Pedro Morongoni é entevistado pelo Secretario da imprensa da União Russa dos Veteranos de Angola: Serguei Kolomnin.
Pedro Marangoni nasceu em Sao Paulo, Brasil em 1949. Foi formado no Centro de Formação de Pilotos Militares da Forca Aerea Brasileira (1968-1971). Ocupacao – Piloto de Helicopteros, 9.000 horas de voo. Serviu na Legiao Estrangeira Francesa (1972-1973). Depois viveu em Mocambique (1973-1974). Chegou para Angola em Junho 1975, combateu com o grupo do coronel Santos e Castro ao lado da FNLA. Participou na Batalha de Quifangondo (23 de Outubro – 10 de Novembro de 1975). Abandonou a luta em Fevereiro de 1976. Viveu na Rhodesia (1976 – 1977). Depois esteve com a Resistencia Nacional Mocambicana, na regiao de fronteira com a Rhodesia, Inyanga, Umtali. Em 1979-1980 serviu na Legiao Espanhola. Depois de Africa voltou para o Brasil e trabalhou na Amazonia (Brasil), Bolivia e Peru, como piloto de helicopteros por cerca de 20 anos. Agora vive no Brasil.
Livros publicados: “Angola-Comandos especiais contra cubanos” . “A opcao pela espada” (Brasil, 2 edicoes). “Maria da Silva e a era do nao” (Brasil). “A grande manada/o infinito nao tem pressa” (Brasil).
Observando o comportamento dos africanos em combate, de um modo não cientfico mas baseados em guerras recentes, verificaremos que a sua combatividade decresce do norte para o sul do continente negro. Minha experiencia na Africa Austral mostrava que quem atacava vencia, quem era atacado recuava sempre e a maior parte das vitimas eram civis, não militares. Frentes elásticas e combatentes sem qualquer motivação mais profunda. Era a proporção de não-africanos – advisers, internacionalistas, mercenários, voluntários, etc., que decidia os confrontos. Estes eram tropas de conquista, os outros, de simples ocupação de terreno conquistado. E assim aconteceu também em Angola, de forma significativa.
Os combatentes não-africanos com ideais ou vontade de vencer eram afetados por armas que realmente eram perigosas e produziam baixas; a esmagadora maioria africana temia qualquer coisa que explodia e fizesse barulho. Desculpem-me por não ser politicamente correto, mas esta e a verdade.
Fui, nos anos setenta, advertido de que estaria fornecendo informações importantes ao inimigo, ao menosprezar em artigos escritos, o 122 soviético, que considerava uma arma de efeito moral, não efetivo para causar baixas. Mas assim o via, como os demais colegas de combate. Temiamos mais um morteiro 81. Um morteiro 120, então, nos pregava ao solo, irremediavelmente…
Observei incontaveis vezes, a marca deixada no asfalto ou no solo, por explosões do 122 e dos morteiros 120, 81, 60. Os estilhacos dos morteiros rasgavam o solo no ponto de impacto, desenhando uma estrela, mostrando que varreram o solo em trajetoria rasante, atingindo mesmo quem estivesse deitado. Já o 122 deixava poucas marcas, com estilhacos sendo lançados em angulo mais fechado, mais alto e menos perigosos. Vários cairam a poucos metros de mim na batalha de Quifangondo, sem maiores danos. Tenho certeza que qualquer morteiro caindo na mesma curta distancia teria me posto fora de combate.
Mas a capacidade de lancamento multiplo, apido, sequencial dos MLRS BM-21 e devastador para tropas mal treinadas, inexperientes ou pouco motivadas. Sem nenhuma dúvida eles foram decisivos para o pánico e a debandada geral das tropas da FNLA e zairenses em Quifangondo.
E o que deteve a pequena tropa não-africana? Em primeiro lugar, os canhões anti-carro 76 mm, que aproveitaram o absurdo avanço das frágeis Panhard totalmente descobertas; em segundo lugar, para segurar os poucos infantes que seguiriam atrás delas, as metralhadoras anti-aéreas (ZPU-4?) cujo tiro podiamos sentir sobre nossas cabeças e que não nos deixavam levantar do solo.
