro: a desagregação do reino do Kongo que teve como ponto de partida a derrocada e derrota da ignómia Batalha de Ambuila e as clivagens da realeza Kongo que se seguiram com relação ao poder central e a forte determinação da população nativa em defender o seu território ou área de jurisdição de seus poderes tradicionais.

Como se afirmou mais tarde, Berlim foi o ponto de partida para posteriormente avançar-se com a penetração, conquista e colonização dos povos do interior. No caso Uíge e no que diz respeito a Batalha de Ambuila investigações precisam-se para averiguarmos e pesquisarmos em quê circunstâncias os poderes tradicionais e de realeza kongo a eles inerentes, incluindo os uíge participaram dessa batalha a exemplo dos seus irmãos Zombo.

Contudo, seria precisamente em 1917 que começou a escrever-se a história dos portugueses no actual território do município do Uíge revestindo-se de cunho duradouro e persistente na afirmação dos ditames do mundo português “Se mais mundo houvera lá chegara”. No actual território do município do Uíge chegaram, firmaram-se e impuseram-se contra todo um desejo e vontade de um povo: a perda da sua dignidade, liberdade e independência. Surgia a história colonial com toda a sua envolvência de preconceitos, vicissitudes, na exploração e espoliação de um povo e das suas riquezas. Face a estes considerandos qual foi a história que se desenhou no futuro?

Comecemos pelos conceitos da própria estrutura organizativa administrativa colonial:

  • Fundação do Uíge: entendemos que ela enquadra-se naquilo que ousamos chamar como historiadores de um conceito de criação colonial em função de ter desarticulado e distorcido toda uma estrutura administrativa encontrada dentro dos parâmetros dos poderes políticos africanos encontrados. De minúscula dimensão do espaço ocupado, mais tarde e sempre dentro da orgânica administrativa colonial o termo Uíge seria abrangente a todo um conjunto único territorial que aglutinaria outros territórios africanos de outras regiões daquilo que é hoje a província do Uíge.
  • Capitania-Mor: outro conceito de criação colonial pois por este, demonstrou-se a imposição portuguesa pela violência e sua afirmação no actual território temendo eventuais resistências dos nativos e ao mesmo tempo, dando continuidade a conquista e expansão colonial a outras latitudes.
  • Cidade: um novo padrão em termos urbanísticos que se foi firmando e afirmando derivado do impulso do desenvolvimento nas variadíssimas vertentes e da instalação de infra-estruturas económicas e sociais. Surgirá como centro de decisão política de todo um processo colonizador.
  • Evolução histórica: tem-se constatado e em algumas lides académicas, que sustentam ao referenciarem-se a este prisma, que a evolução só teve eco com a chegada dos portugueses e realizada por eles. É um erro afirmar-se isso. A evolução histórica de um povo, parte desde os primeiros núcleos populacionais nativos partindo das minúsculas estruturas de organização dos ancestrais, assentes na estrutura familiar (clãs-tribos) e nos moldes de governação a eles inerentes traduzidos em vata, mbanza zunga e reinados. A evolução portuguesa parte do principio com a colonização e a subjugação e seguiu parâmetros de desenvolvimento diferenciados.

Face a estes considerandos, qual e por quem foi escrita a história colonial e quais os mecanismos estruturantes para a sua rescrição como verdadeira história do Uíge?

Em primeiro lugar cingimo-nos na questão historiográfica:

Hélio Felgas, militar e governador, respectivamente da região norte e do distrito do Uíge foi quem mais se debruçou a escrever e tecer referencias sobre o desenvolvimento histórico do Uíge em suas obras como:

– As populações nativas do kongo português.

– História do kongo português.

– Súmula do distrito do kongo português.

– Esboço monográfico do kongo português.

– O clima do kongo português.

– Ocupação militar do kongo português.

Assim sendo, de tempos que existiu esta historiografia e com substanciada com alguns apêndices retratados no ex jornal do kongo emergido no ano 1958, que revela a grandiosidade de toda obra efectuada pelos portugueses no Uíge, ela tem sido a principal base de sustentação para a descrição da história do Uíge nas vertentes académicas. Feliz ou infelizmente alguns versados na matéria fazem-no em função de reproduzir o que estes e demais autores produziram esquecendo-se de que espelha toda uma realidade colonial em duas vertentes: entre colonizadores e colonizados. Como colonizados não se faz um juiz de valor, fazendo-se uma avaliação crítica construtiva do sistema colonial de suas vantagens e desvantagens. Algumas ilustrações dessa realidade:

Exemplo: Felgas, em história do kongo português numa das suas passagens afirma sobre as tribos do distrito do kongo português que “Nenhuma das tribos estudadas é originária do kongo português embora que algumas sejam mais antigas que as outras…”.

