Batalha de Kifangondo segundo Pedro Marangoni

 

Pedro Morongoni é entevistado pelo Secretario da imprensa da União Russa dos Veteranos de Angola: Serguei Kolomnin.

 

Pedro Marangoni  nasceu em Sao Paulo, Brasil em 1949. Foi formado no Centro de Formação de Pilotos Militares da Forca Aerea Brasileira (1968-1971). Ocupacao – Piloto de Helicopteros, 9.000 horas de voo. Serviu na Legiao Estrangeira  Francesa (1972-1973). Depois viveu em Mocambique (1973-1974). Chegou para Angola em Junho 1975, combateu com o grupo do coronel Santos e Castro ao lado da FNLA.   Participou na Batalha de Quifangondo (23 de Outubro – 10 de Novembro de 1975). Abandonou a luta em Fevereiro de 1976.  Viveu na  Rhodesia (1976 – 1977). Depois esteve com a Resistencia Nacional Mocambicana, na regiao de fronteira com a Rhodesia, Inyanga, Umtali. Em 1979-1980 serviu na Legiao Espanhola. Depois de Africa voltou para o Brasil e trabalhou na Amazonia (Brasil), Bolivia e Peru, como piloto de helicopteros por cerca de 20 anos. Agora vive no Brasil.
Livros publicados: “Angola-Comandos especiais contra cubanos” . “A opcao pela espada” (Brasil, 2 edicoes). “Maria da Silva e a era do nao” (Brasil). “A grande manada/o infinito nao tem pressa” (Brasil).

Extratos de um artigo  escrito por Pedro Marangoni com o título:  (“Quatro MLRS BM-21 Grad deteram os inimigos que avancavam sobre Luanda e mudaram o rumo da guerra?”)
“Sim, mas como arma de efeito moral e não destrutivo.

Observando o comportamento dos africanos em combate, de um modo não cientfico mas baseados em guerras recentes, verificaremos que a sua combatividade decresce do norte para o sul do continente negro. Minha experiencia na Africa Austral mostrava que quem atacava vencia, quem era atacado recuava sempre e a maior parte das vitimas eram civis, não militares. Frentes elásticas e combatentes sem qualquer motivação mais profunda. Era a proporção de não-africanos – advisers, internacionalistas, mercenários, voluntários, etc., que decidia os confrontos. Estes eram tropas de conquista, os outros, de simples ocupação de terreno conquistado. E assim aconteceu também em Angola, de forma significativa.
Os combatentes não-africanos com ideais ou vontade de vencer eram afetados por armas que realmente eram perigosas e produziam baixas; a esmagadora maioria africana temia qualquer coisa que explodia e fizesse barulho. Desculpem-me por não ser politicamente correto, mas esta e a verdade.

Fui, nos anos setenta, advertido de que estaria fornecendo informações importantes ao inimigo, ao menosprezar em artigos escritos, o 122 soviético, que considerava uma arma de efeito moral, não efetivo para causar baixas. Mas assim o via, como os demais colegas de combate. Temiamos mais um morteiro 81. Um morteiro 120, então, nos pregava ao solo, irremediavelmente…

Observei incontaveis vezes, a marca deixada no asfalto ou no solo, por explosões do 122 e dos morteiros 120, 81, 60. Os estilhacos dos morteiros rasgavam o solo no ponto de impacto, desenhando uma estrela, mostrando que varreram o solo em trajetoria rasante, atingindo mesmo quem estivesse deitado. Já o 122 deixava poucas marcas, com estilhacos sendo lançados em angulo mais fechado, mais alto e menos perigosos. Vários cairam a poucos metros de mim na batalha de Quifangondo, sem maiores danos. Tenho certeza que qualquer morteiro caindo na mesma curta distancia teria me posto fora de combate.

