Pedro Gabriele Mpembele aliás Ngunza “Tchang-Lay”, o herói de futebol congolês, foi angolano de origem.

Por Sebastião Kupessa

De 1966 à 1976, o Congo-Democrático (Zaire entre 1972 e 1997), dominou o futebol africano. Os clubes como TP Englebert (hoje Mazembe) e AS Vita-Club, sagraram-se campeões dos Clubes Campeões Africanos. A sua selecção na mesma modalidade, os famosos Leopardos, tornou-se campeã por duas vezes (1968, 1974), no Campeonato Africano das Nações e uma participação desastrosa no campeonato Mundial de futebol, em 1974.

Outros Clubes de futebol como Daring Club Imana e FC Dragon/Bilima, vão proprcionar um futebol de alta qualidade, atingindo por várias vezes, finais ou meias finais, em competições a nível continental. Vários atletas serão distinguidos, durante este período, alguns adorados como ídolos no futebol africano. Nem todos eram congoleses-democráticos, alguns eram ou filhos de angolanos refugiados naquele país visinho de Angola.

Entre os quais citamos, o famoso n° 16 dos Leopardos, Mavuba “Ndoki a Ndombe”, Mayanga Maku “Adelar” e Ngunza “Tchang-Lay”. Hoje vamos lembrar este último.

Um rapaz que detestava a escola.

Pedro Gabriel Mpembele, o seu verdadeiro nome, nasce na Comuna de Kitambo, em Leopoldville, antigo nome de Kinshasa, capital da actual RDC, em 1944. O seu avô Domingos Mpembele e a sua esposa Arieta Kundika, são naturais da aldeia Mavuyi, em Makela do Zombo. A família Mpembele vai abandonar Angola, onde se praticava Ntonga, que consistia enviar angolanos longe da sua terra, para trabalhar nas plantações, como escravos sob contrato sem remuneração digna. Em 1934, a família encontra o refugío no Congo-Belga, com os seus dois filhos.

Atingindo a idade escolar, o rapaz será inscrito na escola primária Saint-George des Frères des Ecoles Chrétiennes. Anos depois, o Gaby, como era conhecido entre os seus camaradas da escola, vai decepcionar os seus parentes, ilustrando-se em ociosidade na escola, para praticar a actividade que o interessava realmente: O futebol. No Inicio dos anos 60, a maioria dos rapazes do Leopoldeville praticavam futebol nas ruas da cidade, descalços, com a bola de ténis, tomando em conta, o custo elevado de uma bola de futebol nas lojas dos europeus.

O seu domínio no futebol da “bola de ténis”, tornou-o famoso, de tal maneira que, cada tarde, os habitantes do bairro onde residia, amantes do futebol, reuniam-se no campo de futebol, para assistir as proezas do rapaz muzombo. Ele adorava exibir-se em solitário, sem deixar cair a bola durante vários minutos. Desde aquele momento, os aplausos vão acompanhar-lhe até tornar-se a glória do futebol congolês da década 70 e ser considerado pela memória colectiva congolesa, como um dos melhores jogadores de futebol congolês de todos tempos.

É lamentável que sociedade onde viveu, não teve tempo de render-lhe a merecida homenagem, devido o seu falecimento prematuro. A notícia da sua morte chegou à sua cidade natal, muito tarde, meses depois.

Ngunza, o deus do Estádio Tata Rafaël

Depois de jogar em equipas de diferentes bairros da sua comuna, o “Major” como era também conhecido, no meio onde cresceu, é recrutado pelo Clube Olympique, que disputava a segunda divisão do Campeonato Provincial de Futebol de Leopoldville, que ele vai ajudar promover na primeira divisão.

