Bungo: “Biquíni da boca aqui não”, alerta em Mbanza Kongo

Por Alfredo Dikwiza

Uíge, 10/11 (Wizi-Kongo) – “Biquíni da boca aqui não”, uma expressão invertida em Mbanza Kongo para denominar a presença no rosto de alguém com mascara facial de protecção a covid-19.

Biquíni da boca aqui não”, um código para alertar as crianças e não só da presença de visitantes em Mbanza Kongo, sede da regedoria do Makabango, 22 quilómetros a norte da sede da vila do Bungo, província do Uíge. Conhece a existência da doença. Mas, a população local, acredita estar bem contra a covid-19 e, sim, desconfia das pessoas, principalmente, as provenientes de Luanda/Uíge ou qualquer parte do país que esteja infectada da covid-19.

Em Mbanza Kongo, tirando a desconfiança que paira no seio das famílias sobre a presença de visitantes, a vida continua em pleno, constatou, domingo (08), a equipa do Wizi-Kongo, que, deslocou-se da cidade do Uíge para Bungo, concretamente, em Mbanza Kongo, com vista a constatar a realidade em tempo da covid-19, entre o meio urbano e suburbano.

Era 17 horas e 30 minutos, com o pôr-do-sol no aspecto engolido na “Kilombo”, a equipa do Wizi-Kongo, chegava em Mbanza Kongo. Porém, Kilombo é uma mata localizada no ponto alto da referida aldeia, que, antigamente, era chamada de mata “misteriosa”, porque nenhum visitante ou habitante local, entraria na mesma e conseguir sair dela com mais de uma coisa a mão.

Quem quisesse desafiar a “mata do Kilombo” querendo sair dela com duas coisas, perdia-se logo, mas, caso pegasse apenas uma coisa, saia dela sem antes perder. Nos dias de hoje, infelizmente, o poder que a mata ostentava, já não existe, por não dar-se sequência do poder tradicional que os “mais velhos” controlavam na altura, admitiu, ao Wizi-Kongo, Garcia Bianda, um idoso na idade dos 80/90 anos, de trato fácil (português e kikongo), de corpo magrelo, altura média, com uma presença física notável, força e visão aprumada e, sem rodeios, em seguida adoçou a conversa com uma pergunta cómica dirigida a equipa do Wizi-Kongo: “como sentiram os saltos e apreciaram a beleza da natureza durante a viagem numa picada, cruzada de buracos, lombas, areia, pequenas subidas e descidas, do Bungo/sede da vila para Mbanza Kongo”.

Artur Miguel Bengui, jovem empresário, que, serviu de guia da equipa deste portal, partindo do Uíge/Bungo e do Bungo/Mbanza Kongo, um “calojado” a dirigir em terrenos difíceis, por erodia do destino é, filho do Mbanza Kongo, era um homem feliz, por regressar a terra que o viu nascer e, oito anos depois, voltava a pisar o solo local, outra vez.

Então, responde o “Cota Bianda”, como carinhosamente é tratado: “cota, contei tudo a eles, em cada curva, subida e descida, detalhei sem igual os bons e maus momentos passados e, com um sorriso, as vezes, com semblante de tristeza no rosto, soltava-se”.

Mwana kalo (filho do carro), as crianças rodearam “Suzuzi Jimmy” na rua principal, entre as cinco que compreende a aldeia no sentido horizontal, a presença do carro, era aliciante, sem igual, entre as crianças, principalmente. Todos moradores sem uso de mascara facial, quer na rua e não só, andam e convivem na normalidade. Entre eles, não existe distanciamento físico, abraçam-se, convivem em comunidade, bebem, caminham e tudo mais.

Na aldeia Mbanza Kongo, sabem da existência da covid-19, mas, acreditam estarem bem e, sim, desconfiam apenas dos visitantes, quer sejam familiares e não só. Habituados em verem carros de dimensões maiores, as crianças da aldeia, depois que notaram a presença do “Suzuzi Jimmy, carro que transportou a equipa do Wizi-Kongo, rodearam-o e, em seguida, na língua local (kikongo) e da colonização (português), vozes trémulas no seio das mesmas se ouviam: “mwana kalo”, “filho do carro”, estando, certo, os mesmo de que, o Jimmy é pequeno e que irá crescer, tal como acontece com os seres vivos, em processo de evolução biológica.