Mas a capacidade de lancamento multiplo, apido, sequencial dos MLRS BM-21 e devastador para tropas mal treinadas, inexperientes ou pouco motivadas. Sem nenhuma dúvida eles foram decisivos para o pánico e a debandada geral das tropas da FNLA e zairenses em Quifangondo.

E o que deteve a pequena tropa não-africana? Em primeiro lugar, os canhões anti-carro 76 mm, que aproveitaram o absurdo avanço das frágeis Panhard totalmente descobertas; em segundo lugar, para segurar os poucos infantes que seguiriam atrás delas, as metralhadoras anti-aéreas (ZPU-4?) cujo tiro podiamos sentir sobre nossas cabeças e que não nos deixavam levantar do solo.

Mas, mesmo se as Panhards não fossem detidas e nosso pequeno grupo pudesse avançar, não teriamos ninguém nos seguindo, pois o grosso da tropa africana debandara apavorada pelo efeito psicologicamente devastador dos MLRS BM-21 Grad…

Resumindo, sim, concordo que esta arma foi decisiva não só no rumo da batalha, mas de toda a guerra. Acredito que se o indisciplinado exercito zairense entrasse em Luanda, tudo seria arrasado e saqueado e uma avalanche de tropas de Mobutu Sesse Seko se despejariam pela fronteira norte, numa ocupação criminosa. E nós, o pequeno grupo de comandos especiais que por um ideal, serviu de ponta de lança, seriamos dizimados ou presos ou expulsos, pois representavamos um obstáculo as barbaries zairenses em solo angolano.”

Pedro Marangoni: «A bem da historia militar sera um mapa incomum, feito em conjunto pelos dois lados opostos envolvidos»

 Entrevista do ex-combatente da Batalha do Quifangondo ao lado da FNLA Pedro Marangoni, cedida ao Secretario da imprensa da Uniao Russa dos Veteranos de Angola
Serguei Kolomnin

Serguei KOLOMIN:

“Estimado Pedro Marangoni!
Fico-lhe muito grato por suas mensagens relativas a Batalha de Quifangondo, em particular pelo artigo “Quatro MLRS BM-21 Grad deteram os inimigos que avancavam sobre Luanda e mudaram o rumo da guerra?”, que ja foi publicado no nosso website em russo e portugues.
Encontrei nas suas mensagens alguns elementos muito interessantes para mim, como historico, em particular, em relação ao efeito provocado pelas metralhadoras anti-aereas ZPU-4 de calibre 14,5 mm (os angolanos e cubanos os chamavam “cuatro bocas”), ao efeito moral, produzido por salvas de BM-21 e tambem acerca do numero exacto de comandos especiais portugueses ao lado da FNLA e ELP (Exercito de Libertação Português). E mais algumas perguntas, se permitir.”

Serguei Kolomin:  O ELP – foi simplesmente o slogan, ou forca real com a estructura, programa e o comando formados?

Pedro Marangoni: – Como recebi sua mensagem em português correto, vejo que não é atravêz de tradutor eletrónico e sim de quem tem otimos conhecimentos da lingua portuguesa, portanto ficarei mais a vontade para responder em meu idioma.

O ELP só seria mencionado de forma politica, tentando comprometer a FNLA e tambem porque dizia-se que o Coronel Santos e Castro, era ligado a este “exercito” que considero apenas teórico, nunca chegou a existir como força real, coesa, organizada e pronta para combate. Apenas uma organização politica. Nunca ajudou nossas tropas, que foram recrutadas entre portugueses refugiados na Rhodesia, pelo comandante das Flechas, Alves Cardoso, da DGS/PIDE. Mas os membros do grupo do Coronel Santos e Castro não eram mercenários, eram combatentes, que viviam em Africa e quiseram ficar lá para passar ali a sua vida. Era composto por 153 portugueses mais eu. O único militar do grupo que poderia se chamar de “estrangeiro” era eu, brasileiro, mas com dupla nacionalidade portuguesa. O Coronel Santos e Castro apareceria em Ambriz, como conselheiro militar de Holden Roberto e ligação com o nosso grupo. Depois passara a participar dos combates, fardado mas sem armas. Depois de Quifangondo volta a Europa.

