“EH SÓ MANWENO UMBANZANGA”, o hino de lamento de angolanos vítimas da repressâo colonial.

Na repressão, consequente ao 15 de Março de 1961, tropas porguesas queimam aldeias, originando meio milhão de angolanos encontrar refúgio no visinho Congo Belga.

 

Ehhh SÓ MANWENO UMBANZANGA

Ehhh Só Manweno, umbanzanga
Ehhh Só Manweno, umbanzanga

Eh mwani
Nki dyambu ya vanga
Ya yendela fwila
Kuna zanza Kimpangu ya ya

Ehhh Só Manweno

Talani mambu
(Tala nde dikambu)

Tradução em português

Seu Manuel, pensa em mim
Seu Manuel, pensa em mim

O que eu te fiz
para eu vir morrer
na selva do Kimpangu (RDC)

Ohh Seu Manuel,

Resolve meu problema!
(Olha o problema que me causou)
——————————————————
Em resposta dos ataques de independentistas angolanos sob bandeira da UPA, iniciado no dia 15 de Março de 1961, os colonialistas organizam-se em milícias, confundem as populações civís e indefesas com os guerrilheiros. Resultado:

– 10 mil mortos no lado africano (contra 800 europeus)
– Aldeias inteiras bombardeadas, queimadas com pessoas
dentro (na imagem)
– A elite dessa população foi alvejada e dizimada.
– 70% das populações do noroeste angolano, encontrou
refúgio no Ex-Congo Belga.

Sendo a primeira vila do ex-Congo Belga, depois da fronteira com Angola, Kimpangu acolheu, nos três primeiros meses depois do início da repressão, 150 mil refugiados angolanos, (dados do regime colonial) em condições humanas catastróficas. Um poêta popular, versos simples, mas cheios de significado: “Eh Só Manweno umbanzanga”, que podia-se interpretar de maneira seguinte:

“Oh Senhor Manuel (Português), o seu problema é com a UPA e não comigo! Podes me dizer o que eu te fiz, para merecer a tamanha miséria e vir a morrer nesta selva do Kimpangu? Olha o que me fizestes. Oh Senhor Manuel resolve o meu problema!”

 

Num comentário postado no facebook, o Mbuta-Muntu Sebastião Ló, corrigiu a precedente versão, afirmando que o Senhor Manuel existiu na realidade e a canção foi composta bem um pouco antes do inicio de hostilidades entre os independentistas angolanos com o regime colonial.

Filho de um comerciante português e de uma angolana natural na região, o Senhor Manuel, foi um comerciante muito conhecido, possuia muitos meios de transporte que sustentava o seu comércio entre Kimpangu, Makela e Damba.

Mbuta Muntu Sebastião Lô que viveu naquele tempo, concluiu que “Infelizmente foi no periodo da queimada, morreu (o senhor Manuel) carbonizado entre o rio Fulege e Kimbata. O seu óbito teve muitas sentadas, a partir da Damba, Makela, Kimpangu, Moerbeck (Kwilu Ngongo) e em Léopoldville (hoje Kinshasa). E deixou muitos filhos, muitos desses foram meus” kambas”. A Antônia, no quartier 5 Ndjili “Chez les metis”, o Nenê, o Hércules no Makala, a Glória, a Imaculada, Manuel Jacinto no Barumbu.

A canção torna-se famosa entre os angolanos refugiados no Ex-Congo Belga, quando foi interpretada no famoso conjunto musical tradicional Konono do Mingièdi (Miguel) Mawangu e Nzuzi Laza (Lázaro) , em 1962.

Em 1987, Papy-tex Matolu imortalizou a canção na sua célebre obra com o título “Bakuba show”  “apartir de 10m40s”, acompanhado de José Valentino Dilu “Dilumona” e Pepe Kallé, animado pelo execelente Djouna Bigone “Bileku Mpasi”, no agrupamento Empire Bakuba.

 

https://www.youtube.com/watch?v=LCW9m9IMEQE

Comentário

Seja o primeiro a comentar

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.


*


Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.