Mas, os que já um dia deslocaram-se com os pais em alguma cidade ou sede de vila, repudiavam os outros: “esse carro é mesmo assim, como vai crescer mais”. Outros menores, porém, o desafio era tanto: “ pegar o carro “e, dizer “peguei”, “peguei mesmo”, “viste né, não tenho medo, peguei”, gabavam-se os curiosos, entre eles, num ambiente de diversão e distracção para os mesmos. Um momento, entre os membros da equipa do portal e outros, que, não conseguiram resistir, por ser único de ver naquela comunidade suburbana do Bungo e, uma leve gargalhada escapou do controlo de suas bocas.

Casas construídas de adobe, pau-a-pique, cobertas de chapa de zinco e capim. Em Mbanza Kongo, a população é a colhedora, solidaria e alegre ao mesmo tempo. Apesar da desconfiança da covid-19, por tratar-se na recepção dos visitantes, as saudações a distância são contagiantes. Entretanto, as casas onde vivem viriam do tamanho de acordo com as possibilidades de cada um, mas, no cumprimento, as construídas de adobe, quase possuem a mesma medida, aproximadamente, três/quatro, já as de pau-a-pique, no cumprimento, vão dos cinco/sete.

Na maioria, a aldeia é rodeada de casas erguidas com adobe cru, feito localmente, apenas na época seca, no intervalo dos meses de Junho/Agosto, igual período em que as casas são construídas, antes que as chuvas retomam e, a outra tipologia de casas, essas podem ser construídas em qualquer época do ano e, as mesmas podem ser cobertas de capim ou de chapa de zinco.

Em Mbanza Kongo, as famílias levam uma vida humilde, não existe ricos, todos estão quase na mesma classe/pobres. Serviços de saúde e educação, existem Com três professores do ensino primário e um enfermeiro, são os responsáveis, os quatros profissionais da linha de frente, em Mbanza Kongo, que, asseguram os serviços públicos ligados na assistência medica e medicamentosa, bem como no sector do ensino e aprendizagem.

Existe no local, uma escola construída de raiz e, igual número de um posto médico. A escola comporta, quatro salas de aulas e uma área administrativa, que, ministra aulas da “iniciação/4ª classe”, apenas. Neste período da covid-19, não estão sendo ministradas aulas presenciais em nenhuma classe. São, entre outras doenças que dão entrada no referido posto médico, as de malária e diarreias, cujos doentes são atendidos por único enfermeiro do primeiro dia ao último do mês. Ambas infra-estruturas, no caso, saúde e educação, encontram-se ainda em boas condições físicas. Quanto a água, a população percorre um a dois quilómetros em busca do precioso liquido, que, é carregada em bidons, banheiras e não só, a cabeça, ombros e braços.

Noite animada.

No meio do escuro, as crianças cantam, dançam e brincam não era noite de luar e, sim, escura. O escuro não lhes assusta, antes pelo contrário. Há seis metros, não se consegue quase ver alguém que não esteja vestido de branco.

Mas, em Mbanza Kongo, este não é motivo que ofusca a vontade de viver livre daquelas crianças. Todas unidas, divididas, cada grupo com a sua brincadeira escolhida e aceite entre as mesmas, poluem a aldeia de um lado a outro, de cânticos “como nos velhos tempos”, brincadeiras e danças, cuja ausência de energia eléctrica, é a cerne da questão. Porém, brincadeiras, entre outras, como “escondida”, “gato e rato”, “bica bidom”, preenchem o cardápio dos menores, que, são apreciados pelos adultos enquanto ficam a pratica-las, variando, no período das 19/22 horas.