 – O que pode dizer da ajuda dos EUA a FNLA e ao ELP?

 

 – Quanto  a ajuda dos EUA, tinhamos pouco apoio e se os EUA ajudavam mais, provavelmente a ajuda era desviada por Mobutu. Muitos artigos também exageram a actuação dos norte-americanos, que pouco interviram e pouco nos ajudaram. Muitos livros históricos agora apenas mais uma obra politica, repleta de mentiras e exageros; estes livros prestam-se para falsear a historia da descolonização e dificultar para que as gerações pós guerra conheçam o que se passou realmente e aprendam a não repetir erros do passado.
– Na edição “FAPLA baluarte da paz em”  (Berger-Levrault International, Paris. Р. 110) lê-se, que a ponte sobre rio Bengo tinha sido destruida pelos sapadores das FAPLA para impedir o avanço da tropa da FNLA. Alguns angolanos participantes na Batalha de Quifangondo (FAPLA) mencionam a de Panguila tambémcomo destruida. O General Xavier, actual responsavel da Academia Militar das Forcas Armadas Angolanas  (http://jornaldeangola.sapo.ao/20/0/general_xavier_historia_vivida_em_kifangondo) também insiste no facto a ponte sobre rio Bengo tinha sido destruida. Outro ex-combatente (FAPLA) Álvaro António, que é o capito, actualmente colocado na Unidade da Guarda presidencial (UGP) (http://allafrica.com/stories/200811120632.html) na entrevista a TV angolana afirma: “Nesta altura em que se destruiu a ponte estavam a atravessar três viaturas, entre as quais um tanque que ainda não tinha passado, tendo as outras duas caido com a ponte, morrendo os seus ocupantes”. Ele acrescentou ainda, “que desta acção resultou a captura de quatro mercenarios norte-mericanos que permaneceram encarcerados na ex-sala do director da Escola Primária da Fazenda experimental da Funda”. Se a ponte do Bengo estava destruida, de que maneira a tropa da FNLA tencionara e conseguiria atravessar o rio? A nado? Ou a ponte sobre rio Bengo continuava a funcionar, tendo so alguns danos não significativos? Conforme a minha experiencia militar, explodir e destruir a ponte sólida, construida em betão é uma coisa não fácil…

– Encontrei as recordações do General angolano Xavier honestas, parece-me ele realmente esteve em Quifangondo. Mas nenhuma das duas pontes estavam destruidas e não entendo porque os angolanos insistem em mentir sobre um facto que daria até mais valor a luta deles… Claro com a ponte destruída, seria uma defesa mais segura, praticamente admitindo que não conseguiriam deter o inimigo. A ponte destruida seria uma proteção a mais.

Talvêz a  ponte do Bengo estivesse SABOTADA, NÃO DESTRUIDA, OU SEJA, COLOCARAM AS CARGAS EXPLOSIVAS E NÃO DETONARAM, TAL SERIA FEITO APENAS SE NÃO CONSEGUISSEM NOS DETER! Sera que isso aconteceu também na ponte do Panguila, onde encontramos os cordões detonantes? E a explosão teria falhado?

Um grupo de comandos com o capitão Valdemar precedeu o grande ataque, infiltrando-se pela madrugada e tomando a primeira ponte, do Panguila. Apenas cordões detonantes foram encontrados, sem explosivos. Eu proprio passei por ela, intacta. A segunda ponte também, no primeiro ataque foi avistada inteira pelos blindados e também pelos aviões de reconhecimento.

Se a ponte do Bengo estava destruida, como posteriormente as Faplas/cubanos avançaram contra o Morro da Cal e Caxito? Pelas pontes…A preocupações da FNLA era que, as duas pontes fossem destruidas quando avançassemos e a engenharia zairense só tinha uma ponte dispónivel para construir.

