Executivo pretende colocar mediatecas fixas e de proximidade em cada província

PEDRO TETA, SECRETÁRIO DE ESTADO DAS TELECOMUNICAÇÕES E TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO. FOTO: ANTÓNIO ESCRIVÃO

Por Tchinganeca Dias

Luanda – O secretário de Estado de Telecomunicações e Tecnologias de Informação e coordenador da Rede de Mediatecas de Angola, Pedro Teta, apontou, em entrevista exclusiva à Angop, que as mediatecas no país são fruto das políticas do Executivo viradas para a juventude. A intenção do Executivo é potenciar cada província, até final de 2016, de uma mediateca fixa e uma de proximidade.

Angop: Senhor secretário de Estado, que análise faz nesta altura relativamente ao processo de implementação das mediatecas no país?

Pedro Teta – Fizemos uma análise bastante positiva. O projecto Rede de Mediatecas de Angola (REMA) é de iniciativa do Chefe do Executivo e começou com uma comissão executiva, que teve o mandato inicial que terminou com a inauguração das primeiras quatro mediatecas. O programa prevê até 2017, se não tivermos constrangimentos financeiros, construir uma mediateca em cada capital de província e uma mediateca de proximidade em cada província, e em cada município também.

Angop: O que temos neste momento?

PT – Neste preciso momento, temos cinco em pleno funcionamento, a sexta em Saurimo (Lunda Sul) está à espera da inauguração. Estamos a ver a melhor data política para inaugurar e começamos com as novas seis mediatecas: a primeira foi construída em Luanda, está onde estamos, uma no Huambo, Huíla, Benguela, Soyo (Zaire) e Saurimo. Esta é a primeira fase.

A segunda fase vai começar com uma no município do Cazenga (Luanda), em Cabinda, Uíge, Malanje, Bié e Ondjiva (Cunene). Estas mediatecas começaram em 2014 as últimas fases e vão ficar concluídas este ano (2015). Significa que nós, no final de 2015, teremos um total de 12 mediatecas em funcionamento e estaremos já a 50 porcento do programa.

Já estamos a fornecer cinco Mediatecas de Proximidade, que são aquelas Mediatecas Móveis, que vão ao encontro do cidadão. Ficam um mês numa localidade e depois em outra, assim em diante. Essas mediatecas estarão também em todas as províncias do país até 2016. Este projecto tem previsão para o término também em 2017. Até final de 2016 queremos ter uma mediateca fixa e uma de proximidade em cada província. Esta expansão está a ser acompanhada com a formação do pessoal. Quando estamos a poucos meses de inaugurar uma mediateca, começamos com o processo de formação dos recursos humanos. Temos uma parte teórica, antes de inaugurar, e outra prática, depois de estar em funcionamento.

É uma formação de 8 meses e esta formação é em bibliotecnomia, em atendimento, que é um padrão dentro das mediatecas, e este projecto tem várias fases. Não é um projecto chave na mão, mas integramos vários componentes, como a identificação do terreno, fase dos estudos geotécnicos, elaboração dos projectos de arquitectura, a fase do concurso público, da construção da mediateca, fiscalização e acompanhamento, de formação dos quadros para funcionarem na instalação e dotar as mediatecas com os equipamentos electrónicos, como livros, discos, DVD, entre outros.

A Mediateca difere das bibliotecas pela sua componente tecnológica inovadora muito grande. Ela tem componentes de uma biblioteca, é um espaço alegre, de inclusão social, faz-se actividades. Os estudantes podem ler nos jardins, grupos a ensaiar. O processo de inclusão e aproximação é contínuo a nível de todas as províncias.

O balanço que se faz neste momento é bastante positivo e o nível de execução física em relação à execução financeira do programa é satisfatório. Estamos com uma execução física a volta de 36 porcento e a execução financeira ronda 26 porcento. O que quer dizer que executamos mais em relação aquilo que pagamos.

Angop: A Rede de Mediatecas ganha cada vez mais espaço no mercado estudantil. Estão a ser cumpridos os objectos pelos quais o Executivo decidiu criar a rede?

PT – Estamos a cumprir, porque os números indicam que os maiores utilizadores são os estudantes. Numa primeira fase, mostra que os estudantes são do ensino médio e primário, e agora também os estudantes universitários, porque o acervo bibliográfico é grande.

A REMA conseguiu liderar o processo de adesão nos grandes organismos internacionais. Somos membros da Associação Internacional de Livraria e Bibliotecas, temos um acordo com grandes editoras, como a Springle, um acordo onde conseguimos dar acesso a todas as universidades angolanas. Temos contrato com a World Press, que é uma editora que edita jornais e revistas, inclusive o Jornal de Angola, e outros jornais via Ipad nas mediatecas e temos o portal do INID (Instituto de Investigação e Desenvolvimento do Ensino) com todos os conteúdos escolares digitais. Temos um acordo com o Ministério da Administração do Território, que nos facultou toda legislação angolana desde 1940 até hoje, no formato digital.

