HABITACÃO É UM PROBLEMA GRITANTE NO UÍGE – GOVERNADOR.

Luanda – O Executivo angolano vai aplicar 290 milhões de dólares para a electrificação da província do Uíge (Norte do país), um dos principais desafios da governação, a fim de levar o desenvolvimento para a região, informou, recentemente, o governador local, José Carvalho da Rocha.

Por Liliana Constantino, António Tavares e João Quiazacana, jornalistas da Angop

Em entrevista à Angop, o governante disse que o programa de electrificação é o principal catalisador para o desenvolvimento daquela região e um passo importante para atrair novos investidores.

Dos 16 municípios da província, apenas três (Uíge, Negage e Maquela do Zombo) consomem energia convencional, a partir da Barragem de Cambambe, erguida na província do Cuanza-Norte.

De acordo com o governador, este contexto inibe a instalação de motores, impulsionando para aproveitar o enorme potencial agrícola desta província fronteiriça com a República Democrática do Congo (RDC).

“É, de facto, uma aposta satisfatória que o Executivo vai fazer nesta região, e isso requer de nós muito trabalho”, destacou José Carvalho da Rocha na entrevista, em que faz uma abordagem da situação socioeconómica local.

Conforme o governador, a autorização e a assinatura dos termos de referência para os concursos públicos para a adjudicação das diferentes empreitadas envolvidas no projeto já são um facto.

Durante uma conversa, o governante aborda a questão do combate às ravinas, um problema que ‘tira o sono’ às autoridades, bem como da falta de moradias, tendo afirmado que “a habitação é um problema gritante na província”.

Eis a entrevista na íntegra:

ANGOP – Senhor governador, a ANGOP agradece-lhe pela disponibilidade para conceder esta entrevista. Para o início da conversa, que avaliação faz da situação socioeconômica da província, dois anos depois de ter sido nomeado para o cargo?

José Carvalho da Rocha (JCR)  – Não sei se seria correcto, da minha parte, fazer uma avaliação, mas poderia descrever os desafios que encontramos e aquilo que estamos a fazer. Continuamos a criar harmonia e melhorar as condições dos nossos concidadãos nessa linda região do país, que é o Uíge. De facto, já vão dois anos, e que procuramos, neste período, é, primeiro, trabalhar com as pessoas e, felizmente, tivemos uma resposta que não esperávamos. E, diante dessa realidade, enfrentamos os problemas, andamos pelos seus 16 municípios e, dessa avaliação, escolhemos um foco que se traduz em tudo fazer para trazer um catalisador importante para o desenvolvimento do Uíge, que é a sua eletrificação.

Portanto, nos 16 municípios do Uíge, apenas três têm energia convencional, e temos uma situação híbrida em Sanza Pombo. Começámos a desenvolver um conjunto de passos e aqui encontramos o apoio do Titular do Poder Executivo, através da autorização e da assinatura dos termos de referência dos concursos. Nesta altura, estamos numa fase muito adiantada. Portanto, dos 13 vistos de que precisamos para iniciar o programa, já obtivemos oito. Agora estamos na fase de mobilização dos financiamentos, para começar este amplo programa que, acreditamos, vem trazer desenvolvimento para essa província, porque o Uíge tem um grande potencial agrícola. Agora, por exemplo, está-se a descobrir o seu potencial mineiro.

ANGOP – Concretamente, que programas existem e de onde sairá a energia para a electrificação da província?

JCR – Já temos uma linha de transporte que leva energia até Maquela do Zombo, na fronteira com a RDC, atravessando vários municípios. Vamos baixar a rede em todos os municípios em que a linha atravessa, tal como Mucaba, Damba, Songo e Bungo, e depois os extremos ao Bembe, Puri, Ambuíla e Quitexe. Portanto, todos os municípios que se situam na vizinhança desta linha que já temos. Ao mesmo tempo, estamos a trabalhar, e aqui já realizámos muitas acções, para que os outros cinco municípios mais a Leste, no futuro, também se possam beneficiar. Com esse catalisador, vamos poder atrair muitos investidores para pequenas e médias empresas que estão implantadas na região. Temos muita produção agrícola e queremos que o maracujá do Puri seja transformado aí mesmo em sumo, tal como a conserva de goiaba, entre outras coisas. É esse ambiente,

Angop – Qual é o orçamento para este megaprojecto de electrificação da província?