“Os elementos disponíveis acerca de fixação no distrito são ainda muito raros…”.

“O nativo do distrito do Uíge (claro também está o do município do Uíge), é obediente e semi inteligente quando bem dirigido…”.

Na outra obra as populações nativas do kongo português refere-se:

“A língua não pode ser tomada como um critério para a determinação da origem bantu…”. E por fim faz também menção das “tribos” como Pombo Mussosso Muzombo Mahungo…”.

Tudo acima referenciado demonstra a distorção da história da realidade dos povos encontrados. Este é um dos grandes desafios que lançamos para que, aquilo que foi referenciado do passado histórico dos povos encontrados encontre outro eco da sua realidade histórica desmascarando aquilo que foi escamoteado da vivência e perenidade dos mesmos. Por isso em questões historiográficas a história do Uíge escrita pelos portugueses é história dos militares, dos comerciantes, dos viajantes, dos exploradores, dos administradores coloniais tal como acontece nos outros espaços territoriais de Angola.

Particularizando e rebatendo uma vez mais a questão do burgo ou cidade do Uíge ele ou ela é o resultado de uma organização bem orientada que se foi implantando ao longo do tempo partindo de simples e rudimentares casas e ruas mas, que se foi revelando com o decorrer do tempo com novos figurinos principalmente arquitectónicos assente na construção de infra-estruturas de funcionamento de várias actividades afins e não só de habitabilidade conducentes ao desenvolvimento socioeconómico político e cultural. Seria com esse desiderato que viria emergir a cidade do Uíge. A então urbe de ex Carmona viria ser catapultada e elevada a categoria da cidade a 28 de Maio de 1956 em paridade com as suas congéneres de Malanje Cabinda Ndalatando e Saurimo.

Contudo, resultante de um grupo de casas que viriam a constituir o denominado “BAIRRO OFICIAL” – Administração do Concelho, Posto Sanitário, Posto dos Correios e Telégrafos, Escola Primária, Residências para Administradores e Secretários e lojas de comerciantes, ela como um cosmos fez surgir em sua volta, outros microcosmos – os bairros suburbanos como Candombe, Catalambanza, Quixicongo, Papelão e deixando-se afastada das aldeias das populações encontradas aquando da conquista e colonização.

Na perspectiva de uma história bem elaborada cremos que esta matéria tem sido pouco ventilada e para tal, no contexto do município do Uíge melhores referências serão injectadas para o engrandecimento da história da própria cidade.

Os bairros suburbanos, satélites da cidade urbanizada e com outros padrões de desenvolvimento também merecem a sua história. Os bairros suburbanos trouxeram consigo um novo fenómeno migratório, não o original no contexto bantu mas em função do povoamento europeu.

Neste âmbito de ideias e reflexões apresentadas resta-nos apenas aflorar algumas pistas que poderão servir de sustentação para a descrição da história real e concisa do município do Uíge:

  • Que o Governo da província em coordenação com as administrações municipais incentivem e criem grupos de trabalho e de pesquisa científica para a rescrição do passado histórico dos municípios no seu todo.
  • Reeleitura de toda a historiografia existente e principalmente a colonial e adequá-la com os novos padrões científicos para dissipar todos os equívocos provocados e produzidos em detrimento do colonizado e a favor do colonizador.
  • Rever todo um conjunto da terminologia de determinados processos usada pelo colonizador e reinvertê-la no seu figurino ancestral: nomes das localidades, títulos e símbolos de poder, etc….
  • Levar estudos aprofundados sobre as resistências do povo do município do Uíge, uma vez que só a figura do Mbemba Ngango não basta para retratar a realidade vivida da oponência dos povos encontrados contra o colonizador e neste contexto revelar outras figuras autóctones que se puseram contra a ocupação colonial.
  • Incentivar acções concorrentes para o restauro da tradição oral e da história oral.
  • Restaurar a história do município através da preservação e conservação dos monumentos e sítios. Exemplo: a primeira casa comercial que por sinal também completa 99 anos de existência está em fase de desabamento. Merecia uma homenagem no dia de hoje.

(*) MSc. Docente do ISCED do Uíge

Dr. Pedro Kyameso, à direita, acompanhado do historiador e jornalista, Nicodemos Paulo. Imagem do Muana Damba

Dr. Pedro Kyameso, à direita, acompanhado do historiador e jornalista, Nicodemos Paulo. Imagem do Muana Damba

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