
Por Dr. José Carlos de Oliveira
O rei do Kongo (Ntotila) legitimado pelas suas Nkandas (leia-se clãs mais proeminentes) fundamentava a sua autoridade na sua personalidade. O processo de eleição desta figura, era o principal ponto de discórdia na questão da sucessão ao trono. O processo de eleição obrigava a cerimónias propiciatórias de apaziguamento dos espíritos tutelares que, por sua vez, desempenhavam (e ainda desempenham) um papel decisivo no imaginário ritual e religioso das elites e do povo em geral. Esses rituais eram antecedidos por um jogo de alianças, levado a cabo pelos responsáveis das linhagens uterinas detentoras da autoridade suprema face às linhagens patrilineares o que constituía a continuação dos mecanismos relativos à História do Kongo. As linhagens patrilineares ou agnáticas, por sua vez, respondiam pelo suporte do poder relacionado com a terra.
Para melhor introdução na essência da cosmogonia kongo, e que em tudo se relaciona com o essencial do clã Nsaku, o célebre caracol (ou búzio) Nkodya, ou, simplesmente, Kódia, vejamos como o entendem as elites Kongo:
“A sabedoria politica, a arte do diálogo, o respeito pela hierarquia encontram-se contidos na Kódia, o célebre búzio que simboliza o imaginário Kongo. Este conceito prende-se com matéria da sucessão política segundo o direito tradicional ou costumeiro: o homem deve ser considerado criança para todos antes de atingir o patamar da vida adulta, deve de permanecer subalterno antes de aceder ao poder, deve de ser iniciado antes de poder governar”.
Em termos visuais, a espiral é o emblema do reino do Kongo e, por este motivo, o caracol (ou búzio) é frequentemente encontrado nas representações do sagrado como símbolo de Mbumba – a divindade que rege a terra e as águas. O Kódia pode ser metaforicamente entendido como a diáspora original dos kongo, ou seja, a “Nzinga”, que se deve traduzir por “enrolar”. Uma das versões da saga dos kongo realça a importância dos filhos de Nku’u, também grafado como Kwo e ainda Kuwu. Este principio fundamental é representado pela célebre arvore YALANKWO, que ainda hoje se pode admirar no Lumbu-terreiro do “palácio” do “Rei do Kongo” em Banza Kongo.
A Yalankwo, (árvore sagrada) se observada com atenção, tem no inicio do tronco (à esquerda) por cima das cabeças, um corte, o que faz com que o ramo prossiga na vertical. Era nesse ramo que se pendurava a muxinga corda (?) com que o réu era executado. Depois de eliminado o ramo, nunca mais ali se procedeu a execução alguma.

A árvore Yalankwo, fotografia do acervo da família Faria Leal, 1902
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