JCR  – O projecto está avaliado em 290 milhões de dólares. É, de facto, uma apostasia desagradável que o Estado vai fazer nesta região, e isso requer muito trabalho. Realçamos o apoio do Titular do Poder Executivo, dos Ministérios das Finanças e da Energia e Águas.

Angop – Quanto é que o Governo gasta por mês, por exemplo, com combustíveis e manutenção dos grupos-geradores que fornecem energia eléctrica a algumas sedes municipais?

JCR  – Uma parte do orçamento dos municípios é gasta na compra de combustível, para alimentar os grupos-geradores e manutenção. Veja o esforço! Por isso, precisamos de reverter isso. Tendo energia convencional, vamos economizar mais, e parte do valor será dedicada a outras questões sociais.

Angop – À semelhança da distribuição de energia eléctrica, o quadro não é diferente em relação ao abastecimento de água potável? 

JCR  – Sim. Estamos a trabalhar também, arduamente, neste sentido. Temos um projeto em execução, que vai permitir realizar 15 mil ligações domiciliares, para além de outros programas que vão fazer que continuemos a fornecer cada vez mais água à população. Está em execução um projecto de abastecimento de água em Maquela do Zombo. Estamos a trabalhar, também, para reactivar os dois projectos na Damba. Espero continuar a trabalhar nesse sentido, porque água é vida.

Angop – É quase impossível falar da realidade socioeconómica do Uíge sem olharmos para a situação das ravinas que ameaçam cortar várias estradas e inviabilizar a circulação de pessoas e bens. Qual é a situação real das ravinas?

JCR – As ravinas fazem parte dos desafios que temos nesta região. Estamos numa região com solos arenosos e onde chove bastante. Logo, essas condicionantes fazem que haja muito movimento de areia.

ANGOP – Mas qual é o ponto da situação?

JCR – Neste momento, temos catalogadas 72 ravinas. Com o apoio do Ministério das Obras Públicas, serão tratadas e corrigidas as ravinas localizadas no eixo do município de Quimbele. Vamos tratar de 10 ravinas naquele eixo e voltar a regular a estrada. O  Governo da Província do Uíge está a procurar adquirir meios para executar um programa contínuo e fazer contenção de algumas ravinas. Temos de fazer tudo para que as populações não percam a mobilidade.

ANGOP – Quais são as consequências socioeconómicas das ravinas?

JCR – A primeira é a perda da mobilidade das populações, pois muitas delas estão a afectar as estradas e, quando as pessoas não circulam, não há actividade económica. Por isso, não podemos permitir que haja falta de mobilidade, uma vez que cria o circuito, para que haja trocas comerciais. Portanto, se há algo que temos de apostar seriamente, é conter as ravinas.

ANGOP – Qual é o  valor disponibilizado para combater as ravinas?

JCR – É importante ver que as ravinas estão segmentadas. Há ravinas que estão a ser tratadas pelo Ministério das Obras Públicas, em função da sua execução, dimensão e custo. Os custos variam de ravina para ravina. O que  estamos a fazer, enquanto  Governo Provincial, com os meios que temos, é combater aquelas que estão a iniciar-se, cujos custos são menores.

ANGOP – Mudando de tema, a província ainda tem muitos alunos fora do sistema escolar. Que medidas existem para reverter esse quadro?

JCR – Temos mais de 45 mil alunos fora do sistema escolar. Vamos continuar a construir escolas. Para além do investimento do Programa Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM), temos um investimento denominado ‘escolas espanholas’, que vai permitir a construção de 15 escolas de 24 salas de aula e já temos concluídas cinco. Será definida uma estratégia para fazer que essas escolas melhorem a nossa rede e sirvam os nossos estudantes. Estamos a analisar a possibilidade de termos escolas que sejam liceus e outras de formação profissional.

ANGOP  – Como está composta a rede escolar do Uíge?

JCR – Temos uma rede que funciona, mas ainda precisamos de a melhorar. À medida que vamos entregando mais escolas, mais crianças vão integrando o sistema escolar. Entretanto, o objectivo é continuar a melhorar os segmentos do I e II ciclos, bem como introduzir algumas escolas do ensino médio que sejam técnico-profissionais, para que o estudante, quando terminar o ensino médio, possa sentir-se apto para enfrentar o mercado de trabalho. Temos de repensar que tipo de escolas queremos.

ANGOP – Em relação ao sector da habitação, notamos o crescimento desordenado de bairros ao redor da cidade capital do Uíge, o que belisca a sua imagem arquitectónica. Há programas para o reordenamento habitacional da província?

