António Paca, um comandante libertador de alto grau !

 

António Paca, vulgo “Kukutuna” e “Limpa Poeira”, nasceu na aldeia de Songe, Município da Damba, aos 16 de Junho de 1945. Aos cerca 15 anos de idade optou por viver na cidade de Luanda, onde fez a sua formação escolar. Em virtude da sua permanência em diferentes localidades do território angolano, teve, para além do português, o domínio das línguas kikongo, kimbundo e umbundo. Foi em luanda onde conseguiu o seu primeiro emprego. Não obstante as ocupações laborais, enveredou também na carreira musical, tendo gravado um álbum, cujas músicas, algumas têm sido interpretadas pelo seu filho varão, Zé, como o gostava de apelidar.

Trata-se do músico”Paca Davis”. Os seus filhos relatam que tinha o gosto de cantar músicas revolucionárias e certificam-no ter sido um patriota fora de série, com convicções próprias e firmes. Os registos revelam que na década de 60 já esteve preso com a sua irmã, Mpata Paca, ao se opor à opressão vigente na altura. Depois de longa vivência em Luanda, precisamente no bairro Indígena, regressou à aldeia natal, entre 1964 – 1965, onde conheceu a sua esposa “dona Isabel”. Depois do nascimento dos seus primeiros dois filhos, resolve, em 1968, abandonar a aldeia, instalando-se em Carmona, hoje Uíge, precisamente no bairro Candombe, hoje Candombe Velho, onde nasce o terceiro filho. Em Carmona trabalhou na Robert Hudson, no recinto onde passou a funcionar a empresa Manauto 50.

Em 1970 ingressa no Exército Português, onde predominantemente destacou-se em diferentes partes do território angolano, nomeadamente: Sã da Bandeira (onde fez o curso militar de Infantaria como franco atirador), Lobito, Moçámedes, Nova Lisboa, Santo António do Záire, (…). Esta ausência obrigou a família regressar para Damba, em 1971. Posteriormente abraça, como muitos jovens, a causa da Luta de Libertação Nacional, tendo ocupado a função de comandante,
culminando assim esta etapa com a almejada Independência Nacional, em 1975.

Mais tarde, como oficial das FAPLA, se apercebe do rapto da sua família que havia sido levada para as bases de Bulumatumbi. Os filhos relatam que foi uma amargura o que viveram nas mãos de forças opostas nas matas, cujo resgate só aconteceu após várias frentes de combate que ocorriam, sobretudo, nas localidades da aldeia Lussenga. Nzunga até Damba era zona das FAPLA, e Songue até Madimba era zona controlada pelas forças opostas, cuja a base foi “Bulu”, o mesmo que Bulumatumbi, nas proximidades de Ximacongo. Na localidade de Lussenga ocorreu uma das várias batalhas onde as tropas opostas estavam na convicção de terem atingido mortalmente o comandante Paca. Um chapéu supostamente do comandante foi exibido como troféu e evidência de sua morte em batalha junto da família sob cusódia destas tropas em Bulumatumbi. Um dos filhos conta que não foi fácil receber esta notícia, “Como prisioneiros víamos a morte como uma coisa perto de nós, alguns militares capturados eram abatidos naquela base. Até não sabemos se ainda somos seres normais, depois daquele
trauma.”

Mais tarde, já com a família na sede do município, é que apercebe-se da morte do seu pai e do seu primo que haviam desaparecido aquando da operação de resgate da família. O resgate teve também o envolvimento indirecto das forças cubanas. A morte de seu pai constitui até hoje um mistério por desvendar!

Dentre outras, dirigiu operações militares na Serra de Kanda e Capuco, no famoso tempo de recúa, tempos estes que certamente muitos dambenses, e não só, se lembrarão. Foi no âmbito dessas operações que foi um dos oficiais mais condecorados. Foi muito admirado pelo então ministro da defesa logo depois da independência, o malogrado Iko Teles Carreira, cujo objecto de memória atribuido por este anda em posse dos seus filhos. Passou na Escola Militar da Funda em Luanda, sendo posteriormente indicado como Director do Centro de Recrutamento da Primeira Região Militar (hoje Frente Norte), localizado no Toto.

