A localidade de Mavoyo em Makela do Zombo, promiscuidade entre a riqueza do cobre e a pobreza da sua população.

Por Salomão Ndombasi (Nobre Zombo)

“Temos elaborado bons projetos, bons programas e boas leis, mas pecamos quando chega a fase de execução” (José Eduardo dos Santos) Mavoio, é um pequeno vilarejo localizado a menos de 30 km, a Sudoeste da sede Municipal de Maquela do Zombo, constituído por um conglomerado de aldeias remotas perfiladas ao longo de uma estrada de terra batida totalmente degradada, sem luz elétrica e água potável, circundadas por uma pitoresca paisagem com florestas virgens, montanhas serpenteadas e exuberantes, ribanceiras com solos argilosos de tom amarelado que anunciam, a existência de minerais no seu subsolo vistos a olho no mesmo não sendo Geólogo ou quiçá, alguém abalizado nessas coisas de minérios.

O que suscitou a minha curiosidade sendo Investigador e Cronista, é o artigo publicado pelo Jornal de Angola a 17 de Julho de 2013 com letras garrafais titulado: “Minas de Mavoio rico em Cobre” e retratava a visita à localidade, de uma comitiva chefiada pelo então Ministro de Geologia e Minas, Francisco Queiroz acompanhado pelo entãoGovernador da Província do Uíge, Paulo Pombolo para constatar as atividades até ali realizadas, avaliar o grau de execução e perspetivas sobre a data de início de exploração.

A comitiva ficou com a ideia de que aquela região mineira nos próximos anos, dará um enorme contributo à economia local e nacional a julgar pelo potencial mineiro existente, estimado em cerca de 16 milhões de toneladas de cobre puro onde desde 2009 até aquela data (2013) tinham sido já realizados trabalhos de topografia, cartografia geológica, estudos mineralógicos e geofísicos, investigações petrográficas, ensaios metalúrgicos e perfurações de sondagens numa área de 9.478 metros abrangendo somente o perímetro de Tetelo.

Segundo o Geólogo João Albenâs, Responsável pelas operações das duas operadoras em serviço: A Genuis Mineral e Angola Petroleum service, dos cálculos feitos revelavam naquela altura que o potencial da mina de Mavoio podia atingir os 35 milhões de toneladas e uma estimativa de produção de 875 mil toneladas de cobre puro num prazo mínimo de dez anos e com o alargamento da nova cartografia, sondagens e pesquisas das zonas de Bembe, Lueca, Quimbumba e Quinzo distantes a mais de duzentos quilómetros do eixo central de Mavoio, os recursos aumentariam consideravelmente.

O Responsável pelas Operações, prometeu ainda a comitiva que, as duas Empresas de prospeção pretendiam recrutar tão logo começassem os trabalhos da engenharia, 250 trabalhadores dos quais 96% seriam jovens residentes no Município de Maquela do Zombo, promover programas de formação contínua do pessoal recrutado e dar a assistência médica e medicamentosas as populações das aldeias circundantes da região mineira.

O Ministro Queiroz lamentou o facto dos trabalhos da prospeção levar mais tempo do que previsto e recomendado por lei que são, cinco anos o mínimo e sete, o máximo exigido pelo código mineiro em vigor e prometeu que, devido do peso que comporta o cobre e com vista a proteger as vias asfaltadas de escoamento para o litoral, existe umprojecto da construção dum ramal ferroviário que ligará a zona mineira de Mavoio ao porto do Soyo na Província do Zaire que numa fase posterior, será executado. Assim, a implementação do projecto irá determinar a revitalização de economia da região através do estabelecimento de infraestruturas e de todas as facilidades.

Até aí, muita teoria e boas intenções de sempre que contrastam com a prática. Vejamos o contexto que mais uma vez suscita a minha curiosidade:

1- Desde aquela memorável visita da comitiva do Ministro Queiroz até aos dias que correm, passaram se oito preciosos anos e se somarmos mais três desse o arranque dos trabalhos em 2009, contabilizamos doze longos anos, todavia, das minhas investigações “in situ” infelizmente, ainda continuam os trabalhos de prospeção violando o espírito da lei nº 31\2011 de 23 de Setembro que aprova o código mineiro Angolano.