JCR – De facto,  a habitação é um problema gritante na província do Uíge. É só andarmos um pouco para  vermos o problema que temos. Por isso, as famílias, com os recursos que têm, fazem as casas, porque têm uma necessidade. Para além daquilo que o Estado já fez, ao construir aqui uma centralidade e um novo bairro social, estamos a criar condições para nascerem novos  bairros, através da construção autodirigida, como no Quilomoço, onde já construímos duas casas-modelo. Estamos a trabalhar, principalmente com a juventude, na  mobilização das pessoas, para construírem as suas casas sob orientação do Governo. O Governo está à procura de diferentes soluções e a mobilizar todos aqueles que tenham capacidade financeira, a fim de que possam ajudar a dar solução a esse problema que todos  sentimos, que tem a ver com a falta de habitação.

ANGOP  – Hoje, olha-se com satisfação para as estradas da cidade do Uíge quase totalmente asfaltadas, mesmo na periferia, mas há localidades que necessitam de melhorias. Qual é o plano para melhorar as condições das vias?

JCR – Aqui, cá na cidade do Uíge, já actuámos em duas zonas que eram críticas:  o acesso à Universidade Kimpa Vita, já concluído, e ao bairro Candombe, onde fizemos uma radial. Estamos a reciclar as estradas da cidade do Negage, em cerca de 10 quilómetros. Começámos  a melhorar as estradas da sede do município de Maquela do Zombo e estamos a tratar de uma estrada  muito crítica, que são 80 quilómetros do acesso do município de Sanza Pombo ao Buengas. Decorrem, também, trabalhos de construção de uma nova via que vai ligar a cidade do Uíge ao Negage. Estamos a trabalhar com o Ministério das Obras Públicas, no sentido de que possamos actuar sobre outras estradas, tal como as terciárias e as secundárias no interior, com vista a continuar a garantir a mobilidade das populações. Temos de tratar bem as estradas. Há também bons serviços de terraplanagem, para que as populações tenham uma boa mobilidade.

ANGOP – O estado da pintura da maior parte dos edifícios do Uíge tira um pouco a sua boa imagem. Há planos para mudar o cenário?

JCR – Se o senhor jornalista estivesse cá há um ano,  não sei qual seria a sua impressão. Temos edifícios da era colonial e  já começámos a pintá-los, como o das ruas fundamentais, do Comércio e outras. O trabalho continua, tal como está a acontecer agora com o chamado ‘Largo do Governo’. Queremos que essa cidade, que entendemos ser muito linda, possa apresentar melhorias da sua imagem para a alegria das pessoas que cá vivem. Vamos continuar  a fazer a nossa parte e prosseguir com o programa de pintura.

ANGOP – Para além das questões sociais, o Governo local e, particularmente, as autoridades policiais estão confrontados com o contrabando de combustível. Há, inclusive, relatos de que os camponeses abandonam o campo para se dedicar a essa prática. 

JCR – É um problema. Temos uma longa fronteira com a RDC, cerca de 410 quilómetros. Uma das acções das nossas forças de defesa e segurança é também combater o contrabando, mas isso também passa pela sensibilização das pessoas, no sentido de evitar essas práticas, consciencializando-as sobre os riscos e punições previstas na lei.

ANGOP – Que avaliação  pode fazer da execução do PIIM?

JCR – O PIIM tem tido uma acção muito positiva. Temos 92 projectos e já estamos em perto de 50 por cento da sua realização. A entrega dos equipamentos sociais continua. Devo dizer que o PIIM no Uíge está a ser um grande sucesso, porquanto é um investimento que tem levado novas infra-estruturas às populações, como escolas, centros médicos, hospitais,  estradas, entre outras. Portanto, para além desses equipamentos sociais, o programa tem oferecido centenas de empregos aos jovens. Em média, cada um desses projectos emprega 30 jovens. Então, se multiplicarmos por 90, dá um bom número. Este mês, temos previsão de entregar mais cinco projectos, nos municípios de Mucaba e Milonga. O plano vai permitir a construção de quatro hospitais em zonas onde nunca tinha havido essa infra-estrutura.

ANGOP – E em relação ao  Programa de Transferências Monetárias, vulgo ‘Kwenda’, os objectivos estão a ser atingidos?