Ainda sobre pontes: a única ponte importante que foi destruida pelo MPLA, quando do grande avanço da FNLA rumo a Luanda foi a de Porto Quipiri, na saida de Caxito. Ai a engenharia zairense construiu uma flutuante, de madeira e depois uma grande ponte metálica, que permanece até hoje.

Depoimento do capitão Alvaro Antonio…lembremos sempre: a primeira vitima da guerra é a verdade… Actualmente existem mais heróis que combatentes na ocasião da batalha… estaria ele lá? Lembremos que os cubanos, de arma na mão tiveram que obrigar os angolanos a voltarem para os postos de combate, pois fugiam em pánico. Não existiram, por exemplo, quatro mercenários norte-americanos capturados! No combate, foram capturados apenas o municiador da Panhard-90 Remedios, o condutor da Panhard-60 Serra e seu atirador Oliveira, todos portugueses. Americano so havia um, observador do CIA, sempre desarmado, que nao saiu do Morro da Cal. Os autenticos mercenarios apareceram no Norte de Angola um mes depois de Quifangondo, eram na verdade os Ingleses e Americanos, mas nao conseguiram nada, pois a luta ja tinha terminado.

O meu grande amigo Remedios foi capturado porque foi ferido com gravidade (esta vivo e hoje mora em ), mas Serra e Oliveira suspeita-se que forcaram a queda da Panhard-60 no pantano para se entregar, desertando. Talvez voce tenha conhecido Oliveira, fiquei surpreso ao ve-lo na televisao, anos mais tarde como comandante militar das FAPLA num setor no Sul de Angola!

Um facto interessante e que nem mesmo o MPLA nos considerava realmente mercenarios, apenas usavam como propaganda, pois meus colegas capturados nao foram julgados com os ingleses e americanos e tiveram tratamento mais humano. Além de Remédios, Serra e Oliveira, capturados em Quifangondo, anteriormente haviam sido capturados na batalha de Caxito em 7 de Setembro de 1975 os comandos especiais brancos: Quintino, Fernandes e Pereira.
Resumindo, no Quifangondo ficaram no terreno uma Panhard-90, uma Panhard-60 e um caminhao Mercedes zairense; brancos capturados – 3, todos portugueses. O tal capitao Mente.
– Qual foi o destino da maioria dos comandos portugueses após o desastre do Quifangondo?  Portugal ?Africa do Sul?

– Como já disse o coronel Santos e Castro voltou a Europa. Outros foram-se embora depois que abandonamos a luta em Fevereiro de 1976, alguns continuaram a luta. Por exemplo, o meu  colega a quem chamavamos “Passarão” (esta de pe, na extrema direita na foto /upload/1265473138_super_image.jpg). Tomei conhecimento que ele retornou do Zaire e continuou combatendo sozinho (ele havia nascido lá, era um africano branco a quem negavam a pátria), fazendo emboscadas contra os cubanos, formou e comandou um pequeno grupo, atuando na região de Ambriz, até que em Outubro de 1977, sofreu queimaduras graves com o mosquiteiro que pegou fogo e agonizou por duas semanas até morrer. Foi enterrado pelos africanos na mata perto da Fazenda Loge, regiao de Ambriz.

Apos Angola os comandos portugueses voltaram para a Rhodesia, alguns para o Brasil, buscando uma patria nova e outros para Portugal, pais que alguns nunca haviam estado, africanos brancos de varias geracoes e que foram muito discriminados pelos portugueses na Europa.