Mas, mesmo se as Panhards não fossem detidas e nosso pequeno grupo pudesse avançar, não teriamos ninguém nos seguindo, pois o grosso da tropa africana debandara apavorada pelo efeito psicologicamente devastador dos MLRS BM-21 Grad…
Resumindo, sim, concordo que esta arma foi decisiva não só no rumo da batalha, mas de toda a guerra. Acredito que se o indisciplinado exercito zairense entrasse em Luanda, tudo seria arrasado e saqueado e uma avalanche de tropas de Mobutu Sesse Seko se despejariam pela fronteira norte, numa ocupação criminosa. E nós, o pequeno grupo de comandos especiais que por um ideal, serviu de ponta de lança, seriamos dizimados ou presos ou expulsos, pois representavamos um obstáculo as barbaries zairenses em solo angolano.”
Pedro Marangoni: «A bem da historia militar sera um mapa incomum, feito em conjunto pelos dois lados opostos envolvidos»
Serguei KOLOMIN:
“Estimado Pedro Marangoni!
Fico-lhe muito grato por suas mensagens relativas a Batalha de Quifangondo, em particular pelo artigo “Quatro MLRS BM-21 Grad deteram os inimigos que avancavam sobre Luanda e mudaram o rumo da guerra?”, que ja foi publicado no nosso website em russo e portugues.
Encontrei nas suas mensagens alguns elementos muito interessantes para mim, como historico, em particular, em relação ao efeito provocado pelas metralhadoras anti-aereas ZPU-4 de calibre 14,5 mm (os angolanos e cubanos os chamavam “cuatro bocas”), ao efeito moral, produzido por salvas de BM-21 e tambem acerca do numero exacto de comandos especiais portugueses ao lado da FNLA e ELP (Exercito de Libertação Português). E mais algumas perguntas, se permitir.”
Serguei Kolomin: O ELP – foi simplesmente o slogan, ou forca real com a estructura, programa e o comando formados?
Pedro Marangoni: – Como recebi sua mensagem em português correto, vejo que não é atravêz de tradutor eletrónico e sim de quem tem otimos conhecimentos da lingua portuguesa, portanto ficarei mais a vontade para responder em meu idioma.
– O que pode dizer da ajuda dos EUA a FNLA e ao ELP?
– Encontrei as recordações do General angolano Xavier honestas, parece-me ele realmente esteve em Quifangondo. Mas nenhuma das duas pontes estavam destruidas e não entendo porque os angolanos insistem em mentir sobre um facto que daria até mais valor a luta deles… Claro com a ponte destruída, seria uma defesa mais segura, praticamente admitindo que não conseguiriam deter o inimigo. A ponte destruida seria uma proteção a mais.
Talvêz a ponte do Bengo estivesse SABOTADA, NÃO DESTRUIDA, OU SEJA, COLOCARAM AS CARGAS EXPLOSIVAS E NÃO DETONARAM, TAL SERIA FEITO APENAS SE NÃO CONSEGUISSEM NOS DETER! Sera que isso aconteceu também na ponte do Panguila, onde encontramos os cordões detonantes? E a explosão teria falhado?
Um grupo de comandos com o capitão Valdemar precedeu o grande ataque, infiltrando-se pela madrugada e tomando a primeira ponte, do Panguila. Apenas cordões detonantes foram encontrados, sem explosivos. Eu proprio passei por ela, intacta. A segunda ponte também, no primeiro ataque foi avistada inteira pelos blindados e também pelos aviões de reconhecimento.
Se a ponte do Bengo estava destruida, como posteriormente as Faplas/cubanos avançaram contra o Morro da Cal e Caxito? Pelas pontes…A preocupações da FNLA era que, as duas pontes fossem destruidas quando avançassemos e a engenharia zairense só tinha uma ponte dispónivel para construir.
Ainda sobre pontes: a única ponte importante que foi destruida pelo MPLA, quando do grande avanço da FNLA rumo a Luanda foi a de Porto Quipiri, na saida de Caxito. Ai a engenharia zairense construiu uma flutuante, de madeira e depois uma grande ponte metálica, que permanece até hoje.
O meu grande amigo Remedios foi capturado porque foi ferido com gravidade (esta vivo e hoje mora em ), mas Serra e Oliveira suspeita-se que forcaram a queda da Panhard-60 no pantano para se entregar, desertando. Talvez voce tenha conhecido Oliveira, fiquei surpreso ao ve-lo na televisao, anos mais tarde como comandante militar das FAPLA num setor no Sul de Angola!
Um facto interessante e que nem mesmo o MPLA nos considerava realmente mercenarios, apenas usavam como propaganda, pois meus colegas capturados nao foram julgados com os ingleses e americanos e tiveram tratamento mais humano. Além de Remédios, Serra e Oliveira, capturados em Quifangondo, anteriormente haviam sido capturados na batalha de Caxito em 7 de Setembro de 1975 os comandos especiais brancos: Quintino, Fernandes e Pereira.
