Alberto Ngiza Mbote: – “A música folclórica angolana precisa de ser promovida “

Últimamente escuta-se muito as “Estrelas do Nkama Ntambu”, com o rítmo típicamente originário da região do Kwilu-Kwangu, estilo da música que domina a província do Bago Vermelho. O portal do Uíge e da Cultura Kongo aproximou-se do seu líder para saber mais sobre este conjunto que toca a vontade um dos rítmos tradicionais de Angola.

Qual é seu apelido?

Chamo-me Bem Vindo Alberto, mas sou conhecido no meio artístico por Ngiza a Mbote.

Há poucas semanas escutamos algumas músicas com o seu apelido Ngiza a Mbote, que tipo de rítmo tocas?

Nós tocámos Sukús, mas no Uíge é conhecido por Sonzo.

Tanto Sukús como Sonzo são variantes da rumba que se toca no Congo. Inspiram-se na música congolesa?

Absolutamente não. Nós nos inspiramos no nosso folclore, os rítmos legados pelos nossos antepassados, se nos ver a dançar, darás conta que não copiámos as danças do Congo, o que nós prodizimos no campo artístico, é original, o que é nosso, incluíndo um pouco do Konono, Kabetula e Kilampanga.

Fala-nos um pouco do historial do vosso grupo.

Falando de mim, já canto há muito tempo, os habitantes da Damba me descobriram no ano 2000 quando tovaca o rítmo “Mbese Mbese”, vindo do Mkama Ntambu. Mbese Mbese não tem nada a ver com outros rítmos, é uma criação dos artistas do Nkama Ntambu. Sabes? Muitos jovens criam rítmos que fazem sucesso em determinado tempo, como hoje, aquela dança que se faz cair cadeiras. O Mbese Mbese surgiu assim, penso que todos habitantes da Damba e do Uíge que viveram naquele tempo lembram desta dança.

Queria saber do historial do grupo musical Nkama Ntambu, que eu saiba, é um nome de uma comuna da Damba, como associas ao seu conjunto que designas de “Estrelas do Nkama Ntambu”?

Nós somos o grupo de estrelas do Nkama Ntambu da Damba, nós somos jovens, a lua sozinha não ilumina bem, mas com estrelas brilha melhor. Damba representa a lua, as suas comunas são tidas como estrelas, como o Nsoso, Nkusu e Lêmbwa. No nosso grupo, estão presentes de outras comunas para além do Nkama Ntambu.

Onde estão localizados, no Nkama Ntambu?

De momento estámos em Luanda no desvio de Malweka, no Kikolo, o nosso contacto é 932 381 498 e 931 709 426.

Quem vos apoia, já que editaram um álbum de qualidade com 12 faixas?

Ninguém! O que andamos a fazer, é pelo próprio nosso esforço. Estámos a procura de pessoas de boa fé para nos pôr a mão para comercializar o disco no mercado.

Que tipo de pessoas que estão a procurar, mecenas, productores ou promotores específicos?

Productores sobretudo e mesmo pessoas com bom coração com meios financeiros. Estámos abertos a todos que querem nos ajudar.

Tens um grupo completo, com vozes femininas e instrumentalistas, como consegues remunerâ-los tendo em conta que ninguem vos ajuda?

Apesar de não beneficiarmos de nenhuma ajuda, temos uma banda completa com 14 músicos, incluindo duas vozes femininas. Somos um grupo de amadores da música com objectivos bem definidos. O que conseguimos nos espectáculos quando somos convidados é partilhado para todo membro do grupo e está muito longe de satisfazer as nossas necessidades sociais, somos obrigados a fazer outros trabalhos para não depender só da música, o que afecta considerávelmente na qualidade da música, por não dispormos do tempo suficiente para as repetições. Sabes a música tradicional angolana precisa de ser promovida

A música que eu escutei, da vossa autoria, é de alta qualidade técnica, passaram numa escola onde aprenderam tocar?

Quando se nasce com a música no sangue dá isso, no nosso grupo nunca ninguêm passou numa escola especial para aprender tocar a música. A mim especialmente, inspiro-me do Socorro, apesar de não me conhecer pessoalmente, tenho muita estima do Socorro e ele me inspira muito.

E não pretendes cantar com ele?

Preciso mesmo encontrar-me e cantar com ele, este é meu sonho, apesar de não o contactar ainda.

No Uige existe cantores de sucesso, não só o Socorro, cito Baki Makela, Nzara, Negrão, Dalton e Fafaná, já cantaram juntos? 

Não com os acaba de citar, gostaria produzir com eles se haver possibilidades, mas ja cantámos juntos com Manuel Mazakana e Masobele.

O município da Damba, concretamente a direcção municipal da cultura, não vos apoia?

(Risos) Não e nunca nos apoiaram!

E a Comuna de Nkama Ntambu?

Ali tambem nunca nos ajudaram.

Mas nunca foram convidados nas manifestações culturais no município?

Já lá estivemos no ano 2017 e este ano estivemos na Damba. Em 2017 participamos nas acividades.

Foram pagos pelo trabalho realizado?

Não fomos pagos, até hoje estámos a espera.

Mas já se apresentaram na direcçâo municipal da cultura?

Sim, até apresentamos a nossa guia, foi aprovada pela direcçâo da cultura, é com toda legalidade que actuamos ali, mas nunca somos remunerados.

A nível dos ANADAMBA, os que possuem meios, amantes da nossa cultura, já alguém vos contactou para vos acompanhar?

Nunca, mas penso que a maioria desconhem da nossa existência ou nunca escutaram as nossas obras, caso contrário, já teriámos alguêm para nos acompanhar e aproveito a ocasião para apelar todos, não só os naturais da Damba únicamente, para ajudar-nos a desenvolver a nossa cultura, não ficam de braços cruzados.

A indústia de discos conhece uma queda vertiginosa, estámos na era digital, que garantia vai dar ao produtor que vai investir o seu dinheiro, se os discos não se vende como antes?

Apesar disso, os CD continuam ser vendidos, nós garantimos a qualquer productor que haverá retorno ao seu investimentos porque tocámos uma música rara, popular e muito procurada no mercado por uma camada da populaçâo que ignora a existência da música digital. Também nada impede o produtor vender a música atravês das plataformas digitais especializadas, o que importa é a publicidade.

Ngiza a Mbote, o portal wizi-kongo agradece a disponibilidade.

Tambem agradecemos a vossa amabilidade!

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