Por Alfredo Dikwiza
Uíge, 17/11 (Wizi-Kongo) – A prática da prostituição é avassaladora, saiu dos esconderijos, perdeu a vergonha e invadiu as ruas da cidade do Uíge nos últimos tempos. Adolescentes dos 14 anos em diante e adultas estão a dispor dos homens, prontas atender os necessitados a qualquer hora e lugar, podendo serem encontradas em grupos ou não, a luz do dia ou não só.
A história inverteu-se em relação o passado. Antes, na cidade do Uíge, a prostituição era praticada por meretrizes profissionais e poucas, que eram encontradas nos hotéis e pensões. Hoje, uma nova vaga de aderentes da mais antiga profissão do mundo, saíram com essa prática do esconderijo e colocaram-se a exposição a olho nu de todos, cuja condição número um exigida por elas é a presença de dinheiro e a posterior a garantia de bebida ou comida. Entretanto, cada prostituta é uma prostituta e os preços variam em função disto, começando dos 1.500,00 (mil quinhentos kwanzas)/50 (cinquenta mil kwanzas).
Entre as ruas e bairros com maior concentração em massa das meretrizes, segundo apurou em rondas feitas num período de 14 dias pelo Wizi-Kongo, destacam-se, “Kilala, com ponto de concentração nos arredores da bomba de combustível da Pumangol”, “Mbemba Ngango, com foco de concentração no ponto-final”, “Piscina e Popular, unem-se em concentração na rotunda da Piscina”, “Kandombe-Velho, com centro de encontro nos arredores das bombas de combustível da Sonangol”, “rua do café, com três pontos: na Mangueira, nas mediações da Pumangol e na paragem de Luanda”, “Mbemba Ngango Suburbano, com pontos de concentrações nas mediações da esplanada local”.
Igualmente, Wizi-Kongo, apurou que fazem parte de locais com fácil localização das prostitutas, no intervalo das “rotundas do Agostinho Neto e Kitexe/Nosso Super, concretamente, nos arredores”, na “rua 1º de Agosto, o ponto máximo é no largo da rádio Uíge”, enquanto na “rua do Comércio, a concentração é feita nas mediações do Cine Ginásio”, já no “bairro Pedreira, as concentrações começam no Banco de Poupança e Crédito (BPC) até a esquadra da polícia nacional da mesma circunscrição”, cujas praticantes correspondem as idades dos 14 anos em diante.
Em dias e locais diferentes, as meretrizes que falaram ao Wizi-Kongo, foram unânimes em admitir que “ a falta de emprego”, “pobreza”, “fome”, “falta de formação académica”, “perda de membros basilares na família” e “desespero”, foram apontadas como sendo os principais motivos que levou as mesmas a enveredarem nesta profissão, apesar dos inúmeros riscos que estão sujeitas a enfrentar nos seus dia-a-dia, principalmente nesta fase da covid-19, sem se esquecer nas mais antigas doenças de transmissão sexual, bem como mentiras, violações e ofensas morais.
Dilma de Rosa, “nome fictício de uma prostituta”, de 29 anos de idade, admitiu ser dona de casa, mãe de três filhos e, contou que faz a prostituição há um ano com intenção de colocar o pão a mesa das crianças e também apoiar os estudos do marido no ensino superior. “Ele não sabe que sou prostituta, amo ele e os nossos filhos, as circunstâncias da vida levaram-me neste caminho, porque houve momentos que as crianças ficavam 48 horas sem comer nada, desde que comecei a fazer a prostituição, deixei de ser a mesma pessoa, a única coisa que me deixa feliz é ver os filhos comerem e pagar as propinas mensais do esposo para continuar a estudar”, finalizou, chorando.
“Depois que o meu pai morreu”, começa a dizer, Jéssica Anjo, outro nome fictício de uma meretriz de 14 anos de idade, foi viver com os tios aos 12 anos, onde, infelizmente, foi abusada sexualmente várias vezes por um primo maior de 30 anos, responsável que tirou a sua virgindade e depois disto, acrescenta, sentiu-se estar perdida e sem protecção de ninguém e aos 13 anos conheceu umas amigas na idade dos 16/17 anos que já faziam a prostituição e, entrou na rotina até hoje.
“Conclui o 4º ano do ensino superior em 2017, de 2017/2020, bati várias portas para conseguir emprego e nada, a fome era tanta, os pais são pobres, então tive que encontrar na prostituição o jeito para conseguir o meu auto-sustento. No princípio foi difícil, mas depois tive que aceitar a realidade e hoje, encaro isso na normalidade, porque daquilo que eu ganho, consigo dar resposta das minhas necessidades e não só, é verdade que faço prostituição por carência na falta de emprego”, sublinhou outra meretriz que pediu anonimato.
A mulher é o núcleo da sociedade, observa o professor, Cláudio Tavares, é doloroso ver, principalmente, as adolescentes comprometidas na prostituição, com isso, é a próxima geração que perde os valores reais de uma família. Apesar de ser a mais antiga profissão do mundo, ela é de desvios morais e nociva, para isso, aconselha, para os órgãos de direito intervirem com tomadas de medidas que visam desencorajar essa prática na cidade do Uíge e em toda região.
Um belo trabalho feito por vós.
As causas da prostituição diferem dos factores de risco, acredito que entre os factores causais pode ser apontado questões de personalidade e educação.