Por Sebastião Kupessa
O Mpungi é um instrumento musical tradicional Kongo utilizado não só para prodizir melodias, mas também, serve para “decorrar” diversos rituais sagrados e nas transmissões de mensagens. É um importante instrumento de sopro, confeccionado apartir dos chifres de diversas espécies de antílopes ou presas de marfim de elefante, com um único orifício situado na parte lateral inferior do instrumento. A transmissão das mensagens torna-se possível através do corte de um bocal de dois centímetros de distância, a partir da ponta do corno, e por serrar o ponto de uma pequena abertura, ligando-se o interior oco do instrumento. Ao abrir ou fechar esta entrada com o polegar, o músico pode criar dois tons, o que lhe permite enviar mensagens codificadas.
O Mpungi é um instrumento particularmente importante para a nossa cultura, porque é associado ao poder sagrado e político. Na linguagem Kongo, Mpungi é composto de duas palavras com significados importantes: MPU e NGI. MPU é Chapeu, enquanto o NGI é interpretado por “Energia do pensamneto”. O MPU encontra-se também na palavra MPUngu, o que significa Todo poderoso e o NGI , por exempro, acha-se no termo NGIndu, o que quer dizer o “Pensamento”.
O grande sacerdote Kongo, KYALA Kya NDAMANA, foi um mestre do Mpungi. Ele tocava este instrumento na entronização e no falecimentos dos que detinham o poder sagrado e polítiico no reino. Ele dirigia o MASIKILU que é um cunjunto musical composto de Mpungi e Ngoma (batuques), acompanhado de um coro sagrado.
O nosso antepassado NDAMANA era representante do NZAMBI a MPUNGU. Ele tocava o Mpungi, consagrando todo o seu génio, para invocar Deus e os espírito dos antepassados.
O som do Mpungi precedia sempre quelquer reunião de uma comunidade Kongo, porque toda a assembleia que resolvia assuntos na sociedade, tinha um carácter sagrado e era acompanhado de ritos para invocar ou celebrar os espíritos dos antepassados. Por essa razão, um apelo a uma reunião de uma comunidade, devia ser feito com aparato e pompa. O que vai permitir remeter em movimento o estado do espírito, da alma e da consciência.
Os Mpungi fabricados apartir dos chifres dos antílopes, são em grande medida, relacionados com a caça, onde cumprem, igualmente, a função de comunicação. Este instrumento é tocado antes, durante e após a caça; para orientar os caçadores, para manter contacto sobre sua localização, a posição do animal caçado e para sinalizar o fim da caça. Era usado também durante os rituais anteriores à caça, invocando os espíritos para fornecer protecção, de auxilio para uma caça sem incidentes ou de agradecimentos aos espíritos depois de uma caça bem-sucedida.
Sem dúvida, o Mpungi mais impressionante, é o chifre de marfim, onde toda a dimensão do dente é usada. Os marfins são considerados, mais ou menos, como a propriedade do chefe, tidos como troféus de caça e um símbolo externo de energia. Simboliza, muitas vezes, o poder, a posição e a vitalidade dos senhores do poder local. Quando convertido num instrumento musical, é usado principalmente como um instrumento de sopro dentro de um conjunto, produzindo um maior som que os outros instrumentos musicais. O Mpungi do marfim era utilizado na corte real.
Mpungi do marfim de elefante, utilizado sobretudo na corte real e em cheferias importantes do reino do Kongo
Sua aparência é também muito mais impressionante do que a versão menor usadas durante a caça. Para acentuar ainda mais a grandeza deste instrumento, alguns esculpidores cobriam a extremidade aguçada com uma pele do leopardo, símbolo da autoridade conguesa ou uma extensão de madeira é acrescentada, também coberta com uma pele de animal, dando-lhe uma qualidade sonora extra.
O tom grave produzido pelo Mpungi do marfim era utilizado para anunciar mensagens para distâncias longíquas. O soprador do mpungi de um elefante tinha que ser um iniciado, para transmitir mensagens da instância máxima do pode político tradicional. Nas cerimónias que obrigam a presença do rei, os cânticos são sempre acompanhados com os sons do Mpungi de diferentes tonalidades. Nas viagens oficiais do rei em diversas localidades do reino, os tocadores do Mpungi, precediam a corte real, para anunciar a sua chegada. O detentor dos Mpungi deveria conserva-los com demonstração de anuência ou de condescendência, de consideração e de respeito, conservando-os em lugares especiais.
Enfim, no Masikilu (música tradicional), o Mpungi joga um papel muito importante na produção do som rítmico. Os Mpungi acompanham os batuques depois do corro, o que marca o período da dança intensa, onde as ancas dos dançarinos ondulam para exibir a virilidade dos seres humanos. Em cerimónias sagradas, os sons dos Mpungi excita alguns homens, que entram em transa, supondo-se estar em comunicação com divinidades.
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