2- A data para a inauguração da mina de Mavoio com vista a proporcionar o cumprimento do Artigo 16º do código em referência sobre o direito das comunidades locais, continua uma miragem.

3- Pelo que saiba, não havendo trabalhos de exploração salvo que, estejam a ser feitos na calada de noite, ainda os 250 empregos não foram efetivados em obediência ao estipulado no 18º Artigo do mesmo código sobre a força detrabalho local.

4- Com a mudança dos pelouros da Geologia e Minas e da governação da Província Cafeícola do Uíge das duas figuras afloradas no texto, como ficou o “aff day”, será que por detrás desta desorganização bem estruturada, alguém na calada da noite, vai se aproveitando ou neste País quando são exonerados os Auxiliares do Titular do Chefe do poder executivo, os projetos deixam de ter seguimento… Se for o caso então, devemos tudo fazer para termos Instituições fortes e não, homens com excesso de poderes. É chegado o momento dos atuais Ministro e Governador virem a terreiro, fazer o ponto da situação…

5- O que me entristece, é o facto de Angola nosso País, não constar no top 50 do Ranking (Rank) da lista dos Países Produtores de cobre a nível mundial. (Dados dos serviços geológicos Britânicos, 2018-2020).

6- Desta lista, a Zâmbia nosso vizinho é o País Africano bem quotado na 9ª posição com uma produção anual de 497.200 toneladas e constam ainda os nossos vizinhos: a RDC com 131.400 T no 16º lugar; a África do Sul com 89.700 T no 21º lugar; o Botswana com 24.255 T no 27º e a Namíbia com uma produção anual de apenas 6.262 Toneladas em 40º lugar, respetivamente numa lista encabeçada pelo Chile, com 5.360.800 Toneladas anuais.

7- Não nos esqueçamos que, os sedimentos de cobre que atingem Angola, são a continuidade da Plata- forma iniciada na Zâmbia com ramificações na RDC. E agora, porque que Angola meu País, não consta da lista…Caso para refletirmos. Há ou não há produção do melhor Cobre que Mavoio tem… Caso não, porquê.

8- Se nos apegarmos nos dados acima fornecidos pelo Geólogo João Albenâs, Responsável das operações das equipas no terreno segundo os quais, o potencial mineralógico do cobre puro de Mavoio, estimado para a extração em menos de dez anos só para o Tetelo, era de 875 mil toneladas. Mesmo não sendo Economista, o quoeficiente anual será de 87.500 Toneladas, suficientes para nos colocar no Ranking mundial no 22º lugar a seguir a África do Sul no 21º com 89.700 T e a frente de Portugal, em 23º com uma produção anual de 78.660 toneladas.

9- Para ser mais preciso e elucidativo, a quotação de cobre nos mercados de referência, hoje está a valer mais de USD 8.680.00 a Tonelada, só com a produção de Tetelo (pequena amostra de Mavoio com uma produção estimadaem 87.500 toneladas mês, Angola perde qualquer coisa como: 759.500.000.00 dólares norte americanos.

Em jeito de informação, contribuições e remate final, saibam que para além de Cobre e seus derivados, Bornite (CU5FeS4); Calcopirite (CUFeSe); Enargite (CU3AS S3) ; Calcosite (Cus) e Covelite (Cus), estimam se a existência em Mavoio de grandes quantidade de Ferro, Calcite, Enxofre, Xisto, Galena, Zinco, Esfalerite, Pirite, Tenantite, Óxido e Hidróxido de Ferro, minerais raros e preciosos que, bem aproveitados com transparência e sem oportunismos doentios dos nossos Políticos feitos Empresários e se quisermos, corrigir o que anda mal e melhorar algo neste País, Mavoio e suas gentes, sairiam sem dúvidas do marasmo e da indigência em que se encontram, fator que, infelizmente propiciam as assimetrias regionais, as revoltas e insurreições nas zonas de exploração mineira algo que, as gentes pacíficas de Mavoio e a redores, não querem viver a bem da harmonia, da paz e da justiça social.

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