São destemidas, desafiam o frio e o escuro, correm e gritam com energia de campeões. As meninas, elevam a alegria até aos mais velhos, elas, cantam canções actuais e antigas, próprias para diversão, ficam todas juntas, em roda as vezes e, na medida que cantam, vai saindo uma da roda, deita-se entre as outras e, essas a colocam em pé, assim, sucessivamente, a roda vai girando, em ambiente de festa e animação. “Kimbemba kumaladila”, “moço de thuna vai me matar” , “é lwimbi ka mpondi mano moço”, entre outras canções, eram as mais entoadas pelas crianças e adolescentes, uma marca antiga, que, continua, mas, diferente, com o mistério que se perdeu com a “mata Kilombo”, hoje, as pessoas entram-na e saem com quantas coisas quiserem, sem problemas.

Mas, percebe-se do porque as crianças preservarem tais brincadeira, afinal, para elas, ver energia eléctrica no local, televisão, é uma miragem, salva-se, um entre outro particular quando liga seu gerador, o que, não é fácil acontecer, atendendo o modo de vida humilde que os mesmos levam. Garcia Bianda, o velho da resistência do café, único a produzir “tumbwaza” Falar de café em Mbanza Kongo, quer plantação e colheita, é ligar-se ao velho Garcia Bianda, um mais velho com uma “pulungunza” de tirar o chapéu.

Foi e continua ser o único, desde o tempo colonial até aos dias de hoje, de braços dados ao café. “Cota Bianda”, possui uma fazenda, Kimakaba, que, dista aproximadamente, cinco quilómetros da cede do Mbanza Kongo. Na segunda-feira (09/11), por volta das 5hs/30´, feito um jovem, o velho já tinha acordado e cuidado da sua higiene pessoal, cuja missão, era ir mostrar a sua fazenda a equipa do portal Wizi-Kongo.

Enquanto “nos preparávamos”, (Cota Bianda), com a sua catana a mão direita, só “nos olhava” como quem diz, “vocês não aguentam a pulungunza do mais velho” e, seguiu-se a picada, de carro, no meio do deserto, que, o mesmo havia aberto com finalidade de facilitar os carros chegarem até a sua fazenda e, concomitantemente, escoar o café, de carro, nalgumas épocas em que consegue reunir uns valores.

Assim, durantes a caminhada, o velho não parava de falar, contava histórias, mostrava limites, entre uma e outra fazenda, antes de chegar no Kimakaba. Uns 20 minutos depois, chegava-se ao Kimakaba, uma fazenda de referência em Mbanza Kongo, não apenas nos dias de hoje e, sim, já foi também no passado com o mesmo protagonista. Mostrou a área coberta de café, a de ananás, a de mandioca e muito mais.

De facto, é de aplaudir o que o mais velho conserva. “da última colheita de café, pedi muito, recolhi o que pude, muito estragou por cima dos paus. O que recolhi, hoje, o café já não é tido e nem achado, as vezes me pergunto, estou fazendo o que com o café, por estar a gastar mais com os trabalhos de limpeza, plantação e muito mais, mas, no fim, não se ganha nada”, lamentou, Garcia Bianda, com rosto desolados.

Por fim, rematou, Garcia Bianda, “o café deu-me vida no tempo colonial, era o diamante de Angola, mas, os tempos mudaram e muito, no café, mudaram pela negativa. Todos os anos tenho percas, quase não ganho nada, em comparação com o que produzo, mas, todos os anos, trabalho o café e o que não consigo fazer, contrato homens, chegam aqui, trabalham e no pago-os. Se pudesse voltar no tempo, faria e uma vida digna estaria a reviver”.

Mbanza Nkongo, sede da regedoria Mekabango, controla 600 famílias e, é uma das 60 aldeias que compõem o município do Bungo. Dista a 22 quilómetros a norte do Bungo, cuja população sobrevive da produção do campo, por via da prática da agricultura de subsistência, que, produz a mandioca, ginguba, feijão, milho e muito mais. Igualmente, sobrevive da caça e da pesca, principalmente, na época seca.

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