JCR – O ‘Kwenda’ tem actuado em dois municípios e tem sido um factor fundamental para que as populações possam desenvolver alguma actividade e resolver alguns problemas básicos.

ANGOP – Há pouco mais de sete anos, surgiu o Pólo Industrial do Negage, mas parece que estamos em presença de um ‘gigante adormecido’. Isso é um facto ou impressão? 

JRC – O Pólo Industrial do Negage não é um ‘monstro adormecido’, mas precisamos de trabalhar para atrair mais investidores. Temos já três boas iniciativas e temos de trabalhar para atrair mais investidores.

ANGOP – Referiu-se à longa extensão de fronteira que o Uíge partilha com a RDC. Qual é a situação da imigração ilegal na província?

JCR – Está controlada. Temos trabalhado arduamente para controlar o movimento de pessoas ao longo da nossa fronteira.

ANGOP – Estão-se a criar condições para a província começar a explorar cobre a partir da mina de Mavoio. Qual é a expectativa?

JRC  – Vamos criando as condições para se iniciar a exploração da mina de cobre de Mavoio,  a primeira no país. É um grande projecto, para além de outros  que estão em fase de exploração e que o Ministério de Recursos Naturais, Petróleo e Gás também autorizou. Portanto, isso vai implicar que essa região esteja preparada, em termos de recursos humanos, para responder a todo esse investimento que deve acontecer, e aqui devemos continuar a trabalhar com o homem, olhando para a formação e educação. E no âmbito do Programa de Investimento Público, temos trabalhado na construção de novas unidades, para promover a formação de quadros.

ANGOP – Como estamos em termos de turismo?

JCR – É uma região muito turística. Uma das Sete Maravilhas de Angola está cá, as Grutas do Nzenzo, aonde os turistas podem chegar com facilidade, porque a estrada é permanente acondicionada. Temos a Lagoa do Feitiço e a Lagoa do Tembe Tembe. Existem condições para se fazer turismo no Uíge, embora haja necessidade de melhorarmos nalguns aspectos.

ANGOP – Horizontes para a província nos próximos cinco anos?

JCR – Nos próximos cinco, queremos ter uma província diferente dessa que temos, mais desenvolvida com este catalisador que  estamos a ir atrás, bem como com mais oportunidades para a nossa juventude. O Uíge tem tudo para ser uma região mais desenvolvida e contribuir para o crescimento da nossa Nação. Apelamos a todos que venham a essa região, visto que tem muitos solos aráveis, muita água e boa gente.  As pessoas podem fazer os seus investimentos com segurança. É uma região do nosso país que está a despertar e tem potencial agrícola e mineiro que possa ser explorado pelos investidores. Que venham ao Uíge e aproveitem esta oportunidade!

Por dentro

A província do Uíge situa-se no Norte de Angola, faz fronteira a Norte e a Leste com a RDC, bem como a Sul com as províncias do Zaire e Bengo. A nível morfológico, distinguem-se duas zonas: o planalto, a Leste, e a mata cafeícola, a Ocidente.

A extensão do território compreende uma superfície de 64.022 quilómetros quadrados, estendendo-se entre os paralelos 5 500 e 8 200 de latitude Sul, bem como os meridianos 14 500 e 17 100 de longitude Este de Gruinch.

Com um milhão 662 mil 47 habitantes, a província encontra-se confinada numa região designada por ‘zona tórrida’, de clima predominantemente tropical quente e húmido/sub-húmido, e é caracterizada por duas estações bem definidas: a estação das chuvas, com início em Setembro/Outubro, continua até Maio, sendo os meses de Novembro e Abril os mais chuvosos; a estação da seca, que vai de Junho a Agosto.

As temperaturas médias variam entre 22º a 25º, e a relação relativa do ar varia entre 75 e 90 por cento.

É uma região bastante acidentada. Toda a sua extensão é consertada por grandes zonas montanhosas. Os rios mais importantes desta província são o Zadi, Dange, Lúria, Lucala e Luvulu, com um volume de água regular. Em geral, esses rios são navegáveis ​​por pequenas embarcações até 20 quilômetros da foz, sendo também possível a pesca esportiva.

A província tem 16 municípios, nomeadamente: Ambuíla, Bembe, Buengas, Bungo, Damba, Alto Cauale, Maquela do Zombo, Milunga, Mucaba, Negage, Puri, Quimbele, Quitexe, Sanza Pombo, Songo e Uíge. LIL/ART/VM

via angop

 

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