De 12 irmãos para ficar dois, “João de Almeida” a determinação mudou sua história

Por Alfredo Dikwiza

Uíge, 11/10 (Wizi-Kongo) – A humildade e determinação mudou a sua história, João de Almeida, jornalista e docente, um jovem de trato amável e humilde, natural do Songo, Uíge, filho de Almeida Pedro Cassanda e de Rosalina Manuel Vile. Nasce de um ventre fértil da sua mãe, que, gerou (12) filhos, infelizmente, apenas dois (2) encontram-se vivos (ele e sua irmã), que juntos devolvem a alegria aquela mulher camponesa.

No cativeiro, nos meados dos anos 1987/89 (no Songo), já na idade escolar, começa a debruçar, hoje, domingo, em entrevista ao Wizi-Kongo, João de Almeida, que, tentou estudar, mas sem sucesso, devido do conflito armado, cujas aulas foram sofrendo interrupções. Porém, nos anos 1990, a situação tenta restabelecer e, estando na terra natal dos seus progenitores (Kimpumba-loé), a nove quilómetros da sede municipal/Songo, na companhia de outras crianças, percorriam essa a distância a pé para continuar a aprender o “ABC”, com objectivo de tornar-se um homem formado.

Lembra, João de Almeida, nesta época, passou por momentos extremamente difíceis, desde a falta de roupa, calçados, material escolar, suportando frio, chuva e sol durante a caminhada, além, de várias vezes, ter remediado o único par de chinelas que tinha, só para não faltar a escola (sem conter a emoção, colocou-se a lagrimejar), “apesar disso, os meus pais sonhavam um futuro risonho para mim, por ser um dos sobrevivente, entre os outros 10 irmãos que já haviam falecido”, sustenta.

A situação, veio a agravar-se, explica, quando em 1994, morre o seu pai que tentava ” lutar” para o sustento da família e, concomitantemente, a sua formação, mas apesar disso, não atirou a toalha ao tapete. Entretanto, frequentou o I e II Níveis na escola preparatória (actual Colégio do Songo), onde estudou apenas a 5′ e 6′ classes, isto é, em 1996/97. Depois disto (suspira fundo), a guerra intensificou e, em 1999 é rusgado.

Fora rusgado pelas tropas das FAPLA, actuais Forças Armadas Angolanas (FAA), tendo sido levado para cidade do Uíge, 40 quilómetros a norte da vila do Songo, onde depois de 3 dias é encaminhado a província do Kwuando Kubango, para cumprir a recruta militar, onde permaneceu, aproximadamente, seis meses e, em 2000, é transferido a província do Moxico, onde três meses depois, não conseguiu suportar a chama diária no campo de guerra, entre as forças do governo e da UNITA, e, daí, seguiu em direcção a capital do país, Luanda, isto é, nos finais do ano 2000.

Em Luanda, ocupa-se a fazer “biscatos” e ao mesmo tempo aprendendo a profissão de “bate-chapa), no São Paulo, na oficina do mestre Orlando. Enquanto isso, sublinha, “não parei de estudar, matriculei-me na escola do I, II e III Níveis denominado “Mata Gato”, localizada no município do Kazenga, na SONEFE, onde conclui com sucesso a 6ª, 7ª e 8ª classes” e, acrescenta, nos finais de 2004, regressa, finalmente a província de origem/Uíge.

No Uíge, de 2005/2008, frequentou e concluiu o ensino médio, tendo sido um dos primeiros finalistas da Reforma Educativa, do Ex-Puniv do Uíge. Mas, enquanto estudava o ensino médio, trabalhava na recauchutagem que na altura localizava-se na rua do Comércio, juntos ao Hotel Kuilo, face a face ao prédio Escape, naquela altura, na cidade local, haviam apenas duas oficinas de Bate-Chapa e ninguém o aceitou.

A sorte acompanha os audazes

Em 2008, abandou aquela recauchutagem e participa no curso de ingresso de novos quadros na administração municipal de Mukaba, 60 quilómetros a norte da cidade do Uíge e, consegue, o seu primeiro emprego na função pública, com a sorte a acompanhar os audazes, no mesmo ano, foi seleccionado para uma formação como jornalista correspondente na única Agência de notícias estatal de Angola, Angop/Uíge, com objectivos de informar a província, Angola e o mundo sobre tudo que estivesse acontecer em Mukaba.

Tempos depois, na política de cobrir as zonas de sombra, a Rádio Nacional de Angola/Uíge, outro órgão estatal, viu-se obrigada a recrutar também colaboradores municipais e, João de Almeida, como já sabia escrever notícias da Angop, a administração municipal local, voltou a selecciona-lo para aprender as técnicas de rádio-jornalismo e, começa a espalhar a sua performance jornalísticas nos dois órgãos, cativando os ouvintes e leitores das suas variadas matérias que publicava a partir da terra do “pau seco”.

Na Angop, permaneceu dez (10) anos de serviços, isto é, de 2008/2018, com uma ficha limpa de honra e destaque. Durante os dez (10) anos, João de Almeida, entre os demais correspondentes que havia, ocupou sempre os três primeiros lugares dos jornalistas mais destacados na Angop/Uíge, cuja saída na Angop, em 2018, deveu-se por motivos da direcção nacional do referido órgão, ter legado insuficiência financeira capaz de pagar os subsídios dos mesmos.

Enquanto, na rádio Uíge, João de Almeida, continua a exercer as funções de jornalista colaborador, já há 12 anos de rádio ao peito, por enquanto, a partir do município do Songo, pois, em 2010, sentiu-se inconformado pelo baixo salário que recebia na administração municipal de Mukaba, no valor de 11.600, 78 Kwanzas que não servia para cobrir suas despesas pessoais, muitos menos ingressar na universidade, por isso, participou no Concurso público da educação, em 2011 e, foi apurado, colocado para o município do Songo, sua terra natal.

Já com o salário da educação, na altura, 65 mil kwanzas, por mês, João de Almeida, encontrou uma oportunidade de prosseguir com a sua formação académica. Assim, em 2012, ingressou no Instituto Superior de Ciências da Educação/­ISCED-Uíge, no Ensino de Pedagogia, curso esse que frequentou em quatro (4) anos e, no dia 29 de Outubro de 2019, defendeu a sua monografia com o tema: “A Corrupção passiva, sua repercussão psicopedagógica no processo de Ensino-aprendizagem (Caso particular da escola do I Ciclo do Município do Songo),” obtendo uma média final de 17 valores.

Consegue granjear este mérito, por ser humilde e determinado naquilo que quer e gosta de fazer. É prova de acredita, ainda que haver dificuldades, mas se atinge aos objectivos preconizados. Hoje, João de Almeida, é efectivo do Ministério da Educação e colocado na escola preparatória, actual Colégio, onde estudou durante a sua adolescência. É pai de cinco crianças, dois dos quais rapazes e, é, casado com Luísa de Almeida/2019. Nasce aos 14 de Fevereiro de 1982, nos arredores da sede da vila do Songo.

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