O processo vai continuar. Recentemente, assinamos um acordo com o INEFOP, Instituto de Formação Profissional. Vamos assinar com o Ministério do Ambiente e queremos criar, ao lado das mediatecas, já na procura de soluções de sustentabilidade – pois tem custos operacionais elevados -, formas de reduzir o esforço do estado na auto-sustentabilidade.

Vamos ainda criar alguns cursos online nas mediatecas, cursos de línguas. Estamos a negociar para termos um curso de mandarim, com o governo chinês, curso de inglês. Estamos na fase de negociações e teremos também em 2015, 2016 uma universidade online. O candidato usa as nossas ferramentas, inscreve-se num curso à distância, usando todo o material da REMA.

Temos programas para garantir a sua sustentabilidade. Arrendamos o espaço, entre outros. A REMA não só atingiu os seus objectivos como ultrapassou as expectativas. O projecto atingiu uma dimensão tal que a União Internacional de Telecomunicações e a União Africana identificam a REMA para ser um projecto bandeira no continente para pessoas com mobilidade reduzidas. Nesta senda, vamos começar um processo com peritos destas organizações, de forma a transmitirmos a nossa experiência.

Angop: À semelhança da criação da Rede de Mediatecas, não estará o Executivo a pensar também na colocação de equipamentos nas instituições escolares, como forma de facilitar a vida da população estudantil?

PT – O Executivo tem uma série de projectos. Inclusive, a nível do ministério, temos o projecto “Meu Kamba”, cujo objectivo é criar salas informáticas nas escolas. Em 2014, numa parceria público-privada entre o Ministério da Educação e o grupo Meu Kamba, criou-se a volta de 300 salas com os computadores “Meu Kamba” a nível de todo o país.

Há um outro projecto que o Ministério das Telecomunicações e Tecnologias de Informação está a implementar, que é o “Andando com as Tics”, levando as tecnologias às comunidades, através de um veículo. Temos também um programa que visa criar bibliotecas escolares, para além de projectos de bibliotecas municipais e comunais.

Angop: Sobre as mediatecas móveis, como está equipada e quantos metros têm de espaço?

PT – As mediatecas móveis têm espaço para 30 pessoas. Elas têm um pouco do espaço que existe numa Mediateca normal, é um projecto desenhado de acordo às necessidades. Transportamos um pouco daquilo que existe na Mediateca normal e criamos na mediateca de proximidade.

Pode-se encontrar uma zona infantil, uma zona para adultos, multimédia. Podem ser feitas pequenas conferências e podem ser organizadas formações. É um automóvel moderno, com capacidade de se alargar e criar mais espaço quando estiver parada, e, para andar, o automóvel fecha-se. Quando se estaciona, cria-se um espaço de quase 60 metros quadrados, numa sala multimédia. É uma realidade. Não é apenas um sonho. No continente, não existem espaços semelhantes a esta mediateca móvel.

Angop: Quais são as instituições de ensino superior que vão trabalhar com a REMA e qual foi o critério de selecção?

PT – O que fizemos em primeiro foi um estudo internacional de quais as universidades online, em língua portuguesa, existentes no Mundo. Foram identificadas diversas instituições e, em função do estudo, vamos começar a negociar com elas. O Brasil e Portugal têm excelentes universidades online, umas nas áreas sociais e outras nas exactas. O estudo está concluído e vamos passar à fase da negociação. Vamos pedir autorização do Executivo e do Ministério do Ensino Superior para que seja uma universidade legal, já que neste momento não assinamos nenhum contrato com qualquer universidade para começar os acordos de colaboração.

Angop: Neste momento já se tem uma média de quantos usuários acederam as mediatecas no país?

PT – Acima de 400 mil usuários já acederam as mediatecas desde a inauguração da primeira mediateca.

Angop: O alargamento e construção das mediatecas está dependente do aumento da fibra óptica?

PT – Seria bom e é importante que assentemos as infra-estruturas em cima das tecnologias. Mas neste momento temos muitos provedores a lançar fibra óptica. Há o provedor Angola Telecom, Unitel, MS Telecom. Numa mediateca temos sempre duas ligações em fibra óptica. Normalmente, a Angola Telecom é o primário e a Unitel é o secundário, mas há províncias em que temos três ligações, como o Zaire, porque as velocidades não são suficientes pela procura, o que faz com que tenhamos que trabalhar com dois provedores.

Mas quanto mais capilaridade, mais fibra óptica. Quanto mais largura de banda, melhores conteúdos vamos ter. Por isso, os projectos de fibra óptica que forem lançados no país serão bem-vindos, desde que os custos ao cliente final e para os projectos sociais diminuam. Estamos esperançosos que a partir de 2017 a velocidade será maior e os custos reduzidos, porque nós, Mediateca, sem telecomunicações ficamos com uma certa dificuldade de prestarmos um serviço de excelência.

Angop: Como está a questão do “Livro Branco”, lançado pelo Ministério das Telecomunicações e Tecnologias de Informação?