Foi com o Club de Olympique que o Mpembele vai ilustrar-se como artista de dribles, do excelente marcador de golos, em particular os penaltys que ele próprio provocava, onde humilhava os adversários, qualificando-os, de “pequenos jogadores” em cada jogo ganho. Por sua vêz, os adeptos das equipas adversas, em cada derrota, exortava-o, num tom insultuoso de ” Mpembele, Muzombo, volta na tua terra Angola…”

Entrando na tribuna dos grandes atletas de futebol, o Pedro Gabriel Mpembele, foi considerado como “Deus” do estádio de futebol “Tata Raphaël”. Cabeludo, com um penteado caractérisco, será alcunhado de “Ngunza”, termo em Kikongo que designa um profeta. Com os seus cabelos, chegava a imobilizar a bola na cabeça, correndo, antes de a amortcecer no peito, depois no joelho para finalizar na relva. O mais espectacular, era o inverso, onde a bola fixava-se no cabelo, corendo até marcar ou provocar o golo.

Será convocado na selecção do Congo Democrático, nos fins dos anos 60, mas sua candidatura será rejeitada devido as suas origens do Zombo (Angola).

Num dos jogos famosos onde a sua equipa deveria defontrar a poderosa Vita Club, um derby histórico, naquele tempo o Vita era dirigido pelo artista musical e patrão do Ok Jazz, Luambo Makiadi “Franco”, onde o astro cantava em lingala “…Mpembele, muzombo não brinca comigo…”. Quando a equipa onde jogava o angolano já ganhava por duas bola a zero, o Vita igualiza depois, o jogo torna-se intenso, minutos antes de terminar, o Ngunza marca o golo da victória, de maneira acróbatica. Vita-Club perde este jogo, os seus fanáticos, a maioria no estádio, furiosos, dirigem-se para casa do jogador com o objectivo de o molestar, encontram o seu tio, André Mayasi, que foi um conhecido comerciante no Kitambo, será perseguido pelos “holligans” em fúria e será salvo, graças a intervenção de jovens do seu bairro.

A FNLA recusa a transferência do Pedro Gabriel Mpembele para Portugal e é feito prisoneiro.

Foi neste momento que os portugueses de Kinshasa, atravês da reprentaçâo de Portugal no então Zaire, entram em contacto com o jogador convista conseguir a sua tranferência para o Sporting de Lisboa. Foi um crime, na visão da FNLA, que lutava em Angola contra a dominação colonial. Não era questão de um angolano ir jogar em Portugal para “alegrar corações dos Lukezu, responsáveis de tanto sofrimento do povo mártir angolano”. Pedro Gabriel Mpembele “Ngunza” é sequestrado numa das ruas de Kinshasa pelos serviços secretos afectos ao Holden Roberto. Depois de estar encarcerado durante alguns dias, o atleta é libertado, depois de ter prometido de não entrar mais em contacto com os diplomatas portugueses acreditados no ex-Zaire.

Ngunza será transferido para para o FC Dragon-Bilima, em 1972, onde continuou com as suas façanhas, para a satisfação dos adeptos desta equipa. Os ricos dirigentes do Daring Club Imana, outro club famoso do Ex Zaire, conseguem a sua transferência, onde vai jogar numa temporada.

Ngunza “Tchang-Lay” deixa o mundo dos vivos com 33 anos de idade.

O “profeta” Mobali ya Zazu, afasta-se definitivamente nos campos de futebol, depois de uma vulgar lesão na coxa esquerda, que nos dias de hoje seria tratada com facilidade. Para evitar a inactividade, converte-se em comerciante de diamantes, depois de uma breve passagem em Angola, a terra dos seus atepassados. Instala-se em Mbuji-Mayi, na região do Kassai onde vai falecer, tempos depois, em 1977, com 33 anos de idade, num anonimato completo. Até hoje em dia a fámilia desconhece a sua sepultura!

Há pouco tempo, a sua família endereceu uma carta ao governo angolano, para patrocinar a realizaçâo de um filme para imortalizar o atleta.

Pedro Gabriel Mpembele "Ngunza-Tchang-Lay" era famoso pelo penteado do seu cabelo.

Comentário

Seja o primeiro a comentar

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.


*


Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.