– E de conhecimeto geral, que atacando contra Quifangondo a FNLA e  os zairenses foram apoiaos pela artilharia de longo alcance  sul-africana.  O que poderia dizer a este respeito?
– As pecas 140-mm G-2 sul-africanas chegaram ao Morro a Cal na tarde do dia 9 e começaram o fogo de barragem no dia 10 por volta das 05:00H;  foram diminuindo a intensidade do fogo ate cessar de vez, nao sei precisar o momento. Segundo o сoronel Santos e Castro, que me informou pessoalmente, as 16:30H (04:30 PM) os sul-africanos se retiraram do local com todo o material, sem autorizacao ou comunicar a ninguem. Os sul-africanos fugiram durante o combate. Apos Caxito abandonaram os obuses sem as culatras e foram resgatados em Ambriz, já noite, por um helicoptero. Fugiram de helicoptero para um barco na costa de Ambriz, levando as culatras dos obuses 140-mm G-2. Tudo a revelia da FNLA. Os obuses posteriormente foram rebocados pela FNLA, mas sem poder usa-los, acabaram em Ambrizete como ferro velho.

– Poderia pormenorizar o despositivo de combate e a composicao da forca da FNLA e zairenses? Quantos carros Panhard, soldados (FNLA e zairenses), pecas de artilharia haviam no palco de combate no dia 10 de Novembro perante o ultimo ataque contra Quifangondo?
 – Numeros aproximados.
Artilharia:  1 canhao 130-mm, Africa do Sul 3 obuses 140-mm, FNLA alguns morteiros 120-mm.
Cavalaria: Comandos Especiais: 1 Panhard-90 (destruida), 2 Panhards-60 (uma destruida e uma avariada), 1 VTT Panhard com um grupo de combate, retornou ileso sem lancar a tropa, um jeep com canhao 106-mm sem recuo (nao participou).
Zaire: cerca de 10 jeeps com canhao 106-mm sem recuo (nao participaram), umas 15 Panhards diversas, nenhuma participou do combate, assim que transpuseram a ponte do Panguila descarregaram toda a municao e recuaram. Varios canhoes antiaereos 20-mm montados em jeeps (nao participaram).
Infantaria: Comandos, dos 154, cerca de 80 participaram do combate, apenas uns 10 cruzaram a ponte do Panguila avancando, o restante nao avancou, permaneceu antes da ponte.
FNLA: cerca de 800 homens (nao tenho certeza, numero aproximado), nenhum cruzou a ponte do Panguila.
Zaire: um batalhao de infantaria (dizem dois, nao sei), uma equipe de engenharia; dois caminhoes Mercedes, carregados de soldados zairenses cruzaram a ponte do Panguila e comecaram a morrer sem chance de defesa na primeira curva depois da ponte. Poucos voltaram, quase todos feridos. Um dos caminhoes retornou a noite, apos o combate, com alguns homens.
Quando recuei para o Morro da Cal, debaixo de cerrado bombardeio, por volta das 18:00H (06:00PM) do dia 10, tudo estava completamente deserto e as unicas viaturas eram o jeep do staff e a nossa VTT Panhard.
Na noite de 11 de Novembro 1975, apos a derrota, juntamente com o Coronel Santos e Castro,  apenas 26 homens ficaram na frente de combate no Morro da Cal, todos comandos especiais, portugueses, entre eles todos os oficiais. Nenhum dos quadros da FNLA.  A FNLA simplesmente fugiu  mato adentro sem comando e os zairenses recuaram para o Caxito.