Resumindo, no Quifangondo ficaram no terreno uma Panhard-90, uma Panhard-60 e um caminhao Mercedes zairense; brancos capturados – 3, todos portugueses. O tal capitao Mente.
– Qual foi o destino da maioria dos comandos portugueses após o desastre do Quifangondo? Portugal ?Africa do Sul?
– Como já disse o coronel Santos e Castro voltou a Europa. Outros foram-se embora depois que abandonamos a luta em Fevereiro de 1976, alguns continuaram a luta. Por exemplo, o meu colega a quem chamavamos “Passarão” (esta de pe, na extrema direita na foto /upload/1265473138_super_image.jpg). Tomei conhecimento que ele retornou do Zaire e continuou combatendo sozinho (ele havia nascido lá, era um africano branco a quem negavam a pátria), fazendo emboscadas contra os cubanos, formou e comandou um pequeno grupo, atuando na região de Ambriz, até que em Outubro de 1977, sofreu queimaduras graves com o mosquiteiro que pegou fogo e agonizou por duas semanas até morrer. Foi enterrado pelos africanos na mata perto da Fazenda Loge, regiao de Ambriz.
Apos Angola os comandos portugueses voltaram para a Rhodesia, alguns para o Brasil, buscando uma patria nova e outros para Portugal, pais que alguns nunca haviam estado, africanos brancos de varias geracoes e que foram muito discriminados pelos portugueses na Europa.
– E de conhecimeto geral, que atacando contra Quifangondo a FNLA e os zairenses foram apoiaos pela artilharia de longo alcance sul-africana. O que poderia dizer a este respeito?
– As pecas 140-mm G-2 sul-africanas chegaram ao Morro a Cal na tarde do dia 9 e começaram o fogo de barragem no dia 10 por volta das 05:00H; foram diminuindo a intensidade do fogo ate cessar de vez, nao sei precisar o momento. Segundo o сoronel Santos e Castro, que me informou pessoalmente, as 16:30H (04:30 PM) os sul-africanos se retiraram do local com todo o material, sem autorizacao ou comunicar a ninguem. Os sul-africanos fugiram durante o combate. Apos Caxito abandonaram os obuses sem as culatras e foram resgatados em Ambriz, já noite, por um helicoptero. Fugiram de helicoptero para um barco na costa de Ambriz, levando as culatras dos obuses 140-mm G-2. Tudo a revelia da FNLA. Os obuses posteriormente foram rebocados pela FNLA, mas sem poder usa-los, acabaram em Ambrizete como ferro velho.
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– O mapa de Quifangondo exposta ali /upload/1265475698_super_image.jpg e um documento valioso. E aparentemente as posicoes das Faplas/cubanos estao proximas daquilo que imaginei. Existe, no indice, um simbolo para ponte destruida para impedir o avanco inimigo! Novamente a insistencia das pontes destruidas e note-se que estranhamente nao se acha no terreno tal simbolo, apenas no indice. As mencoes de mercenarios referem-se ao nosso grupo, pois os mercenarios de Callan so chegariam em mais tarde. Nossas posicoes e rota de ataque e posterior retirada estao corretas, apenas nao existem datas. Nota-se que, colocam correctamente o nosso grupo na vanguarda e a FNLA na nossa retaguarda. Com excessao do simbolo ponte destruida e do suposto bombardeamento da aviacao, me parece um mapa honesto.
O meu mapa /upload/1264786543_super_image.jpg foi feito de memoria, sem escala e sem consulta a um mapa real do terreno; e apenas o que visualisei no decorrer do combate. O lado da FNLA/Zaire/Comandos e exato; do lado inimgo sao minhas conjecturas. O numero e localizacao de canhoes anti carro por informacao do tenente Paes na primeira investida.
– Se poderia fazer uns comentarios acerca das fotos expostas na nossa pagina, dedicada a este tema/main/nauka/fotokifangondo?
As fotos №№9 e 11 com Panhards destruidas sao originais de Angola dos tempos . Talvez saiba quem esta junto com Holden Roberto na foto №3? Foto №4 – sao soldados da FNLA ou zairenses?
Foto №3. /upload/1264175592_super_image.jpg Em primeiro plano nao sei identificar; atras, ao lado de Holden, e o jornalista brasileiro e assessor do Presidente, Fernando Luis da Camara Cascudo.
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