PT – O “Livro Branco” foi aprovado pelo Executivo. Como ele diz, é o livro branco, é a nossa bíblia no domínio das tecnologias de informação e comunicações. Existem alguns documentos do livro que devem ser regulamentados, como a questão da abertura do mercado, que é muito questionada pelos empresários, das licenças dos operadores. O livro branco diz que haverá licenças multiserviços. Assim deixaremos de ter licenças só para celulares ou para telefones fixos. Um operador poderá fazer o “triple play”, qualquer operador tem que ser capaz de vender voz, televisão e dados, porque os tempos exigem mais dos mercados.

Hoje todos os operadores podem fazer um pouco de tudo, ao contrário do que acontecia em tempos idos em que a Angola Telecom vinha com a infra-estrutura e os outros vinham só com serviços. Hoje o livro branco diz que todos devem fazer um pouco de tudo.

Sobre a Rede de Mediatecas de Angola (REMA)

A criação da Rede de Mediatecas de Angola (REMA) é uma iniciativa do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, que em Abril de 2010 criou uma comissão executiva para a materialização, tendo sido criado pelo Decreto Presidencial nº192/12, que cria e aprova o seu estatuto orgânico.

A REMA é um serviço público especializado, integrado na administração directa do Estado, dotado de autonomia administrativa e financeira.
Tem por finalidade o desenvolvimento de organismos e serviços sob forma de sistema, no âmbito das políticas e estratégias de desenvolvimento da sociedade, do conhecimento e promoção digital.

A REMA pode, mediante autorização, do órgão tutelar, realizar parcerias com entidades públicas e privadas, com a finalidade de melhor implementar acções e projectos a seu cargo, se tal for benéfico para a prossecução das suas actividades.

A Unidade Técnica de Gestão da Rede das Mediatecas de Angola é um serviço de âmbito nacional, possui a sua sede em Luanda e pode criar serviços locais desconcentrados para melhor prossecução das suas atribuições.

Pedro Teta

Pedro Sebastião Teta, nasceu a 28 de Abril de 1959, na localidade do Nzeto (Zaire, Angola). Actualmente é secretário de Estado para as Tecnologias de Informação e coordenador da Unidade Técnica de Gestão da Rede das Mediatecas de Angola. Possui licenciatura em Engenharia de Computadores e Controlo pela Universidade Politécnica de Bucareste, 1983, tem o Mestrado em Engenharia de Computadores e Controlo pela Universidade Politécnica de Bucareste, 1984.

Assistente estagiário das cadeiras de Sistemas de Controlo e Automação no Departamento Electrónica e Electrotécnica da Faculdade de Engenharia da UAN, Universidade Agostinho Neto (1984 – 1986), Visiting Professor CUJAE – Instituto Superior Politécnico José Antonio Echeverría, Cuba, (1988-1999). Assistente das cadeiras de Sistemas de Controlo e Automação do Departamento de Informática e Electrónica da Faculdade de Engenharia da UAN (1986-1988), assistente da cadeira servo-mecanismo do curso de Mecânica, Faculdade de Engenharia, UAN, assistente graduado das cadeiras de redes de computadores do Departamento de Informática e Electrónica da Faculdade de Engenharia, UAN.

Assistente graduado das cadeiras de Sistemas de Controlo e Automação do Departamento de Informática e Electrónica da Faculdade de Engenharia, UAN (1989- 1994), Visiting Professor Berkeley University, USA 1990, Visiting Professor Standford University , USA 1991. PhD, em Controlo Inteligente, utilizando técnicas de Inteligência Artificial, Faculdade de Automática, Universidade Politécnica de Bucareste, 1994, Professor Associado da UAN (1994-1995), Professor Titular da UAN (1995).

Curriculum Político e Associativo

Foi presidente da União de Estudantes Angolanos da Roménia (1979-1984), primeiro secretário da JMPLA Roménia – Juventude do Movimento Popular de Libertação de Angola na Roménia (1980-1984), vice-ministro das Ciências e Tecnologia (1997- 2008) e ponto Focal do Governo de Angola junto da AIEA – Agência Internacional da Energia Atómica. Foi ainda vice-presidente da Comissão de Ciência e Tecnologias das Nações Unidas, UN-CSTD (1988-2003).

Presidiu a Comissão de Ciência e Tecnologias das Nações Unidas, UN-CSTD (2005-), Conselheiro especial “Special Adviser” da Comissão de Ciências e Tecnologias das Nações Unidas, UN-CSTD, Coordenador da Comissão Nacional das Tecnologias de Informação CNTI (2000-), nomeado para o cargo de Vice-Ministro das Telecomunicações e Tecnologias da Informação em Outubro de 2008.

Curriculum Profissional

É membro da Ordem dos Engenheiros de Angola desde 1988, Engenheiro Informático, Departamento de Quadros do Comité Central do MPLA – Movimento para a Libertação de Angola (1984 -1987), Engenheiro Informático, DAF C.C. MPLA (1987-1990), professor de Informática Pirotécnica (1986-1987), Consultor de Informática da Cimangola (1986-1988). Consultor Informático do Ministério dos Petróleos (1988 – 1991), Membro Associado do IFAC – International Federation of Automation Control desde 1990 e Academia de Ciências de Nova Iorque. Fala fluentemente o Português, Inglês, Francês, Espanhol, Italiano, Romeno, Kikongo e Lingala.

 

Via Angop

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