Entrevista com PACHA MIKILI

Por Sebastião Kupessa

Entre 1981 e 1985, o agrupamento musical ANGO-STAR partilhou o palco com os Jovens do Prenda, os Kiezos, Inter-Palanca do Mário Matadidi, Olímpia do falecido Simão Nsimba Diana, etc. A sede deste conjunto musical situava-se no Bairro Maianga no largo Serpa Pinto, na Casa WEMBO do pugilista e fotógrafo  RUSSO MITENÉ. Entre os músicos do Ango-Stars, citamos ZINAGO de MACULUSO, DERSOUS, RIVE N’KONO, AMY ELIANO e Dido Loureiro aliás AYATOLAH PACHA MIKILI. Este último aceitou responder às nossas perguntas sobre a sua carreira e do grupo Ango-Stars.

Pacha, saudações…

Estou bem pela graça de Deus.

Quando vai sair o teu próximo CD?

Ooh camarada,  tudo se faz com a vontade do nosso Deus. Mas penso que nao vair demorrar mais tempo.

Sam-Mangwana ou Matadidi Mário cantam em kikongo como em lingala, quando é que Pacha vai cantar em kikongo a tua língua, visto que cantas só em lingala, idioma falado no Congo?

Olha, eu sou um angolano nato em Kinshasa, porque sou filho de angolanos refugiados no Congo Belga. Sinto-me a vontade transmitir as minhas messagens neste idioma. Não tive tempo suficiênte de aprender o kikongo, a minha lingua. Mas no futuro farei um pouco de esforço de cantar nesta lingua.
Em que estado encontra-se hoje o Agrupamento musical ANGO-STARS ?
 
Não tenho a resposta exacta se o ANGO-STARS existe ou não, só sei que eu estou a prosseguir a minha carreira solo, com os meios modestos que disponho. Mas por ANGO-STARS, acho que falta de um promotor ou  produtor que pode nos reunir, porque cada membro deste grupo já possui responsabilidades nos grupos que os acompanham, como é o meu caso.
Já cantastes com o Papa Wemba, nunca pensastes cantar com Bonga, Yuri da Cunha ou Paca Davis?
 
Esta pergunta é patriota. Olha a música não tem fronteira, cantei com o Papa Wemba acompanhado do seu grupo, porque respondeu positivamente à nossa proposta, pois partilhamos a mesma ideologia artistíca. Mas se um produtor propor-me cantar com Bonga ou qualquer músico angolano, não hesitaria nenhum segundo.
Mas Pacha, pessoalmente já contactastes, um dos cantores angolanos para uma produção discografica?
 
Ainda não por enquanto tenho outros projetos que ainda não terminei, mas depois veremos. Produzir música hoje, exige muitos meios, estruturas, etc.
Como estão as vossas relações com Dersou Nzuama, Rive Nkono, Zinago de Maculuso e Joe Mali?
Dersous Nzuama ou Joe Mali nos encontramos ainda este ano em Paris. Zinago temos excelentes ralações. Contastes todos, mas esquecestes o Eliano, um bom cantor e é um dos fundadores do ANGO-STARS, se a memória não falhar, encontra-se a residir na França, em Lyon precisamente. Infelizmente o Rive Nkono que era o meu melhor amigo, as nossas relações encontram rompidas desde 1998, creio eu, que Deus abençoa-lhe  onde se encontra.

Djo Mali é o mesmo que Dersou?

Sim!
Pacha quantos CD já produzistes até ao momento?
 
Quatro, dos quais dois com Rive Nkono acompanhado de Papa Wemba e o seu grupo, um da minha autoria intitulado voyage ya Poto, com Papa Wemba e o último com o meu grupo “La Geneva”.
A tua música é baseada na rumba congolesa, o que vos impede de tocar os rítmos de Angola como semba, Kizomba ou Kuduro?
 
A maioria parte dos músicos são polivalentes, depende das circuntâncias e inspirações, cantar nos rítmos que predominam no meu país, Angola, não representam problema nenhum.
 
És muito conhecido na R.D. Congo e não no teu país Angola, porque?
 
É questão de promoção, produtores angolanos são raros, muitas vezes somos produzidos pelos  congoleses, estes fazem publicidade e comercializam as nossas obras na Europa e no Congo.
Neste caso, porque não faz, pessoalmente a promoção em Angola, com as técnicas de informação actuais?
 
Para fazer promoção tens que ter um obra finalizada, neste caso não é fácil encontrar produtores, por causa da pirataria das nossas obras, investe-se muito dinheiro na produção discográfica, mas não se consegue recuperar o dinheiro investido quando produto é vendido! Não é evidente fazer promoção nestas condições, mesmo em Angola.
Desculpa-me se estou a insistir, nunca pensastes que a falta da promoção em Angola é motivada pelo facto que o Pacha, nunca cantaste em rítmos de Angola ? 
 
Já constatei que és patriota angolano. Muitos angolanos, alguns dos quais são bons músicos, compõem canções em português ou em línguas nacional como kimbundo ou umbundo, mas não são conhecidos pelo púbilco, ser famoso em Angola não faz parte das minhas prioridades, embora o desejasse. Mesmo um maluco pode ser famoso. O que é primordial para mim é produzir música de qualidade, escutas as minhas canções como “Sophie, ba parasites”, vais dar conta.
Conta-nos um pouco da tua carreira musical.
 
Foi em Luanda, no início da década 80, do passado século, que eu iniciei verdadiramente a minha carreira musical no seio do Agrupamento musical Ango-stars, apesar de que, em Mbanza Kongo, onde sou originário e também na cidade do Uíge onde passei um certo tempo, ter evoluído em pequenos conjuntos musicais nos bairros. Aqui em Genebra, na Suiça, onde resido desde 1983, comecei com o Afro-Música, grupo fundado pelo Kota Kapessa Suana, foi ele que teve a iniciativa de fazer um albúm em que participou o Papa Wemba, mais tarde evolui no Agrupamento La Geneva. Com Rive N’kono, produzimos dois CD’s com a orquestra Viva La Música, em 1986 e 1991, e eu pessoalmente, um CD com o mesmo conjunto, intitulado Voyage ya poto, em 1995. O 4° albúm musical, por sinal, o primeiro com o meu grupo próprio, foi produzido em 2002. Actualmente, estou no estúdio para largar no mercado um conjunto de canções que estarão agrupadas num álbm que terá o título em Lingala: BIMA NA VIE NA NGAI ( Sai na minha vida), uma parte é gravada em Kinshasa, na RDC e outra aqui na Suiça. Terá a participação de alguns músicos da orchestra Viva La Música de Papa Wemba.
Cantores de Viva la Música, podes nomeá-los?
 
Pacha: Alguns cantores antigos que já participaram nas produções anteriores.
Obrigado Pacha Mikili.
 
Meus agradecimentos a todos. 
 
 
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