Foi Comandante do Batalhão estacionado em Vista Alegre, Província do Uíge, e mais tarde Comandou as Tropas de LCB, luta contra bandido, em Maquela do Zombo. Comandou as Tropas Territoriais no Município da Damba, aquando dos confrontos de 1986. Diz-se que estacionou-se por vontade própria na Damba, afim de impedir a ocupação militar por forças opostas, tendo protagonizado inúmeras operações militares neste município. Foi daí que, pela sua tropa, foi-lhe atribuida a alcunha “Kukutuna”, qué é o mesmo em português que “firme cá estamos”. Sua alcunha de guerra “Limpa Poeira” não era assim tão vulgar, mas sim
“Tony Mpaka”, como muitos o conheciam.

Desempenhou durante algum tempo as funções de Segundo Chefe das Operações da Primeira Região Militar/Frente Norte. Comandou o Batalhão de Escolta da Frente Norte, que antes era conhecido como “Coluna de Nguinga”. Foi nesta altura em que, quando regressava de Kimbele, foi embuscado e atingido por uma bala, que até os seus últimos dias de vida não fora removida do corpo.

Desempenhou cumulativamente as funções de Comandante de Batalhão e ao mesmo tempo Administrador de Kimbele, em 1998. Esteve, por volta de 2004, com o contigente militar estacionado na Barragem das Mabubas.

Finalmente, até a sua morte, em 2008, já Angola em paz, desempenhou as funções de Comandante da Quinta Brigada do Estaleiro das FAA da Frente Norte afecto à Casa Militar,BCOM. Vide hiperligação da Angop abaixo.

http://m.portalangop.co.ao/angola/pt_pt/noticias/reconstrucao-nacional/2008/0/2/Uige-Quintabrigada-das-FAA-reabilita-ruas-cidade-Uige,6d435963-7a1a-4f14-b357-d423bc8c1fca.html

Um dos seus maiores desejos foi de ver o desenvolvimento da sua terra natal, sobretudo no que tange às vias de comunicação. Para além de querer ver uma angola próspera, Damba, em particular, esteve sempre nos seus primeiros planos. Foi descrito como um guerreiro implacável, justo e respeitoso, sobretudo aos seus superiores hierárquicos. Também reconhecem-lhe um leque de conhecimentos transversais e que aglutinava a tradição e
modernidade.

Como amador da arte, num dos trechos das suas músicas, da década de 60, cantou “ Mbongo mu nsala nsala se zinina, ba kaka ba sala zo balembi zo dya, ba kaka ba dya zo balembi zo sala ah, ah yaya ba sadi yaya nkinga mazowa ah! Lelo ndukidi mama, lelo mbalukidi mama …!” É, de facto, um trecho que deve levar qualquer um a uma profunda reflexão, pois nesta música o comandante enfatiza a ignorância do trabalhador que não usufrui do esforço do seu suor, e que só mais tarde desperta-se.

Portanto, para além da carreira militar, foi um artista que estampava no trecho musical aquilo que só seu coração era capaz de sentir. Aliás, na vida não é tudo que vem do acaso, pois que, tudo quanto ele foi, já desde pequeno os mais velhos, sábios da aldeia, haviam previsto o seu futuro como um brilhante combatente e servidor abnegado da pátria, o que evidentemente foi.

Teve muita admiração por Chefe Estado Maior General João de Matos com quem tinha excelentes relações. O General Ary da Costa foi um dos mais chegados do malogrado Paca.

Engajamento social:

Entre outras acções, contribuiu na restauração duma escola na localidade de Ximacongo.

QUE A ALMA DESTE GRANDE PATRIOTA REPOUSE ETERNAMENTE!

Janeiro, 2019.

Comentário

Seja o primeiro a comentar

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.


*


Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.