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– A maioria das fontes (livros, recordacoes) mencionam os tres avioes da FA sul-africana  “Buccanir” a bombardear as posicoes FAPLA/cubanos na manha do dia 10 de Novembro.
De outro lado,  o General Xavier (Jornal de Angola, 13 de Janeiro 2010. General Xavier: História vivida em Kifangondo) diz o seguinte: “as FAPLA estavam a espera de uma investida maior no dia 10 de Novembro de 1975. O relogio indicava 05H00, quando dois avioes se fizeram aos ceus flagelando as posicoes das FAPLA, no Morro de Kifangondo. A primeira impressao e que fomos bombardeados pela aviacao, mas nao. Eram voos de reconhecimento que iam verificar os acessos, principalmente o estado das pontes…” E acrescenta: “eram avionetas de reconhecimento, que partiam da pista do Ambriz ou de pequenas pistas em fazendascomo a Martins de Almeida”.
Como poderia comentar estas palavras do veterano? Eram bombardeiros da Africa do Sul ou avionetas de reconhecimento FNLA? Se havia realmente aviacao sul-africana envolvida nessa batalha?
– Avioes? Isto e muito interessante, confirmo as palavras do General Xavier, eram apenas dois avioes nossos, convencionais, civis, de observacao, decolados de Ambriz, mas ja era dia claro. Os primeiros tiros dos 140 sul-africanos foram em Luanda e depois foram recuando o alcance para atingir Quifangondo, coincidindo com a passagem dos avioes,o que para leigos poderia ser tomado por um bombardeio aereo.
Misterio: realmente por volta das 05:00H ouvi um ruido semelhante a jactos de combate em grande altitude e depois tres explosoes surdas, nao mais, abafadas entre o morro de Quifangondo e Luanda . Avioes ou uma experiencia de tiro com canhoes de uma fragata sul- africana que estava ao largo, com alcance suficiente para atingir o local? Isto e apenas uma conjectura minha, sem informacoes. Nem o coronel Santos e Castro ou o major Alves Cardoso foram comunicados de ajuda de avioes ou marinha sul-africana. Se houve uma tentativa, nao foi alem, talvez devido a dificuldade de execucao (proximidade das forcas oponentes no terreno).
– No seu livro “А Opcao Pela Espada” ha um mapa bastante pormenorizada e bem clara/upload/1264786543_super_image.jpg das posicoes FNLA/zairenses – FAPLA/cubanos no Quifangondo. Mesmo com o numero exato das pecas e obuses (1 canhao 130-mm zairence, 3 obuses 140-mm sul-africanos, FNLA etc.) Voce indicou os quatro BM-21 nas posicoes FAPLA/cubanos por acaso ou tinha informacao mais ou menos exata? Muitas fontes dizem, que eram seis.
Conforme minha opiniao baseada nas certas recordacoes, eram quatro BM-21, que chegaram ao Quifangondo nas vesperas do dia 10 de Novembro. Como poderia comentar isso?
O que podera dizer a respeito do mapa da batalha feita do ponto de vista dos angolanos, que   exposta no nosso site /upload/1265475698_super_image.jpg?

– O mapa de Quifangondo exposta ali /upload/1265475698_super_image.jpg  e um documento valioso. E aparentemente as posicoes das Faplas/cubanos estao proximas daquilo que imaginei. Existe, no indice, um simbolo para ponte destruida para impedir o avanco inimigo! Novamente a insistencia das pontes destruidas e note-se que estranhamente  nao se acha no terreno tal simbolo, apenas no indice. As mencoes de mercenarios referem-se ao nosso grupo, pois os mercenarios de Callan so chegariam em mais tarde. Nossas posicoes e rota de ataque e posterior retirada estao corretas, apenas nao existem datas.  Nota-se que, colocam correctamente o nosso grupo na vanguarda e a FNLA na nossa retaguarda. Com excessao do simbolo ponte destruida e do suposto bombardeamento da aviacao, me parece um mapa honesto.
O meu mapa /upload/1264786543_super_image.jpg foi feito de memoria, sem escala e sem consulta a um mapa real do terreno; e apenas o que visualisei no decorrer do combate. O lado da FNLA/Zaire/Comandos e exato; do lado inimgo sao minhas conjecturas. O numero e localizacao de canhoes anti carro por informacao do tenente Paes na primeira investida.

O numero de BM-21 calculei pela sequencia de lancamento, quando cairam em maior intensidade, pela concentracao das explosoes; apenas uma hipotese que agora me parece acertada.
Observacao: em meu livro, “Orgaos de Stalin”, juntamente com monocaxito era a terminologia generica que davamos a qualquer missil 122, de lancador simples ou nao, sem significar BM-21./main/nauka/Qifangondo#_edn64
Se voce tiver dados confiaveis, autorizo que atualize com mais precisao a metade das fapla-cubanos no mapa.

