Por António Capitão
Tudo andava bem desde 1975 quando os angolanos conquistaram a sua Independência do regime colonial português, numa altura em o saudoso Presidente António Agostinho Neto tinha idealizado que o desenvolvimento do país passava pela formação de quadros. Tendo iniciado, na década 80, acordos de cooperação com vários países, com realce para Cuba e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), para o envio de estudantes bolseiros.
A formação académica, técnica e profissional foi, então, tida como a principal via para o sucesso e afirmação da jovem Nação angolana. Muitos angolanos, comprometidos com a Pátria, regressaram ao país depois de concluírem o ensino médio e universitário, uma vez que se precisava imprimir maior qualidade no processo de ensino e aprendizagem em Angola.
Com os professores angolanos assimilados, herdados do período colonial, e os quadros formados no estrangeiro foi possível dar outro alento ao sistema educacional e reduzir o índice de analfabetismo, tendo em conta que em 1975 apenas 15 por cento da população angolana era alfabetizada. Hoje, apenas cerca de 21,9 por cento da população do país continua a ser analfabeta. Já para 2017, as projecções vão para a redução da taxa de analfabetismo nos 14,4 e aumentar a alfabetização em 85,6 porcento. Todos esses ganhos logrados nos últimos 40 anos correm o risco de serem minimizados ou até mesmo manchados, tudo porque há caminho de seis anos que as escolas do país se transformaram em lugares de temeridade devido ao surgimento de casos de desmaios que começaram nas instituições de ensino em Luanda e depois se alastraram para outras províncias.
A situação foi alarmante, na altura, as autoridades tudo fizeram para encontrarem as causas e os presumíveis autores. Mas toda esta intenção não passou de falácias porque daí em diante nunca mais ninguém se pronunciou sobre o fenómeno. Recordo que a única explicação pública foi feita pelo segundo Comandante Nacional da Polícia Nacional (PN), Comissário-chefe Paulo Gaspar de Almeida, que afirmou que a causa era “a fome”. Tese bastante refutada pela sociedade angolana pelo facto das experiências tidas durante todo período conturbado que Angola e os angolanos passaram em que maior parte das crianças angolanas iam à escola sem tomarem o pequeno-almoço e nada disso acontecia. Logo a alta patente da PN não cuidadoso na sua abordagem sobre o assunto. O mais caricato é que com excepção da província do Uíge, nenhum outro caso de desmaios foi registado em escolas do país. A “terra do bago vermelho” parece ser o local onde os ventos dos desmaios se convergiram.
O fenómeno atinge mais adolescentes do sexo feminino. Muitas delas vivem com sequelas da pandemia e que em qualquer ambiente de tumulto estão sempre a desmaiar. Há famílias que já atribuíram o falecimento de suas filhas devido ao fenómeno.
Volvidos cerca de seis anos, ninguém vem à tona dizer qual foram os resultados das investigações feitas para o efeito, uma vez que o Centro de Informação de Medicamentos e Toxicologia (CIMETOX) da Faculdade de Medicina de Malanje enviou à cidade do Uíge técnicos para recolher amostras nas escolas visadas e realizar testes laboratoriais para se descobrir a substância causadora do fenómeno bem como os serviços provinciais de protecção civil e bombeiros procederam a desinfestação das mesmas, mas quanto aos resultados tudo continua “no silêncio”.
Para agudizar a situação, há três dias que ao “fenómeno desmaio” acresce a “alergia” que tem provocado muita coceira, apenas às meninas, que em muitos casos têm de ficar seminuas para poderem passar as unhas nas regiões em desconforto. Ainda ontem (19/10) a situação se expandiu para um maior número de escolas da urbe uígense.
Como forma de descontentamento face à situação que perdura há cerca de seis ano dezenas de estudantes saíram às ruas para se manifestarem sobre a posição do governo que continua impávida diante de tais ocorrências. A algazarra criada pela manifestação dos estudantes obrigaram que o governador provincial do Uíge, Paulo Pombolo saísse à rua para melhor se inteirar do que se está a suceder. O governante foi constatar “in loco” o decorria nas escolas e de seguida foi se informar sobre o assunto e o número de adolescentes afectadas que se encontravam a receber cuidados médicos no Hospital Geral do Uíge (HGU). Ainda hoje (20/10), Paulo Pombolo deu continuidade da sua missão em visitar escolas e reunir com as respectivas direcções e professores. O saiu destes encontros ainda não é do domínio público.
Assim ficam as questões: “até quando vai se solucionar o problema?”, “quando o seu presumível autor vai ser responsabilizado criminalmente?”, “os pais devem estar confiantes em mandar suas crianças às escolas?”
Deixe uma resposta