– Se poderia fazer uns comentarios acerca das fotos expostas na  nossa pagina, dedicada a este tema/main/nauka/fotokifangondo?

As fotos №№9 e 11 com Panhards destruidas sao originais de Angola dos tempos . Talvez saiba quem esta junto com Holden Roberto na foto №3? Foto №4  – sao soldados da FNLA ou zairenses?

Foto №3. /upload/1264175592_super_image.jpg Em primeiro plano nao sei identificar; atras, ao lado de Holden, e o jornalista brasileiro e assessor do Presidente, Fernando Luis da Camara Cascudo.

Foto №4. /upload/1264175329_super_image.jpg  Esta foto me parece ser dos tempos mais fortes da FNLA, antes da guerra civil e mesmo do 25 de Аbril de 1974 e foi feita no Zaire, provavelmente na base de Quinkuzo. Nunca mais se viu tal concentracao de tropas.
Nao da para identificar; mas em toda a guerra civil os comandos perderam apenas uma Panhard-90, a do tenente Paes em Quifangondo.
Foto №12 /upload/1264179068_super_image.jpg  Como ja disse sao os primeiros comandos especiais capturados na batalha de Caxito em 7 de Setembro de 1975, onde participaram de improviso e com armamento obsoleto, sendo envolvidos devido a enorme inferioridade numerica; bateram-se bem. Da esquerda para a direita, (brancos) Quintino, pelotao G-3; Fernandes, paraquedista, pelotao MAG; Pereira , motorista caminhao Mercedez.
Encontrei mais fotos que tem mais relacao com Quifangondo, fotos nunca publicadas, em mal estado, mas importantes e autorizo a publicacao no site. Foram me dadas pelo autor, Azevedo, tripulante, que escapou da Panhard-60 cujos dois tripulantes foram capturados em Quifangondo.
 Mostram a chegada da artilharia sul-africana no Morro da Cal. Ao lado, uma torre de madeira, marco geodesico que marcava nossa posicao ao inimigo e que ninguem se preocupou em derrubar /upload/1265225452_super_image.jpg e tambem as nossas tres Panhards, estacionadas no abrigo onde passamos a noite antes do combate./upload/1265477608_super_image.jpg
Outra foto mostra a Panhard-90 do tenente Paes, pronta para descer ao Panguila, com a flamula onde se lia «Ouso»!/upload/1265225116_super_image.jpg As fotos coloridas mostram no jeep, apos a conquista de Quicabo, o comando Remedios, que foi capturado em Quifangondo, com sua M-79, que o General Xavier relata estar no museu em Luanda /upload/1265217091_super_image.jpg .
A outra e da “Forca Aerea da FNLA”, logo apos meu bombardeio, junto com Rabelo, um piloto civil, contra a emissora oficial em Luanda . Os homens com tarja preta sao os tecnicos em explosivos, uma equipe de muito valor, que prepararam as cargas que lancei. /upload/1265478619_super_image.jpg
Como conclusao queria dizer o seguinte: publicando estas fotos e meus depoimentos Veteranangola.ruassim amplia a contribuicao nao so para a reconstrucao da verdadeira historia militar de Angola, bem como para alertar sobre injusticas de cunho social, discriminatorio, por parte de europeus e africanos e que devem ser conhecidas pelo menos como uma homenagem e retratacao as vitimas.
A bem da historia militar sera um mapa incomum, feito em conjunto pelos dois lados opostos envolvidos. Creio que e uma oportunidade de mostrar ao mundo que militares em confronto sao profissionais em trabalho, nao inimigos pessoais.
Via www.veteranangola.ruAttention! To download Pedro Marangoni’s book “Opcao pela Espada”, click on the PDF file icon at the top of the Russian version of this page:/main/other_side/p_marangoni_rus. Versão Portuguesa

 

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